XXXVIX - MARTA MORTE

Miro segurava uma xícara branca de louça contendo chá de ervas, enquanto encostava o rosto na parede e observava através do vidro da janela a noite estrelada do lado de fora. Ele repousava uma mão no bolso de sua calça jeans e sentia o aroma da fragrância do vapor que evaporada do líquido ardente em direção a sua face. Ele ainda estava pensativo, tentando assimilar todas aquelas informações que acabara de escutar por tantas horas seguidas.

O diário de capa desgastada de sua mãe estava posto sobre a pequena mesa quadrada do pequeno cômodo. As luzes do interior estavam apagadas e a única iluminação provinha de uma lâmpada no jardim que penetrava pela janela.

Ele morava ali sozinho desde que se formou, não teve sorte em nenhum de seus relacionamentos, entretanto, sempre desejou ser pai e há dez anos tentou adotar uma criança. Marta, assim ela se chamava. Ela aparentava ter uns dez anos de idade, tinha olhos escuros, cabelos curtos e uma pinta na face. Entretanto, não era uma menina feliz, ela era um tanto estranha e não conseguia demonstrar sentimentos algum. De qualquer forma, ele queria ser o pai dela, ajudá-la. Após ele ser impedido de adotá-la, ela simplesmente havia desaparecido.

— Ainda pensativo? — Um homem sentado diante da mesa perguntou da penumbra. Ele estava tão ocultado por suas vestimentas negras que mal se conseguia notá-lo.

Miro havia encontrado aquele sujeito mais cedo em frente ao orfanato. Ele sabia mais de sua própria origem quanto ele mesmo. Ele alegava ser um feiticeiro, e também era um feiticeiro que segundo a sua mãe em seu diário seria o seu pai biológico que poderia estar vivo por aí.

— Ainda estou tentando acreditar nessa fantasia. — Miro respondeu, bebericando em seguida o seu chá.

— Não é fantasia. — O sujeito apontou para o diário na mesa. — Eis uma prova cabível.

Miro olhou para o homem de longos cabelos negros, barba espessa e bigode curvado. O delineado escuro natural e a pinta na face daquele sujeito até lhe faziam lembrar da pequena Marta. Ele tentou não focar nesse pensamento.

— Eu já vi você em um cartaz. É um mágico que está nessa cidade. A sua história não faz nenhum sentido para mim. Você me apresentou com um outro nome diferente e não pelo "Grande Sarin".

— Nome artístico. — O homem curvava um lado do bigode com a ponta dos dedos. — E também para manter o meu disfarce. Estou à solta há mais de trinta anos e até o momento não chamei atenção da seita.

— Seita... — Miro sorriu, já conhecendo toda aquela história. — Isso mais me parece coisa de louco. Se não fosse pelo diário de minha mãe, eu nunca acreditaria.

Meicy suspirou, se lembrando da noite em que finalmente havia conseguido se libertar do rubi. Por todos aqueles séculos ele absorvia o poder da joia encantada, isso lhe fez se comparar com Haiko, mas essa era a única maneira de conseguir sua liberdade. Ele estava um tanto desorientado, mas não se manteve em Laucana. Viajou por todo o mundo e buscou aprender sobre aquela era, já que, não vivia mais em seu tempo. Se acostumou rápido com a modernidade e fez sucesso com pequenos shows de mágica — claro, usando seu poder como artificio para conseguir dinheiro —, só nunca pensou que seu nome artístico se tornaria tão conhecido por muitos lugares.

Retornando a Laucana ele sentiu a presença de Miro. No início foi confuso, mas logo ele entendeu. Por tantos anos presos, além de consumir o poder do rubi ele também meditou, ao contrário de Lú Ecss que apenas embernou. Com esse poder envolvido, ele se tornou capaz de sentir a presença de seres incomuns. Miro como filho de feiticeiro, não era propriamente um, mas havia herdado a imortalidade. Meicy estava ali no arquipélago há alguns dias, e já se sentia curioso a respeito do biólogo.

— Saber de sua existência foi uma surpresa para mim, mas eu fico satisfeito por ter conhecimento de sua origem. — Meicy falou.

— Eu não me sinto confortável com isso. — Miro falou, dando mais um gole em seu chá calmante. — Está sendo difícil para a ficha cair. Eu nunca irei me acostumar com isso.

— É... Eu também já fui bastante cético. Eu nem acreditava em deuses para se ter uma ideia. Eu achava tudo isso um absurdo até perceber essas coisas sobrenaturais em mim.

— Senhor Meicy, acredito que não tenha vindo até aqui tomar apenas um chá. Qual o seu interesse em mim?

Meicy bebericou um pouco de seu chá já frio e se aconchegou na cadeira de madeira.

— É muito interessante saber que existe um outro feiticeiro e muito mais que ele deixou um filho, mas, eu acho que você poderia me ajudar em algo.

— Tipo o que?

— Você conhece essa cidade melhor do que eu e certamente conhece muita gente. Eu desconfio que a minha irmã esteja por aqui. Esse é o principal motivo de eu estar nessas ilhas.

Miro franziu o cenho e colocou o xicara vazia sobre a mesa.

— Pelo o que me contou já se passou séculos que nem mesmo você sabe ao certo quantos foram... Uns trezentos anos, eu imagino. Não tem como sua irmã está viva.

— Eu também pensava assim, até receber uma foto de jornal.

Meicy se colocou de pé e se direcionou até o biólogo. O feiticeiro retirou do bolso o seu celular de tela digital e procurou pela imagem, mostrando posteriormente ao rapaz. Miro estranhou, a imagem estava um tanto escura. Ele pegou o aparelho com as duas mãos e tentou enxergar direito. Era uma jovem montada em um cavalo negro em movimento, ela estava coberta por uma capa preta e boa parte de sua face estava coberta pelo capuz. Porém, algo chamou a atenção de Miro, uma foice que aquela jovem carregava em sua mão livre, uma lâmina grande e afiada. Isso foi o bastante para ele reconhecer.

— Essa é a... Marta morte?

— A famosa assassina, matadora profissional e mercenária. Procurada por centenas de crimes por vários países e ridiculamente é conhecida por esse nome por usar uma foice como arma. Supostamente, ela é a minha irmã.

— O que? Como pode ter tanta certeza?

— Está vendo? — Meicy ampliou com os dedos a imagem e focalizou em um colar que aquela jovem carregava no pescoço, no pingente principalmente. — É uma amazonita. De onde eu venho, essa pedra tem o poder de vida eterna. Talvez isso explique o motivo dela ainda estar viva.

— Talvez seja apenas uma coincidência. Deve estar se enganando.

— Não, eu sinto que não. Ela está nas ilhas há uns dias, eu preciso de sua ajuda para encontrá-la.

— Minha ajuda? Ela é uma assassina!

— Por favor, ela não suja as mãos de graça. Não há o que temer e também, você é imortal.

Miro sorriu ironicamente.

— Você é maluco. Eu acabei de te conhecer. Ainda estou tentando acreditar em toda essas... coisas que me falou. Isso só pode ser algum sonho.

— Miro, meu caro. Eu entendo o quanto isso é complicado para compreender vindo de alguém que viveu a vida inteira alheio a esses assuntos. Você além de tudo, não é religioso e isso se torna realmente bastante difícil. Eu suplico por sua ajuda.

— Olha, eu acho que já é hora de você ir.

Miro estendeu o braço para a porta, mostrando a saída para o feiticeiro. Meicy compreendeu a reação dele, era realmente bastante complicado engolir toda aquela história para alguém tão cético, além de tudo, ele havia sido rápido demais em pedir ajuda para encontrar Sora. Foi uma atitude deselegante.

— Tudo bem. Aguardarei o seu contato. — Meicy se direcionou até a porta, não esperando o jovem lhe acompanhar.

Miro observou a deixa do feiticeiro e ponderou por alguns instantes. Marta era o nome da assassina e também o nome da menina que ele tentou adotar há dez anos. Marta tinha características familiares as de Meicy. O jovem não queria acreditar em coincidências, fechou os olhos e pediu mentalmente que tanto a matadora quanto a criança não fossem a mesma pessoa.

☽✳☾ 

Kelmo mal havia dormido durante a noite. Se levantou cedo, olhou para a cama que dividia com Lirah. A maga ainda dormia profundamente. A cama de solteiro ainda estava arrumada e desocupada. Salua ainda não havia retornado. A caçadora procurou não se estressar com isso. Vestiu um hobby de algodão cor de vinho por cima de sua fina camisola de seda. Os seus cabelos estavam soltos, era algo raro de se ver. Ela se direcionou até a porta dupla que se dava para a varanda. Abriu-as sem muito esforço e caminhou até as grades de proteção de ferro. A leve brisa açoitava seus fios de cabelo e balançava freneticamente a barra de sua vestimenta.

Estava frio, algumas nuvens escuras se aglomeravam em direção ao sol nascente, deixando aquela manhã um tanto cinzenta. Ela fitava a faixa de mar não muito longe. Memórias do passado lhe vieram à tona. Estar de volta àquele lugar lhe trazia certos remorsos. Ela poupou a vida de uma envolvida com o último feiticeiro apenas por se sentir igual a ela. Por amar um feiticeiro. Ela se envergonhava daquela ação. Não era algo que se esperava de uma caçadora habilidosa e leal como ela, ainda mais que na época era a preferida de Salomon. Com o tempo, os anciões sempre lhe disseram que o coração dos caçadores se tornavam mais frios pelas mortes que eram responsáveis, no entanto, com ela foi o inverso. Apesar de seu rancor por Meicy, o seu coração mesmo depois de séculos, ainda batia forte por ele.

Uma luz branca irradiou do quarto chamando a atenção de Kelmo. Ela se virou e não lhe agradou a olhar para a face antipática de Salua. A jovem guardava as mãos nos bolsos de sua calça folgada de cor bege. Ela sorria sonsa, mas sabendo que ouviria uma bronca.

— Bom dia, Kelmo! — Ela saudou, sarcástica.

— Bom dia?! — Kelmo esbravejou, furiosa. — Por onde andou?

— Ei! Não sou nenhuma estudante. Abaixe seu tom de voz. — Salua cruzou os braços enquanto bocejava.

Kelmo trincou os dentes e aproximou alguns passos da jovem caçadora. A essa altura, Lirah despertou com o barulho das duas.

— Gente... — A maga falou sonolenta, enquanto abaixa um pouco do lençol do corpo e se sentava. — O que está havendo?

— Ela!! — Kelmo e Salua falaram em uníssono e ao mesmo tempo apontaram o indicador uma para outra.

— Kelmo sempre se incomoda com as minhas decisões. Eu sou uma pessoa livre! — Salua indagou, estreitando os olhos para a jovem de olhos de serpente.

— Estamos em missão e não em um passeio. — Kelmo rebateu. — Somos um grupo e cabemos tomar as decisões juntas.

— Quando foi que você se tornou tão ranzinza?

— Podemos aparentar ter a mesma idade, mas eu sou mais experiente! Já enfrentei demônios, guerreiros, feras selvagens e dois feiticeiros! Eu não faço mais ideia de quantos anos eu tenho, já me perdi no tempo, mas a única coisa que eu sei e apendi, que tudo precisa ser feito com planejamento. Não dê uma de adolescente rebelde, Salua, e não me tire do sério.

— Eu também existo há muitos anos, não me trate como uma criança.

— Você nem tem sessenta anos! Talvez depois de sua primeira centena crie um pouco de maturidade.

— Sinto falta de quando você era legal.

Lirah se levantou e se juntou as duas caçadoras que se encaravam em um olhar fatal.

— Não deveriam discutir. — Lirah falou, calmamente. — Deveríamos nos sentar e... encontrar pistas...

— Isso eu já resolvi. — Salua afirmou.

Kelmo e Lirah a encararam um tanto atônitas.

— Eu consegui os ingressos para o espetáculo hoje do "Grande Sarin". — Ela falou o nome do mágico com uma voz debochada.

— Como conseguiu isso em plena madrugada? — Kelmo questionou, desconfiada.

— Luanda é uma ilha parada e sem graça. Laka é onde tem grande movimento urbano e não foi difícil encontrar. Laka não dorme e... claro, custaram a metade do valor e os assentos estão nas piores fileiras.

— Eu me esqueci que você é do mundo. — Kelmo desdenhou.

— Eu não tenho culpa se vocês vivem presas naquele instituto.

— Gente, por favor... — Lirah tentou evitar outra discussão. Olhou para Kelmo. — Kelmo é importante irmos. Podemos matar essa dúvida.

— Eu sei. — Kelmo concordou, embora ela não estava afim de estar naquele lugar, muito menos em uma missão pra iniciantes como aquela.

— E só outra coisa. — Salua lembrou. — Ridicularmente é um evento formal. Até desnecessário para um show de mágica. Mas fazer o que? É para o público burguês. É uma festa comemorativa de um empresário rico.

— Mas... — Lirah estranhou. — Você disse que tinha conseguido ingressos. Nesse caso não seria convites?

— E não é a mesma coisa? Quer dizer... Os nossos nomes falsos estarão na lista e só nos basta entregar os convites ou ingressos, como quiserem chamar! Não me questionem. Isso custou barato! É o que importa!

— Lua, por favor... Não se meta em encrencas. — Kelmo pediu, sustentando a testa com a ponta dos dedos.

— Relaxa.

— Salua. — Lirah falou. — Você disse que o evento é uma festa formal, nesse caso...

— Sim! Precisamos de roupas novas! Isso significa que precisamos usar vestidos!

— Ah não! — Kelmo negou, relutante. — Eu não uso vestido. Vocês não vão me obrigar a vestir isso.

— Fala sério! Você nasceu em uma época em que mulheres não usavam calças.

— Eu mesma costurava minhas próprias calças.

— Você costurava? — Salua conteve seu riso.

Kelmo suspirou, tentando não perder a paciência. Resolveu concordar. Apesar da futilidade em comprar roupas que ela não voltaria a usar, era algo necessário para aquela missão ridícula. Resolveria isso e o caso da assassina e poderia finalmente retornar para Hidda, onde dedicaria seu tempo treinando crianças.

— Vamos tomar café e resolver isso. — A caçadora de olhos de cobra decidiu. — O resto do tempo livre vamos nos dedicar a procura da tal assassina da foice.

Salua e Lirah assentiram positivamente.

☽✳☾ 

Lembranças dominavam a mente de Miro enquanto ele comia a sua primeira refeição do dia. Ele estava sentado à mesa de sua casa, um chá esfriando na xícara e metade de um pão em um prato de louça. Os seus olhos focalizam o nada e os minutos passavam e ele se perdia no tempo.

O antigo Orfanato das ilhas, uma imensa estrutura que abrigava cerca de cem crianças. Há dez anos, o biólogo foi animado, na intenção de conhecer alguns dos órfãos para torná-lo seu filho. Ele se lembrou quando adentrou a um tipo de parque nos fundos da instituição, onde todas aquelas miniaturas de gente brincavam, tão felizes que nem pareciam estar carentes por uma família — mas ele sabia que era o desejo de todos ali, ter um pai, uma mãe ou qualquer um deles.

A diretora o acompanhava e lhe apresentava a cada uma delas, porém, uma menina lhe chamou a atenção. Ao contrário das outras, ela estava sozinha, triste, sentada em um balanço de cabeça baixa. Tinha os cabelos negros e curtos, um delineado escuro natural nos olhos e uma pinta na bochecha. Ela carregava no pescoço um colar, um tipo de pedra verde.

— Ela se chama Marta, esse foi o nome que ela nos apresentou. — A diretora, uma mulher de meia idade, de cabelos encaracolados e grisalhos respondeu à pergunta do jovem ao questioná-lo. — Não sabemos nada da origem dela e nem ela não consegue nos dizer nada. Está conosco há um ano, mas... ainda não confia em ninguém.

— Ela parece ser tão triste. — Miro observou.

— Ela parece enfrentar algum trauma. Ela tem acompanhamento psicológico e tudo o que precisa. Ela vai mal a escola e digo que não é por dificuldade. É uma menina bastante inteligente para a idade dela. Ela já foi rejeitada duas vezes e digamos que... ela teve até sorte em encontrar interessados. Geralmente, crianças mais velhas como ela são menos escolhidas.

Miro encarou na menina, percebia a quão deslocada ela se sentia, como se não pertencesse a aquele lugar. Às vezes ele se sentia como ela. Sentiu uma conexão com ela, mas precisava conhecê-la antes de mais nada.

— Posso conversar com ela? — Ele perguntou.

— Claro que pode, mas... não a pressione muito e... não se chateie com ela. Ela é um pouco estranha.

— Não se preocupe.

Miro caminhou até a menina, sentou-se no balanço ao lado do dela. Ela continuou imóvel, não demonstrando qualquer reação ou se importando com a presença dele ali. O homem ponderou por um instante e fingiu estar alheiro.

— Não adianta, — a criança falou, pegando Miro de surpresa — você não vai querer ser meu pai.

Miro a fitava. A pequena nem ao menos lhe dirigia o olhar, continuava na mesma posição, um tanto sombria.

— Por que acha que eu não iria querer ser seu pai?

— O meu corpo é de criança, mas eu sou bem mais velha. Você não iria querer ser pai de uma pessoa com quase trezentos anos.

Miro franziu o cenho. Ou aquela menina fantasiava demais ou realmente ela tinha problemas, entretanto, olhou para si mesmo, ele também era uma pessoa com uma idade nada compatível a sua jovialidade.

— Bem... Isso não me assusta. Na verdade, eu sou meio parecido com você. Eu tenho essa aparência desde os meus vinte e cinco anos e olha, eu não mudei, não envelheci. Eu não posso ter uma idade centenária como você, mas pessoas de minha idade tem rugas e alguns fios de cabelo branco.

Miro sorriu, mas já se arrependendo. A menina virou a face mecanicamente para ele. As suas feições eram rígidas, um olhar profundo e olheiras marcadas, talvez de noites mal dormidas.

— Eu não estou de brincadeira. — Ela falou, áspera. — Por que não vai embora, assim como os outros? Eu não quero uma família! Eu só quero... talvez não.

Miro ficou em silêncio, mas percebendo que algo a atormentava, um desejo que talvez não pudesse realizar.

— Me deixa te ajudar, Marta. Todos merecem uma família e uma segunda chance. Eu prometo ser o melhor pai do mundo.

Marta o olhou com desdém.

— O sonho de qualquer criança aqui é ser adotada. Por que não escolhe uma dessas?

— Por que eu já escolhi você. Não entende isso? Eu não conheci a minha mãe e tudo o que sempre quis quando criança era conhecê-la.

Marta olhou para seus pés, suspensos no ar.

— Eu já tive uma família. Uma mãe amorosa, um pai protetor e... um irmão... — Ela franziu a sobrancelha, demonstrando uma chuva de sentimentos que era difícil se distinguir em suas feições. — Ele destruiu tudo! — Ela novamente virou a face para ele. — Quer saber? Me adota! Faça o quer fazer. Eu só não garanto que serei a criança que quer eu seja. — Ela se pôs de pé em um pulo. — Essa criança já morreu há muito tempo.

Ela saiu dali correndo, deixando o homem sozinho e pensativo. Miro sabia que Marta precisava de ajuda e de uma família. Ele queria ser o pai dela, mesmo sabendo os problemas que iria enfrentar para ajudá-la a superar todo aquela perturbação.

Após aquilo, ele retornou ao orfanato para visitá-la algumas vezes e deu entrada ao pedido de adoção que acabou por fim sendo negado por acusação de invalidez de seus documentos. Era comum ele enfrentar aquele tipo de problema, mas no fim, Marta acabou fugindo do abrigo e desapareceu do arquipélago. Miro nunca mais a viu ou obteve notícias.

Miro voltou a realidade. Não conseguiu mais comer após aquele flashback. Se levantou e caminhou até a sua janela. Aquela lembrança e a visita do feiticeiro na noite anterior lhe pedindo ajuda para encontrar a irmã desaparecida vieram como um flash em sua mente. Uma assassina chamada Marta, um colar semelhante. Sim, Marta Morte era a irmã do feiticeiro e era a mesma garotinha que ele queria que fosse sua filha. Infelizmente, isso destruiu o seu coração. 

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