Capítulo 4

Fred concluiu a análise das imagens e foi mostrá-las a Scott.

— Scott, eu assisti a todas as imagens daquela noite e não consegui encontrar nada relevante, vi vários carros passando pelo local e também algumas pessoas caminhando normalmente. Nenhuma delas me pareceu em atitude suspeita, como se tivesse acabado de cometer um crime.

— Alguma mulher caminhando sozinha, uma loira, de preferência? — perguntou o detetive.

— As imagens são em preto e branco, mas em momento algum consegui identificar a presença de uma mulher. Se a tal mulher passou por ali, não foi flagrada por estas câmeras.

— Isso não é bom, eu esperava que já tivéssemos ao menos uma imagem da possível assassina. Mesmo ela estando disfarçada.

— Se ela estava usando um disfarce, não seria reconhecida facilmente se alguém a encontrasse na rua, mas as câmeras teriam flagrado a presença dela — analisou Fred.

Scott abriu os arquivos no computador e Fred lhe mostrou todas as imagens. Cada uma das pessoas que apareciam nas gravações durante os possíveis horários em que o crime ocorreu. Fred estava certo, nenhuma daquelas pessoas se parecia com uma mulher, mesmo disfarçada. A menos que o detetive estivesse enganado, e que o assassino fosse um homem. Caso contrário todo aquele trabalho de análise das imagens tinha sido em vão.

— Realmente ela não está nas imagens. Espero que tenhamos melhor sorte ao analisar o computador de trabalho de John. Se nada for encontrado retornaremos à estaca zero.

Todas as possibilidades estavam se esgotando e três dias depois do crime ainda não era possível saber quem era a assassina. No entanto, Scott estava certo de que estavam lidando com uma mulher, não um assassino como ele estava acostumado. O detetive esperava que aquele fosse um crime isolado, único, mas ainda era cedo para dizer se isso realmente era a realidade.

Na manhã seguinte...

— Então, querido! Como andam as investigações no caso do homem assassinado na própria casa?

— Não evoluíram. Todas as evidências colhidas na cena do crime não nos levaram a nenhum suspeito ou suspeita. As câmeras de segurança perto da casa não mostram alguém com característica suspeita. Procurávamos uma mulher loira, mas nada foi encontrado.

— E agora, o que pensam em fazer? Todas as alternativas já se esgotaram?

— Ainda não. Vamos analisar o computador de trabalho da vítima para tentar descobrir alguma coisa. Também vou conversar mais uma vez com Suzy, a viúva. Se nada for descoberto, aí sim poderei dizer que não temos mais nenhuma opção. O caso pode ficar sem solução, a menos que um novo crime ocorra, isso é outra coisa que ainda não descartei.

— Espero que peguem o culpado, sei que você não gosta de abandonar um caso sem solução. Confie que tudo irá se resolver.

— Espero que sim, Eve.

Scott terminou seu café e foi para o departamento.

Já de posse de um mandado, Scott e Fred foram até a empresa onde John trabalhava. Eles foram recebidos pelo chefe de John e logo em seguida foram levados até a mesa em que ele trabalhava. Scott esperava que pudessem encontrar o que procuravam facilmente, sem a necessidade de levar junto deles todo o equipamento.

Fred ligou o computador e assim que terminou de carregar os arquivos ele abriu os dois navegadores de internet que estavam instalados no computador. Ele consultou os históricos de um e não achou nada de interessante nos últimos dez dias, então começou a fazer a mesma coisa com o outro. Não foi diferente, nada de suspeito foi encontrado

— Infelizmente aqui não tem nada que nos leve a uma suspeita — falou ao detetive que já se mostrava decepcionado com a situação.

— Que falta de sorte! Ele pode ter usado outro tipo de acesso para marcar um encontro, aqui mesmo neste computador?

— Dificilmente, analisei todo o histórico, mas seria interessante analisar o equipamento mais a fundo. Talvez ele tenha excluído um programa depois de ter marcado o encontro, essa possibilidade existe. Informe ao responsável que será necessário levar o equipamento para periciá-lo.

— Tudo bem, vou avisá-lo. O mandado que pedi já previa isso se fosse necessário. Pode começar a desmontar o equipamento.

Scott informou o procedimento ao chefe de John. Obviamente que ele não gostou da ideia, mas o detetive garantiu que nada de importante seria perdido no procedimento

— Pronto, podemos levar o equipamento.

— Ótimo, Scott! Vou trabalhar nisso, se tiver alguma informação relevante, pode ficar tranquilo que eu encontrarei.

— Perfeito! Confio em você, tenho certeza que é capaz disso. Agora vou na casa da amiga de Suzy. Quero conversar com a esposa de John outra vez e saber se ela tem mais alguma coisa a dizer sobre a morte do marido. Deve estar bem melhor do que o dia em que conversei com ela, ainda no hospital.

Scott foi até o endereço informado pela mulher e se apresentou na portaria. O segurança, um sujeito calvo e forte de olhos negros utilizou o interfone para avisar Suzi de sua presença, liberando a entrada depois de confirmar seu nome através do distintivo.

Suzy abriu a porta do apartamento apenas alguns segundos depois de Scott tocar a campainha. Ela estava sozinha naquele momento, sua amiga havia saído logo cedo para trabalhar. Suzy não havia colocado os pés para fora daquele apartamento, desde o dia que deixou o hospital e veio ficar com a amiga.

— Olá, como vai, Suzy?

— Estou bem, apesar do acontecido. Entre detetive — falou cumprimentando-o.

— Preciso conversar com a senhora mais uma vez.

— Por favor, não me chame de senhora. Nem casada sou mais, pode me chamar de Suzy, ou de você, se preferir.

Os dois se acomodaram nos sofás confortáveis que existiam ali. Suzy estava tranquila, nada parecida com a mulher que ele havia conversado no hospital dias antes.

— Já conseguiu descobrir quem matou John?

— Ainda não, Suzy, na verdade, nem temos pistas relevantes que podem nos levar até o culpado ou culpada.

— Então John realmente estava com outra mulher quando foi morto? — perguntou com raiva no olhar.

— É isso o que indicam todas as evidências até o momento. A maneira que John foi morto, a ausência de luta corporal, os fios de cabelo encontrados no local. Ele não foi drogado, estava sóbrio quando teve as mãos amarradas, por isso acredito que foi uma mulher que cometeu o crime. Ou no mínimo fez tudo isso e depois um homem apenas o degolou, mas acho pouco provável. Para mim o crime teve a participação de apenas uma pessoa.

— Você tem ideia de quem poderia ser a mulher com quem seu marido estava naquela noite?

— Não, não faço ideia de quem seja. Eu não fazia ideia de que meu marido pudesse estar me traindo. Foi um choque para mim.

— Eu vim aqui porque agora você está bem mais calma. Quero saber se tem mais alguma coisa a me dizer, qualquer informação pode ser útil?

— Não, detetive! Não sei de nada, tudo o que eu sabia já falei ainda no hospital. Não faço ideia de quem teria motivos para matar meu marido.

— Nem sempre existe um motivo óbvio, ele pode ter morrido sem saber o porquê. Me parece que o único crime que ele cometeu foi tê-la traído.

— Muitas pessoas morrem por causa de traição, maridos matam as esposas ao descobrirem que estão sendo traídos, mas nesse caso eu não consigo entender os motivos. Eu seria a única interessada na morte dele, se fosse assim.

Scott ouviu atentamente aquelas palavras. Teria Suzy descoberto a traição do marido e mandado matá-lo cruelmente? Era uma hipótese que não deveria ser descartada?

— Mas imagino que a senhora não tem nada a ver com isso? — perguntou olhando fixamente em seus olhos, procurando qualquer sinal de dissimulação. Suzy não tinha cara de assassina, mas isso também não significava muita coisa.

— Não! Claro que minha vontade era de matá-lo com as próprias mãos quando soube que ele estava com outra mulher, mas não tenho nada a ver com isso. Pode acreditar em mim, detetive.

Scott notou sinceridade em suas palavras, mas ainda não descartaria por completo aquela possibilidade. O horário do voo de Suzy de Los Angeles à New York já tinha sido confirmado, ela realmente estava na primeira cidade quando o marido foi assassinado. Claro, se ela fosse a mandante do crime isso não significaria muita coisa. Uma viagem marcada para outra cidade a fim de criar um álibi, um marido sozinho em casa, a contratação de uma mulher para se fazer de amante e assassinar John. Seria o crime perfeito. Mas com a prisão da tal mulher tudo poderia ser confirmado ou não.

— Suzi, tem mais alguma coisa que gostaria de me dizer?

— Sobre a morte de meu marido, não. Mas preciso ir lá, na casa, tenho que buscar algumas roupas e pertences pessoais. Não sei por quanto tempo ficarei aqui, na verdade, nem sei se algum dia voltarei a morar naquela casa. Acho que não terei coragem de ficar sozinha naquela casa depois do que vi no meu quarto.

— A casa ainda está interditada, mas posso acompanhá-la até lá, se quiser? — falou o detetive muito solicito com a mulher.

— Sim, só vou vestir outra roupa. Aguarde um momento que já volto.

Scott ficou ali na sala e por alguns instantes sua mente fez algo que ele tinha vergonha. Ele imaginou que a poucos metros dele, naquele quarto, Suzy estava tirando a roupa e ficando apenas de lingerie, ou até mesmo completamente nua com seu belo corpo. Ele nunca traiu Eve, mas seu instinto masculino as vezes era mais forte do que a razão. Ele tentou tirar aqueles pensamentos da cabeça, não gostava nem de pensar na hipótese de fazer isso com a esposa, da mesma maneira que não gostaria de ser traído por Eve.

— Podemos ir! — falou Suzy o tirando de seus devaneios ao retornar apenas alguns minutos depois, usando uma saia um bocado curta.

Ela sem dúvida era uma mulher muito bonita, Scott não entendia por que John foi capaz de traí-la. Muitos homens não dão valor ao que possuem, mas ele não a conhecia intimamente, então não poderia julgar John pelos seus atos.

Scott parou o carro em frente da casa, os cordões de isolamento ainda estavam no mesmo lugar. Eles caminharam até a porta da frente e o detetive entrou primeiro. Scott queria ver a reação de Suzy ao retornar à cena do crime. Claro que ela poderia ficar abalada ao ver a cena, ao menos era isso o que aparentava quando Scott a visitou no hospital. Mas e se tudo aquilo fosse apenas parte do teatro para tentar ocultar sua participação?

Suzy olhou para o lugar com cautela, havia medo verdadeiro em seus olhos, ela ficou calada enquanto tentava pensar no que realmente tinha ido buscar. Ela finalmente foi até o banheiro e pegou algumas coisas, itens de higiene pessoal e colocou tudo dentro da bolsa que havia trazido. Em seguida foi até o quarto e ficou paralisada na porta, olhando para a cama que já não estava mais com os lençóis ensanguentados, embora ainda havia manchas de sangue em alguns lugares e sobre o colchão.

Ela parecia estar revendo a mesma cena em sua frente, apesar do corpo não estar mais no local. Certamente que seria difícil esquecer aquilo algum dia.

— O senhor por favor pode me acompanhar, tenho medo de ficar sozinha aqui dentro?

— Claro!

Receber um convite para entrar sozinho num quarto com outra mulher era algo inusitado, mesmo numa ocasião como aquela. Scott mais uma vez não conseguiu tirar pensamentos sacanas de sua mente. Principalmente quando Suzy se abaixou para pegar lingeries na gaveta e acabou mostrando parte da própria calcinha branca, por causa da saia curta que usava. Scott teve a impressão de que aquela mulher estava tentando seduzi-lo propositalmente, mas não se deixaria levar por um desejo passageiro e sem sentido.

Suzy pegou mais algumas roupas e colocou dentro de outras bolsas que pegou no armário. Ela deu uma última olhada para o quarto e então disse:

— Podemos ir, detetive, já peguei tudo de que preciso.

Scott deu graças, pois já estava ficando incomodado de ficar com ela dentro daquele quarto. Talvez aquele fosse apenas o jeito de Suzy e ele estivesse a interpretando mal, afinal Scott não a conhecia até então. Mas uma coisa era certa, aquela mulher era capaz de mexer com a cabeça de qualquer homem, isso ele tinha que concordar.

Eles deixaram a casa e Scott a levou de volta ao condomínio onde ela estava morando com a amiga. Suzy o agradeceu por tudo e pediu que o detetive a mantivesse informada sobre o caso. Depois de passar aqueles momentos junto dela, Scott estava quase descartando a possibilidade de que ela tivesse qualquer envolvimento com a morte do marido. Ou será que a beleza de Suzy estava deixando os olhos de Scott embaçados?

Talvez sim, mas ele não se deixaria levar pelos desejos da carne, ele tinha uma esposa que o amava e seu sentimento era recíproco. Mesmo que outra mulher ficasse totalmente nua em sua frente, oferecendo o corpo a ele, mesmo assim Scott ainda tentaria resistir à tentação de cometer aquele ato depravado.


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