XII - A CURA
Uma fogueira crepitava no centro do túnel, porém não havia madeira alguma sendo queimada. Lirah a controlava, mas não estava nada empolgava com sua façanha. Ela estava sentada no mesmo local onde caiu quando Meicy lhe agrediu, a sua face infeliz demonstrava seu descontentamento dos recentes fatos.
Millo agora conseguia enxergar as pessoas em sua volta, fitava a face marcada pelas lágrimas da amiga. Ele baixou a cabeça. Mesmo sentado tão próximo dela, sentia medo. Nunca ouvira falar em Magos Kilmato's, mas pelo o que presenciou das habilidades dela, parecia ser bastante perigoso. Lançou o seu olhar à Meicy. O jovem de olhos escuros estava em pé, diante de uma parede rochosa com a face enterrada nela. Deveria estar arrependido pelo recente ataque de fúria, pelo o que fez a Lirah, a ele e principalmente pela revelação de seu segredo.
O índio não sabia o que dizer para quebrar aquele silêncio. Aquela revelação de Meicy ser um feiticeiro parecia ser tão estranha. Por mais ameaçador que fosse, principalmente pelo o que o seu amigo fez há meia hora atrás, não parecia ser tão perigoso. Aquele garoto com alterações bruscas de humor sempre foi seu amigo de infância, ele confiava nele.
Ele entrelaçou os seus dedos uns aos outros e voltou a sua atenção à chama infernal. Diferente de tudo o que ele já viu, aquele fogo era avermelhado e projetava um intenso calor. Era necessário manter uma certa distância para evitar queimaduras ou algo do tipo. Olhar para aquilo lhe causava mágoa.
— Millo... — A voz de Lirah soou fraca e baixa. Millo a fitou pelo canto do olho. Uma última lágrima derramava pela face dela. — Você pode... me entregar a eles.
O índio não conseguia entender. A face dela estava vermelha, talvez por conta de seu choro, por sua timidez ou pela luz avermelhada da chama que crepitava não muito longe, mas outra coisa bastante peculiar, era a cor dos seus olhos. Ele não queria comentar, mas estava diferente do habitual, era como se as chamas irradiassem neles e os iluminasse. Lentamente Lirah enfiou a mão no bolso de seu manto e retirou suas lentes de contato coloridas — Sim, Lirah usava lentes negras para esconder a cor peculiar de seus olhos, mas por conta do brilho avermelhado que eles emitiam, seus olhos ficavam castanhos.
Millo pôde entender e vislumbrar aqueles olhos vermelhos com mais clareza e agora fazia sentido sua observação. Não era a luz do fogo, era realmente a cor natural deles. Aqueles orbes intensos lhe fitavam. Ele estava boquiaberto. Aquilo era irreal! Ele não tinha palavras diante daquilo, entretanto, a pequena maga infernal tinha.
— Eu sou uma farsa, Millo...
— Recoloque as suas lentes, Lirah!
A voz de Meicy chamou a atenção dos dois que miraram seus olhos na direção em que ele estava. O garoto de olhos escuros estava virado para eles, de punhos cerrados e um semblante revigorado, apesar de que se olhar bem, é perceptível que ele havia chorado. Talvez não fosse a ocasião certa para se pensar naquilo e achar graça, mas o índio deixou escapar um sorriso. Era a primeira vez que havia visto o seu amigo chorar.
— Meicy... — Lirah falou, franzindo o cenho.
Meicy caminhou alguns passos na direção dos dois.
— Você não irá se entregar, Lirah e nem eu! Eu fui um hipócrita quando lhe chamei de "aberração", mas na verdade, você está certa. Somos iguais, mesmo sendo tão diferentes. — Ele fez uma pausa, suspirando pesadamente. — Não irei deixar que destrua a sua vida. Me perdoe.
Lirah e Millo estavam boquiabertos. Após aquele ataque colérico há pouco tempo atrás, o garoto estava demostrando arrependimento? Será que as palavras da maga infernal surtiram efeito para ele? Talvez. Mesmo não esperando resposta alguma, o garoto de olhos escuros sentou-se no chão e enterrou a face nas mãos.
— Está sendo difícil. — Ele falou com uma voz abafada. — Eu não queria aceitar, mas... — Um soluço, ele novamente voltou a chorar. — Eu sou esse monstro. Sou a reencarnação de...
Millo não conseguia acreditar no que os seus olhos viam. Meicy chorando e arrependido? Até mesmo Lirah vislumbrava aquela cena, estupefata, mesmo ainda se sentindo ameaçada.
Após se interromper, Meicy olhou para as próprias mãos e se lembrou de algo. Franziu o cenho. O seu sonho com o gato preto no dia da cerimônia de consagração.
— Eu sou um feiticeiro, mas... não sou a reencarnação de Luciano Antunes! — Ele afirmou confiante. — Não sou culpado pelo desaparecimento de Isth!
O garoto se pôs de pé em um pulo, fitando a face assustada de seus amigos.
— Vão embora! Preciso continuar a minha busca por esses túneis.
— Não! — Millo se levantou. — Eu vim aqui por você e não irei embora sem você junto!
Meicy rangeu os dentes.
— Você não entende? Eu sou um feiticeiro! Deve me odiar!
O índio caminhou alguns passos em direção ao seu amigo e antes de mais nada o abraçou subitamente, deixando o garoto de olhos escuros sem reação.
— Você é meu amigo Meicy! Meu melhor amigo! Nunca irei te odiar, por favor entenda. Não me importa se você é essa criatura, você não é mau.
Meicy segurou nos ombros do índio e o afastou de si. Olhou para ele seriamente, observando cada expressão triste que aquela face melancólica demostrava.
— Não seja tolo, Millo! Andar comigo significa assinar o contrato de sua própria morte! Como um seguidor de Karen deve me entregar à seita ou, se realmente gosta de mim, apenas finja que não me conhecer! Outra coisa. Eu sou uma pessoa horrível, eu quase matei a sua amiga! Afaste-se de mim!
Meicy deu um leve empurrão no amigo, porém, Millo agarrou o seu pulso.
— Eu não irei abandoná-lo! Eu sei que que essa coisa de feiticeiro está mexendo com a sua cabeça desde a aprovação para o ingresso no Instituto. Eu já desconfiava que estava acontecendo alguma coisa, Meicy. Você não é assim. Você está nervoso, irritado e...
— Cala a boca Millo! — Meicy o interrompeu, alterando a voz com irritação. — Vá logo embora, ou eu... Irei te matar!
Millo hesitou por um momento diante daquela ameaça, mas percebeu que seu amigo estava falando da boca para fora. Ele nunca lhe faria mal algum, só queria lhe proteger de tudo aquilo, mas o índio estava decidido.
— Eu não acredito em você. Sei que não irá me fazer nenhum mal, não vou deixá-lo, Meicy.
Meicy cerrou os dentes, já estava impaciente pela teimosia de Millo, mas antes que pudesse abrir a boca para indagar, Lirah estava ali de pé junto a eles.
— Se Millo for ficar, eu também ficarei. — Disse ela. — Mas não é por você Meicy, é por ele.
Lirah não confiava em Meicy, principalmente após ele agredi-la há certo tempo atrás. A maga infernal ainda cismava dele fazer algo ruim contra eles dois e principalmente de entregá-la à seita. Apesar de parecer estar arrependido, ainda era uma ameaça.
— Qual o seu problema? — Meicy olhou furiosamente para ela. — Sabe que não gosto de você. Não tem medo?
Lirah o fitava ainda assustada, mirava seus olhos vermelhos a aquela face demoníaca, mas não se deixou perder a voz.
— Eu tenho, mas... Foi como eu disse. É por Millo que estou aqui agora.
Meicy estreitou os seus olhos, por mais que desejasse entregar aquela garota à seita, ele seria um idiota se fizesse isso, afinal, o verdadeiro monstro era ele, que era um feiticeiro. Lirah era amiga de Millo, não seria justo fazer isso com ele. O índio tinha um bom coração, o jovem feiticeiro nunca esperou que ele o aceitasse. A seita não era o lugar para uma pessoa tão justa, mas Meicy preferiu ficar em silêncio.
Meicy olhou para frente, para a entrada do túnel, deveria continuar o que havia começado desde que se isolou dos demais mais cedo. Não iria sair dali de mãos vazias.
☽✳☾
— Eu... Não conheci a minha mãe. — Lirah tentava contar a sua história a Millo, enquanto eles caminhavam seguindo Meicy por um túnel escuro. — Ela foi morta durante a última caçada de magos Kilmato em Sagnows. Eu acho que sou a única sobrevivente.
— Sim, você é! — Meicy falou, atento a conversa atrás de si.
Lirah segurava uma chama laranja nas mãos, para iluminar o caminho, ao menos para que Millo pudesse ver onde pisava, a luz incandescente refletia em seus olhos castanhos — A cor de mentira que ela usava para se disfarçar. O índio escutava o relato dela atentamente, depois de Meicy explicar a ele o motivo para haver tanto ódio com os Kilmato's.
Assa Kilmato foi o líder do clã em Sagnows, porém, foi um grande aliado de Luciano Antunes, chegando a escondê-lo quando estava sendo procurado. A raça, considerada demônios de fogo, foi responsável pela destruição de vilas, incendiar florestas e por milhares de mortes daqueles que estavam sendo contra o feiticeiro. Após o aprisionamento de Luciano, foi criado a seita de seguidores de Karen, onde Assa finalmente foi morto juntamente com o seu clã, porém, até certo tempo atrás, foram encontrado seus descendentes. A última caçada, que Lirah mencionara, foi o marco para a dizimação total dos Kilmato's.
— Como veio parar em Karkariá? — Meicy perguntou, mesmo tentando transparecer alheio, estava curioso sobre a garota.
— Eu não...
— O seu cabelo... — Millo a interrompeu, após se lembrar da primeira vez que a viu, quando juntamente com Meicy a salvou de um afogamento. — Não é bem essa cor, não é?
Lirah o fitou, achando um tanto estranho a pergunta, já que a cor peculiar de seu cabelo era de fato artificial. Ela também se lembrou do episódio quando quase se afogou e por conta da água a tintura roxa de seu cabelo estava se desfazendo, revelando o vermelho vivo natural de suas madeixas.
— Acho que você já viu a cor natural de meu cabelo. — Ela respondeu. — É necessário eu tingir diariamente...
— Magos Kilmato tem características únicas! — Meicy falou. — Não é difícil identificá-los. Agora responda a minha pergunta, Lirah.
Lirah mordeu o lábio inferior. Meicy parecia querer lhe impor ordens. Já não bastava quase matá-la há certo tempo atrás e agora queria interrogá-la como uma criminosa? Apesar que para a seita, ela era uma criminosa, mas o garoto de olhos escuros se encontrava na mesma situação que ela.
— Quem é aquela mulher que cuida de você? Certamente não é nenhuma parente sua. — Meicy continuou ao perceber o silêncio da maga.
— Acho que isso é pouco relevante! — Millo falou, já incomodado com as intromissões do amigo.
Meicy segurou a sua raiva e tentou manter-se paciente. O índio escutou o ranger dos dentes do amigo, ele estava se segurando para não lhe responder asperamente.
— Não seja idiota Millo! É o mínimo que ela pode fazer, já que não iremos dedá-la.
Lirah permaneceu em silêncio. Por mais que Meicy compreendesse a situação de ambos, ela ainda lhe via como um ser demoníaco. Ela tentou manter seu foco na chama laranja que dançava em sua mão iluminando o caminho adiante, que afinal das contas, ia se contornando em uma curva fechada.
— O que você quer nesse lugar, Meicy? — Millo perguntou alheio.
— Os manuscritos de Luciano Antunes. — Lirah respondeu distraída, mas percebeu que deveria se manter calada.
Meicy parou de caminhar e lançou um olhar monstruoso para a maga infernal. Cerrou os punhos e mostrou os dentes. Novamente ele estava irritado.
— Não lhe dei o direito de responder, Kilmato! — Ele esbravejou. — Não sou seu amigo e nunca serei! Entendeu?
A chama que Lirah segurava ia se tornando fraca, como um vento que assoprava e levava as labaredas. Os seus olhos se encharcavam de lágrimas, ela se perguntava o porquê de estar ali ainda? Era por Millo que estava e também era por Millo que Meicy não a machucava.
— Não precisa tratá-la dessa forma! — Millo gritou.
Meicy se segurou para não o responder de forma agressiva. Lirah começou a entender que o jovem feiticeiro estava lutando contra si mesmo e contra todo aquele ódio e amargura em seu coração. Não deveria está sendo fácil se aceitar, principalmente ao dar algumas pistas, como conseguir enxergar uma fada no plano espiritual. A sua mente deveria está uma zona.
— Me desculpe. — Lirah falou com uma voz em um tom baixo e rouca.
A jovem maga se concentrou no poder em sua mão, fazendo com que a chama alaranjada ganhasse mais força. Ele se pôs a caminhar em frente, tomando a dianteira, como se convidasse os dois garotos a segui-la. Meicy e Millo trocaram olhares, sem compreender direito aquela reação da maga infernal.
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Millo caiu de joelhos no chão. Estava exausto e sentindo a necessidade desesperada de respirar. Ele colocou a mão no peito sentindo-se sufocado, esboçava um ataque de asma, mas que na verdade, eram os efeitos de estar naquele lugar bem abaixo da terra.
Lirah virou-se para trás ao escutar os ganidos do amigo, era quase um pedido de socorro. Meicy virou-se também, suspirando impacientemente, tentando não demostrar importância. A maga infernal correu para socorrer o índio, se jogando de joelhos em sua frente e encarando aqueles olhos esbugalhados pelo sofrimento. No mesmo momento ela fez desaparecer a chama em sua mão, fazendo com que a penumbra tomasse aquele lugar em uma escuridão ofuscante.
— Millo! — Lirah gritou, segurando nos ombros do garoto.
Meicy se aproximou e agachou ao lado de Lirah, observando a face doentia do amigo. Ele tentava não demostrar tanta preocupação, estudava o cansaço agourento que tomava o índio e percebia que logo ele não iria resistir.
— O ar está rarefeito demais para ele. — Meicy comentou.
Lirah olhou para ele com seus olhos chorosos.
— O que iremos fazer? Ele não vai mais aguentar.
A maga abraçou o amigo, tentando de alguma maneira reconforta-lo, porém, o índio estava desfalecendo aos poucos. A sua incansável luta para respirar estava cessando e os seus olhos cansados não conseguiam mais se manter abertos.
— Meicy, ele vai morrer!
Lirah deitou o corpo do amigo no chão, observando a fraqueza o dominando e a morte levando a sua vida aos poucos.
— Meicy, você precisa fazer alguma coisa! — Lirah suplicou aos prantos, enquanto sentia o ritmo cardíaco no peito do índio diminuindo.
— O que eu posso fazer? Eu falei para irem embora! — O feiticeiro respondeu, já nervoso e não conseguindo conter a sua preocupação eminente.
— Você é um feiticeiro! — Lirah gritou. — feiticeiros podem tudo, não podem?
Meicy cerrou os dentes, não sabia como ajudar Millo. Não conhecia nada sobre os seus poderes ainda. Ele se sentia um inútil diante disso, e por esse motivo ele desejava encontrar os manuscritos de Luciano Antunes. Ele precisaria aprender tudo, tudo o que o primeiro feiticeiro sabia e talvez superá-lo.
— Meicy, por favor... — Lirah suplicou mais uma vez, enquanto abraçava o corpo semivivo do amigo. — Tente...
Meicy fechou os olhos com força. Seria muito egoísmo deixar Millo morrer ali. Por mais que ele se encontrava em uma confusão mental diante do seu destino, não poderia fazer isso com o índio. Millo demostrou ser um verdadeiro amigo, o aceitando mesmo sendo um feiticeiro. Ele precisaria fazer alguma coisa! Ele não era mau, ele não era Luciano Antunes!
Antes que Meicy pudesse reagir, de repente sua mente toma uma escuridão inusitada. A sua alma pareceu desprender de seu corpo e de alguma forma ele pode sentir que não estava mais no túnel com Lirah e Millo, porém, ele não se assustou. Se lembrava bem daquele lugar e vislumbrou a figura que o olhava através daqueles orbes amarelos. O gato preto.
— Por que me trouxe aqui? — Meicy perguntou encarando o felino.
— Não tenho poder para isso. Você veio até mim. — O gato respondeu alheio.
Meicy sorriu sarcástico ao olhar para o fabuloso feiticeiro que na verdade, se parecia mais com um animal vira-lata.
— Luciano Antunes. Fico feliz por não ser sua reencarnação. Assassino!
— Creio que não seja a hora para discutirmos isso. — O gato sentou-se e pareceu relaxar enquanto falava. — Só digo que sou inocente e toda essa caça a feiticeiros é injusta.
— Por que está aqui? Se você está vivo só basta retornar ao mundo, ou sei lá!
— Acho que ainda se lembra da história, Meicy. Eu realmente morri, porém eu não reencarnei como previram. Me isolei nesse mundo, ou melhor, no outro mundo espiritual. — O gato se pôs de pé, estudando de alguma forma a expressão vazia do garoto de olhos escuros. — Você não veio aqui para me interrogar. Você quer ajuda, precisa salvar o seu amigo.
Meicy tentou não demostrar tanta surpresa, afinal, diante dele, mesmo em forma de um gato, estava o mais poderoso feiticeiro, — patético por sinal — claro que ele saberia de tudo.
— Concentre-se naquilo que deseja. Sinta o poder correr por suas veias e certamente irá conseguir salvar a vida de seu amigo.
Meicy encarou o felino, não sabia dizer se aquelas palavras seria um conselho ou um ensinamento, porém, antes que pudesse questioná-lo, o gato voltou a falar.
— Eu quero que entenda, Meicy, que estou aqui por minhas próprias escolhas. Mas peço que siga o caminho do bem, que proteja a todos que ama e até mesmo aqueles que odeia. Não faça o mal, use o seu poder para o bem.
Meicy permaneceu em silêncio, como se as palavras do antigo feiticeiro o atingisse, entretanto, o garoto de olhos escuros era orgulhoso demais para escutar alguém, mesmo se tratando de uma entidade poderosa que conseguia compreender seus sentimentos.
— Eu sei que não está sendo fácil. — Luciano Antunes continuou, mas já sabia ele que era hora de partir.
Uma nevoa densa e negra contornava o corpo do felino, desfazendo-se como vapor e se perdendo em meio as trevas.
— O meu tempo se esgotou aqui. Espero que siga o que eu disse... — O gato falou telepaticamente, enquanto o único foco de fumaça negra se perdia na penumbra.
— Meicy!
Meicy despertou com o grito de Lirah. Ele ainda estava confuso, mas parece que sua viagem àquele lugar onde estava o gato foi questão de segundos, como se apenas em um piscar de olhos ele fosse transportado ao mundo ou sequer que fosse o plano onde ele se encontrava anteriormente.
Meicy olhou para a face desfalecida do amigo. Ele estava pálido e não respirava mais. Lirah segurava o pulso dele, pressionando bem os dedos, pelo visto, o tempo de vida do jovem estava se acabando. O jovem feiticeiro esperava que o conselho ou ensinamento de Luciano Antunes lhe pudesse ajudar naquele momento.
O garoto de olhos escuros colocou sua mão direita em cima do peito do amigo. Não estava tão certo do que estava fazendo, mas tinha que tentar. Ele concentrou o poder em sua mão, só esperava que nada destrutivo apressasse a morte do índio. Lirah observava estupefata, mas não reagia. Ela estava tão receosa quanto Meicy.
Meicy começou a sentir um calor emanar da palma de sua mão, mas não emitia nenhum brilho ou cor. Ele apenas sentia o poder passando de sua mão para o peito de Millo e aos poucos, se concentrando naquilo, percebeu os pulmões do índio de inflando de ar. Estava funcionando, como um milagre, aquele garoto quase morto estava se recuperando.
Lirah observava aquela cena admirada e não conseguia conter as suas lágrimas. Meicy era um garoto estranho, outra hora demostrava uma face colérica e demoníaca e naquele momento estava preocupado e se empenhando em salvar a vida do amigo, como também salvou a sua vida há algumas semanas. Talvez ele não fosse uma pessoa tão má quanto aparentava ser.
Millo estava tomando uma face mais corada, estava respirando normalmente e os seus olhos se abriam. Ele estava despertando e havia sido praticamente revivido.
Meicy retirou a mão do peito do amigo e se levantou. Permaneceu em silêncio e deu as costas. Começou a caminhar lentamente, em busca de seu objetivo e sequer ousou olhar para trás. O semblante infeliz já dizia tudo. A sua recente façanha em vez de animá-lo, lhe deixou ainda mais cabisbaixo.
— Onde estou? — Millo perguntou, desorientado. — O ar está... ruim.
Lirah ajudou o amigo a se levantar e enquanto ele recobrava a memória, ela projetou outra chama em sua mão, iluminando o caminho. Os dois seguiram o caminho de Meicy, pois de qualquer maneira, para sair daquele lugar subterrâneo era necessário ir caminhando em frente.
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