Capítulo 93 - Tudo o que importa
Boa leitura!!!
"Que a força esteja com você."
Star Wars
ȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹ
Lívia
Eu estava me sentindo uma trouxa, não conseguia acreditar que o Nicholas havia mentido para mim. Ele veio para a Suíça somente para ir ao Dignitas e eu achando que esse assunto já estava encerrado. Meu coração estava pesado e eu não sabia como as coisas seriam daqui para frente.
Pedi que o Rodrigo trocasse de lugar comigo no avião e me sentei ao lado de um estranho que não parava de me olhar e tagarelar, ele não tinha nada melhor pra fazer apesar da classe ser executiva.
Eu estava destruída, acabada, essa foi uma traição pior do que quando eu o vi beijando a tal Tatiane. O Nicholas me enganou. As lágrimas brotavam sem que eu pudesse impedir e o cara ficou me enchendo para lhe contar o motivo.
Quando cheguei em solo brasileiro vi a Marcela de mãos dadas com o irmão do Nick. Não pude mais segurar as lágrimas ao ver meu porto seguro. Ele pareceu espantado quando me viu e soltou a mão dela para sinalizar algo que não entendi me lembrando de que eu precisava voltar a estudar Libras. Ela o respondeu e abriu os braços para me receber.
Simplesmente me ajudou com a bagagem e disse que chamaria um Uber para nos levar para casa. Saímos bem antes do Nicholas já que ele desembarcava por último. Eu chorei durante todo o caminho e apesar de o Nick está vivo nosso relacionamento estava à beira da morte.
Peguei o telefone inúmeras vezes e não vi nenhuma mísera mensagem do gato da cobertura. Após o terceiro dia eu me forcei a entender que precisava seguir em frente, dei espaço suficiente para ele compartilhar a alegria de estar vivo com sua família e amigos e como não me procurou entendi que eu era passado.
Todos os dias eu chorava pela manhã e a noite durante o banho para que meus pais não percebessem. Questionei a Lúcia sobre ele e a minha amiga não soube informar nada.
Nesse sábado eu estava particularmente feliz, a mãe da Sandra estava aqui e tinha uma mão abençoada para fazer doces. Dona Olga me mimou tanto quanto pôde fazê-lo. Hoje pela manhã eu não havia chorado e esperava que conseguisse progredir, as aulas da minha faculdade começariam na segunda.
Hoje a Eva estava de folga e meu pai ajeitando um contrato que fecharia na segunda. A senhora gentil me contava sobre as travessuras de quando a Sandra era criança. Eu não conseguia me conter, pois jamais imaginei que ela fosse tão travessa.
Enquanto as duas concluíam a última sobremesa – ela tinha feito várias – fui colocar a mesa para o almoço e voltei para a cozinha a ponto de ouvir mais uma travessura e dar muitas gargalhadas. A campainha tocou mesmo sem o porteiro informar que alguém estava subindo, então resolvi atender.
Abri a porta ainda contagiada pelo bom humor da senhora e me deparei com ninguém menos que a minha kriptonita, acabei perdendo todo o autocontrole e meu coração acelerando quando nossos olhares se cruzaram.
− Nicholas?! – Foi a única coisa que consegui dizer.
− O próprio! – Ele responde seco revelando que seu humor não era dos melhores e a conversa não seria agradável, todavia eu precisava de respostas e isso me deu coragem para prosseguir.
− Não esperava que você aparecesse assim de repente. – Eu estava com vergonha por estar desarrumada na frente dele.
− Eu vim porque não recebi nenhum sinal de que ainda tínhamos um relacionamento. – Continua com seu azedume como se a culpa fosse minha.
− Ah, é isso. – Falei um pouco sem paciência, até onde o Nick levaria seu egoísmo? De repente a curiosidade me bateu então perguntei quase deitando em cima dele para ver fora do apartamento já que ele estava me bloqueando com a cadeira de rodas. – Quem está aí com você?
− Vim sozinho! – Continuou sendo sucinto.
− Entra então. Vamos conversar! – Não tinha alternativa, eu teria de encará-lo. Sentei no sofá e ouvi o zumbido da cadeira atrás de mim. – Você está bem?
− Não! E você? – Fiquei surpresa pela resposta, o que será que afligia o senhor D'Amico caçula que o dinheiro dele não pudesse resolver?
− Eu estou muito magoada, não esperava que meu namorado fosse desonesto com uma coisa tão séria. – Se ele não podia ser honesto eu seria. Então levanto o olhar para ver sua reação às minhas palavras. – Eu achei que me amasse, mas eu tenho minhas dúvidas.
− Não sabia que desistir da morte implicaria na perda da minha namorada. – Que os jogos comecem!
− Porque então você desistiu da morte? Fale-me! – Eu estava muito curiosa pois estava na cara que eu nunca fui o motivo e nem prioridade em sua vida.
− Porque recebi uma carta do Rodrigo como despedida e além de alguns pedidos que ele me fez nela estava contida a pior notícia que eu poderia receber. – Não dá pra acreditar nas palavras desse mentiroso, ele veio armar seu circo aqui no meu quintal?
− O que é tão grave a ponto de você desistir da sua morte? – Sou sádica, mas nada tinha me preparado para sua resposta.
− O Rodrigo está com câncer e não tem mais nem sequer um ano de vida. – Fiquei sem ação ao ouvir isso, parecia um crime contra a humanidade. Isso não poderia estar acontecendo.
− Nicholas você já pode parar de brincar, isso está ficando muito sé... – Vejo o Nicholas chorando como uma criança assustada, então a ficha cai me fazendo chorar também. Levanto do sofá e sento no colo do Nick nem me importando se eu precisava de um banho por ter passado a manhã na cozinha. – Isso não pode estar acontecendo.
− Lívia, o que acont... – Sandra interrompe a fala me vendo chorar no colo do meu namorado.
− O Rodrigo está com câncer e o Nick veio me trazer a informação. – Limpo o meu rosto com a barra da blusa e o vejo tentar limpar com o ombro. Ajudo-o limpando seu rosto com o lenço de papel que a Sandra sempre tem na mesinha de centro.
− Oh! Eu sinto muito. Você gostaria de um chá?
− Não, obrigado senhora.
− Nick, já falei para me chamar de Sandra, você é muito bem-vindo a esta casa, por favor, fique para almoçar. – Ela pede com um sorriso pequeno vendo os olhos vermelhos do Nicholas. – Mãe, esse é o namorado da Lívia!
− Olá, meu jovem, tudo bem? Você me faz lembrar alguém...
− Mãe, não começa. Nick esta é Olga, a minha mãe e ela é um pouco exagerada, não liga não.
− Muito prazer! – Ele fala, mas não sorri.
− Mãe, eu preciso falar uns dez minutinhos com o Nick antes do almoço e depois voltamos, pode ser? – Falo para Sandra que concorda. – Vamos para meu quarto, alteza.
− Eu... nem sei por onde começar. – Ele fala depois que sentei na cama e ficamos frente a frente.
− Pode começar me dizendo por que não foi honesto comigo.
− Eu não queria te ver sofrer, e você sofreria de graça, não é? Afinal de contas eu desisti.
− Isso não justifica o papel de trouxa que eu fiz.
− A minha mãe alertou sobre isso... – Ele fala parecendo que era mais para si do que para mim. Parecia arrependido, e como não escolhemos quem amar eu estava disposta a ceder pela... sei lá, milionésima vez? Ele se volta para mim e fala. – Lív, se eu pudesse ajoelharia implorando seu perdão. Por favor, fique ao meu lado, eu preciso mais do que nunca que todas as palavras que me disse ao longo desses anos sejam verdade. Eu preciso de você!
− Nicholas eu... – Ele começa a chorar, então levanto e sento em seu colo. Ele balança com os soluços, estava quebrado e meu abraço parece pequeno para conter a sua dor. – Amor, agora você sabe o que ele e o Samuel sentiram com sua possível perda e não estou falando do Dignitas e sim de quando tudo começou. Vocês têm um elo que nunca será quebrado; a morte só os separará fisicamente, mas ele nunca sairá de seu coração.
− Eu não estou preparado para perdê-lo! – Meu príncipe fala em meio as lágrimas abundantes. – Eu não quero perder você também.
− Ei! – Pego seu rosto entre meus dedos e encaro seus olhos azuis marejados, falo com mansidão. – Por favor, se acalme! Esse esforço físico não é bom para você, e outra, o Rodrigo vai precisar de toda a sua energia, Nick. Nada do que você diga me fará o amar menos, eu sempre estarei com você, meu amor, e isso é tudo o que importa. Venha deite um pouco aqui na minha cama.
− Tudo bem. – Depois da terceira tentativa e de quase derrubá-lo eu consegui colocá-lo em minha cama. Deitei ao seu lado e comecei a cantar suavemente para fazê-lo relaxar um pouco:
Você e eu devemos fazer um pacto
Devemos trazer de volta a salvação
Onde existir amor, Eu estarei lá
Eu esticarei minha mão pra você
Eu terei fé em tudo que você fizer
Apenas chame meu nome, E eu estarei lá
Eu estarei lá pra te confortar
Construir meu mundo de sonhos em sua volta
Estou tão feliz por ter te encontrado
Estarei lá com um amor que é forte
Serei sua força, Você sabe que eu continuarei firme
Deixe-me encher seu coração com alegria e risos
União é tudo que estou buscando
Apenas chame meu nome, Eu, eu estarei lá
Eu estarei lá pra protegê-lo
Com um amor altruísta que te respeite
Apenas chame meu nome
E eu estarei lá...
https://youtu.be/y7Km9b2JYN4
Nick adormeceu e eu saí para deixá-lo descansar. Todos já estavam na mesa quando cheguei. Meu cabelo estava amarrotado, minha blusa ficou em cima da cadeira da escrivaninha com as lágrimas dele, acabei substituindo por uma branca. Embora a ficha já tivesse caído eu processava a situação lentamente.
− Lili, ele está bem? – Minha madrasta indaga chamando minha atenção para o presente.
− Ele adormeceu, não está bem. Mas essa dor o médico não pode curar, é na alma. Eu não sei os detalhes, mas aparentemente o Rodrigo não tem muito tempo, ele e o Samuel são os melhores amigos do Nick. – Falar do assunto me fez lembrar a Vick, como será que ela está?
Após o almoço peguei um pouco de cada sobremesa – eu precisava de tranquilidade e o doce me acalmava – busco o telefone no meu quarto, aproveitando para dar uma olhada em Nick e vou para a varanda da sala. Disco o número e ela atende ao terceiro toque.
− Oi Lív!
− Oi Vick, como você está? – Pergunto cautelosa.
− Estou bem. E o Nick? Fiquei feliz por ele ter desistido, mas ainda não pude falar com ele pessoalmente.
− Ele está bem, está dormindo. Veio à minha casa falar sobre o Rodrigo e se emocionou muito, ele está bem cansado. – Ouço ela suspirar do outro lado da linha. – Vi, me escute, o que você precisar pode contar comigo, qualquer coisa mesmo. Não importa a hora.
− Obrigada, minha amiga. Eu só espero que você e o Nicholas sejam muito felizes, já passaram por muitas coisas e vocês merecem a felicidade. – Ela fala emocionada.
− Eu vou aí um dia pra gente conversar. Como ele está?
− Está no hospital, está com uma nova infecção. O médico quer tentar um transplante, por influência do Dr. Félix. O oncologista acha que não vai dar resultado.
− Força, Vick. Estaremos com você, vou chamar o Nick para ir te ver o mais rápido possível. Agora eu preciso ir da uma olhada nele, até mais.
Após a ligação vou ao meu quarto ver o Nick e escovar os dentes, vai que ele resolve me dar um beijo!
Já se passou uma hora e meia e ele ainda dorme profundamente. Vou escovar os dentes e acabo resolvendo tomar um banho. Chorei novamente e agradeci a Deus por Nick estar vivo.
Lavei meus cabelos, e coloquei uma toalha, pois secá-los demoraria mais ainda. Saio do banho e vejo o Nick olhando para a porta do banheiro.
− Oi, está com fome?
− Eu nunca estou com fome, Lívia. – Ele fala com a voz rouca de sono.
− Vamos comer assim mesmo! – Decreto.
Uma semana depois fomos a casa da Victória. O Rodrigo estava bem e eu dei-lhe um enorme abraço.
Eles nos contaram os detalhes já que o Rodrigo não estava indo ao escritório e, embora já tivessem se visto, ainda não tinha comentado nada com meu namorado.
− O tipo de câncer é leucemia mieloide aguda (LMA), é raro na minha idade e pode ter chance de cura. Eu demorei um pouco para procurar o que me causava as dores de cabeça, tonturas e os demais problemas que tive. Quando o Dr. Félix fez meus exames para operar meu braço no acidente de moto ele disse que eu estava com uma anemia grave e mandou-me procurar um oncologista. Eu enrolei mais um tempo e ele mandou meu pai levar-me a força para uma consulta. Esse foi meu diagnóstico, no fundo eu só estava com medo. Estava fazendo uns tratamentos com medicamentos, mas no dia que fomos a Évora eu passei mal e fomos para um hospital a noite, então quando voltei o médico ministrou os medicamentos de forma mais invasiva: através da veia.
− Você vai sair dessa, já pressionei o meu pai e o tio William também está buscando as melhores alternativas. – Ouço o Samuel falar, não o vi chegar.
Três semanas haviam se passado e eu me dividia entre a faculdade, o meu namoro – quase sem atividade – e as idas ao hospital. Tinha descoberto que eu não nasci para a área da saúde; o tempo que eu passava acompanhado o Rodrigo com o Nicholas ou com outra pessoa – e não era pouco tempo – me causou mal-estar e enjoos desagradáveis.
Esta tarde o Rod está fazendo mais uma seção de quimio e como não tive aula hoje passei toda a tarde com ele e a Lúcia. Tivemos a ideia de construir um videobook para a Laís e fazíamos sempre antes da sessão para o Rodrigo não aparecer no vídeo com o semblante abatido.
Saí do hospital antes da próxima dupla chegar deixando apenas a Lúcia como acompanhante, eu precisava encontrar uma farmácia antes de ir para o apartamento.
− Boa tarde! Gostaria de um medicamento para dor abdominal e um para enjoo. – Solicitei ao balconista.
− E isso aqui também. – Escuto uma voz familiar atrás de mim. A dona da voz se põe em meu campo de visão, revelando ninguém menos que: CAMILE. Ela ri da minha cara de surpresa e continua: − Olá Lívia, é um prazer te rever.
ȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹȹ
Se gostar do capítulo deixa sua estrelinha.
Abraços!!!
Até breve!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 03/03/2022
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top