Cap 08 - A sinfonia do silêncio

Voar de avião não era a coisa mais confortável do mundo, ainda mais 18 horas de voo para a antiga Seul. Bill emprestou o dinheiro da passagem e eu prometi que voltaria, e ele apenas disse:

— Nem precisa voltar. — É lógico que ele queria que eu voltasse, mas seu ego era enorme e o meu também, então apenas respondi: Pode deixar não vou voltar, essa era nossa ligação de profunda amizade, poderia dizer que ele foi até um pai para mim, mas aí seria demais, embora não tivesse um.

Desci atropelado por pessoas apressadas, e meus passos estavam lentos indo em direção ao desembarque, eu queria voltar ao mesmo tempo que queria seguir em frente, a diferença de ser largado em Wall Street e chegar em Seul é que ali eu tinha com quem contar, embora fizesse meses que não falava com ninguém, ainda me restavam duas opções: voltar para casa do meu pai ou ligar para algum, talvez, ex-amigo.

Mas a tv em minha frente fez com que meus olhos cansados focassem mais no noticiário: O filho da família Park ainda está em estado grave... Grave!!! Essa foi a palavra que deixou minhas pernas bambas e meu coração ainda mais apertado, então me apressei como a maioria, peguei o primeiro táxi disponível.

— Para onde vai senhor? — ele me olhou desconfiado pelo retrovisor.

— Você sabe onde fica o Hospital Wooridul Spine?

— Sei sim senhor! — Seu jeito logo mudou por se tratar de um local onde poucos mas cheios da grana iam.

(...)

Seul na primavera era encantadora, e aquele hospital chique parecia mais uma mansão do que um local de tratamento avançado.

Segui pela porta de entrada logo me desviando para as portas do fundo, do jeito que estava vestido e com a mala e a guitarra que carregava era impossível, os seguranças não deixariam, e pela outra entrada era mais fácil de acordo com minha esperteza Hollywoodiana.

Parei em frente a uma porta fumê, onde pessoas entravam e saíam apressadas, todos pareciam estar agitados desde que cheguei aqui, talvez minha estranheza por aquela situação era porque não sabia mais como viver.

— Você deveria entrar! — Soou um rapaz encostado ao muro enquanto tragava um cigarro.

— Desculpa, está falando comigo?

Ele jogou o cigarro ao chão e pisou com raiva naquilo e seguiu com o olhar meu corpo inteiro, me senti despido naquele momento, e pela primeira vez engoli seco.

— Sim idiota! Estou porque?

Idiota? Quem ele pensava que era? Peguei minhas coisas e quando ia me virar para ir embora ele disse:

— Jeon Jungkook, não é?

— Sim, e quem é você? — Como ele sabia meu nome? Ele me conhecia?

— Yoongi, o cara que vai te socar até a morte se não entrar aí.

— Desculpa, mas realmente não me lembro de você.

— A única coisa que deveria se desculpar é de ter roubado todos os dias de vida do Jimin somente para você! Quem você pensa que é ? Namjoon estava procurando ele há dias!

— Eu não sabia disso, está bem?

— Então entra logo, e faça o que veio fazer. Vai lá e salve ele, ou vai me dizer que é tão egoísta que não vai conseguir fazer isso por ele? Sabe o que eu acho, que idiotas como você deveriam se matar, na verdade nem nascer. — Um estalo em minha consciência fez com que os pelos de meu corpo se arrepiassem: me vi refletido em todos aqueles anos de angústias, o que ele estava tentando fazer não era ser chato ou algo do tipo, ele estava desesperado assim como eu estava.

Talvez a morte que tanto queria era a salvação disfarçada de fraqueza que eu tanto precisava, eu precisava ser salvo, eu precisava salvar. Se não tivesse aquela dor em meu peito que simplesmente insistia em apertar meu coração a cada passo que dava atrás da minha consciência, eu poderia mudar a forma em que via as situações.

Tudo tinha um porquê, e talvez aquele rapaz com olhos raivosos de semblante irritado estava ali para me mostrar todo o sofrimento que eu estava passando. Ele podia ser o gatilho para tentar mudar meu próprio comportamento, a que tantos anos insisti em não mudar, porque estava conformado em ser assim.

E apenas pensei em ser sincero.

— Estou com medo de entrar aí. — falei segurando minha voz quase trêmula enquanto ele sorria irônico.

— Realmente se entrar vai ter que enfrentar Namjoon, e ele não é nada fácil. Mas se fizer isso ganha pontos comigo e apenas levará uma surra leve ao sair.

— Estou falando sério. — respondi em um tom confiante, para que ele não pensasse que eu estava tirando sarro dele.

— E eu também.

Ficamos nos encarando por alguns segundos, em pleno silêncio. Porém a porta fumê logo se abriu nos fazendo se assustar:

— Yoongi? Porque está demorando tanto? Pedimos a comida já faz meia hora. — Espera, ele também estava com medo de entrar ali? E ainda por cima me dar uma lição de moral?

— Desculpa Seokjin, estou com um novato hoje! — ele olhou para mim — Ei novato, coloque o jaleco e a máscara, é só pegar a caixa e segui-lo é fácil, assim que entregar a comida estarei te esperando.

Apenas fiz o que me pediu sem argumentar.

— Que sorte! Primeiro dia, e terá que enfrentar uma família difícil como os Parks. — Apenas concordei morrendo de medo de ser descoberto. — Aliás, como é seu nome?

— Jung Hoseok! — Hoseok, meu antigo amigo, perdoaria não é?

— Bem senhor Jung. Eu sou Kim Seokjin, sou amigo da família, é só me seguir e não derrubar nada. — Paramos em frente ao quarto número 009, eu sei era coincidência demais mas minhas mãos tremiam quando o rapaz alto abria a porta do quarto. — Namjoon a comida chegou!

— Ué cadê o Yoongi? — Então aquele era o tal Namjoon que Jimin tanto vangloriava.

— Ficou lá fora, esse é Jung Hoseok, começou hoje.

Por mais que o tal Namjoon me olhou de forma indiferente, me senti aliviado por não me reconhecer.

— Coloque as comidas ali, são quatro pessoas. — Namjoon disse seco sem expressar nada.

— Sim senhor! — respondi de cabeça baixa, escutando barulhos de máquinas de respiradores, mas evitei olhar para trás.

— É Jimin o medroso do Yoongi, não quer fazer mesmo uma visita.

Jimin estava ali e eu não iria olhar para ele? Jungkook você não é assim tão egoísta. E minha cabeça virou para trás, para olhá-lo e escutar sua voz, por alguns segundos.

Mas a voz não saiu, o timbre que tanto me lembrava era trocado por tubos de oxigênio, agulhas, soros, um barulho mecânico irritante, tão irritante quanto sua insistência por querer que eu participasse de um festival meia boca.

— Senhor Jung. pode ficar aqui por algum instante? Vamos conversar com o médico e já voltamos. — falou o moreno enquanto eu segurava minhas lágrimas para não chorar, apenas assenti com a cabeça.

E ele levou o tal Namjoon forçadamente pois ele não queria sair do quarto.

Logo que saíram, minhas lágrimas escorreram e eu as sequei rapidamente, porém não podia ficar parado ali não é?

Me aproximei.

Sentei-me perto de sua cama, e segurei sua mão delicadamente.

E deixei com que meus sentimentos de angústia, saudade e medo fosse lavado pelas minhas lágrimas que escorriam como se fossem infinitas.

— Jimin, é o Jungkook, o John, eu vim te ver, você não vai acordar? Pode me irritar se quiser, mas não quero te ver assim sem me dizer nada. — É assim que se fala com alguém entubado? Você é um imprestável Jungkook, falei para minha própria consciência. —Eu não sei o que falar, me desculpe.

Na verdade eu sabia, mas não queria dizer. Então olhei para janela, que era contemplada pela luz do sol, porque Jimin não podia ser contemplado daquela maneira também? Ele tinha tanta alegria, vê-lo naquele local não era agradável, era triste que me deixava inquieto. Só lamentar não ia adiantar, então acreditei na força que Yoongi disse que eu tinha: eu ia salvá-lo.

Tomei coragem para dizer o que tinha que dizer, e as palavras saíram naturalmente:

— Jimin, me perdoa. Fui um idiota com você, mas não consegui cumprir sua promessa, porque eu realmente me apaixonei por você. E eu quero...

Nossa última música foi dada por um monitor, a sinfonia da morte é algo tão estridente que chega a ser silencioso.

E o silêncio tomou minha alma e ele foi abraçado pela paz. 

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