Capitulo 82 - Em seus braços
Olá, xuxus! Como estão?
Mais um capítulo inédito do nosso casal mais complicado da face do Wattpad.
Boa leitura!!!
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"Quando estiver pronto (quando estiver pronto), nós podemos, podemos nos render? Ninguém vai vencer desta vez, eu só quero você de volta. Eu estou correndo para o seu lado, levantando minha bandeira branca."
Surrender − Natalie Taylor
Nicholas
Baixo a cabeça tristonho, eu não poderia enganá-los. Isso me fez pensar como é que eu iria contar a Lívia quando o dia chegasse. Escuto uma palma e levanto a cabeça novamente, Rafa estava com as mãos juntas, certamente ele havia batido as palmas para chamar minha atenção, parecia magoado o que só fez eu me sentir pior ainda.
− Eu não vou perder tempo falando do que já sei, apesar de que disse que ficaria contigo até o final e minha promessa ainda está de pé. Mas se há algo que eu possa fazer ou dizer para essa dor aí dentro ficar menor, me deixe saber. – Eu e o Gabriel olhamos perplexos para o nosso irmão. – Agora eu vou embora!
Ele sai quase cambaleando sem esperar nossa resposta, quase dando de cara com a porta de correr que é de vidro.
− Como ele está poético! – Falo mesmo que esteja com o coração pesado, para o irmão que restou.
− E bêbado também! Hahahaha. – Os dois estavam, na verdade.
− Você não está muito diferente do seu irmão; são idênticos até no fato de me dar trabalho! – Meu pai fala colocando a cabeça pela porta que acaba de abrir, Rafael aparece atrás dele. Fiquei sem entender nada! – Vamos lá, a Giulia está esperando lá embaixo com a Anna no carro. Ela vai levar vocês pra casa e eu vou levar o Nick pra cama.
− Acho uma boa ideia! – Falo mais uma vez sendo salvo pelo meu pai herói de ter uma conversa desagradável sobre o Dignitas com meus manos. Como sempre nós iriamos discutir, e magoá-los é a última coisa que quero.
− Vai descansar, Rafael! – Vejo meu pai sinalizar chateado.
− Eu preciso ir, pai. O senhor não entende! – Ele revida alterado.
− Você não está em condições de pegar num volante! Basta desse assunto! Não vou mais discutir. – Meu pai continua e me chama ainda em Libras, ele estava exasperado. – Vamos Nick!
Meu pai entra comigo no quarto e de longe já vejo as madeixas vermelhas; Lívia estava sentada de costas para a porta na varanda, provavelmente lendo. Ele faz os procedimentos básicos, eu estava ansioso por estar com a Lívia apesar de estar cansado. Ele opta pelo cateter, certificando de que não irá vazar.
− Ela vai dormir aqui com você? – confirmo com a cabeça. – Vocês estão juntos?
− Sim, nós estamos. Não é algo oficial, mas levaremos da melhor maneira possível.
− O pai dela não parece gostar muito de você apesar que é bem educado e solícito.
− Obrigado por me lembrar, pai. Ele só está sendo um pai possessivo como muitos que vemos por aí. Agora eu realmente quero ir tomar esse chocolate pra ir logo pra cama, vamos pra varanda, por favor.
− Tudo bem, se ela não souber operar o guincho de transferência peça para chamar sua mãe. Vou levar o Rafa onde ele está querendo ir antes que vá sozinho. – Ele beija minha cabeça e abre a porta da varanda fazendo a menina olhar para trás no processo.
Guincho de transferência
− Olá, moça! – Sorrio. – O que está lendo?
− Olá! Estou lendo um romance romântico se chama: 'Além do que os olhos podem ver... A luz do teu olhar' da autora Nanda Pinheiro. – Ela fala com empolgação. – Se trata de um romance de época, num período histórico em que os deficientes eram menosprezados e não tinham direitos.
− É mesmo? – Pergunto meio incomodado com o assunto. Ela se aproxima sorrateiramente. A Lívia exala calma e tranquilidade, ninguém acreditaria se eu dissesse. – Então quer dizer que você é uma romântica incurável?
− Sim senhor! E você é um cara de sorte porque meu coração só tem espaço pra você. – Ela fala tocando o dedo indicador na ponta do meu nariz e sela seus lábios no meu. – Que tal tomarmos esse chocolate frio? Você está com cara de cansado!
− Concordo! – Falo examinando o seu robe de cetim vermelho, eu estava curioso sobre como era a camisola que havia por baixo. – Vai ter que me ajudar com isso, não dá pra tomar líquidos quentes de canudo.
Tomamos nosso chocolate rapidamente, o clima não foi tão bom quanto eu pensava, pois o fato de eu abrir a boca constantemente denunciando meu cansaço fez a Lívia agilizar as coisas e estragar nosso momento a sós.
Ela me auxiliou na escovação dos dentes e conseguiu fazer a transferência com o guincho seguindo minhas orientações e deixou a cadeira de rodas próximo à cama. Colocou o guincho no canto do quarto, ajeitou todos os travesseiros nos pontos estratégicos para que eu não desenvolvesse nenhuma ferida, ela estava pegando o jeito.
Foi escovar os dentes dela e fazer sei lá mais o que no meu banheiro. Quando voltou continuava com o robe e eu na expectativa por ter meu momento de "prazer", há muito tempo eu não estava com uma mulher a não ser no dia que ela teve hipotermia.
− Você não vai tirar esse robe pra dormir? – Questiono ansioso.
− Claro que vou tirar, posso deixar no seu closed? Coloquei minha bolsa lá também.
− Ótimo, vai fazer isso e vem logo pra cama. – Ela sai voltando sem o robe e acredito que estranhou minha cara de incredulidade e decepção.
− O que foi Nick?
– Vem logo dormir, senhora girafa! – Ela me olha sem entender.
− Senhora girafa? Eu gosto de dormir com roupas confortáveis, certo?
− Ou seja, com um baby doll coberto de girafas. Poxa vida, Lívia, você me deu um banho de água fria. – Falo sorrido vendo as inúmeras minis girafas estampadas em seu short.
− Era só o que me faltava, você reclamando da minha roupa de dormir.
− Pode apagar as lâmpadas, mas deixa as cortinas da varanda abertas, gosto de ver a luz da lua entrando pelas portas de vidro.
− Ok! – Ela fala executando a trabalho e depois vem se aninhar em baixo dos cobertores ao meu lado.
Eu estava em num cômodo escuro, não conseguia ver muita coisa; por mais que eu andasse não chegava a lugar nenhum. Tateio o breu querendo tocar algo sólido, de repente ouço um "click" atrás de mim, viro-me lentamente e um homem com capa de chuva se materializa na minha frente.
Só percebo que chove quando vejo a bendita capa, mas quando percebo o que ocasionou o barulho congelo no lugar: erguendo o braço põe uma arma na minha mira, os segundos passam como horas diante de meus olhos e com eles as cenas de tudo que eu amava, a namorada, os momentos com meus pais, os meus irmãos, meus sonhos, a vida que eu amava.
Ah, como eu amava viver!
Ele atira!
− Não, não nãããããão...
− Nick, Nick, Nick, Nick! – Ouço chamarem meu nome com eco. Puxo o ar com dificuldade, mas ele parece não querer entrar em meus pulmões. Ofegante, abro os olhos sentindo uma mão quente tocar meu rosto com pequenas palmadas. A primeira coisa que vejo é um cacho rubro, a moça sorri com compaixão. Levei alguns segundos para entender que se tratava da Lívia e o que ela estaria fazendo na minha cama.
− O que aconteceu? – Pergunto confuso.
− Acho que estava tendo um pesadelo. – Ela está praticamente sentada em meu abdômen. – Está tudo bem agora. Você está seguro!
Num movimento rápido ela vai para trás de mim e repousa minha cabeça perturbada entre seus seios pequenos e macios. Fazendo um cafuné nos meus cabelos me pede calma.
− Eu... – Estava com as mãos espasmando.
− Shhhhhhhh! – Ela me pede, então apenas relaxo e fecho os olhos. Lívia começa a entoar uma canção suave com sua voz perfeita, uma canção de ninar. Meu coração agitado vai acalmando cedendo aos seus encantos e aquecendo-se com as palavras da música.
https://youtu.be/Uu6k_BQ0AxA
Sugiro que ouçam a canção do vídeo.
~ ~ ~
Deite sua cabeça, e eu cantarei para você uma canção de ninar.
De volta aos anos de loo-li lai-lay.
E eu cantarei para você dormir, e eu cantarei para você amanhã.
Abençoarei você com amor para a estrada que você irá.
[...]
E que você jamais precise banir a falta de sorte,
Que você possa encontrar a bondade em tudo que você conhecer.
Que haja sempre anjos para cuidar de você,
Para guiar você em cada passo do caminho,
Para guardar você e mantê-lo seguro de todo mal.
Loo-li loo-li lai-lay
Que você traga amor e que você traga felicidade,
Seja amado em troca até o fim dos seus dias.
Agora adormeça eu não pretendo mantê-lo,
Eu apenas sento um momento.
E canto:
Loo-li lai-lay
~ ~ ~
Inevitavelmente voltei a dormir, e dessa vez em seus braços.
Viver é mesmo fantástico! Tudo que eu queria era achar uma maneira de enxergar isso e praticar a aceitação, mas esse grande peso sobre mim nunca me permitiria dar o "primeiro passo". Ela seria a única que não me deixaria cair? Não tenho certeza, mas sei que quero estar ao seu lado, pelo menos por hora.
Após ter dormido comigo há três dias e ver outro lado ruim da grande confusão que é a minha vida, marcamos de sair novamente apenas para passear um pouco.
Estou com a Lívia nesse exato momento em um lugar reservado da pequena praça de alimentação da pinacoteca a que viemos visitar e seguimos o manual da vida aproveitando os pequenos momentos, fazendo-os especiais e aproveitando o agora. Parece que esse intervalo de tempo, o agora, é tudo o que importa.
A garota sorria de suas próprias travessuras, estava sentada em meu colo e testava a pouca paciência que eu possuía sujando todo o meu rosto com seu sorvete; eu tentava tirar forças de onde não existia para tentar impedi-la e isso tornava tudo mais engraçado.
Quantas vezes eu teria mais momentos como esses? Não queria estragar o que estávamos construindo, por isso muitas vezes ficava mais contido.
Momentos, momentos... queria colecionar o máximo que pudesse deles, levaria muitos comigo na memória para onde quer que eu fosse e de lá contemplaria a ruiva que me salvou tantas vezes da escuridão.
Agora, agora, agora... esse presente viraria o meu 'para sempre' ao lado da princesa Disney, pois mesmo que não estivesse fisicamente ao lado dela, ela sempre estaria em meu coração.
− O que foi Nick? Ficou pensativo de repente, algum problema? – Respondo seu questionamento com um beijo de língua que ela corresponde prontamente.
Encerro o beijo arfando, infelizmente eu não tinha o mesmo fôlego de antes da tetraplegia, o músculo da respiração trabalhava mais lentamente agora. Pegando-a de surpresa esfrego meu rosto sujo no seu cabelo, só não estava preparado para o seu grito agudo digno de uma soprano que ela era. Ela simplesmente cai na risada, fico boquiaberto com o grito e ainda mais apaixonado pelo seu sorriso, como se isso fosse possível.
Eu tinha consciência que éramos observados, mas não estava mais dando importância a isso. Estamos encenando um verdadeiro espetáculo para os transeuntes expectadores; um prato cheio para os curiosos.
O protagonista, eu, está num artefato inaceitável para a sociedade tradicional: uma cadeira de rodas. O curioso é que minha parceira de cena parece viver o momento ao invés de se importar com quem nos assiste. A Lívia era assim: sempre desatenta à curiosidade alheia.
− Minha vingança foi maligna! Não deveria sujar com sorvete o rosto de um cara que detesta açúcar. – Falo desafiador!
− Agora é a nossa deixa para irmos, estou toda doce.
− Mas você é um docinho! – De onde saiu isso? Caramba, como estou meloso! Acho que talvez um pouco cansado.
− Hum, seu engraçadinho! E falando nisso eu não me lembro de ter sido pedida em namoro.
− Ah, isso é algo que pode ser resolvido. Vou me preparar psicologicamente para falar com seu pai do jeitinho que ele deseja.
Ela faz uma careta franzindo o nariz e não contenho uma gargalhada. Eu estava amarrado à uma antiga história, me prendendo ao passado sem acreditar no destino, embora tenha sinais constantes de que ele existe. Agora,aos poucos, estou vendo que há mais para aproveitar que lamentações sobre o que não pode ser desfeito.
De repente olho ao meu lado e lá está ela e mesmo que não tenha forças pra lutar por isso ela parece tão certa; isso parece certo.
Que sensação estranha!
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Se gostar do capítulo deixa sua estrelinha.
Abraços!!!
Até breve!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 10/10/2021
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