08• Bel Pane

Yohan e eu estávamos debruçados no berço de Kyujin conversando baixinho enquanto olhávamos a bebê dormir. Meu amigo tem se mostrado muito mais babão por crianças do que eu imaginava, isso é um pouco surpreendente vindo dele. 

— O que vai fazer no fim de semana? — perguntei o vendo acariciar os cabelos de minha irmã. — O filme daquele trailer que gostamos já tá em cartaz, quer ir ver? 

O garoto tirou a mão do cabelo da bebê e segurou na madeira do berço branco, jogando a cabeça para trás. 

— O filme já saiu? — ele choramingou com um biquinho nos lábios; eu assenti, rindo com a cena. — Eu queria muito, mas meu treinador me convocou pra treinar no fim de semana. 

— O que? Mas você já treina a semana toda! 

— Falta pouco pra competição — ele suspirou —, e dessa vez as melhores equipes da cidade vão participar, preciso estar pronto. 

— Não sei porque tá preocupado com isso — Yohan prestava atenção em mim enquanto eu mexia nos brinquedos pendurados acima do berço. — Você é o melhor, não importa contra qual equipe seja. 

— Nem se for contra o Songdong? — minhas sobrancelhas se ergueram com a informação. 

Eu sabia que minha escola tinha uma ótima equipe de Taekwondo; o Diretor faz muita propaganda disso já que seu filho é parte do time, mas eu nunca vi a minha escola participando das competições de Yohan que assisti. Geralmente eles competem em campeonatos de nível estadual, não em Jogos Interescolares da cidade. 

— Eles podem até ter uma equipe boa, mas só o seu colégio tem Kim Yohan! — ele riu da minha animação. — De qualquer forma, nós podemos assistir o filme outro dia. 

— Promete? 

— De mindinho — eu estendi o dedo e os entrelaçamos. 

[...] 

O fim de semana havia chegado e, como eu não tinha a companhia de Yohan, que estava treinando duro para os Jogos Interescolares, eu decidi tirar um tempo para mim mesma e fazer coisas que eu não fazia há muito tempo. 

Comecei indo até um parque próximo de casa, era reconfortante e bom estar ali e sentir a brisa no meu rosto. Peguei meu livro na bolsa e o abri, continuando o romance de onde tinha parado dois dias atrás. 

Paz e sossego era tudo o que eu precisava para recarregar as minhas energias. Além de algo bem doce pra tirar todo o estresse que vivi durante essa semana na escola. Eu passava as páginas do livro me prendendo cada vez mais dentro daquela história. Adoro ler romances, principalmente os clichês. Não tem nada melhor do que se iludir com algo que provavelmente nunca aconteceria na vida real. 

Eu tinha um sorriso tímido no rosto quando terminei o capítulo 14, era como se eu sentisse o mesmo que a protagonista estava sentindo. Fechei o livro e o guardei, levantando do banco e me espreguiçando para alongar as costas depois de ter ficado muito tempo sentada. Dei uma última olhada nas árvores, que já estavam se preparando para a primavera que se aproximava, e caminhei para fora do parque. 

Ouvi minha barriga roncar; era hora de comer algo. Eram quatro da tarde e eu já havia almoçado em casa, o que queria dizer que esse era o momento perfeito para uma sobremesa. Eu conhecia várias confeitarias em Seul, conhecia até uma que prepara e vende doces brasileiros, mas não queria ter que ir até lá. Precisaria pegar um ônibus ou passar por algumas estações de metrô. Ao invés disso, caminhei olhando atentamente para as fachadas das lojas próximas, procurando por alguma que vendesse o que eu queria. 

A vitrine simpática do estabelecimento chamou a minha atenção assim que me aproximei. A fachada escrita em alfabeto romano a destacava de todas as outras placas ao redor que eram escritas em hangul. 

Bel Pane

Quando passei pela porta do lugar um sininho tocou, avisando a minha entrada. Ali era confortável e aconchegante, como um incrível mundo paralelo onde você pode se refugiar dos problemas. 

Todos os pães, doces e bolos expostos na vitrine também estavam no balcão de vidro no interior da loja, além de várias outras opções diferentes. Aquilo me deu água na boca. 

O estabelecimento estava vazio, exceto pelo atendente que se encontrava de pé, parado atrás do caixa. Assim que me aproximei, ele levantou a cabeça, tirando a atenção do que estava fazendo antes. Nos encaramos por um momento e senti meu rosto esquentar. Desviei o olhar de volta para os pães. 

— Seja bem-vinda. No que posso ajudar? — ele disse em inglês, coçando a cabeça timidamente. 

— Bem, eu queria uma bomba de chocolate  — respondi em minha língua nativa e ele reagiu se curvando loucamente para mim em desculpas. — Ei! Tá tudo bem! Não precisa fazer isso! — gesticulei com as mãos tentando fazê-lo parar. Ser confundida com estrangeiros já é normal para mim. 

O garoto era alto e seus cabelos castanhos estavam bem arrumados em uma franja com uma pequena abertura deixando sua testa à mostra. Seu rosto parecia o de um cachorrinho filhote e ele tinha uma expressão tão adorável que eu me peguei o encarando mais do que deveria. 

— Me desculpe... e-eu vou pegar a sua bomba de chocolate, só um momento. 

Não sei por qual motivo, mas ele não foi até o balcão de vidro onde os doces estavam expostos. O garoto entrou para os fundos da loja e eu fiquei sozinha ali; aproveitei para observar todos os detalhes do estabelecimento. Como eu não conhecia esse lugar? É totalmente perfeito! 

Ao lado do caixa, vi uma plaquinha personalizada fazendo propaganda de um anime que eu adoro. Prestei atenção nas letras, parecia ser um combo infantil onde a criança podia escolher um brinquedo de seu personagem preferido de Spy x Family. Eu precisava dizer o quanto isso me interessou? Talvez eu fosse julgada pelo atendente, mas agora eu tenho uma irmã caçula, é a desculpa perfeita para comprar um combo infantil. 

— Também gosta de Spy x Family? — me assustei com a volta do garoto. — Vou te dizer que oitenta porcento das pessoas que compram esse combo são adolescentes e adultos. 

— O que?! Não! Eu tava pensando na minha irmãzinha! Ela acabou de nascer e eu ainda não dei nenhum presente a ela. 

O atendente sorriu, assentindo com a cabeça. 

— Eu já tenho a coleção completa, o mais legal é esse aqui — ele apontou o brinquedo na plaquinha. — Mas pra bebês eu recomendo mais esse. 

Ele me olhou, duvidando que a história de comprar um presente para Kyujin fosse verdade, mas logo mudou de assunto, me entregando o prato com a bomba de chocolate em cima de uma bandeja. 

— Eu me esqueci de perguntar o sabor, espero que goste de creme — olhei para o prato, ao lado do doce havia uma bola enorme de sorvete de creme, que eu não havia pedido, por sinal. — É por conta da casa. 

Eu podia sentir que estava corada, então apenas me curvei agradecendo e dei as costas ao garoto, sentando depressa na mesa ao lado da janela de vidro. Em minha visão periférica podia vê-lo passando um pano em cima do balcão, entretido com os afazeres de seu trabalho. Ele era fofo. 

Quando estava terminando de comer, o vi se aproximar de minha mesa, ele segurava uma sacola de papel pardo nas mãos. 

— Aqui, leve pra sua irmã — ele estendeu o pacote para mim. Minhas sobrancelhas se ergueram com o ato. 

— Ah, não! Não precisa mesmo se preocupar com isso! — me levantei da cadeira, em posição de alerta. 

— Por favor, aceite — ele fechou os lábios em uma linha. — Diz pra ela que é um presente e que eu espero que ela goste tanto de Spy x Family quanto eu quando crescer. 

Eu sorri, recebendo a sacola de suas mãos. 

— E quem eu digo a ela que deu esse presente? 

Ele passou a mão atrás do pescoço, parecendo envergonhado. 

— Eu me chamo Seungmin. 

— Prazer, Seungmin. Meu nome é Kyra — estendi a mão livre para o garoto e ele a apertou. 

Nos encaramos por um bom tempo até sairmos do transe com o soar do sino da porta anunciando um novo cliente. Separei nossas mãos rapidamente e pigarreei: 

— Bem, eu já vou indo, então. Muito obrigada, Seungmin!

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