Capítulo 2
Quando Robert chegou em casa pouco depois das seis da manhã, Jane ainda estava dormindo. Ele tomou um banho como de costume e foi para a cama. Jane estava totalmente nua debaixo das cobertas, ele a acordou e então eles fizeram amor loucamente. Robert nem acreditava que tinha tamanha sorte em ter aquela mulher maravilhosa só para ele, nem sonhava que por trás daquela mulher aparentemente perfeita, existia um instinto assassino.
Suzy só retornaria de viagem na tarde do dia seguinte, mas antes disso ela tentou conversar com o marido pelo celular, mas sem sucesso. A princípio ela imaginou que ele estivesse ocupado, em alguma reunião de trabalho e por isso não tinha atendido a ligação. Só que ao desembarcar no aeroporto e conferir o celular novamente e não encontrar nenhuma mensagem, nenhuma ligação perdida do marido, ela ficou bastante preocupada. John não costumava ficar longe do celular, então a sua atitude realmente era fora do comum. Ela pressentia que algo de ruim pudesse ter acontecido, mas não queria imaginar o pior.
Preocupada ela ligou para o trabalho dele, mas aquilo só a deixou ainda mais apreensiva. Ficou sabendo que John não havia aparecido para trabalhar naquele dia, e que também não tinha ligado para dar explicações de sua ausência como sempre fazia quando não podia ir ao trabalho. Da empresa tentaram ligar para ele por causa de alguns assuntos relacionados ao trabalho, mas ele também não atendeu nenhuma ligação. Suzy pegou o primeiro táxi que conseguiu e saiu em direção de sua casa, precisava saber o que estava acontecendo. Depois de aproximadamente meia hora, o carro parou em frente da casa deles, ela pagou ao motorista e saiu carregando a pequena mala que havia levado.
Suzy notou que o carro deles estava na garagem e respirou aliviada, provavelmente John não estava se sentindo bem e por isso não foi trabalhar naquele dia. No entanto, isso ainda não explicava o porquê de ele não ter respondido as suas ligações e as da empresa. Ela caminhou até a porta e pegou na maçaneta para abri-la, mas notou que não estava trancada. Aquilo também não era algo comum, John tinha paranoia com trancas, nunca deixava a porta da frente destrancada. Um frio percorreu a sua espinha, os pelos de seu corpo se arrepiaram como se ela estivesse prestes a ver uma assombração num filme de terror. Seu maior medo era o de empurrar aquela porta e encontrar o marido morto, estirado no chão, o corpo cravejado de balas ou coisa pior.
Ela entrou na casa e no mesmo instante sentiu aquele cheiro invadir as suas narinas, parecia alguma coisa podre, algo que ela não conseguia distinguir de imediato. Não havia nenhum corpo na sala, nada fora do lugar. Suzy chamou por John, mas não houve resposta. Ela caminhou até a cozinha e notou que tudo estava mais ou menos organizado, mas não havia sinais de que ele esteve por ali recentemente.
Preocupada com o marido, ela foi em direção ao quarto do casal, aquele cheiro insuportável estava ficando cada vez pior a cada passo que dava em direção ao cômodo, ela abriu a porta recebendo uma lufada de ar fétido ainda mais forte. A luz do quarto estava acesa, ela olhou para a cama e seu grito de horror ecoou por toda a casa, certamente que conseguiu ser ouvida por todos os vizinhos próximos. Seu estômago se embrulhou e ela quase vomitou no chão do quarto antes que conseguisse sair dali. Suas pernas tremiam, com dificuldade ela conseguiu caminhar até finalmente sair da casa e conseguir ajuda.
Ao menos uma das vizinhas que tinha ouvido seu grito veio ao encontro dela rapidamente, querendo saber o que estava acontecendo, mas Suzy estava em choque, não conseguia dizer nada, apenas apontava em direção a casa. Um dos vizinhos, um senhor de cabelos brancos também se aproximou, a mulher pediu a ele que entrasse na casa para ver se descobria o que havia acontecido. Qual era o motivo do desespero da pobre mulher. Pouco tempo depois ele também deixou o local totalmente assustado, quem não ficaria ao ver aquela cena.
— Vou ligar para a polícia. Aconteceu um crime ali dentro — falou sem dar mais explicações e correu até sua casa para pegar o celular.
O homem ligou para a emergência e poucos minutos depois um carro da polícia e uma ambulância chegaram ao local. A mulher foi amparada e colocada na ambulância, não foi capaz de dizer nada sobre o que havia acabado de presenciar dentro da própria casa. Enquanto isso os policiais entraram na casa e se depararam com aquela cena grotesca, não havia nada que pudessem fazer ali dentro. A vítima estava morta havia mais de doze horas. Imediatamente eles contataram a equipe de perícia para que fosse até o local.
Scott estava em sua sala analisando alguns documentos, naquele momento ele não trabalhava em nenhum caso importante, o dia estava acabando e ele acreditava que iria para casa em breve, mas então seu telefone tocou e Alfred pediu que ele fosse verificar uma ocorrência. O chefe disse apenas que havia ocorrido um crime bastante macabro, mas não entrou em maiores detalhes. Nem precisava, Scott sabia que era um caso parecido aos que ele estava acostumado a investigar, Alfred não lhe colocaria num caso qualquer.
O detetive pegou seu carro e foi até o local, naquele momento o céu no horizonte já começava a ser pintado em tons de laranja, em pouco mais de uma hora a noite cobriria a cidade com seu manto negro. Scott avistou ao longe as viaturas da polícia e também da equipe de perícia, havia uma grande movimentação de curiosos por ali. Alguns até mesmo esticavam o pescoço na esperança inútil de enxergar algo mais dentro da casa. Certamente que o ocorrido havia se espalhado rapidamente entre a vizinhança.
Scott desceu de seu carro e caminhou calmamente até cruzar o cordão de isolamento, ele mostrou seu distintivo a um dos homens que faziam a segurança da porta e adentrou na casa. O cheiro de sangue invadiu suas narinas, não era a primeira vez que sentia aquele cheiro, era sinal de que algo terrível havia acontecido naquela casa.
O detetive analisou a sala com uma olhada rápida e não viu nada fora de lugar, nenhuma desordem, não havia sinal de violência. O que quer que tenha acontecido ali se restringia ao quarto e foi naquela direção que Scott caminhou.
Além de Ted, o chefe dos peritos, havia outras três pessoas coletando possíveis provas ali dentro. A cena era deplorável, a cama estava banhada em sangue de tal maneira que era até difícil de acreditar que um dia existiu um lençol branco ali. A vítima estava totalmente nua, era um homem de aproximadamente quarenta anos, havia um grande corte feito em sua garganta, provavelmente a causa de sua morte. Mas isso não era tudo, seu pênis havia sido decepado e o membro inserido em sua boca, com a maior parte ficando para fora, simulando um ato sexual oral. Uma cena muito bem montada, diga-se de passagem.
Scott notou que existiam pequenos ferimentos nos dois pulsos do sujeito, seus braços encontravam-se acima da cabeça, deveriam estar amarrados no momento em que ele foi golpeado e assim permaneceram até que ele estivesse morto. Seja o que for que tenha sido utilizado já não estava mais na cena do crime. O detetive se aproximou um pouco mais e constatou que não havia sinais de espancamento no corpo. Também não existiam outros sinais de violência pelo quarto e aquilo só fazia o detetive acreditar em uma coisa.
— O que achou dessa cena? — perguntou Ted lhe tirando de seus pensamentos.
— Muito bem montada, já vi coisas terríveis, mas não me lembro de nada parecido. Ele estava amarrado quando foi morto, tenho certeza disso.
— Sim, Scott! Os sinais nos pulsos dele indicam que ele estava preso à cabeceira da cama, os ferimentos provavelmente ocorrem na tentativa de se libertar quando foi atingido no pescoço. Tenho quase certeza que eram algemas — aquela última frase só corroborava ainda mais com as suspeitas de Scott.
— Ele estava com uma mulher aqui, isso explica porque ele está nu e também porque não existe sinal de luta. Primeiro ela o algemou e então cortou a garganta dele. Talvez também estivesse vendado, isso explica porque ele está de olhos fechados.
— Tirou as palavras da minha boca, Scott. Uma pessoa que não tem experiência poderia dizer que quem cometeu o crime foi um homem traído, por causa da cena e o pênis decepado. Mas não acredito nisso. Realmente não houve luta, ele se deitou nesta cama e deixou-se amarrar por livre e espontânea vontade. Também acredito que ele estava vendado.
— O sujeito estava na própria casa, a menos que estava com a amante que também é casada e então o marido apareceu por aqui quando ele estava algemado e se aproveitou da situação para cometer o crime.
— Sim, Scott, mas se for isso encontraremos mais evidências de que outro homem esteve por aqui.
— Mais alguma coisa que eu ainda não tenha percebido? — perguntou o detetive.
— Encontramos dois fios de cabelo loiros sobre o corpo, vamos analisar e tentar descobrir de quem é. A porta da frente não foi arrombada, isso significa que ele deixou a assassina entrar livremente. A arma do crime e os objetos utilizados foram todos levados, encontramos algumas impressões digitais que também serão analisadas, apenas isso.
— Já sabem quem era o sujeito, e se ele morava sozinho?
— O nome dele é John, era casado. Foi a esposa quem o encontrou ao retornar para casa. Ela estava viajando e retornou hoje. A mulher se chama Suzy, estava em estado de choque quando chegamos e foi levada para ser medicada. Não sei se pode ser considerada suspeita. Conseguimos essas informações com uma vizinha que estava junto dela quando chegamos aqui.
— Vou conversar com a esposa assim que possível, se estava viajando deve ter como comprovar isso, eu imagino. O crime ocorreu há mais de dozes horas, ao menos é o que aparenta.
— Sim, Scott, pela situação do corpo eu diria que foi na noite de ontem, claro que tudo isso ainda precisa ser confirmado pelos exames.
— Vou pedir para ser realizado um levantamento nas redondezas, ver se existem câmeras de segurança, também perguntar se algum vizinho viu uma mulher saindo daqui na noite passada. Deve existir alguma motivação para o crime, alguma amante enganada, uma garota de programa que levou prejuízo. Preciso saber quem era John para só então começar uma linha de investigação.
— Certo, assim que tiver alguma novidade, ou alguma descoberta durante a perícia eu te aviso imediatamente.
Scott deu uma última olhada para o cadáver e para o quarto tentando entender o que havia acontecido, apesar de muitos anos de experiência, aquela era uma das poucas vezes que ele tinha em mãos um caso em que a vítima não era do sexo feminino, mas a provável assassina certamente era uma mulher e isso também era pouco comum em sua carreira.
Quando Scott deixou a cena do crime, a noite já havia banhado a cidade de New York, não havia muita coisa que ele pudesse resolver no departamento ainda naquela noite. Na manhã seguinte buscaria informações sobre John e tentaria conversar com a esposa dele. O detetive acreditava que aquele seria um caso simples, que seria solucionado facilmente, mas não poderia estar mais enganado.
Ele deu um telefonema para Alfred repassando todas as informações que tinha até o momento e foi para casa, a cena do crime ainda viva em sua mente.
Quando Scott chegou em casa, Eve estava terminando de preparar o jantar.
— Olá, querida! — falou lhe dando um beijo nos lábios.
— Demorou hoje! Pode tomar banho que daqui a pouco vou servir o jantar, está quase pronto.
— Houve um crime, acabei de deixar a cena, foi algo terrível de se ver. Por isso me atrasei um pouco.
— Tome um banho, depois você me conta todos os detalhes. Já estou curiosa.
Scott tomou seu banho tranquilamente e sentou-se à mesa de jantar com Eve.
— Então, me conte o que foi que aconteceu? — perguntou morrendo de curiosidade pelos detalhes.
— Um homem foi assassinado dentro da própria casa, a esposa dele estava viajando e o encontrou quando retornou hoje à tarde.
— Nossa! Deve ser horrível chegar em casa e encontrar a pessoa que você ama assassinada.
— Verdade, mas ainda pior se for igual a este crime. Você não faz ideia de como estava o corpo.
— Então me diga, conte todos os detalhes.
— O homem estava completamente nu, com a garganta cortada de um lado a outro — disse fazendo um gesto com o dedo sobre o próprio pescoço. O membro dele foi decepado e em seguida enfiado em sua boca.
— Credo! Um homem traído, provavelmente para se vingar do amante.
— Não, querida. Quem fez aquilo não foi um homem. Não havia sinais de luta, de violência, além do corte, é claro. Ele estava com as mãos amarradas no momento em que foi morto. Tenho quase certeza de que uma mulher é a responsável pelo crime. Posso estar enganado, mas é pouco provável.
— Uma mulher! Não me recordo de você ter trabalhado em algum caso assim antes.
— Na verdade, já investiguei crimes cometidos por mulheres, mas se realmente estamos certos, esse será apenas o terceiro em minha carreira.
— E por que ela o mataria, já sabem alguma coisa? — perguntou Eve antes de colocar mais um pedaço de carne na boca.
— Não faço a mínima ideia, a esposa dele estava em choque, vou ver se consigo conversar com ela amanhã. Talvez a própria esposa tenha a maioria das respostas de que precisamos. Quem sabe toda a solução depende apenas de alguns esclarecimentos por parte dela.
— Espero que sim, ou então você vai entrar em outra investigação demorada. Ao menos isso não parece ser coisa de um serial killer.
— Ainda é cedo para dizer isso, querida. Lógico, só temos uma vítima até o momento, mas não me surpreenderia se encontrássemos outra vítima, dadas as características do crime cometido. São muito peculiares, não me parece algo que aconteceu ao acaso.
— Uma mulher serial killer?
— Talvez sim, e isso sim é algo que não é muito comum no mundo do crime. Mas seja quem for, vamos descobrir quem é o culpado, seja homem ou mulher.
Naquela noite, Robert não trabalhava. Ele estava na sala assistindo ao noticiário enquanto Jane lavava a louça do jantar. Foi quando ele viu a notícia do crime que havia sido descoberto horas antes.
— Olha só isso, querida! O cara foi assassinado dentro de casa, a esposa que o encontrou ao retornar de viagem. Será que não foi a própria esposa quem o matou?
— Não acredito, ela não seria louca de matar o cara dessa maneira para depois se fingir de vítima. Sendo a primeira a encontrar a cena do crime — comentou Jane.
— Seria muita frieza mesmo, mas existe gente para tudo nesse mundo.
— Sim, é verdade — falou sorrindo por dentro. Afinal tudo havia saído como o planejado. Foi a própria esposa quem encontrou o corpo de John ao retornar para casa. Ela deveria estar muito abalada com a morte do marido, mas certamente que lhe agradeceria imensamente se soubesse que estava sendo traída. Talvez ela mesma tivesse vontade de matar ele com as próprias mãos. Queria poder ir até ela e receber os cumprimentos por seu excelente trabalho.
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