Sol e chuva dividiam o céu, enquanto muitos estavam em casa de baixo de seus cobertores felpudos e calorosos, Emma aproveitava cada gota que caía do lado de fora. Andava sem rumo, em algum lugar na cidade. A garota soluçava horrores. O que teria lhe acontecido?

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14/ 12/ 2001

       Em algum lugar no mundo, nesse mesmo dia, nascia uma criança, mas nesse mesmo dia partiu outra vida desta terra. Seguindo o ciclo da vida, ou não. Essa vida que foi interrompida por um grave acidente era de fato, muito importante para Emma...

___ Emma! Atende logo essa merda de telefone!

___Oh. Claro. Desculpa o incômodo.

        Ela corria em direção a bolsa, envergonhada por ter cometido o deslize de não desligar o celular em seu ambiente de trabalho. Mal sabia que após aquela ligação, muitas coisas em sua vida mudariam. Aquele lugar estaria mais para sua casa do que para o trabalho.

___ Alô.

___ Olá. Gostaria de falar com Emma Emanuelle Fonseca. Com urgência.

___ Sou eu. Aconteceu alguma coisa? Com quem falo?

___ Meu nome é Chistian. Sou diretor geral do hospital Valença Cristovam. Desculpa a forma de dizer, mas aconteceu um acidente com seu irmão, Darlan e precisamos da sua assinatura para autorização de uma cirurgia. É urgente.

___ Que?... Mas, como. Já estou indo.

___ Fique calma e traga seus documentos, por favor.

      Nesse momento, Emma viu seu mundo desabar. Não acreditava no que escutou momentos atrás, porém não se perdoaria se fosse verdade. Sem se preocupar se teria desligado o telefone saiu tropeçando em seus próprios pés. Como um vulto atravessou a grande sala sem nem notar a presença de Eduardo, seu patrão.

___ Você não tem juízo mesmo. Volte a trabalhar ou terei...

___ Cala a boca! ___ Emma fala ao seu patrão.

___ Como você ousa? Exijo respeito.

___ Você fala de respeito, mas onde está o seu? Esqueceu onde deixou todas as manhãs durantes anos? Ou você não teve nem por si próprio? Assina o que quiser, desconte o que quiser. Não trabalho mais para você. Agora me dê licença___ Após falar as palavras que estavam entalados em sua garganta durante muito tempo, Emma pega sua bolsa no sótão da casa onde trabalhava como empregada doméstica e sai correndo rumo ao hospital.

Ao certo, naquele momento que mudou sua vida, nem mil sorrisos pagariam a ausência que fizeram em seu peito. A morte bate na porta ao lado quando menos esperamos. A notícia dada pelo médico no hospital, as palavras ditas, as frações de segundos usados, tudo era notado por Emma. Sentou-se na cadeira desnorteada e saiu correndo do hospital. Não poderia mais ver seu irmão, o corpo não estava mais naquele local.

     Se arrependeu, não só pela forma como tratou o patrão, mas por não ter tido chance de se despedir. Ela estava vivendo novamente esse cenário, o cenário que a morte deixa depois de bater na porta. Vivia apenas para seu irmão mais novo, e agora, não sentia mais razão para existir. Após andar muito, chegou em uma rodovia deserta e sem muito pensar, pulou a mureta e encarou o grande rio que ficava de baixo da ponte. Nada mais à prendia. Abriu os braços, sentiu o vento bater em seu rosto, engoliu em seco enquanto olhava uma última vez para baixo. Num sussurro se jogou.

___Vamos nos encontrar___ Disse___Em vez de sentir a gravidade à puxar para baixo, sentiu um abraço quente e apertado. Naquele instante, achou sua morte repentina e que os braços do seus pais já tinham lhe acolhido.

___Você ficou louca, mulher___ Disse Eduardo.

       Emma chorou, pois não eram os braços de sua família. Quando abriu os olhos, enxergou um semblante preocupado de Eduardo e não entendeu o porquê dele estar ali. Foi atingida pela agonia, pela dor, e pela imensa vontade de chorar. Eduardo lhe envolveu nos braços sem ao menos ter coragem de dizer pelo estava ali. A pegou no colo e a colocou no carro, à levando de volta pra casa. Infelizmente, naquele momento suas palavras não eram suficientes para tampar o buraco que tinham feito em seu peito.

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"A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida..."

A morte chega cedo, de Fernado Pessoa.