01• O Baile do Songdong
O baile de boas-vindas do Colégio Songdong nunca foi tão divertido. Não que os outros tivessem sido ruins, mas o tema "Mundo Cosplay" elevou a festa anual de integração dos alunos a um outro nível. Passar uma noite inteirinha vestida como minha personagem preferida e me divertir ao lado de Soojin e Yena era tudo que eu precisava para relaxar antes de iniciar o meu último - e provavelmente exaustivo - ano na escola.
A maior parte das pessoas aqui presentes detesta o fato de ter que gastar o último final de semana das férias participando desse evento, mas a verdade é que o diretor nunca vai parar de realizá-lo. Além de arrecadar fundos para todas as atividades extracurriculares que serão feitas durante o ano letivo, esse baile já se tornou uma cerimônia tradicional de início das aulas, sendo reconhecido pelos pais de alunos do Songdong e, acima de tudo, por grande parte da alta sociedade coreana.
- Kyra! - me assustei com o grito de Yena. Ela tampava a boca com a mão e seus olhos saltavam do rosto. - Olha aquilo! É uma miragem? Por favor, me diga que não é uma miragem!
Ri do jeito escandaloso de minha amiga e me virei lentamente para onde ela apontava, imaginando que se tratava de mais uma de suas piadinhas infames. Meus olhos mal focaram no objeto e senti minha boca se encher de água e minha barriga roncar.
- Aquilo é...? - fechei a boca rapidamente antes que minha baba escorresse.
- Vocês estão assim por causa de uma fonte de chocolate? - Soojin surgiu do meio das rodinhas formadas por alunos, analisando nossas expressões.
- Veja bem como fala dela! - Yena reclamou, correndo para perto da mesa onde a fonte estava exposta.
- Você realmente não sabe o que é bom - dei dois tapinhas no ombro de Soojin e corri atrás de Yena, que já se esbaldava mergulhando morangos no chocolate derretido. - Ya! Deixe um pouco pra mim!
- Sai, eu cheguei primeiro! - nos empurramos com os ombros pra lá e pra cá, tentando parar na frente da cascata.
- Egoísta! Você não vai mais nem sentir o cheiro dos meus brigadeiros quando for lá em casa!
Eu ri quando Yena parou imediatamente, estendendo o braço para me oferecer seu espetinho de morangos cobertos de chocolate. A ameaça sobre o brigadeiro foi mais eficaz do que eu pensava.
- Pode ficar com esses, Kiky, e com todos esses outros também! - ela encheu um prato com várias frutas e o empurrou em minhas mãos.
- Você é tão previsível - a encarei com os olhos semicerrados fingindo mau humor, mas logo soltei uma gargalhada. - Tudo bem, eu te dou quantos brigadeiros quiser, mas pare de me chamar por esse apelido ridículo do fundamental, sabe que odeio.
- Que apelido? A incrível Bae Kyra nunca teve apelidos ridículos na infância! Ninguém se atreveria!
Ri nasal do último comentário de Yena, ela gosta mesmo de me provocar. Acho que ninguém da nossa classe no fundamental teve tantos apelidos quanto eu. Pelo menos essa fase horrível da minha vida ficou para trás, no ensino médio as coisas se tornaram bem melhores.
- Cuidado pra bruxa velha do João e Maria não atrair vocês duas pra casa feita de doce - Soojin se aproximou, nos vendo atacar a fonte.
- Soojin tem razão, você seria facilmente atraída pela bruxa, Kyra.
- E você não? - retruquei a encarando de canto de olho. - Até parece que sou a única maníaca por chocolate aqui.
Yena fez uma careta reprovando meu comentário, mas continuou comendo enquanto Soojin e eu entramos numa discussão infinita sobre como nossa amiga acabou adquirindo o seu vício por doces. Sempre levo a culpa só porque dei a ela um pudim de leite condensado em um de seus aniversários. Eu era criança e não tinha dinheiro pra comprar um presente, então eu peguei na geladeira o pudim que minha mãe havia feito pra sobremesa e dei a ela. O que isso tem a ver com o vício dela por doces?
Ok, talvez eu tenha uma parcela de culpa, mas é muito pequena, eu diria quase que microscópica.
- Ainda dá tempo de votar no melhor cosplay da noite, não percam a chance de escolher a sua fantasia preferida! - a voz ecoou das caixas de som do salão.
Me afastei da mesa e minhas amigas me acompanharam. Pensei uma última vez se deveria perder meu tempo votando na fantasia de alguém.
- Vocês vão votar? - Soojin perguntou, apontando com a cabeça para o pequeno guichê onde as cédulas podiam ser preenchidas e colocadas na urna. Torci o nariz ao olhar para lá.
- Pra que? Já sabemos quem vai ganhar, não vai mudar nada.
- Ah, mas se a gente votar entre si, pelo menos teremos um voto cada uma, não vamos sair com zero - Choi Yena contava nossos votos nos dedos.
- Não vamos ficar com zero votos, mas vamos ficar com zero dignidade - ri, analisando a proposta da garota. - De qualquer forma, Yeonjun vai ganhar, vamos só votar em quem quisermos.
- É uma boa - Soojin deu de ombros. - Não dá pra vencer o filho diretor da escola.
- Vou votar em quem estiver mais extravagante! - Yena fez uma dancinha animada e nós rimos juntas.
Demos algumas voltas pelo salão procurando as melhores fantasias e desistimos depois de perceber que não conseguiríamos decidir entre tantos personagens que gostávamos. Seria impossível escolher. Por isso, resolvemos votar umas nas outras. E não acho que seja injusto, porque nossas fantasias eram ótimas também.
Lee Soojin estava perfeitamente incrível vestida de Mikasa com seu uniforme da Tropa de Exploração, Yena nos divertia o tempo inteiro com sua roupa de Pikachu que combinava cem por cento com sua personalidade, e eu vestia o traje completo da minha personagem favorita de todos os tempos: a demônia mais fofa do mundo, Nezuko.
Passamos o restante da festa apenas aproveitando para comer e fofocar o máximo que podíamos. Quando o ano letivo começar, nosso tempo vai ficar muito mais curto. Provavelmente vamos ter que deixar de comer pra sobrar tempo pra fofoca.
Prioridades.
Nos separamos por um momento quando minhas amigas resolveram dançar na pista, atividade que claramente não faz parte dos meus poucos dons. Senti meu celular vibrar e vi o nome de meu pai na tela. Caminhei apressadamente pelo salão para chegar até o lado de fora, não conseguiria ouvir nada com a música alta tocando ali. Andei o mais rápido que podia para não perder a ligação dele, meu pai é do tipo dramático, se eu não o atendo na primeira vez ele diz que esqueci dele, que não o amo mais, que agora que estou "crescida" não preciso mais do seu amor e etc. É simplesmente o melodrama perfeito.
Meu ombro doeu quando alguém esbarrou em mim no meio do salão. Tá, provavelmente a culpa tenha sido minha, já que era eu que corria desatenta como uma louca.
Me virei para a pessoa e curvei-me prontamente pedindo desculpas quando ouvi a sua tosse engasgada. Levantei a cabeça preocupada e, no mesmo instante, arregalei os olhos vendo sua fantasia. Ele estava vestido como Zenitsu, o caçador de demônios que é perdidamente apaixonado por mim.
Quer dizer, pela Nezuko. Apaixonado pela Nezuko.
Abri e fechei a boca algumas vezes tentando falar algo. Na minha frente, o garoto fazia o mesmo, parecendo tão surpreso quanto eu. Ele não tinha nenhum traço familiar para mim, com tantos anos estudando nessa escola, eu certamente me lembraria dele. Penso em cumprimentar o novato, mas bem na hora um grupo de alunos passa entre nós dois, me impedindo de ver o garoto.
O procurei com o olhar, esticando o pescoço quando o grupo terminou de passar, mas o garoto já havia sumido na multidão. Como pode ter desaparecido tão rápido? Ele correu de mim? Eu concordo que estar vestindo uma fantasia de casal com um desconhecido é mesmo estranho, mas ele não precisava ter fugido desse jeito.
Dei de ombros e saí pela porta, indo até um lugar mais silencioso. Resmunguei comigo mesma vendo que tinha perdido pelo menos cinco ligações do meu pai. Passei o dedo por cima do contato, chamando.
Depois de ouvir todas as reclamações mais exageradas do mais velho sobre eu não o ter atendido, meu pai finalmente foi ao assunto pelo qual me ligou tantas vezes.
- Sabe que te amo muito, né, filhota? - eu já sabia que ali tinha algo, mas apenas concordei. - E eu sei que você vai fazer um favor muito importante pro papai.
- Hm... sei - ri de seu jeito interesseiro descarado. - Do que precisa, pai?
- Um amigo meu da faculdade se mudou pra cidade faz pouco tempo e hoje ligou dizendo que matriculou o filho no seu colégio. Será que você podia procurá-lo na festa e dar as boas-vindas? Ele me disse que o garoto passou por alguns problemas na escola anterior e não tem muitos amigos.
- Eu até faria isso, mas como vou saber quem é ele? O salão tá lotado de alunos, pai. Diz pro seu amigo que infelizmente não vai dar.
- Então, filha - ele pigarreou antes de continuar -, na verdade eu já disse pra ele que você vai fazer.
- Você o quê?! - alterei a voz sem perceber, baixando o tom em seguida. - Pai, isso vai ser impossível!
- O nome dele é Lee Minho. Sei que vai dar um jeito de achá-lo, você é incrível!
- Pai!
- Ah, como era mesmo? Ele me disse o nome do personagem que Minho está fantasiado - esperei ansiosa que ele se lembrasse do nome. Talvez isso facilitasse a minha busca. - Esses nomes de desenho japonês são muito difíceis...
- Você pode lembrar mesmo já sendo velhinho. Vamos, se esforce um pouco mais, papai - aproveito para zombar um pouco dele e ouço seu resmungo do outro lado da linha.
- Hum, seria Zitsu...? Não. Zirito? - franzi as sobrancelhas sem entender nada. - Zenitsu! Isso, Zenitsu! Você conhece, certo? Certo! Então eu já vou indo! Tchau, filhota, não esquece que o papai te ama!
Fiquei estagnada com a boca entreaberta e o celular na orelha. Ele desligou na minha cara sem nem me deixar falar nada.
Suspirei, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Então eu vou ter que ir atrás daquele garoto estranho? Mesmo?
Respirei fundo algumas vezes, guardando o celular de volta no bolso enquanto tentava assimilar o que tinha acabado de acontecer.
Bom, se não tem outro jeito... cosplay esquisito do Zenitsu, lá vou eu.
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