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*Rick*

Eu preferiria morrer do que ter que ver essa cena. Tudo oque eu tenho, toda a minha família, tudo o que lutei todo esse tempo, na beira de um abismo por causa de um imbecil filho da puta.

_ certo... Agora, ponham na direção dos narizes, pra quando atirarem__ ele faz um gesto de explosão em si mesmo, mostrando como seria.

_ garoto..... Aqui.

Meus olhos encontram os de Carl. Ele continua parado, com a expressão séria e forte.

Por favor não Carl.

Meu filho se aproxima e deita no chão, de bruços, assim como Negan ordenou. Nesse momento já perdi o controle das lágrimas, que escorrem sem cessar pelo meu rosto.

Se eu falar algo, será pior. Se Carl disser algo, será pior tambem.

_ você é canhoto?

_ oque? __ Carl diz, estreitando os olhos.

_ usa a mão direita?

_ não.

_ ótimo. __ Negan pega uma cinta e coloca no braço do meu filho, a apertando.

A dor que sinto é a pior que já senti em toda minha vida. Pisco várias vezes, pedindo a Deus que seja um sonho, por favor, que seja.

_ Simon, você tem uma caneta?

Segundo depois Negan risca o braço de Carl, fazendo uma linha reta.

_ desculpe garoto. Isso vai ser tão frio quanto o saco de esquimó, como se estivesse pendurando o saco sob você e arrastando pelo seu braço.

_ por favor. Não faça isso, por favor. _ sussurro, as palavras em meio a soluços.

_ eu? Não vou fazer merda nenhuma. Rick, quero que pegue seu machado e corte o braço esquerdo do seu filho bem na linha. Eu sei. Você precisa processar isso por alguns segundos, faz sentido. Mas se não fizer isso, todas essas pessoas vão morrer, então o Carl morre, e depois as pessoas da sua casa morrem..... E no final você. Vou deixar você respirando por alguns anos, pra que possa sofrer por isso.

_ você não precisa fazer isso, nós entendemos._ olho a minha frente, e vejo Michonne aos prantos, tentando impedir a desgraça que está prestes a acontecer.

_ você entende, sim. Mas não tenho certeza se Rick entende. _ a voz de Negan entra na minha cabeça, mas só consigo escutar bem de longe.

Nada mais faz sentido, não consigo pensar, agir, nem nada. Um grande vazio se forma, e vai ficando maior a cada segundo que se passa. Não tem como decidir, não tem. Não posso cortar o braço do meu próprio filho, mas também não posso deixar que mate todos. A incerteza segue tomando cada pedaço de mim, destruindo tudo, por onde passa.

_ eu sei que é uma coisa difícil de se pedir, mas deve ser como uma fatia de salame. Nada complicado, corte limpo, 45 graus. Nos deixe algo para dobrar, nós temos um ótimo médico, o garoto ficará bem. Provavelmente. Rick.... Você tem que fazer isso agora. Rapidinho. Ou.... Eu vou esmagar a cabeça dele, eu mesmo.

_ você .... Você pode cortar meu braço. _ é a única coisa que consigo dizer. Minha garganta se fecha, e perco a respiração.

_ você pode fazer isso comigo... Eu... Eu posso ir com você. _ soluços fazem as palavras serem cortadas ao meio, e começo a gaguejar.

_ não. É o único jeito. Rick, pegue o machado.

Olho pro meu filho ali, olhando pra mim com os olhos cheios de lágrimas. Não posso fazer isso. Não posso.

_ não tomar uma decisão é uma grande decisão! Você realmente quer ver todas essas pessoas morrerem? Você vai. Verá cada detalhe horrível. Meu Deus! Vai me fazer contar? Okay Rick. Você ganhou, vou contar.

Subitamente tudo fica preto, não enxergo mais nada. Pisco várias vezes, mas as lágrimas embaçam cada pedaço da minha visão. Dentro de mim sinto como se uma bomba estivesse prestes a explodir, aquela pressão insuportável que não consigo mais suportar.

Assim que ele fala três, começando a contar, perco a respiração novamente, tudo oque consigo fazer é pedir por favor, chorando.

_ dois! __ ele grita, e se abaixa, dando um tapa na minha cara.

_ é isso!

Gritos saem pela minha boca sem parar.

_ um!

Pego o machado, tremendo e escuto " pai, faça isso" sair da boca de Carl. Meu braço se ergue, segurando a arma. O chão abaixo de mim já está completamente molhado, com as lágrimas que choro.
Movo toda a força que resta em mim para o braço com o machado e desço a mão.

Negan aparece do nada e segura meu braço, me impedindo de fazer o movimento.

_ Rick. Você me obedece. Você trabalha pra mim. Você me pertence, certo?

Respiro com dificuldade, entre soluços que vêm e vão.

Balanço a cabeça.

_ Responda quando falarem com você! __ grita, dando outro tapa no meu rosto.

_ você me obedece, trabalha pra mim.

_ trabalho pra você.

_ você pertence a mim, certo?

_ certo. _ sussurro.

_ esse é o olhar que eu queria ver! _ responde.

Negan se levanta e pega meu machado.

_ nós conseguimos! Fizemos isso juntos! Até os mortos no chão. Diabos, eles ganham o prêmio por espírito, com certeza. Hoje foi um dia produtivo! Agora, eu espero, pelo bem de todos vocês que tenham entendido. Que entendam como as coisas funcionam. As coisas mudaram . O que tiveram antes.... Acabou.

O silêncio consome o local, enquanto abaixo minha cabeça, processando os fatos.

_ Dwight..... Ponha ele no furgão.

Movo o cabeça, e vejo ele pegando Daryl e o jogando no caminhão. Meu irmão tenta resistir, mas Dwight fecha a porta em sua cara.

O choro de Maggie ecoa no meu ouvido, enquanto as lágrimas por perder mais alguém escorrem.

_ ele tem coragem. Não é um maricas, como alguém que eu conheço. Eu gosto dele. Ele é meu agora. Mas você ainda quer tentar algo? " Nem hoje, nem amanhã"? Eu vou cortar pedacinhos do..... Como é o nome dele?

_ Daryl. _ alguém fala.

_ uau, combina com o jeito dele. Vou cortar pedacinhos do Daryl, e colocá-los na sua porta. Ou, melhor ainda, eu o levarei até você, e você terá de fazer pra mim.

Ele dá dois tapinhas no meu ombro, e se levanta.

_ Bem vindos a um novo começo, seus desgraçados! Vou deixar a caminhonete com vocês. Fiquem com ela pra carregar a merda que vão achar pra mim. Vamos voltar para a primeira oferenda em uma semana. Até lá, tchauzinho.

Fico ali, sentado, junto com os outros por um bom tempo. Todos estamos quietos, em nossos próprios pensamentos.

Algum dos filhos da puta vêm até os dois mortos, e tira foto de suas cabeças esmagadas, ostentando a "vitória".

Maggie é a primeira a se manifestar no silêncio, se levantando e indo até o marido, mesmo com dificuldade.

_ maggie. _ me levanto também, e tento a ajudar, mas ela nega.

_ precisamos levar você até Hilltop. _ digo. Ela precisa de um médico, urgentemente.

_ vocês precisam se preparar.

_ para oque? _ pergunto.

_ para lutar contra eles.

_ eles têm o Daryl, eles têm um exército. Nós morreriamos, todos nós.

Eu concordo com ela, precisamos lutar. Mas não vamos. Não podemos perder mais ninguém, e é isso que aconteceria.

_ vá pra casa. Leve todos com você. Eu consigo chegar lá sozinha.

_ você mal consegue ficar em pé. _ digo, e é verdade. Nunca a vi tão mal assim, e entendo completamente.

Seguro seu braço, tentando a ajudar a continuar em pé.

_ eu preciso ir. Vocês precisam ir pra Alexandria. Vocês sairam por minha causa.

_ ainda estamos do seu lado. _ digo.

_ eu consigo fazer isso, preciso que voltem, não posso ter vocês aqui fora, não posso mais ter todos aqui.

Sua fala se transforma em choro, e ela tenta conter a respiração mas não consegue.

_ Maggie, não vamos te deixar sozinha, ok? _ Michonne se aproxima.

_ vocês precisam.

_ isso não vai acontecer. _ as lágrimas escorrem, enquanto falo.

_ eu a levo. Vou levá-la até lá e mantê-la em segurança. Não estou te dando opção. _ Sasha fala, olhando pra Maggie.

_ vou levá-lo comigo.

Olho pro corpo, a minha frente. Maggie se ajoelha, e se descontrola, chorando.

_ por favor, nos deixe ajudar. Ele é nossa família também. _ sussurro.

Eu, Aaron e Carl pegamos os corpos e colocamos na caminhonete.

" Você achou oque Rick? Que ia ter almoço de família aos domingos e vocês iam fazer piqueniques sentados na grama? O mundo não é mais assim, e quanto mais cedo aceitar isso, melhor será pra você. "

As palavras de Negan ecoam na minha cabeça, enquanto dirijo o trailer com as pessoas que sobraram, indo pra casa.

É, talvez não seja mais assim mesmo.

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