17| Amor da minha vida


A madeira do sofá marcou minhas costas a noite toda e eu só senti pela manhã, quando a claridade que vinha da janela, judiou meus olhos que pareciam sensíveis demais.
Bastou um movimento e eu estava no chão, junto com o tapete empoeirado da sala de televisão.

Tão confortável que eu poderia passar o dia todo ali e não ligaria que ainda vestia as roupas da festa do dia anterior.
A caótica festa em que meu irmão saiu puxando a garota nova pelos braços, a primeira festa depois do acidente.

Eu finalmente estava voltando aos holofotes depois de dois anos após a morte dele, o que para muitos era um mistério, meu sumiço se deu pela dor insuportável que eu sentia no peito todos os dias em que simplesmente não conseguia me erguer na cama.

Era irônico como a dor emocional se tornou física no decorrer dos meses, quando a ficha caiu que ele não voltaria e que nunca mais me sentiria inteira nos braços de alguém, não quis mais viver.
Deixei de ver motivo até mesmo nas coisas mais simples como arrumar o quarto ou escovar os dentes pela manhã e aquilo me derrubou de uma maneira que ninguém sabia explicar.

Um amor que rejeitei por anos, deixou uma ferida tão grande dentro de mim que ia muito além das cicatrizes que marcavam meu braço.
Era cruel e doía como o inferno saber que fui tão egoísta por tanto tempo, saber que se eu tivesse mais tempo teria feito diferente.

Às vezes no silêncio das noites eu ainda escutava o coração dele bater, o que era quase um pesadelo para mim, porque durante muito tempo estive implorando para que eu o esquecesse, para que o tempo levasse embora as lembranças dele.

Agora, dois malditos anos depois, eu comecei a esquecer, as memórias eram tão fracas quanto o cheiro dele na camisa que eu guardava dentro do armário, e embora eu me sinta culpada por isso, por desejar poder viver minha vida sem a lembrança do fantasma dele, estava bem.

Bem o suficiente para voltar e tentar algo novo.

Eu podia ser egoísta, mas eu via como remoer aquilo estava acabando comigo e com toda a minha vida, via no reflexo do meu irmão o quanto tinha afetado todos.

Proferindo palavras sem sentido, levantei me apoiando na mesinha de centro pequena e empoeirada da sala bagunçada.
Na noite passada era bem possível que eu tenha chegado e me jogado no sofá sem consciência o suficiente para ir ao quarto.
Opção prudente já que eu poderia ter tropeçado nas inúmeras coisas que tinham espalhadas pelo chão do meu covil.

Pelo movimento das coisas, Jonathan ainda não havia chegado.
Espero que ele não tenha feito nenhuma besteira com a novata, mas se tiver feito, espero que eu nunca saiba.

Sentei-me no sofá pensando se valeria a pena ir até a cozinha e alimentar o monstro que roncava dentro da minha barriga, não haveria muitas opções gostosas naquela geladeira.

Provavelmente uma fatia de queijo ou uma torrada cairia bem agora.

Por fim acabo por me levantar, a cabeça girando todos os móveis ao meu redor, qualquer movimento brusco parecendo explodir uma bomba.
Devia mesmo ter ficado no tapete.

Sem tempo para me arrepender, andei em passos lentos até a geladeira da cozinha, como esperado, não encontrando nada além de algumas fatias de queijo, leite e uma maçã velha.

Peguei o queijo, frustrada, e desembalei o plástico enfiando a primeira fatia na boca.
O gosto enjoativo do cheddar se misturou com o gosto azedo da boca recém acordada e quase botei tudo para fora.

Desistindo de comer, joguei o resto no lixo e lavei minhas mãos na pia cheia de louças.
Aquela casa estava precisando de uma boa faxina e tinha muito tempo que eu e Jonan vínhamos negligenciando as tarefas de casa.

Meu celular apitou do balcão me tirando o pensamento e logo fui verificar.

“Você estava linda ontem a noite”

Era ela. A garota que eu tenho saído recentemente, uma nova investida que embora deixaria muitos surpresos, não significava nada para mim.
Era só uma aventura que nós duas concordamos em ter, só um desejo que nutrimos uma pela outra.

“Você devia ter voltado comigo ontem” — digitei para ela junto de uma carinha triste.

Ela começou a digitar e depois parou, segundos depois mandou um:

“Tive que levar meus amigos para casa” — Ela respondeu — “Ouvi dizer que vai ter outra festa”

“Não vou aguentar até lá, quer se encontrar no mesmo lugar de sempre na segunda?” — Digitei de volta.

Observei ela digitar e depois parar, antes que eu visualizasse a resposta dela ouvi a porta da entrada se abrir.

Da cozinha, vi meu irmão passar por ela, um Jonathan atordoado se ajoelhou no chão assim que a porta voltou a se fechar.

Imediatamente soltei meu celular sobre o balcão e fui andando até ele.
Um soluço irrompeu da sua garganta dolorosamente, suas mãos logo tamparam as lágrimas que ele tentava segurar.

Notando a minha presença, ele olhou para mim assustado, Jonan não costumava chorar, não na minha frente.
As poucas noites que ele passava em casa, eu escutava por de trás da sua porta os seus soluços chorosos.

Sem saber o que fazer, simplesmente me ajoelhei ao seu lado e sem dizer uma palavra sequer, passei meus braços pequenos ao redor da montanha de músculos que ele era.

Embora ele tentasse impedir, o choro saia arrastado pela garganta dele enquanto retribuía o abraço.
Era disso que eu estava falando quando disse que a dor emocional pode doer a ponto de se tornar física, ele nem ao menos conseguiu chegar ao quarto para se esconder dessa vez.

Quando ele se permitiu chorar, abracei-o mais forte, temendo que ele fosse quebrar ali mesmo se eu não fizesse.

Eu sabia o motivo, sabia que era difícil para ele tanto quanto foi para mim, entretanto esse era um abraço que não precisava de motivos, não precisava de palavras, embora ele nunca fizesse com frequência, Jonathan chorou como uma criança e eu apenas me mantive ali.

Tomando a dor dele para mim como meu irmão fizera vezes antes, na infância.

— Eu contei para ela, dae. — Ele soprou abafado nos meus ombros.

Dae era o apelido que só ele e Harry usavam, Deus, fazia tanto tempo que eu não escutava aquilo.

Afaguei as costas dele com as mãos, procurando transmitir algum tipo de conforto.

Eu sabia o quanto aquilo doía para ele, sabia que Jonathan talvez nunca superaria a morte de Harry, nenhum de nós nunca nos esquecemos totalmente, mas para ele era mais do que isso.

Ele se culpa pelo acidente, se culpa por ter sido ele a presenciar o primeiro e último suspiro do amor da minha vida.

Abracei mais forte temendo que as minhas lágrimas saíssem junto com as dele.

— Tá tudo bem, Jon. — soprei de volta. — Tudo bem…

E ali ficamos por mais tempo que o necessário, abraçados, esperando que a dor no peito de ambos não estivesse ali.

Quando ele se recuperou minutos, talvez horas, apenas olhou para mim perdido e ainda atordoado.

— Eu não deveria…

— Você fez o que achou melhor. — interrompi enxugando suas lágrimas. — Ela merecia saber.

— Eu a culpei, fui um cuzão e…

— Peça desculpas. — Mostrei a solução e ele negou teimosamente com a cabeça.

— Você sabe que não sou de pedir desculpas. — Lembrou-me — Mas… eu estranhamente… não sei, mas parece tão… tentador.

— Você deveria dar uma chance a ela, tentar conhecê-la. — sugeri. — Deve estar sendo difícil para ela também.

— Eu não acho, ela deve estar muito feliz tomando um lugar que não é dela.

Suas expressões se fecharam, não era raiva, beirava a algo hostil, mas eu o conhecia o suficiente para saber que não era raiva.

— Não seja cruel. — disse sorrindo gentilmente, minhas mãos passando entre as sobrancelhas dele.— Você não é assim.

— Eu não sou eu mesmo a muito tempo, você sabe.

— Eu sei, mas, você ainda está aí em algum lugar. — segurei suas mãos. — Talvez ela ajude-o a achar.

Suas expressões então se tornaram um misto de confusão e talvez medo, era difícil dizer, Jonathan escondia muito bem suas emoções.

— Dê tempo ao tempo. — E meus braços estavam novamente ao redor dele.

— Ela é tão diferente dele.

— Claro que ela é, esperava que ela fosse mesmo uma substituição? — perguntei irônica vendo um sorriso suave aparecer em seus lábios.

Era difícil perder as pessoas, eu sabia bem o impacto que aquilo causava.

Primeiro nossa mãe, depois nosso pai e depois Harry.

Aquilo fode com a cabeça de qualquer um, eu sabia que Jonathan não era o mesmo a muito tempo.
Quando Harry Davies morreu, ele foi junto, e admito que uma parte de mim também.

— Vai abrir um buraco na cabeça dela. — alertei dando mais uma mordida no sanduíche, estranhando o olhar dele sobre a garota nova.

— Ela não parece diferente? — perguntou ele me tirando um olhar confuso. — Do primeiro dia.

Tá. Talvez eu tenha perdido algo importante dessa história, mas, porque ele estava tão obcecado agora?

— Vai ver é porque ela não está caída no meio do refeitório.

Estávamos no refeitório, em plena segunda, e tudo o que Jonathan sabia era olhar para a castanha do outro lado do lugar.

— Entrei para a aula de artes dela. — Ele revelou.

— Ah, ótimo, vai persegui-la agora. — Brinquei e ele desviou o olhar para mim.

— Eu não chamaria assim. — Soltei um riso irônico porque era exatamente isso que ele estava fazendo. — Tem algo de diferente nela.

— Claro que tem.

— É sério. — Ele olhou para mim. — Pode parecer estranho, mas, é como se eu quisesse conhecer o motivo deles gostarem tanto dela.

— Eu acho que você tem estado muito focado nisso, sério Jon, quando eu disse para dar uma chance a ela não falei para se transformar em um maníaco.

Deus, ele era persistente quando algo entrava na cabeça dele e no momento eu não fazia ideia do que se passava naquela mente endoidada.

— Me diz que você não fez nenhuma besteira. — Pedi.

— Defina besteira. — seus olhos voltaram para a mesa dela.

— Fode-la em um canto qualquer.

Seus olhos se voltaram para mim, como se eu não estivesse completamente errada.

— Nunca faria isso. — Ele mentiu, eu sei que é bem capaz dele fazer isso.

— Ah claro, persegui-la sim, foder jamais.

Diabolicamente ele sorriu assim que pelo o que pareceu seus olhos se encontraram com o dela.

Eu estava observando a mesa também, mas o motivo não era a nova obsessão de meu irmão.

— Como eu disse, estou apenas intrigado.

— Que honra ela tem, não é? — ironizei.

E o sinal tocou, finalmente, estava ansiosa para matar essa aula com a garota de olhos astutos.

Costumávamos nos encontrar no vestiário enquanto as aulas aconteciam, ela gostava de que fosse escondido e eu também preferia que fosse assim.
Não sei como Jonathan ou o papai reagiriam, acho que o papai nem se quer iria se lembrar do que aconteceu.

Antes de me despedir do meu irmão, vi sua mandíbula contrair e suas expressões se fecharem ainda focadas no outro lado do refeitório.

A garota agora conversava com o jogador de futebol na saída do lugar, ela ria confortavelmente para ele.

— Ciúmes? — zombei dele.

— Ele não é quem ela pensa que é.

— Certamente. — admiti. — Mas porque seria da sua conta?

— Proteção. — respondeu simplesmente.

Apenas assenti, como eu disse, muito persistente.

Me despedindo, esperei que ninguém prestasse atenção e segui pela saída de trás do refeitório, torcendo para não ser notada enquanto ia em direção aos vestiários da quadra que não era usada durante as outras aulas da grade.

Com o capuz da blusa sobre os ombros fui andando de forma muito suspeita, se as câmeras desse lugar funcionassem com certeza iam acionar o alarme de invasão.
Quando pisei no vestiário feminino atrás da quadra, pude respirar tranquilamente.

Com as mãos suando, ajeitei meu cabelo por trás da orelha, estranhamente preocupada com as expectativas da morena.
Aquilo era bom, eu podia sentir que sim, fazia muito tempo desde que eu tinha deixado de me preocupar com a minha aparência.

A dor de se sentir incompleta te fazia esquecer que qualquer coisa importava, e eu não queria sentir essa dor, não queria sentir nada sem ele ao meu lado.
Agora eu sentia que estava melhorando, as sensações voltando, e não estou ressentida por estar bem.
Passei muito tempo na sombra de uma dor que me esmagou completamente.

— Você está linda. — A voz dela soou me assustando. — Como sempre.

Alyssa se encontrava encostada no batente de uma cabine de chuveiro, completamente encantadora, vestia uma saia acima dos joelhos, uma blusa de mangas médias e gola social, branca.
A pele escura do seu busto sendo exposta por um único botão aberto, deixando muito para a imaginação.

Sorri suspirando para ela e a morena me analisou como eu havia feito, seus olhos trilhando um arrepio que acometeu minha sanidade.

— Sabia que é muito feio matar aula? — soou sua voz provocativa de novo.

— Acredite, matar aula vai ser o menor dos meus pecados.

Uma risada tímida escapou dos seus lábios quando seus olhos se fixaram na minha direção.

— Sentiu saudades? — Murmurou baixo quando acabei com a maior distância entre nós.

Dava pra sentir a respiração entrecortada dela na minha boca, era tentadoramente difícil não tomar seus lábios carnudos ali.

Varri meus próprios lábios com a língua, ato esse que não passou despercebido pela morena, Aly olhava hipnotizada para mim.
Aquilo acabava comigo, porque era tão real que qualquer um acreditaria que ela estava apaixonada, meu coração saltava toda vez que sentia essa intensidade.

Um suspiro ansioso saiu da boca dela antes que eu lhe pressionasse contra a parede de dentro da cabine.
Suas mãos encontraram a minha cintura assim que a minha língua pediu passagem para um beijo.

Ela cedeu, afundando seus dedos na minha pele e arfando quando minhas mãos puxaram levemente seu cabelo, inclinando sua cabeça para facilitar o beijo de uma forma mais gostosa.

Minha língua dançou com a dela em uma sintonia excitante, as mãos da menina explorando as partes favoritas do meu corpo.

— Você não sabe o quanto. — Respondi entre suspiros desajeitados sob os beijos que desci pelo seu pescoço.

Alyssa gemeu de leve quando minha mão fria adentrou sua saia, me deliciei com o som, sentindo cada vez mais os toques desesperado que ela distribuía pela minha bunda.

Oiii lindezas!

Cheguei meio de surpresa, decidi aparecer kkkkkk

Mas aí, boa leitura para vocês.

Sobre a faísca de hot nesse cap: só um gostinho para vocês porque acho um desenvolvimento mais interessante quando é focado só no casal principal.

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