Capítulo 11 - Laços!
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Boa leitura!!!
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"Bom mesmo é saber que quando nosso teto desaba a gente pode morar nos braços de amigos...
...BRAÇOS ABRIGOS."
Karla Thayse Mendes
Nicholas
Definitivamente demorou um tempo pra me acostumar com a cadeira, sem sentir minhas mãos suando – pelo menos eu acho que estavam suando. Eu estava ciente da necessidade de usá-la, aceitar era outra questão.
Porém esse episódio me fez ter coragem para tomar uma decisão importante: confrontar meu pai sobre minha real situação. Chega de viver de suposições e de me consultar com o Dr. Google.
Agora, alguns meses depois, aqui perdido em pensamentos e ainda apreciando a vista de Seattle e rememorando a visita da Andréa eu sorrio da cena e me encho de coragem em preparação para receber a verdade.
Estou aprendendo a guiar a cadeira motorizada com o auxilio da boca, porém não passo muito tempo nela. Eu descobri que a visita de Andréa na verdade era pra ter sido do meu irmão Rafael que não pôde mais me ver porque tive que tomar uns calmantes e precisava descansar.
Eu estava tão oprimido, sofrendo por antecipação de algo que eu não tinha certeza, que não percebi meu pai se aproximando e falando mansinho.
− Hey, está dormindo? – Abri os olhos imediatamente. – Eu queria saber o que quer fazer no seu aniversário.
− Nem lembrava de meu aniversário. Não quero nada. A não ser... a verdade. – Falo o encarando.
Chegou a hora.
− Sobre o que, Nick?
− Eu estou internado há meses não consigo sequer mexer um dedo. – ele me olha encurralado. – O que está acontecendo comigo?
− Nick, como eu falei o seu estado é...
− Pai! Sem enrolação, por favor. – Ele suspira e senta numa cadeira próxima a minha cama.
Meu aniversário é daqui a dois dias e é certo que saber a verdade será o melhor dos presentes, mesmo que doa.
− Você foi atingido por dois disparos, um atingiu o ombro e foi o mais fácil de corrigir. O motivo de estar aqui há tantos meses é o segundo disparo. Este entrou pelo abdômen e saiu pelas costas causando uma hemorragia, a quebra de duas vértebras e um corte na medula espinhal.
− E qual as consequências disso?
− Bom, não se sabe ao certo quanto tempo pode levar a recuperação. – Seu pomo-de-Adão sobe e desce, mais uma vez vejo meu pai nervoso para me contar algo.
− Então é grave! Eu não vou poder mais andar ou mexer os braços?
− Não posso afirmar com certeza, meu filho...
− Mas também não pode negar. – Eu estava começando a ficar aflito, então desviei o olhar para o lençol nas minhas pernas. Eu não conseguia mais encará-lo.
− Eu farei tudo que estiver ao meu alcance, sinto muito não poder ter feito mais. A culpa é minha, eu deveria ter sido mais rígido mesmo você sendo um adulto. Deveria ter te proibido entrar naquele bairro a noite.
Ele começa a chorar na minha frente. Assim não dá, vou acabar desmoronando junto. Eu queria abraçar meu pai e dizer que ele era o melhor, porque essa é a verdade.
− Tudo bem, pai. – Tento falar o mais calmo que consigo. – Não adianta assumir a culpa quando ela é apenas minha. Eu cedi aos caprichos de Camile e a culpa e consequências pertencem somente a mim. Eu posso ficar um pouco sozinho?
− Claro! – Ele levanta enxugando os olhos com os dedos e beija o topo da minha cabeça.
Fico sozinho e aproveito a rara oportunidade para chorar. Deixo toda raiva, frustração, tristeza e arrependimento saírem em forma de lágrimas.
Depois de algum tempo sinto dois pares de braços me envolverem, um de cada lado. Abro os olhos rapidamente para saber quem são os donos dos membros . Eu tinha certeza que eram meus pais.
− O que estão fazendo aqui? – Pergunto incrédulo. Eles afrouxam o abraço.
− Viemos pra o seu aniversário. – Rodrigo fala com naturalidade, seus olhos estão vermelhos.
Direciono a atenção a Samuel que ainda limpa algumas lágrimas. Então lembro que o meu próprio rosto deve estar completamente molhado. Constrangido, tento em vão limpar o rosto com o ombro.
− Eu talvez não volte a andar mais. – Solto a bomba de uma vez. – Isso é um saco!
− VOCÊ é um saco, meu amigo, e nós te suportamos. – Rodrigo fala como se fosse o óbvio.
− Vai dar tudo certo! – Samuel intervém sentando na ponta da cama próximo aos meus pés. – Vamos ficar do teu lado. É na alegria ou na tristeza, como é um casamento.
− Deus me livre de casar contigo. – Rodrigo grita dentro do quarto para ele, e acaba me fazendo rir um pouco. – Você é muito esquisito!
− Por mais que eu ame vocês como meus próprios irmãos eu não vejo sentido em continuar vivendo e não poder fazer nada, é um desperdício de oxigênio.
− Que história, meu irmão! Nós vamos seguir em frente e ter muitos filhos, vê-los crescer, e só morrer quando estiver velhinho... Numa cama quentinha.
− Acho que você anda vendo Titanic demais, não é Rodrigo. – Sam fala revirando os olhos e ajeitando os óculos no rosto.
Sempre me diverti vendo esses dois discutirem, mas sei muito bem que Rodrigo daria a vida pelo amigo e acho que vice-versa.
− Vocês deveriam estar se divertindo, procurando uma namorada ou estudando. Mas estão aqui perdendo tempo com um caso perdido.
− Nós não estamos mais na faculdade, trancamos para esperar você, Nick. – Rodrigo me surpreende com a afirmação.
− Eu estou esperando a garota perfeita. – Samuel se defende.
− Você, o que? A garota perfeita não existe, Samuca. – Rodrigo fala provavelmente pensando em sua traição.
− Ela tem que ser perfeita, pelo menos pra mim. – Ele retruca.
E assim eles recomeçam. Estou contente por sair da monotonia.
Hoje era o bendito dia do aniversário que meus amigos tiveram a audácia de organizar. Até mesmo os pais deles estavam aqui, em solo norte americano, para me prestigiar.
Os únicos que não se fizeram presentes, além da Camile, foram Gabriel e sua esposa por causa do bebê ainda pequeno, bem como Rafael por um motivo que eu desconheço.
Todos trouxeram presentes que eu não pude abrir com minhas mãos. Eu estava na cadeira de rodas e acompanhava a euforia dos meus entes queridos e amigos próximos. O quarto parecia pequeno para a comemoração deles pelo meu aniversário.
Eu fico num canto quieto, falo o mínimo possível e disparo sorrisos sem graça; meu desconforto é visível, não estou no clima para festas principalmente a que comemora minha existência.
Tudo que quero é pedir que eles parassem com essa alegria forçada e tirem esse bolo ridículo e doce do meu quarto, mas sei que eles se esforçaram para estar aqui ao meu lado e em outro país. Vieram exclusivamente por mim, seria muito egoísmo da minha parte dispensá-los.
Detesto bolos, na verdade detesto doces. Acho que deve ser por isso que minha vida é tão amarga, não entra nada doce nela. O ambiente descontraído e balões coloridos contrastam com meu interior que é apenas escuridão.
Estou novamente no aconchego da minha cama, com o silêncio reinando no quarto. Ainda chorei outras vezes pelo meu azar, contudo percebi que não faria diferença alguma.
Meu telefone toca notificando que tenho novas mensagens e terei de esperar alguém aparecer para me ajudar a acessá-lo. Essa impotência sempre me deixa frustrado.
Meu pai trouxe-me um novo aparelho telefônico e eu nunca questionei se encontraram meu carro ou os culpados, tão pouco me interessa saber já que não tem como voltar no tempo e o estrago já está feito.
Como que por providência minha mãe entra no quarto para me trocar de posição. Estou cheio de expectativa com o pequeno reflexo de esperança que ainda tenho, de ser a pessoa de quem eu gostaria muito de receber uma mensagem nesse momento.
Minha mãe parece sentir a urgência na minha voz e, antes de fazer o que veio fazer, ela imediatamente, posiciona a tela na minha frente e abre a nova mensagem.
Fico um pouco decepcionado, todavia logo me derreto ao ver que são fotos da garota que conquistou meu coração após essa tragédia.
Anna, minha sobrinha está com três meses de vida – exatamente o tempo em que estou fora do Brasil – e estampa a tela do meu telefone com seu sorriso banguelo e rostinho redondo.
Ela sempre consegue me animar um pouco. As mensagens que mais recebo são dos meus irmãos e amigos. Todo esse tempo nunca recebei uma mensagem de Camile, apesar do número ser o mesmo.
Estranho o seu silêncio, é provável que ela tenha dado nossa relação por encerrada sem ter me comunicado. Meu orgulho não permite entrar em contato com ela, mas minha rotina aqui na clinica me faz pensar como nosso relacionamento ficará.
Eu preciso fazer fisioterapia além de terapia ocupacional e também acupuntura entre outros tratamentos alternativos. A agenda é lotada, do jeito que ela odeia.
− A Anna está linda. – Comento com minha mãe. Ela abre um sorriso orgulhoso pela neta primogênita.
− Ela está sim, meu amor. Não vejo a hora de voltar e mimá-la. – Ela responde ajeitando meus cabelos com os dedos e desce a mão para meu rosto. – Acho que está na hora de fazer essa barba, não acha?
− Tanto faz. – Respondo sem interesse no assunto. – Falando em voltar quando iremos voltar?
− Logo, não se preocupe. – Ela tenta contornar.
− Eu volto para casa ou hospital brasileiro?
− Ainda não sabemos. Eu e o seu pai decidimos que você só terá alta médica quando estiver cem por cento.
− O que a senhora quer dizer com cem por cento? Andando? Não precisa mais maquiar a conversa, eu já sei e já tinha percebido tudo.
− Quero dizer quando estiver apto a ficar fora do hospital sem nenhum risco. Você está muito ansioso e estressado. Teve crise de apneia e desmaio.
− Mãe! – Faço uma pausa dramática. – Eu não sei se vou conseguir depender de alguém pelo resto da vida. Isso é difícil de aceitar.
− Eu sei meu amor. – Ela fala já com lágrimas transbordando nos olhos e continua falando com uma delicadeza que nunca vi. – Mas por hora será assim. Os neurônios não se regeneram tão fácil. Você terá o melhor tratamento que pudermos encontrar. Acredite, eu trocaria de lugar com você se pudesse.
− Obrigado mãe, por ficar do meu lado.
− Esse é meu lugar, Nicholas. Agora, estando ou não no hospital irá fazer o que a mamãe mandar. Você vai comer alguma coisa.
− Eu não estou com fome, obrigado.
− Eu não perguntei filhote. Isso aqui não é democracia, é ditadura mesmo.
Acho que me sinto melhor assim, com minha mãe mandona e possessiva.
A dona Helene estava de volta!
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Amanhã é dia de capítulo inédito.
Abraços!!!
#gratidãosempre
Capítulo publicado e revisado dia: 31/08/2020
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