10• Culpado
Eu tentava me concentrar no trabalho, mas as palavras de Minho não saíam da minha cabeça. Como ele teve coragem de rir de mim na minha cara?
"Um garoto te deu essa boneca?! Ah, tá! Conta outra, Kyra!"
Meu sangue ferve só de lembrar o som da gargalhada que o Lee deu quando eu disse que um garoto havia me presenteado com a pelúcia. Eu sou tão horrível a ponto de não merecer receber um presente de alguém? Mas também, isso é ótimo pra eu aprender a não abrir mais a minha boca pra conversar nada com Minho! Ele não merece nem que eu gaste palavras com ele.
— Aish! — reclamo em voz alta, recolhendo os grampos metálicos que acabei derrubando enquanto colocava no grampeador. — É tudo culpa dele!
Suspiro, tentando me esvair daquele ódio e tomo um gole de água em minha garrafa. Olho no canto inferior do computador no balcão, já era quase hora do fim do meu expediente, graças a Deus. Um jovem casal entra pela porta da loja e eu me apresso em cumprimentá-los.
— Olá, sejam bem-vindos! — o casal me cumprimenta de volta e eu sorrio pelo fato deles serem, provavelmente, os últimos clientes do dia. — Fiquem à vontade e se precisarem de ajuda podem me chamar.
Minha atenção fica presa neles por um bom tempo. O amor é realmente lindo.
Os dois passeavam pela loja olhando os mangás dispostos nas estantes e fazendo brincadeiras um com o outro o tempo inteiro. Posso até jurar que os vi brincando de pique-esconde entre os corredores. Sorrio involuntariamente vendo o rapaz alcançar um livro no lugar mais alto quando a garota não conseguiu. Pode parecer um clichê idiota para alguns, mas a forma como se olhavam me fazia sentir como se contos de fadas realmente existissem.
— Nós vamos levar esse aqui — a moça me entregou o mangá, sorrindo. Li o título da capa e sorri de volta.
— Ótima escolha! Vocês vão adorar.
Passo o leitor de código de barras na parte de trás do livro e recebo o pagamento do casal com a maquininha de cartão. Embalo o objeto e o coloco dentro da sacola, entregando-o.
Vejo os dois saindo pela porta de mãos dadas e agradeço mentalmente pelo relógio marcar 17h58. Apenas mais dois minutos e poderei ir para casa!
Fechei a caixa registradora e me abaixei no balcão para pegar a minha mochila que ficava guardada ali debaixo quando escutei um barulho esquisito. Me levantei rapidamente, batendo a cabeça na madeira do móvel e grunhindo de dor. Droga.
Olhei ao redor, identificando de onde vinha o barulho. Um garoto procurava ferozmente por algum livro nas estantes.
— Com licença... nós já estamos fechando.
O garoto estava de costas para mim, e sequer deu atenção à minha fala. Pigarreei vendo que ele continuava procurando por algo sem dar importância ao que eu tinha dito.
— Moça, me desculpe, mas eu estou desesperado! Minha mãe arruinou a minha edição especial de Attack on Titan e eu preciso comprar outra! — ele exclamava alto, ainda sem me olhar, mexendo nas prateleiras.
Levei a mão à testa, irritada, imaginando o que de tão ruim eu tinha feito para receber um cliente desse no meu último minuto de expediente.
— Não temos, o estoque esgotou assim que chegou aqui — informei, tentando fazê-lo parar de mexer nas coisas igual a um maluco.
— Não! Deve ter sobrado algum, eu comprei o meu aqui! — o garoto continuava tirando mangás e mais mangás do lugar, isso já estava ultrapassando o limite da minha paciência. Respirei fundo uma última vez.
— Ya! — eu gritei mais alto do que pretendia. — Você não pode sair bagunçando tudo desse jeito! Sua mãe não te deu educação?!
Eu saí de trás do balcão, indo até onde ele estava, já que não tive sua atenção nem mesmo gritando. Fui batendo os pés fortemente no chão, bufando mal-humorada. Parei de frente às suas costas; ele continuava a procurar por algo inexistente. Cutuquei forte o seu ombro.
— O que pensa que está fazend...? — minha voz foi sumindo à medida que o garoto girou para ficar de frente comigo.
Seus olhos se arregalaram e agora pareciam duas bolas de gude enormes. Eu simplesmente não posso acreditar nisso. Só pode ser um castigo divino, porque não existe outra explicação.
Suspirei de raiva, o fuzilando com o olhar mais mortal que consegui.
— Lee Minho... — rosnei com os dentes cerrados.
— K-kyra?! — ele gaguejou, dando dois passos para trás, batendo as costas com força na estante atrás dele.
Eu estava pronta para estrangulá-lo, mas a visão do móvel se inclinando, com seu rumo indo direto para o chão, fez eu me afastar assustada imediatamente de perto da estante.
Minha mão estava sobre o peito, segurando minha blusa tão forte que a plaquinha de identificação com meu nome se soltou, caindo no chão enquanto eu olhava para a cena em choque. Eu fitei o piso repleto de livros amassados pela queda da estante marrom clara, estava tudo arruinado.
Encarei Minho com sangue nos olhos. Ele estava extremamente assustado, mas isso não fez o meu ódio diminuir. E isso apenas piorou quando ele passou por mim e correu para fora da loja, me deixando sozinha em meio a todo aquele caos.
[...]
— Mentira?! — Yena e Soojin exclamaram em uníssono.
— Eu disse pra vocês, esse garoto tem problemas! Fui demitida e a culpa é toda dele!
— Não acredito que ele teve coragem de destruir tudo e sair correndo — balancei a cabeça concordando com a Soo. — Ele devia te arrumar um emprego novo, já que foi o culpado por você perder o seu.
— Ele é pior do que eu imaginei — Yena fez uma careta e eu novamente concordei, tomando um gole do meu suco de caixinha.
— Yohan disse que vai dar um jeito nele pra mim se eu quiser. Estou pensando seriamente na ideia.
— Você devia aceitar — Choi concluiu, mas minha atenção já estava em outro lugar.
No meio do refeitório estava Yeonjun, incomodando um garoto que estava sentado sozinho, tentando comer a sua refeição em paz. Revirei os olhos o vendo. Ele se acha o dono do mundo apenas porque seu pai é o diretor do Songdong. Seus cachorrinhos fieis, Soobin e Kai, estavam perto, mas não participavam da sessão de bullying que o outro praticava. Não entendo como eles aceitam ser amigos de alguém tão desprezível.
— Aish... — resmunguei baixo, me preparando para levantar e ir até lá. Soojin me impediu.
Eles nunca fizeram nada para mim e minhas amigas, mas eu não vou fechar meus olhos para isso apenas porque não é comigo.
Soobin, Kai e Yeonjun são os garotos mais populares do colégio, conhecidos por todos como Os SKY, referência às iniciais de seus nomes e ao dorama SKY Castle, onde meninos e meninas da alta sociedade disputavam fervorosamente vagas nas três melhores universidades de Seul. Graças a isso, Soojin, Yena e eu também ganhamos o mesmo título. Garotas SKY. E como eu detesto quando se dirigem a nós dessa maneira. Se um dia eu for supérflua como esse cara, vou pedir que alguém me dê uma surra.
— Eu vou lá! — me levantei batendo na mesa.
— Não, Kyra! Sabe que você não pode ir contra o Yeonjun! — Soojin me alertou. Eu sabia que me indispor com o garoto poderia fazer o pai dele me prejudicar tirando minha bolsa na escola, mas não aguentava vê-lo se divertindo às custas de um inocente.
— Então eu vou! — Yena levantou também, fazendo Soojin se erguer em seguida e segurar nossos braços.
— Eu sou a representante, me deixem cuidar disso.
Concordamos, vendo a garota de cabelos curtos caminhar receosa em direção à mesa onde o idiota estava. Mas, eu mal pisquei e algo realmente surpreendente aconteceu. Soojin parou abruptamente no meio do caminho quando uma gritaria começou no refeitório. Minho, que passava por ali, havia tropeçado acidentalmente - ou não - e derrubado toda a sua comida em cima de Yeonjun. A confusão se instaurou na hora. Muitos suspiros surpresos e olhos arregalados dos alunos cercavam a cena ao redor.
— Imbecil! Não sabe olhar por onde anda?! — ele gritou, notando o seu uniforme imundo.
— Oh, desculpe, eu estava olhando sim, mas acho que me confundi — Minho coçou a cabeça confuso. — Pensei que era a lata de lixo.
Minhas amigas e eu nos entreolhamos surpresas com a coragem, ou talvez falta de noção, do Lee.
— O que foi que você disse? — Yeonjun rosnou, colando a testa na de Minho. — Quero que repita se tem coragem.
Eu me tremi por dentro, a situação se tornou assustadora para mim e eu observava tudo com atenção, querendo estar pronta para impedir que se matassem caso as coisas saíssem ainda mais de controle.
O garoto que antes estava sendo incomodado se encontrava encolhido no assento, como um ratinho preso na ratoeira.
— É isso mesmo que você ouviu — ele desencostou seu rosto do outro, mantendo-se perto o suficiente para encarar Yeonjun. — Pensei que fosse o balde de lixo.
Yeonjun estava prestes a partir pra cima de Minho quando o zelador do colégio apareceu, dispersando todos que prestigiavam a cena, inclusive os personagens principais. Minho riu sarcástico. Estou quase acreditando que ele não tem medo da morte. Os lacaios de Yeonjun tentaram levá-lo dali, mas antes que conseguissem, o filho do diretor chutou com toda força a bandeja metálica no chão, esbravejando de raiva:
— Isso não vai ficar assim!
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