capítulo 02: estratégia
— Sim, muito bonito. — Colocou-o de volta. — Bem, vou tomar um banho.
— É. — Respondeu com um leve sorrisinho, antes de jogar-se na cama.
Abriu a porta ao lado do armário de Jungwon, e entrou naquele banheiro decorado com azulejos verde claro, os quais combinavam com a pia e a privada. Davam um ar retrô, e o fazia lembrar do banheiro na casa de sua avó, que não era reformado há muito tempo. Tirou as roupas e ligou o chuveiro com água quente. Tomou seu banho tranquilamente, mas assim que acabou e abriu a cortina para pegar a toalha, ouviu a porta abrir.
— Jay, você esqueceu... — Jungwon abriu a porta, qual o mais alto também havia esquecido de trancar, e olhou-o de cima a baixo rapidamente antes de desviar o olhar. — Oh meu deus, desculpa.
Jay demorou alguns segundos para notar, e fechou a cortina na mesma hora. Conseguiu ouvir algumas risadinhas vindas, o que o deixou ainda mais envergonhado com a situação.
— Não precisa se preocupar, não é como se eu não tivesse um também. — Falou ainda risonho. — Irei deixar a toalha em cima da privada. Estou saindo...
Com o rosto todo vermelho, espiou uma vez pela cortina antes de sair do boxe e pegar a toalha. Park tinha essa mania de nunca trancar a porta do banheiro, pois o seu também ficava perto do quarto. Secou-se e colocou a muda de roupas de Jungwon, a qual era um pijama dos Star Wars. Fazia sentido ele ser fã, provavelmente havia até assistido no cinema o primeiro filme.
Saiu do banheiro com um sorriso amarelo, e encontrou Jungwon sentado na cama, lendo alguma revista em quadrinhos. Logo ao lado da cama, havia um colchão de solteiro com um cobertor e travesseiro. O mais velho logo percebeu-o.
— Pode deitar. Eu não tenho secador de cabelo, então vais ter que dormir de cabelo molhado. — Disse, antes de voltar os seus olhos para a revista em quadrinhos.
Jay sentou-se no colchão, encarou Jungwon por alguns segundos, e depois deitou-se para o lado oposto, pois não sabia o que fazer. Costumava ficar no celular até ter sono, mas agora não tinha nada em mãos para distrair-se.
— Queres uma HQ também? Eu tenho umas mais antigas na minha estante. — Ofereceu, com um sorriso adorável no rosto.
O mais novo concordou, e pegou a revista. Honestamente, era uma coleção bem incrível, e em 2019 valeria muito mais do que Jungwon imagina. Como não era fã dessas coisas, pegou uma aleatória e começou a ler. E incrivelmente, ambos ficaram um bom tempo em um silêncio confortável, cada um lendo em seu canto. Depois que Jungwon acabou de ler, ambos engajaram em uma conversa sobre as histórias, com mais velho surpreendido que Jay não conhecia aquela série de HQs, e contando quase toda a história com detalhes a ele, e o outro somente ouvindo encantado com a animação do garoto sorridente.
Tarde da noite, caíram no sono, e só acordaram com a luz da janela batendo em seus rostos cedo de manhã.
Depois de um café da manhã desconfortável com o senhor e a senhora Yang, foi levado pelo filho único da família até um parque no meio da pequena cidade onde viviam, onde também encontrariam Jake. Jay precisava contá-lo que vinha do futuro sem assustá-lo, ou pelo menos usar a sua ajuda para conseguir a geração de energia o bastante para poder voltar para o seu tempo. Jungwon não precisava saber disso, ou melhor, não devia saber disso, mas seria complicado separá-los. Só na conversa que tiveram noite passada, Jungwon mencionou Jake pelo menos dez vezes. Antes do incidente, eles eram realmente próximos.
Havia essa assunto a resolver também. Jay não tinha quase nenhuma informação; não tinha ideia da data em que aconteceria a confissão, nem da data da morte de Jungwon. Se pelo menos tivesse feito mais perguntas teria algum tipo de informação.
Estavam ambos sentados em um banco de quando Jake chegou. Até aquele momento, Jay estava encantado com os seus arredores. Na noite anterior não havia conseguido ver bem, mas agora podia observar cada detalhe de sua cidade, só que nos anos 80. O próprio parque onde estavam já havia sido diminuído para menos da metade em 2019, e era muito melhor ver todo aquele verde do que ruas pavimentadas.
— Ah! Jungwon! — Falou, enquanto corria até a nossa direção. Quando chegou, olhou para o mais alto. — Desculpa, nem sei seu nome ainda.
— É Jay. — Respondeu.
— Jay então. Que tal uma parada na lanchonete? — Sorriu, simpático.
— Já tomamos café, idiota. Você não? — Jungwon entrou na conversa, e recebeu um olhar feio de Jake.
— Você não tem treino hoje? Aquele treino extra para a apresentação de sexta da escola? — Comentou o tio de Jay, despertando a atenção do sobrinho.
— Verdade! — Pulou do banco, e deu um breve tchau com a mão. — Vejo vocês depois.
O garoto estava surpreso com a facilidade que foi ficar sozinho com Jake. E ainda por cima, ganhou uma informação nova: apresentação na sexta. Talvez algo tenha acontecido nessa data. Jake acompanhou Jungwon com os olhos por alguns segundos, e acabou soltando uma risada com o descuido do amigo. Jay precisava abrir o jogo agora.
— Jake. — Chamou a atenção do mais velho. — Eu preciso te contar uma coisa. E para você acreditar em mim eu preciso te levar a um lugar.
O Shim arregala os olhos.
— Você não quebrou nenhum osso quando eu te atropelei, né? — Perguntou com um tom preocupado.
— Não, não... — Deixou uma risada baixa escapar. — Só me siga. Se você achar que é loucura, pelo menos tenho como provar em parte.
Como um adolescente irresponsável comum, concordou em seguir o garoto aleatório que havia atropelado até a pequena floresta atrás do posto de gasolina. Assim que chegaram, Jay puxou com toda a sua força a lata velha, que por sorte estava "intacta", mesmo sem combustível. Jake não pode ficar mais animado.
— Uau! Como conseguisse um Delorean? — Aproximou-se, tocando no capô. — Mas porque está tão desgastado?
— É porque ele já tem uns 40 anos.
— Não tem como. Foi lançado há pouco tempo esse modelo. — Riu Jake, mas Jay continuou com a cara fechada.
— Jake, eu sou o seu sobrinho que veio do futuro, sem querer. — Foi o mais direto que pode.
Seu tio ficou-o o encarando por alguns segundos, e depois afastou sua mão do carro. Achando que era uma piada, voltou a rir.
— Eu estou falando sério. Eu queria nem te contar, mas como foi você, mesmo que tenha criado isso muito mais tarde, acredito que poderia me ajudar a voltar. — Voltou a explicar.
Jay ainda não recebeu resposta, então abriu a porta do carro, para mostrá-lo como era dentro e todas as funções diversas. No entanto, assim que abriu, viu no banco ao lado um caderno pequeno, mas cheio, e um pedaço de jornal. Confuso, pegou ambos, abrindo primeiro o caderno.
— Não tem como isso ser verdade. Sobrinho? Você é filho do Heeseung? E como é que eu posso ter montado isso tudo...
Enquanto Jake falava, Jay passava pelas páginas daquele caderno com um grande sorriso no rosto. Era onde estava explicado como funcionava a máquina, rabiscos e anotações importantes. Seu tio era bom em organização, pelo menos. No entanto, o que mais chamou a atenção do adolescente foi a capa do caderno, na qual estava colado um papel já amarelado, com um rabisco da máquina o qual parecia ser a sua primeira ideia. Jake, naquele ponto, já havia se aproximado mais, uma vez que não estava recebendo respostas.
— Jay? Aconteceu algo... — Parou de falar assim que viu a o caderno. — Como você conseguiu esse desenho?
Jake pegou o caderno, observando o desenho que ele próprio havia feito há apenas uma semana, com uma aparência extremamente antiga. Ele sabia reconhecer as próprias habilidades artísticas, e era exatamente igual. Uma máquina do tempo a qual havia pensado sobre depois de ler uma revista em quadrinhos... E agora esse garoto dizia ser seu sobrinho e que aquele carro era uma criação sua.
— Oh, meu deus. Eu fiz isso? — Sua ficha caiu após alguns segundos, apenas tentando entender o que havia acontecido.
Jay permaneceu em silêncio enquanto Jake passava as mãos pelas folhas do caderno.
— E a minha péssima caligrafia não mudou em 40 anos... — Finalmente, voltou a olhar para sua companhia. — Você...? Filho do Heeseung?
— Terceiro filho dele, na verdade. Mas é melhor você não espalhar o que eu te falar. Efeito borboleta, sabe.
Assistiu o mais velho sair de um estado de choque para ficar muito animado com aquilo tudo, e começar a fazer as perguntas esperadas.
— Sim, claro, conheço isso. Há carros voadores no futuro?
— Não... Só aviões mesmo.
— Como é a minha família? Espera, não, esse tipo de informação eu não deveria saber. Eu fico bonito quando mais velho?
— Meu ídolo desde que eu era criança, com certeza.
— Uau! 2019! Nem consigo imaginar os anos 2000... Isso é incrível. E claro, eu vou te ajudar a voltar. Você fez bem em me procurar, não há ninguém melhor para entender a minha letra do que eu mesmo...
Jay sorriu, aliviado. Pelo menos tinha certeza de alguma coisa que havia feito na sua viagem para o passado. Enquanto Jake continuava lendo o caderno, lembrou-se do pedaço de jornal que estava em suas mãos. Jornal não era mais usado na época de Jay, o que o fez estranhar aquele recorte.
— Raio na escola do centro da cidade acaba com relógio... — Depois de ler, imediatamente olha para a data do artigo e conecta os pontos. — 1,21 gigawatts! É claro! O tio já estava preparado para voltar!
Jake olhou-o estranho, pois agora achava que deveria responder quando o mais novo dissesse "tio". Jay o entrega o pedaço de jornal.
— Esse jornal é do dia 25 de abril de 1980. Essa sexta feira! Tem até a hora e o minuto, é a energia que eu preciso para voltar! — Explicou.
— Sim... Mas por que há algo tão conveniente dentro do carro? Você não disse que veio sem querer?
Jay engoliu em seco. Como explicaria ao seu tio do passado que ele no futuro estava planejando voltar por causa da morte de Jungwon? Não deveria dizer algo tão horrível para ele, deveria tentar evitar esse problema de uma forma discreta. Além disso, nada garante que a morte de Jungwon havia sido causada somente por Jake. Jay não podia apenas contá-lo e fazer com que espere até a tragédia ou fique tentando modificá-la desesperadamente.
— Eu não sei o motivo. Você deixou isso junto ao caderno. Você me mandou por engano aqui, provavelmente já estava pensando em voltar.
— Ah... Não tenho como imaginar como eu pensarei no futuro. — Resmungou. — Vou levar esse caderno. Irei ler e ver o que posso fazer.
— Ah, não conte a Jungwon. Eu sei que vocês são amigos, mas...
— Não irei. Ele iria te fazer todo tipo de pergunta sobre ele! — Respondeu, brincalhão, mas Jay só pode sentir a vontade de chorar.
Precisava encontrar uma estratégia logo. E a verdade é que já havia pensado em uma desde que foi dormir na casa de Jungwon.
Conquistar Yang Jungwon.
Como um bom adolescente introvertido, sentia que aquela era uma tarefa perto do impossível. E ainda um garoto tão perfeito como aquele. Mas mudar os sentimentos era a maneira mais simples de preservar a amizade dos dois.
Jay, acompanhado de seu tio, voltou para a cidade, e como não podiam voltar para a casa dos Yang, pois a sua avó não gostava de novos amigos do filho dela, especialmente aqueles que não podem dar nenhuma informação sobre si mesmos sem parecerem malucos, foram para uma lanchonete, onde o mais velho comprou dois milkshakes. Jake parou com as perguntas sobre o futuro, e focou no caderno, havia pensado melhor sobre o assunto do efeito borboleta, e não queria saber de nada que pudesse modificar muito o futuro.
Depois de alguns minutos, Jungwon aparece na porta da lanchonete, acompanhado de um garotinho familiar.
— Jaeyun, Jay! — Chegou mais perto. — Heeseung me encontrou no caminho daqui perguntando sobre você. Ele quer que você o ensine alguns truques no skate.
Jay observou o próprio pai com 12 anos com os olhos extremamente arregalados. Era exatamente como nas fotos, e aquilo o assustava ainda mais do que ver seu tio jovem. E ainda com o skate na mão... Havia perdido a conta de quantas vezes seu pai havia falado de como ele era bom no skate quando era mais novo. Jay só não sabia que quem o havia ensinado era o seu tio. Heeseung notou o olhar estranho sobre si em pouco tempo.
— Quem é ele? — Jay olhou para Jake.
— Meu amigo. Jay. Você gosta desse nome não é?
— Não.
Seu tio começou a rir, mas Jay apenas suspirou fundo, já esperando que quando voltasse tivesse um nome diferente.
— Então... Vamos lá? Eu também quero ir. — Empolgou-se Jungwon.
— Vamos, vamos. Jay, você também anda?
— Sim. — Respondeu, confiante. — Mas o meu quebrou a pouco tempo, poderia me emprestar um reserva ou coisa do tipo? — Mentiu, já sabendo que havia alguém para cobrir sua mentira.
— Eu tenho mais de um. Está feito.
Finalmente algo que Jay fazia bem. Heeseung havia o feito aprender. Não era tão bom quanto seu irmão mais velho, mas tinha algum tipo de habilidade, e talvez pudesse usar isso para tentar chamar a atenção de Jungwon, partindo da suposição que isso também o atraía em Jake. Tinha que tomar alguma atitude logo.
Acompanhou-os até as suas casas, e depois até a pista de skate já conhecida por Jay, mas uma versão bem mais antiga. A primeira coisa que o chamou atenção foi uma pista bem alta, a qual não existia na sua época, mas que também era muito comentada por Heeseung como "a melhor das pistas" e que a sua demolição por ser "muito perigosa" havia sido à toa. Depois de passar sua infância ouvindo isso, não pode ficar mais animado para testar.
— Jay, fique com esse skate. — Jake entregou-o uma prancha com desenhos bem coloridos e caveiras na parte de trás.
Aquele skate... Ele ainda estava na casa dos Park, mesmo anos depois. Pelo jeito, seu pai quebrou a perna com ele e acabou virando um tesouro. Estava pendurado na sala, junto a mais alguns outros que Heeseung havia usado durante a sua vida. E o estado estava perfeito acima de tudo.
— Obrigado. — Pegou-o das mãos de Jake. — Acho que eu vou lá em cima. — Apontou para a pista.
— Você acha consegue lá? Quero ver! — Respondeu Jungwon, sorrindo aberto.
— Quer apostar a minha queda? — Provocou, fazendo o mais velho rir.
— Eu preciso ficar aqui com esse pirralho por enquanto, vão vocês. — Disse Jake, o que fez Heeseung o dar um tapa. — Eu já vou.
Jay observou o olhar meio decepcionado de Jungwon, pois ele claramente queria a presença do melhor amigo. Não podia permitir mais isso. Rapidamente, colocou a mão sobre os ombros do mais baixo.
— Tenho certeza de que sou melhor que você. — Tentou provocá-lo para distraí-lo, o que parecia ter funcionado.
— Você é bem convencido, não acha? — Riu de leve.
Os dois subiram naquela pista alta e íngreme, e Jay engoliu em seco. Se não inventasse de fazer nenhum tipo de truque desnecessário, não iria cair, não é mesmo?
Enquanto isso, Jungwon subia do lado oposto. Assim que ambos estavam visualmente preparados, fizeram um sinal para saírem no mesmo momento, e de primeira, havia tudo indo bem. Jay havia conseguido ajustar bem a velocidade, mas não fazia nada de demais ao chegar nas pontas, diferentemente do outro que parecia estar voando naquela pista.
— É só isso que você consegue fazer? — Gritou Jungwon.
O mais novo era uma pessoa tão simples quanto Jungwon. Sentiu-se irritado rapidamente e logo tentou saltar assim que chegou ao final da pista, mas estando com um skate com o qual não estava muito familiarizado, deu uma desequilibrada ao voltar a colocar os pés na prancha, desviando o seu caminho.
Esse desvio o fez bater de cara com Jungwon, que estava voltando do outro lado ao mesmo tempo, pois os dois haviam saído juntos. Caíram ambos no chão, com Jay por cima, apoiando-se com os braços, um de cada lado da cabeça do mais velho. Seus rostos estavam extremamente próximos, dando a oportunidade a Jay de observar o rosto de Jungwon, o qual nem parecia ser real. Não queria mover-se um centímetro.
— Jay…
— Hyung, acho que eu nunca conheci alguém tão bonito quanto você.
Jay sentiu o seu coração bater mais forte. Não havia pensado na possibilidade de que também pudesse desenvolver sentimentos.
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