13• Aulas Extras
A semana de provas havia terminado e eu estava realmente feliz por isso. Entrei pelo grande portão da escola animada, sentindo a brisa gostosa que o início da primavera trouxe. O clima já não era mais tão frio quanto antes e o céu estava limpo, livre daquelas nuvens cinzas pesadas.
Passei pela porta de entrada, segurando as alças de minha mochila rosa claro. Subi as escadas, chegando ao corredor da nossa e das duas outras turmas de terceiro ano. Minha intenção era ir direto para a classe, mas a aglomeração de alunos no corredor olhando o quadro de avisos chamou a minha atenção. Será que já disponibilizaram os resultados dos testes?
Fui até lá, me enfiando devagar entre as pessoas para conseguir enxergar melhor. Como eu imaginava, o ranking já estava fixado ali, expondo do início ao fim a lista com os nomes dos alunos e suas respectivas pontuações.
— É você, não é? A Bae Kyra? Como conseguiu ficar em primeiro lugar? — uma garota perguntou, me olhando.
— Ela sempre fica em primeiro, todos já sabem disso — a que estava junto dela respondeu. — Escuta, em qual cursinho você vai? Nunca tiraria essas notas sem a ajuda de alguém!
Eu tentei sair do meio da aglomeração, mas não consegui. Todos me encaravam e pareciam determinados a descobrir tudo o que podiam sobre mim.
— Não é você faz parte das Garotas SKY? Como alguém popular tem notas tão boas?
Meu coração começou a bater mais rápido e não era de uma forma boa. Aquela enxurrada de perguntas começou a ecoar dentro da minha cabeça e eu senti como se meu corpo fosse ceder a qualquer momento.
— Ela precisa ir bem nas provas, senão vai perder a bolsa, não é, Kyra? — um garoto ria debochado enquanto me encarava de cima.
— Verdade! Ela entrou pela cota de pobres!
— Não é humilhante pra nós que uma mestiça esteja em primeiro lugar? Ainda mais uma pobre? Temos que dar um jeito nisso!
Os alunos zombavam de mim e aquilo começou a me sufocar como se mãos enormes apertassem o meu pescoço. Foi devastador escutar todas aquelas coisas horríveis de pessoas que não sabiam nada sobre mim.
Olhei assustada ao meu redor, procurando por uma brecha para fugir, mas tudo que eu conseguia ver eram corpos cada vez mais próximos de mim, estreitando ainda mais o espaço que havia ali antes. A cena era atormentadora. Minhas pernas agora tremiam tanto que eu mal conseguia me manter de pé; apoiei minha mão na parede do quadro de avisos.
— Aish, pensei que mudar pra essa escola cara melhoraria as minhas notas.
O surgimento da figura alta ali foi como um milagre naquela hora. Todos que antes me encaravam olharam imediatamente para ele. Inclusive eu. O garoto ignorou todos os olhares e continuou:
— Mas parece que eu também estou em último lugar aqui.
As pessoas se moveram para olhar a lista e confirmar o que ele tinha acabado de dizer. O espaço entre os alunos e eu voltou a existir graças a isso, mas meu medo não diminuiu. Ainda estava assustada demais com a situação.
— Minho — minha voz saiu baixa e embargada. Ele apenas me olhou como se tivesse tudo sob controle.
— Se alguém quiser saber qual cursinho eu frequento, é só perguntar! — disse alto, como se estivesse fazendo um anúncio. — Afinal, se virar a folha de cabeça pra baixo eu estou em primeiro, não é mesmo, otários? — Minho riu alto, e alguns garotos partiram pra cima dele.
Meus olhos se arregalaram, mas quando eu ia intervir, um professor se aproximou, fazendo o grupo que era de sua turma o acompanhar. Os demais começaram a deixar o corredor em seguida também, talvez por medo de seus professores aparecerem de repente como o outro. Alguns segundos depois, os únicos que restavam ali eram Minho e eu.
Minha mente estava em branco, mas um amontoado de perguntas surgiram dentro da minha cabeça enquanto eu olhava para ele. Por incrível que pareça, Minho acabou de me ajudar. O que eu deveria fazer? Agradecer? Passar por ele sem dizer nada? Fingir um desmaio?
Eu abri a boca, mas fechei imediatamente quando Minho riu fraco, dizendo:
— Impressionante como esses idiotas estão por todo lugar. Se eu fosse você, tentaria evitar eles ao máximo.
Semana passada nós estávamos nos atacando e hoje ele está me ajudando? Qual parte eu perdi?
— Ãn? — confesso que a fala "gentil" de Minho me pegou desprevenida. — Obrigada, eu acho.
Agradeci mentalmente o sinal que tocou nesse exato segundo, me poupando do que seria um momento totalmente bizarro e desnecessário.
— A aula vai começar! — falei mais alto do que planejei, sentindo a pedrada da vergonha me atingir.
Minho ficou em silêncio e apenas balançou a cabeça brevemente. Aproveitei a deixa para fugir dali o mais rápido que pude, entrando na sala sem olhar para trás.
[...]
Eu estava deitada assistindo a um dorama na TV enquanto Kyujin dormia profundamente em meu colo. Minha prática em pegá-la já era tanta que eu nem precisava segurar a bebê que descansava quietinha em cima da minha barriga, minha mão estava ali apenas para acariciar seus cabelos escuros e macios iguais aos meus.
Minha mãe não tem sorte mesmo. Parece que seus genes não fizeram nem cócegas nos do meu pai. O máximo que ela conseguiu foi me dar olhos azuis, mas se formos notar o resto, tanto eu quanto Kyujin somos versões mais jovens do Sr. Bae.
Peguei meu celular e olhei a notificação no visor, abrindo-a imediatamente. Era Seungmin. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios instantaneamente. Nós temos conversado todos os dias e é impressionante quantas coisas temos em comum. Estamos muito mais próximos do que eu imaginaria ficar de qualquer garoto que não fosse Yohan. Respondi a mensagem de Seungmin, ele havia compartilhado comigo um vídeo de gatinhos fofos no Instagram. Eu adorei.
Meu pai fazia o jantar na cozinha enquanto minha mãe dobrava algumas roupinhas de Kyujin sentada na poltrona da sala, assistindo o dorama comigo. Eu ri vendo meu pai surgir na sala com o avental florido, segurando uma colher de pau suja de molho. Ele estava alegre e chegou contando uma piadinha que fez minha mãe rir, apesar de não ter tido graça nenhuma para mim.
— Adivinha o que eu fiz de jantar pra minha filhota que é número um no ranking do colégio? — cantarolou divertido.
Busquei no ar o aroma vindo da cozinha e inspirei profundamente sentindo o cheiro delicioso da minha comida preferida.
— Samgyeopsal?! — me sentei rápido, tomando cuidado para minha animação exagerada não machucar Kyujin. A bebê suspirou, mas continuou dormindo.
— Samgyeopsal! — bastou ele confirmar para minha boca se encher de água.
Minha mãe soltou uma risada nos olhando, e veio em minha direção, pegando Kyujin dos meus braços e deixando um beijo no topo da minha cabeça.
— Vou colocá-la no berço e já venho pra gente jantar.
Eu levantei apressada, querendo chegar na sala de jantar o mais rápido possível, mas parei imediatamente, ouvindo meu pai limpar a garganta chamando a minha atenção.
— Algum problema, pai? — me virei lentamente, um pouco receosa. Ele pareceu pensar um pouco antes de responder.
— Será que posso fazer uma pergunta hipotética? — a probabilidade disso ser uma armadilha era tão grande, mas resolvi aceitar o risco.
— É claro.
— O que você acharia de dar umas aulas particulares?
— Aulas particulares? — refleti um pouco. — E iriam me pagar por isso?
— Sim, mas — ele pausou de repente e eu o olhei em dúvida —, eu não queria você pensasse nisso apenas pelo dinheiro.
— Sei... — semicerrei os olhos, desconfiada. — E o que mais?
— Acho que seria muito legal se você pudesse usar a sua inteligência pra ajudar seus colegas e...
Pela forma que as palavras sumiram da boca de meu pai, eu já entendi tudo.
— Se você quer que eu dê aulas pro Minho, pode esquecer.
— Mas, filha—
— Pai, eu não sei o que Sr. Lee andou falando pra você, mas minha relação com o filho dele não é das melhores. Sabe que perdi meu emprego por causa dele.
"Sabe que perdi meu emprego por causa dele."
A frase pipocou como uma lâmpada em cima de minha cabeça. Talvez não fosse uma má ideia dar aulas a ele, afinal, Minho me fez perder a única forma que eu tinha de ganhar dinheiro, e não vai ser nem um pouco ruim poder fazer a vida dele mais difícil durante as aulas. Posso matar dois coelhos com uma cajadada só: ganhar o dinheiro que ele me deve e aproveitar a oportunidade para transformar seus estudos em um pequeno inferno.
— Eu sei, Ky — ele suspirou, mas sorriu fraco em seguida. — Tudo bem, eu vou falar pra ele que não vai ser possív—
— Quer saber, pai? Acho que você tem razão. Eu devia mesmo ajudar meus colegas! — sorri largo, recebendo uma expressão confusa de meu pai. — Pode dizer pro seu amigo que vou dar aulas ao Minho!
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