16• A Porta
A manhã no colégio passou relativamente rápido. O conteúdo estava cada vez mais difícil, mas as coisas estavam indo bem, eu não podia reclamar.
Na verdade, podia sim.
Eu caminhava ao lado de Minho pelos corredores da escola para a sua aula de reforço. Ao abrir a porta da sala de estudos, vi que o professor orientador da nossa classe estava lá. Ele ajeitava o projetor quando notou nossa presença.
— Ah, vocês chegaram — ele disse, deixando o projetor de lado.
— Professor? Desculpe, mas, o que está fazendo aqui?
— Vi que reservou a sala pra hoje — ele disse e eu confirmei. — Vamos precisar usá-la para uma reunião. Vocês podem ir pra biblioteca ou pra onde quiserem, só não podem ficar aqui.
Minho e eu nos entreolhamos. Não era justo que ele nos expulsasse, mas, infelizmente, só nos restava obedecer a ordem dada.
— Com licença, professor — nos curvamos e saímos dali, de volta ao corredor da escola. — E agora? A aula na biblioteca é fora de questão, a Srta. Jeon não permite nem o menor dos ruídos lá.
Minho pareceu pensar um pouco, segurando as alças de sua mochila.
— Cancelar a aula tá fora de cogitação, né? — ele me olhou pelo canto do olho, já sabendo a minha resposta. — Então...? Podemos ir lá pra casa, se você não se importar.
Minha primeira reação foi negar, ele mal tinha fechado a boca quando eu disse que não iria em sua casa nem sob ameaças.
— Você tem uma ideia melhor? — perguntou num tom debochado. Eu revirei os olhos automaticamente.
— Não.
— Então tá decidido — ele ordenou, me deixando para trás no corredor. Suspirei pesado, seguindo-o.
Pelo caminho, eu resmunguei muito. Como o professor podia simplesmente nos mandar sair quando nós reservamos a sala primeiro? Isso não era justo.
Eu enchi Minho com minhas reclamações até chegarmos do lado de fora do colégio. Ele apenas ficou ignorando tudo o que eu dizia até entrarmos no banco de trás do carro luxuoso. Como todo riquinho dessa escola, ele também tem um motorista para buscá-lo todos os dias.
Na casa dos Lee, eu estava louca para terminar aquilo o mais rápido possível, mas a primeira coisa que fizemos foi sentar para almoçar. A mãe do garoto não permitiu que passássemos pela cozinha sem comer a refeição que ela havia preparado.
— Então, como o Minho está indo nas aulas, Kyra? — abaixei os pauzinhos e voltei meus olhos para a mulher.
Eu podia mentir e dizer que ele estava indo bem para salvar a sua pele ou podia dizer a verdade, que ele é péssimo em tudo que se propõe a fazer. A segunda opção era muito mais tentadora.
O garoto engoliu seco, sem tirar os olhos de seu prato.
— Acho que seu filho é bem promissor, Sra. Lee — só se for promissor no quesito ser ainda mais idiota do que ele já é.
— Fico feliz em saber disso — ela sorriu alegremente. Talvez mentir tenha sido a escolha correta. — Minho nunca teve interesse em aulas particulares, mas aceitou na hora quando soube que seria com vo-
— Mãe! Os acompanhamentos estão acabando! — o garoto exclamou, colocando uma quantidade exorbitante de japchae em cima do arroz em nossos pratos. — Traga mais pra Kyra, por favor!
Eu o encarei com as sobrancelhas franzidas e nós nos comunicamos apenas com o olhar. Era bem claro que nenhum de nós estava confortável nessa situação maluca.
— Oh, querida! Eu vou pegar mais alguns acompanhamentos pra você — a mãe do garoto deu a volta no balcão alto onde Minho e eu estávamos sentados. A interrompi.
— Estou satisfeita, Sra. Lee, muito obrigada — gesticulei, deixando meus talheres de lado e levantando da cadeira. — Podemos começar agora? Não quero voltar tarde pra casa.
— Ah, é c-claro — Minho entendeu o meu recado, levantando-se prontamente. — Mãe, nós vamos estudar agora, se precisar pode me chamar.
A mais velha assentiu, dizendo que iria levar um lanche mais tarde para nós dois. É estranho ver Minho sendo atencioso com alguém, mas parece que ele é assim com sua mãe. Enfim, até as piores pessoas têm qualidades.
Subimos as escadas da mansão, dessa vez eu me segurei para não olhar nada que não fosse da minha conta, só queria dar a aula do garoto e sair dali direto para a minha casa. E por falar nisso, eu agradeci mentalmente por termos vindo para cá, eu nunca mais quero ter que ver Minho na minha casa. Lá é o meu lugar seguro, longe de todo problema e irritação que ele possa me causar.
— Tá meio bagunçado — me deu passagem —, mas pode entrar.
Com tantos empregados em casa, Minho ainda consegue ter um quarto bagunçado?
Ele é a definição da palavra desleixado.
Eu desviei de duas almofadas que estavam jogadas no chão formando um triângulo, como uma toca. Instintivamente, agachei para pegá-las, quando algo se moveu ali debaixo e eu soltei o objeto assustada.
— Você não me disse que tinha um gato! — dei dois passos para trás com o susto, colocando a mão por cima do peito.
— E precisava dizer? — ele riu, abaixando-se para pegar o felino no colo e o acariciando. — Essa aqui é só uma delas, eu tenho três gatas. Diga olá para Soonie.
O que? Desde quando Lee Minho é amável com qualquer criatura viva que seja?
— Muito prazer, Soonie — me aproximei hesitante da gata, que estava deitada como um anjo nos braços do garoto. Fiz carinho nela. — Eu sou a Kyra.
Pode ter sido só impressão minha, mas podia jurar que vi um sorriso nos lábios de Minho. Seus dentes lembravam os de um coelhinho, o deixando com uma expressão fofa e bondosa, muito diferente do Minho carrancudo e reclamão que estou acostumada a ver todos os dias.
O Lee continuou acariciando a gatinha com um sorriso no rosto. Eu fiz o mesmo, e o ambiente se tornou silencioso de repente. Quando eu finalmente ergui o rosto, tirando minha atenção de Soonie, meus olhos encontraram os de Minho. O garoto me olhava fixamente com suas orbes escuras e eu senti uma coisa esquisita dentro de mim. Desviei rapidamente de sua mirada, pigarreando para quebrar o silêncio:
— Por que quando estive aqui da última vez eu não vi suas gatas?
— Ah, isso? Jisung é alérgico, quando ele vem eu deixo as meninas no quarto de brinquedos delas.
Quarto de brinquedos das gatas? Deve ser realmente incrível ser rico, mas eu deixei esse assunto de lado para começar a aula de Minho.
Nós passamos algumas horas ali, o assunto da vez era física, e minhas tentativas frustradas de ensinar o básico para o garoto estavam me dizendo que o meu plano de pegar pesado com ele no conteúdo não daria certo, já que até as coisas mais fáceis eram como teorias complexas na cabeça dele.
— Acho que é o suficiente por hoje, Lee — eu disse, fechando o meu livro e arrumando meus materiais.
— Espera aqui, eu vou buscar o seu pagamento lá embaixo — ouvi apenas os seus passos já escada a baixo.
Sozinha no quarto de Minho, eu levantei, colocando minha mochila nas costas. Em cima da cama de casal, Soonie e Doongie dormiam tranquilamente, eu me aproximei para ouvi-las ronronar. Era como ouvir o som da felicidade.
Senti algo quentinho em minhas pernas; ao olhar para baixo, vi a cena fofa de Dori se passando para lá e para cá em mim, querendo a minha atenção. Me abaixei para brincar com ela, mas a gatinha saiu andando. Alguns centímetros depois ela parou, olhando para trás como se dissesse "você não vem?". E é claro que eu a segui.
Saí do quarto do Lee, andando atrás de Dori, que passava como uma majestade pelo corredor. No final dele, havia uma porta, igual as dos outros cômodos, e eu observei a gata que se ergueu nas patinhas traseiras, arranhando a porta fechada que bloqueava a sua passagem.
— Você quer entrar aí? — perguntei afinando a voz, como se ela fosse realmente me entender. — Esse deve ser o seu quartinho de brinquedos, né?
Coloquei a mão na maçaneta para abri-la, mas quando eu finalmente ia girá-la, dei um pulo para trás. Dori correu dali com o barulho do meu movimento brusco.
— O que tá fazendo?! — Minho gritou; parecia tão assustado quanto eu. Ele deixou cair no chão o envelope que segurava e correu até mim, tirando a minha mão da maçaneta da porta.
— E-eu... — não consegui formar uma única frase. O peito do garoto subia e descia extremamente rápido, como se ele tivesse corrido uma maratona.
Nossos corpos estavam tão próximos que eu recuei um passo para trás, batendo as costas contra a parede do corredor. Só então eu percebi que Minho ainda segurava a minha mão e o quão desconfortável isso se tornou. Soltei dele apressada.
— D-desculpa, eu não devia ter tentado abrir! — tentei sair dali, mas o garoto apoiou a palma da mão na parede, formando uma barreira que me impediu de passar.
Minho não disse uma palavra sequer. Sua única ação foi dar um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós outra vez. Eu senti meu estômago revirar quando ele chegou tão perto que pude sentir a sua respiração em meu rosto.
Eu entrei em pânico e meus olhos saltaram de tão abertos quando vi a mão livre do garoto chegando lentamente perto do meu rosto. E, assim como aconteceu quando nossas mãos se encostaram por acidente na minha casa, eu senti um choque quando o polegar de Minho tocou a minha bochecha chegando cada vez mais próximo, me despertando do transe.
— Eu preciso ir!
E correndo pelas escadas em total desespero rumo à saída, eu fugi de Minho.
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