Capítulo 4_Parte 2/3
*música para acompanhar o cap*
Emma sabia o que tinha que fazer, estava decidida a se salvar, nem que fosse para ficar aleijada... ela não estava muita positiva. Sabia que se jogar do telhado seria suicídio, pois era alto demais para ter a sorte de ficar viva, entretanto, se ela caísse por cima dos escombros talvez tivesse mais chances de sobreviver. Ela tinha sonhos, vários planos que traçou antes de encontrar aquele lugar, e não podia desistir tão fácil. Já dava para sentir o telhado queimando os pés e parte dele já estava caindo. O lugar era muito antigo e estava prestes a desabar. Ela subiu em cima de uma das caixas d'água e atirou na outra, que não foi suficiente para furá-la. Então descarregou a arma e a caixa despencou água para todos os lados. Emma olhou para os céus e disse "Que seja o que Deus quiser", e mergulhou dentro da outra caixa. Antes de mergulhar dentro da caixa, Emma não sabe ao certo se imaginou coisas, mas poderia jurar que viu Nicolás correndo para lá.
O prédio antigo do observatório, desmoronou, de uma vez só e as águas se agitaram junto com todos os pensamentos de Emma. Um filme de sua vida passou pela sua memória, um filme de toda a sua vida num piscar de olhos...Corria pelas herbáceas verdinhas no jardim, enquanto sua mãe vestida com seu avental azul lhe chamava para lanchar... Escutava as histórias do seu pai, sempre sorridente e brincalhão. Lembrava de escalar as árvores, das crianças, do balé... Mas a última lembrança lhe foi confusa. Estava num lugar muito claro, como o céu, foi andando perdida na claridade com um leveza como se flutuasse e lá estava seu irmão. Gritou seu nome e correu para abraçar-lhe...
___ Meu irmãozinho, não sabe quanto senti sua falta meu amor, minha vida.
___ Também senti muita sua falta.
___ Meu irmão, eu morri?
___ Não irmã, mas ela sim.___ Apareceu uma menina, dos cabelos escuros e bagunçados, sorrindo como nunca.
___ Quem é ela?
___Sua filha... Você tem que ir agora.
___ Vou me lembrar disso?
___ Não.
...
Nicolás foi detido pela água, e arrastado para longe, mas lá estava Emma desmaiada um pouco depois de uma das caixas d'águas. Ainda havia fogo num dos lados, porém não iria poder atingir a garota. Ela estava inconsciente com umas queimaduras no pé esquerdo e alguns machucados. Foi correndo em sua direção, sem pensar muito apertou seu peito e ela cuspiu água e abriu os olhos.
___ Fica comigo meu anjo. Por favor fica comigo____Ela continuava o olhando, com o olhar distante.
___ Por favor não fecha os olhos Emmazinha, por favor, meu amor___ Ela piscou os olhos e por fim os fechou.
___ Nãoooooooo!!!___ Gritou aos céus enquanto a abraçava.
___ Você não pode morrer meu amor. Não pode morrer! Por favor respira, por favor!
A cena era deteriorante, triste e amarga. Aquela manhã jamais seria esquecida por quem a presenciou. Mas ainda havia esperança. Nicolás olhou em direção aos portões e lá estava o corpo de bombeiros e a ambulância. Logo a pegou no colo e saiu correndo com a mulher nos braços. Se sentia esgotado, arrasado e destruído por dentro. Quando a ambulância o alcançou imediatamente os médicos começaram o processo dos primeiros socorros, para voltar a vida da jovem. O desfibrilador encontrou seu peito e o choque fez com que seu coração batesse novamente, e só ali Nicolás sentiu alívio e deu graças a Deus pelo que nomearam de milagre.
Naquela manhã, Nicolás jurou tentar ser a melhor pessoa do mundo para àquela mulher. Ele sentiu um grande amor pulsando pelas suas veias e tudo o que desejava era nunca mais sair do lado dela. Ele a viu tão indefeza naquela maca, e mesmo assim machucada e sangrando lhe achou tão linda. Queria beijá-la milhares de vezes se fosse possível, mas tinha medo de que seus beijos não a fizessem o perdoar. Era sua namorada, e ele a havia traído. Não era o mesmo que todas as garotas que ele conheceu e descartou, ela era sua namorada. Os pensamentos pesavam em sua mente, mas tudo o que ele tinha que fazer era pegar os documentos dela e entrar naquela ambulância. Tinha que estar ao lado da pessoa que ele ama.
Nicolás entra na ambulância ainda receoso por ver que Emma continuava desacordada. Se sentiu tonto, logo lembrou que não tomou o café. Ele se sentia mal, mas nada disse. Segurava a mão da garota enquanto os enfermeiros a examinavam. Sentiu frio, e se lembrou que nem pegou um casaco, somente trocou a roupa molhada e correu pro outro quarto, para pegar os documentos de Emma e algumas peças de roupa. Fechou os olhos e refez a noite anterior e tudo que vinha acontecendo...
"Eu fiquei pensando em você o dia inteiro, pensando no seu beijo, no seu toque e na pele. Lembrei de quando você veio falar comigo naquela cantina, e na cara de quem não estava acreditando que tinha ido falar comigo. Lembrei de quando passava pela sua sala e te via dançando escondido, depois que todas as meninas tinham saído. Cada paço seu tão preciso, cada vez que você me olhava com esses olhos grandes que só você tem e toda vez que você sorri e fica vermelha. Isso tudo me fez te querer mais do que uma amiga, e isso já faz quase dois anos", lembrou-se de tudo o que tinha dito a garota e sabia que era verdade.
___ Ah Emmazinha. Por que eu cedi?___ Alertou a mão da garota e mais uma vez fechou os olhos se lembrando.
... Na noite anterior
Nicolás sentou na cama ainda nu, olhou para o lado e encontrou Emma, descabelada e dormindo tão suavemente que cogitou tocá-la ou não. Passou a mão direita pelos seu cabelos, abaixou e deu um beijo em sua testa enquanto a elogiava mentalmente: Você é tão linda, tão cheirosa e maravilhosa. Você é o meu amor, minha namorada. Ainda desacordada ela se virou para o lado e puxou a coberta, ele se levantou, deu a volta na cama e a cobriu. Deu alguns passos em direção à janela e o vento estava frio e aconchegante, mas nenhum sinal de chuva. O céu aberto de estrelas lhe fazia um belo convite, mas naquele instante ele poderia jurar que nenhuma daquelas estrelas era tão linda quando a garota, que esparramada pela cama, era a mais linda das estrelas.
A noite que os dois tiveram estava cravada em sua memória, e ele repetia várias e várias vezes em sua mente tudo o que foi dito, todos os sussuros, os gritos, e o fôlego cortado. Se sentia a pessoa mais sortuda, se sentia o mais amado. Vestiu sua roupa e calçou seus sapatos depois de um tempo, mas antes pegou um papel e uma caneta e deixou uma lembrancinha para Emma. Após esconder o bilhete, foi para seu dormitório sem ao menos perceber no celular as onze chamadas perdidas.
Ao chegar no dormitório, é surpreendido por um par de mãos que tapa seus olhos. Ele não fazia ideia de quem seria, afinal poderia ser qualquer uma das tantas mulheres que ele tinha um caso.
___ Devo adivinhar quem é?
___ Claro que deve___ Reconheceu o timbre de voz e se sentiu inundado de surpresa.
___ Rose.
Após se virar para vê-la, percebeu a tristeza em sua face e como seus olhos estavam carregados de lágrimas. Mesmo com toda tristeza, a mulher de pele retinta, com um lindo cabelo afro, sorriu ao encontrar os olhos de Nicolás e não se conteve ao beijá-lo. Nicolás não fez nada, não retribuiu o beijo, muito menos a impediu de beijá-lo.
___ O que aconteceu com você?
___ Eu preciso conversar com você. Eu preciso de você.
___ Mas agora está muito tarde! O que diabos faz aqui.
___ Meu pai faleceu esta manhã.
___ Meu Deus eu sinto muito.___ A abraçou. Ele sabia como o pai dela era importante e como sua ausência seria sentida. Ele não fazia a menor ideia do que falar para ela, pois nunca lidou muito bem com a morte. E bem nesse momento, ele se esqueceu completamente de Emma.___ Vamos entrar. Você dorme no meu quarto essa noite, mas vai me prometer que de manhã cedo vai embora.
___ Tudo bem eu prometo, mas antes preciso disso___ Lhe beijou outra vez, e com um grande sentimento de culpa retribuiu o beijo, que foi se misturando com a vontade de a consolar e o desejo.
___ Eu não posso.___ Disse após estarem quase sem roupa no meio do corredor
___ Não pode por quê? Você tem alguém?___ Uma porta do outra lado é aberta, e um pedido de desculpas sussurrado faz eco pelos corredores.
___ Não tenho outra pessoa___ Mentiu, mas ele sabia perfeitamente que tinha outra pessoa e se sentiu um imbecil, mas não se controlou....
Quando Rose terminou de se consolar nos braços de Nicolás, ele encarou o teto se perguntando porque ele se deixou levar pelo impulso, se perguntando porque não foi fiel a sua namorada. Olhou para o lado e viu Rose, que estava os os braços em seu peito. Ele a tirou de perto dele e se virou para o lado, estava cansado demais para pensar em como as coisas tinham acontecido rápido, mas dormiu lembrando de uma barraca de côcos em Copacabana, que era do seu pai que tão distante dali estava.
Quando acordou, a primeira coisa que fez foi olhar para o lado e não era Emma que estava ali. A ressaca estava o rondando, e tentava se lembrar do que tinha acontecido, mas só se lembrava de beber muito com Rose, conversar sobre o pai dela, depois os dois se beijando intensamente e por fim lembrou-se de toda a noitada. Merda, pensou. Ele tinha o costume, de levar garotas para aquele quarto, mas Rose era diferente. Se arrependeu da noite que teve e não via como achar uma desculpa para dar a sua ex, que ali estava, deitada e nua.
___ Bom dia dorminhoca___ a sacudiu.
___Bom dia amor. Que horas são?
___ Hora de você ir embora, como combinamos.
___ Verdade eu tenho um velório para ir.
___ Sim, tome sua roupa___ Ela se levantou, prendeu os cabelos volumosos e se vestiu. Deu um pulo na cama e se atracou em cima de Nicolás.
___ Diz mais uma vez que eu sou única.
__ Você é única.
___ Diz mais uma vez Nicolás.
___ Isso mesmo que você escutou, você é única, Emma___ Rose acertou um tapa no rosto de Nicolás.
___ Quem você pensa que é pra me chamar de Emma!? Quem diabos é Emma?___ Saiu decepcionada, enquanto ele sentia a consciência pesar.
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Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
Luís de Camões
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