Capítulo 24 - Valeu a pena?
Olá!!! Mais um capítulo saindo atrasado, porém vai dar tudo certo. Capítulo do dia 10/10.
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Boa leitura!!!
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"Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena."
Fernando Pessoa
Nicholas
Contrariando minha vontade de sair apenas para fins necessários, aceito ir ao shopping com Camile. Ela encheu o saco durante toda a semana enfatizando que o namorado, eu, tinha que sair para comemorar o aniversário dela.
Eu acredito que ela queria bem mais que isso, roupas novas talvez ou algum sapato da moda. Quando a conheci realmente é que percebi o quanto era interesseira, mas eu sempre fechei os olhos para isso.
Celso, o meu novo cuidador, irá conosco. Apesar de não se sentirem muito a vontade com a Camile, minha família estava feliz por eu estar menos enclausurado. Eu descobriria mais tarde que sair com Camile seria outra péssima decisão para minha coleção.
Já tem bastante tempo que ela reapareceu na minha vida e estamos "juntos" – na verdade, não sei se essa palavra é adequada para o que temos. Seguimos para, shopping e como eu imaginava atraia diversos olhares curiosos.
Era a primeira vez que eu saia em publico sem ser 'obrigado' – de certa forma estou aqui por pura pressão – olhares me seguiam onde quer que eu fosse. Tentei escolher uma roupa que me deixasse o mais apresentável possível: uma calça jeans escura, uma camisa branca lisa e um blazer Brooskfield simples. Todo o conjunto entrava em harmonia com um acessório que eu achava totalmente desnecessário para mim: um par de mocassim de tom bem escuro.
Camile seguia calada olhando as vitrines de grife com os olhos brilhando. Celso empurrava minha cadeira ao lado dela. Lanço a pergunta de um milhão para comprovar minhas suspeitas e saber se tem um amor 'real' envolvido.
− Você quer alguma coisa dessa vitrine?
− Eu aceito! – Ela abre um sorriso radiante como se eu estivesse oferecendo e não apenas testando a minha teoria. Ela parecia bem desconfortável com minha presença mal me dirigia a palavra, eu diria que ela estava com...vergonha? Foi a primeira vez que ouvi sua voz desde que descemos do carro e circulamos por aproximadamente quarenta minutos.
Suspiro cansado. Cansado da farsa de namorados, cansado de estar preso nesse corpo, cansado, cansado de servir de entretenimento alheio, cansado da vida. Estou meio sonolento mais eu faria MAIS alguma coisa para agradar a Camile; eu sempre fazia todas as suas vontades e essa cadeira é o resultado de uma delas.
Depois de satisfazer seus caprichos vamos para a praça de alimentação encontrar algumas amigas dela, mais especificamente um restaurante reservado que fica na praça de alimentação.
As amigas me cumprimentam e retribuo o gesto educadamente, faço questão de apresentar Celso como meu cuidador e deixar explícito para elas de que sou dependente de terceiros para executar qualquer tarefa. Isso talvez deixasse minha namorada um pouco incomodada e esse era meu objetivo.
Após alguns minutos ouvindo Camile e as amigas conversarem futilidades. Um garçom se aproxima de nós para anotar os pedidos, fico por último:
– O que ele vai querer? – O garçom pergunta a Celso como se eu não estive presente ou não fosse capaz de opinar, talvez por ver que o cuidador segurava o cardápio pra mim. Celso me olha com um sorriso sarcástico e pergunta:
– Nick, o que você vai querer? – Ele pergunta alto o suficiente para que todos na mesa ouçam.
– Ravioli. – Digo simplesmente. A noite já estava indo por água abaixo e minha paciência diminuindo gradativamente.
− Nicholas. – Uma das amigas que nem sei o nome me chama a atenção. Parece que resolveu me incluir na conversa. – Eu não te vejo a um bom tempo...
− Ah, amiga! Ele teve uns probleminhas de saúde e precisou fazer uma cirurgia, não é amor? - Ela responde antes mesmo que eu consiga planejar a resposta.
Como eu gostaria de passar em rosto tudo o que está guardado dentro de mim. Eu enxerguei uma Camile, alegre e aparentemente, mudada. Cai no conto de vigário outra vez; impressiona-me como estou vivendo a mesma situação, no início flores e depois só espinhos. A única diferença é que dessa vez estou no fundo do poço e não tem mais pra onde cair. Eu sei quando ela esconde suas origens e vive uma vida perfeita na frente das amigas, ela é ótima em atuar. Hoje minha querida namorada está conquistando sua maioridade e tudo pode acontecer, seria o fim para ela se as amigas soubesse que eu fui vítima de violência na frente de sua residência.
− Camile, você bem sabe que eu não estou melhorando e que é certo que nunca mais voltarei a firmar as pernas. Porque esse teatro para as suas amigas? Elas são suas "amigas", não precisa esconder nada delas. – Ela me olhou furiosa, eu sabia que essas garotas eram tão vazias quanto a própria Camile.
Um tanto sem graça ela torna a conversar com as amigas e essas dizem 'palavras de incentivo' com certeza reproduzido de um blog qualquer na internet. Camile segue me ignorando e eu penso o que ainda estou fazendo aqui.
Por obra do acaso o garçom volta em menos tempo do que eu previa com nossas refeições, a comida estava apetitosa, porém todo o desgaste emocional me fez perder a fome. Quando penso que essa não dá pra ficar pior, a situação que me fará levar o prêmio de maior azarado do ano acontece.
Acompanho o prato sendo colocado a minha frente e percebo com a visão periférica que a algo de errado com a minha roupa. A calça está com uma tonalidade mais escura que o resto da roupa na região próximo a minha virilha.
Ah não!
Olho aflito para Celso, mas ele já percebeu balançando a cabeça quase que imperceptível para que eu soubesse que ele já tem conhecimento da situação e que eu ficasse tranquilo. Minha respiração se altera somente em pensar na vergonha que eu irei passar se alguém perceber.
− Nicholas, o que é isso na sua calça, porque não pediu para ir ao banheiro? – Camile nunca quis saber como meu corpo funcionava depois da lesão e sei que ela não sabia que muitas coisas, mas dessa vez foi longe demais.
Travo meu maxilar.
− Eu derramei álcool na calça dele sem querer Camile! Não há com que se preocupar. – Celso intervém em minha defesa e, em nome da minha sanidade mental, espero que ela acredite nessa desculpa.
− Garçom! – Eu chamo quando ele colocava o último prato na mesa para a última das três amigas que acompanhavam Camile e agora me olhavam fazendo expressões de desagrado.
− Sim, senhor? – Ele se volta para mim.
− Quero que me traga a conta, toda ela. E por favor, leve o meu prato de volta e jogue fora.
− Coloca pra viagem! – Celso se adianta levantando seu prato para antes o garçom que ele tome uma atitude e fala apontando pra mim. – E o dele também.
− O que foi Nicholas, não vai comer? – Ela questiona olhando furtivamente para a região da minha virilha. Eu tenho minha certeza de que ela não acreditou na desculpa de Celso.
− Estou cansado, só isso. – Tento disfarçar meu desconforto, eu nunca podia fraquejar com a Camile, ela é implacável. Minhas mãos começam a dar pequenos espasmos mostrando o quanto estou estressado. – Vou para casa.
− Nicholas, você concordou que iria sair comigo hoje. Está encerrando nosso passeio antes da hora?
− Antes eu não tivesse concordado. – Falo entre dentes. – Camile, estou encerrando o MEU passeio. Você pode ficar até a hora que quiser.
− Você vai me deixar aqui sozinha? – Ela insiste.
− Pode ficar com o troco. – Falo para o garçom que recolhe a conta paga enquanto presencia o vexame da minha linda, porém não tão inteligente e discreta namorada. Reúno o resquício de paciência para falar com ela. – Você me conhece tempo o suficiente para saber que quando tomo uma decisão eu cumprirei. Fiquei aleijado Camile, não demente! Apenas meu corpo mudou, a personalidade continua íntegra. Se vai ficar sozinha será por vontade sua. Feliz aniversário e boa noite. Celso me empurra para longe daquela confusão momentânea e em direção a segurança do meu lar. Ele me coloca no carro e verifica minha pressão arterial pois respiro descompassadamente por toda a raiva e vergonha reprimida. Não o permite que me troque no shopping, já passei humilhação demais por hoje.
Camile não apareceu no meu apartamento depois do estressante episódio no restaurante. Ela telefonou algumas vezes e também mandou mensagens, mas não retornei as suas tentativas de comunicação.
Precisava de um tempo só pra mim. Eu estava me recuperando da vergonha que passei, e duas semanas se passaram até que eu me olhasse no espelho sem sentir aversão a minha imagem refletida.
Após esse período decido que é hora de falar com ela e dessa vez eu que não sou atendido. Mais uma vez decido sair de casa por Camile. Sabendo que hoje é dia de evento na minha antiga escola a mesma que Camile e Fábio estão concluindo o ensino médio, farei uma surpresa a ela. É fato que eu preciso sair mais vezes afinal já são mais de três anos nessa situação.
Peço para Celso estacionar na rua lateral a escola, que é bem menos movimentada. Quero que ele me transfira para a cadeira de rodas longe de plateia indesejada. Ele me ajeita no meu acessório de mobilidade no exato momento em que o sinal toca e uma multidão de alunos se espalha pela rua – ninguém vem até a rua a não ser para entrar em alguns poucos carros estacionados.
O cuidador ainda faz os últimos ajustes como passar um cinto para que ele não caia já que estou em uma posição de noventa graus e ainda não consigo equilibrar o tronco, enquanto isso ele mantinha a porta do carro no lado do carona, aberta. Os carros próximos a nós logo saíram deixando a minha visão livre para ver toda a extensão da rua, inclusive o que se sucederia.
Escuto vozes de um casal que se encosta próximo ao muro na esquina da escola – eles não se afastam muito da entrada da rua e o meu carro está quase no final dela. Vejo que o vestido da moça é semelhante ao que ela namorava na vitrine e eu acabei comprando no dia em que fomos comemorar seu aniversário.
O rapaz deve ter a minha altura e quando ela fica na ponta do pé para beijá-lo o vestido que já é curto levanta mais ainda com a atitude e reconheço o sinal na perna – eu beijei aquele sinal muitas vezes para saber que é a própria Camile naquele vestido.
– O que foi dessa vez? – Celso questiona ao ver minha expressão de choque. Ele ainda estava de costas arrumando meus pés e alinhando a roupa, finalmente eu estava com um cuidador que se importava.
– Veja você mesmo. – Ele se volta para trás.
– É a sua namorada? – Ele pergunta incrédulo.
– Até uns minutos atrás ela era. Não acredito nisso! Foi um equívoco pensar que ela pudesse mudar. Bate a porta do carro, Celso, com a maior força que conseguir. – Ordeno e ele executa fazendo o casal se assustar de tão imersos que estão um no outo. – Vamos até lá dar um oi.
Ele me guia até Camile e o jovem que não conheço. Ela empalidece eu perceber que sou eu.
– Nick! E-eu posso explicar. – Ela gagueja. – Não é o que está pensando.
– Ow! Usou meu apelido pela primeira vez, meu amor! – O cara parecia tão nervoso quanto ela. Felizmente eu consegui manter-me calmo. – Me diz então. O que estou pensando?
– Nós estamos...
– Fazendo uma caridade? – Debocho. – Não se preocupe, a partir de agora é livre para fazer ou ficar com quem quiser.
– Nick, por favor, vamos conversar. – Ela pede chorando e se aproximando.
– Já estamos conversando. – Digo com afinco. – Não me procure mais ou ligue. Minha palavra agora é lei! Vamos Celso!
– Nicholas... – Ela insiste inutilmente.
Eu não tenho mais nada a perder!
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Até o próximo capítulo.
Abraços!!!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 22/10/2020
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