Capítulo 12 - Doce lar!
Olá, como estão?
Voltamos à nossa rotina de postagens normais.
Boa leitura!!!
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"É preciso muitas mãos para se construir uma casa, mas bastam somente alguns corações para se construir um lar."
Nicholas
Quatro meses após a minha vinda para os Estados Unidos, retorno para o Brasil.
Foi difícil aguentar por mais um mês aqui depois do meu 'aniversário'. Pelo menos estou de alta para ir para casa e não de volta para o hospital no Brasil.
Estou ansioso pela volta, pedi a meu pai que não me desse nada, preferi estar acordado. Preciso ver um pouco da vida lá fora antes do meu encarceramento em casa.
O embarque é um pouco complicado por causa da minha condição física. Mesmo que eu faço uso de medicamentos para controlar os espasmos, eles não deram trégua hoje. Meus pais têm um pouco de trabalho para conter meus músculos desobedientes.
Quando desembarcamos na minha terra fatal*, uma verdadeira algazarra esperava por mim no aeroporto.
Havia, além dos meus familiares, alguns colegas da escola que eu estudava – colegas que ainda mantinha o contato –, colegas da faculdade e claro, Samuel e Rodrigo com seus familiares.
O pequeno aglomerado de conhecidos, balões e cartazes se aproxima ou é minha cadeira que empurrada até eles – não sei ao certo.
Cada um deles me cumprimenta com frases feitas de caráter positivo ou apenas me abraça sem jeito – sem ao menos me perguntar se quero tal aproximação –, a maioria não sabe como agir.
Acho toda essa atitude muito chata e constrangedora, mas não quero ser taxado de "filho da mãe egoísta", sei que é exatamente o que sou. Pelo menos estão aqui quando há gente que não se deu ao trabalho de fazê-lo.
Eu respondo com um "obrigado" ou somente aceno com a cabeça. Meus amigos e seus pais são os mais íntimos e parecem ser os únicos que não ficaram desconfortáveis com a situação.
Até mesmo a Anna que nasceu após meu embarque para o exterior veio cumprimentar o tio, sendo a última a fazer isso. Ela é uma bolinha enrugada, a coisa mais linda que já vi. Estou sem palavras.
− Ela é tão linda quanto o pai. – Comento quando ele se aproxima com a pequena.
Eu roço a ponta do nariz no topo da sua cabecinha cheirosa enquanto Gabriel a segura próximo ao meu rosto, todo orgulhoso pelo comentário que fiz. Giulia revira os olhos, pois a menina é sua cópia em miniatura.
− Pensando bem acho que parece mais com o Rafael. – Continuo a provocação. Dessa vez é ele que revira os olhos e a esposa sorri.
Tento ser descontraído, todavia não me sinto muito a vontade diante dos olhares alheios que recebo de transeuntes nesse enorme aeroporto. Não estou no clima para sorrisos mesmo que minha linda sobrinha mereça todos.
Aproximamo-nos do carro, que reconheço ser o do meu pai, Rafael me pega no colo pra colocar dentro do mesmo.
Deixa-me cuidadosamente no banco do carona passando o cinto de segurança em seguida e certificando-se que eu não daria de cara com o painel do carro. Então me dou conta que não vi Andréa em lugar algum.
− Te vejo a noite. – Ele sinaliza e eu concordo maneando a cabeça. Meu irmão se despede com um beijo na minha testa, isto já se tornou habitual. Sequer posso falar com meu irmão surdo.
Outra onda de desespero, entre tantas, quer se apoderar de mim; não lembrava esse detalhe: como irei fazer pra falar com meu irmão?
A voz potente do meu pai faz uma pergunta desviando minha atenção, essa é a característica do meu pai que é mais marcante em mim: a voz. A minha é muito parecida com a dele, ou costumava ser. E agora mais parece um sussurro rouco.
− Quer almoçar, meu filho? – Vejo que a cadeira não está mais ao lado do banco, é certo que ele tenha guardado a droga no porta-malas. De todos os meios de locomoção esse foi o último em que pensei que usaria.
− Claro que ele quer, meu amor. – Minha mãe interrompe a conversa.
− Ah é verdade! Não tenho mais o controle sobre meu apetite também. – Debocho lembrando-me de nossa piada, infelizmente não consigo ver a expressão da minha mãe.
− Helene, por favor, deixe o nosso filho tomar as próprias decisões.
− Posso pelo menos escolher o restaurante? – Questiono.
− Claro! – Meu pai responde animado aparecendo no meu campo de visão novamente.
− Não sei se conhecem o endereço desse, eu gosto muito de lá. Chama-se "meu quarto". – Ironizo.
Meu pai suspira frustrado fechando minha porta, ocupa seu lugar no volante e anuncia:
− Tudo bem filho, eu entendi. Vamos pra casa. – Por algum milagre minha mãe fica em silêncio no banco de trás.
Observo em silêncio pela janela do carro a paisagem da cidade que se desdobra a minha frente. Estou tão entorpecido pelo cenário do belo bairro que não percebo que este não é o trajeto entre aeroporto e o caminho de casa.
Meu pai para na frente de um prédio enquanto o portão da garagem se abre. A faixada imponente onde em uma pedra de granito verde com formato de losango na frente do prédio entre a garagem e o portão principal.
Bem no centro da pedra lia-se em letras cursivas de aço inox: Residencial Green Hill. Estou surpreso por vê-lo entrando com o carro aqui quando me disse que íamos pra casa.
− Onde nós estamos? – Eu indago matando minha curiosidade.
− Nos mudamos pra cá, filhote. – Minha mãe responde quando passamos pela entrada. – E automaticamente você também, espero que goste do seu novo quarto.
Eu não respondo, apenas observo cada canto da minha nova morada enquanto meu pai dirige para o que parece ser a garagem. O que mais eles não me contaram?
Há uma área que parece reservada, no estacionamento, com cerca de cinco vagas disponíveis e uma delas é para cadeirante. Tudo parece me lembrar de que não sou mais o mesmo.
Claro que é exatamente nessa vaga que meu pai estaciona. Ele sai e volta minutos depois com a já conhecida cadeira de rodas, posiciona a mesma na lateral do carro e me pega no colo fazendo a transferência.
O carro da minha mãe está estacionado em uma das vagas. Observo outro carro parar em uma das vagas desocupadas, na verdade um carro que eu não conheço. Os elevadores estão a mais ou menos dois metros de distância das vagas reservadas.
Rodrigo surge na minha visão periférica e Samuel vem logo atrás colocando álcool nas mãos, suspeitei desde o principio que eram eles. Ambos estão especialmente grudados em mim nessa época difícil da minha vida.
− Vamos meu príncipe, para a torre mais alta do castelo mais alto. – Rodrigo gosta de recitar frases de filmes.
Ele começa com suas brincadeiras sem se importar com a presença dos meus pais. Na verdade, Sr. e Sra. D'amico acham essas brincadeiras sem graça bem engraçadas. E para comprovar a veracidade da minha afirmação vejo que estão rindo de cada besteira que sai da boca do meu amigo.
− Como dizia Cássia Eller: Quem sabe o príncipe virou um chato! – Constato o óbvio.
− Esse problema seu é congênito**, amigão. – Ele continua com o besteirol.
− Não liga Nick, você continua o mesmo cara de sempre. – Samuel intervém. Meu humor não está dos melhores desde onze meses atrás quando entrei no hospital.
− Não se preocupe Sam, eu nunca liguei. Vocês dois são muito estranhos somente porque continuam aqui do meu lado.
− Ah, Nick, eu também te amo! – Rodrigo me agarra desajeitadamente.
− Tá, tá, que seja. Agora vamos entrar de uma vez nessa droga de elevador? – Rodrigo sorrir e me empurra para dentro.
Vejo meu pai digitar quatro números no painel eletrônico.
− Qual andar? – Pergunto curioso.
− É na cobertura, meu amor. É um tríplex. – Minha mãe fala. – Você vai adorar. Ele está totalmente adaptável, pode ir a qual lugar do apartamento.
− Certo. – Falo um pouco triste. – Porque não me contaram antes, que tinham se mudado?
− Era surpresa. – Minha mãe continua.
Eu analiso o elevador, pensativo. Ele é bem largo e coubemos todos nós tranquilamente, inclusive Samuel está confortavelmente distante de qualquer coisa ou pessoa que ele possa encostar acidentalmente.
O elevador tem as paredes revestidas de espelho que vai do chão ao teto em um designe moderno. Encaro minha imagem refletida no espelho e me vejo na cadeira, isso só pode ser um pesadelo.
Cheguei ao fundo do poço, meus olhos estão profundos com olheiras ao redor apesar de estar quase sempre dormindo. Estou com uma aparência moribunda, o cabelo levemente desarrumado quando outrora era impecavelmente penteado.
Sinto-me exatamente como me enxergo, cansado, destruído. Parece que morri, porém uma falha no sistema do destino me permitiu continuar a respirar. Só consigo pensar que é outra pessoa nessa cadeira e não eu.
− Sabe o que é mais legal nessa casa nova, Nick? – Rodrigo dá uma batida no meu ombro para quebrar o clima silencioso que se instalou no recinto. Olhávamo-nos através do espelho. – A senha do seu elevador é do terror, 1408!
Não acredito que estou ouvindo isso! Reviro meus olhos para demonstrar minha insatisfação com a brincadeira. Acho que ele não vai amadurecer nunca.
− Chegamos Nick. – Dessa vez é Samuca que se manifesta. – Vigésimo quinto andar ou cobertura. O que preferir.
Eu o vejo através do espelho e percebo que todos me olham em expectativa. Eu virei uma celebridade da piedade, a maioria dos olhares que recebo é de pena, até mesmo dos meus pais.
Confirmo silenciosamente e após colocar álcool no suporte para empurrar a cadeira, ele segue me empurrando apartamento adentro. Exploro mais um pouco do local que é novidade para mim.
A decoração é sofisticada até demais para o meu gosto. Tenho certeza que todo esse luxo foi escolhido a dedo pela minha mãe.
Meu pai é um cara humilde demais para prestar atenção em qualquer utensílio sem utilidade que custe muito dinheiro. Até mesmo as roupas caras que ele usa são a minha mãe que compra. Conheço esse casal há vinte anos.
Vinte anos e não posso fazer mais nada com minhas próprias mãos.
Vou ter de me esforçar mais ainda para alcançar uma melhora ao menos interior. Essa situação me fez perceber o quanto há pessoas que se importam comigo mesmo que apenas um pouco.
Acho que voltei para o lugar que me pertence. Apesar de estar surpreso pela mudança repentina e sem aviso dos meus pais, voltei pra casa. Por mais que doa estar no meu lugar uma coisa é certa:
Ao lado dessas pessoas que é meu verdadeiro lar.
Notas da autora: * Créditos à Lia Cordeiro
**Congênito: característico do indivíduo desde o ou antes do nascimento.
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Abraços!!!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 01/09/2020
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