Cap 04 - O vermelho extravagante que se chama amor.
Cinco minutos para as 14 horas, e ele estava ali esfregando suas mãos olhando para o fundo do palco improvisado.
— Quem vê pensa que é você quem vai cantar — disse, o observando.
— Não, meu talento é outro, você é o melhor nisso — Ele deu um breve sorriso e voltou seu olhar insistente para o concorrente que estava terminando sua apresentação. Assim que o rapaz terminou, ele me olhou e começou a ajeitar minha roupa — Bem... aconteça o que acontecer, não desista.
— Porque disse isso? — perguntei já esperando pelo pior.
O Sr. Engomadinho tinha aquele jeito, que me prendia a atenção e me deixava nervoso ao mesmo tempo, cada palavra que ele dissesse teria que ser escutada com cuidado, porque realmente era um aviso importante.
E agora o próximo concorrente veio da Coréia do Sul. Vamos recebê-lo com muitos aplausos e entusiasmo.
Com vocês John!
— Vai... vai... — Ele me empurrou para a escadaria acima. — Estarei na frente do palco. — gritou — e não esquece, aconteça o que acontecer não desista! — Se despediu com um aceno extravagante e lá se foi para o local combinado.
Conforme ia subindo as escadas, o sol ficava mais forte e então no último degrau consegui observar algumas silhuetas se formando, não dei importância , passei o apoio áspero da guitarra sobre meus ombros, me posicionei sobre o microfone e comecei a cantar.
Your eyes, so cristal, so green
Sour apple baby, but you taste so sweet
You got hips like Jagger and two left feet
And I wonder if you'd like to meet
A música que escolhi era uma declaração descarada de algo que estava sentindo. Eu sabia que eu era charmoso, do tipo bad boy, mas nenhuma daquelas garotas conseguiria roubar minha atenção que era somente para ele. O garoto ao qual não sabia o nome.
Your voice is velvet through a telephone
You can come to mine, but both my roommates are home
Think I know a bar where they would leave us alone
And I wonder if you'd take it slow
O sorriso com aqueles olhos pequenos me encarando. Podia fazer aquilo para sempre.
Oh, we're dancin' in my livin' room
And up come my fists
And I say I'm only playing boy,
But the truth is this
Na vida existem dois tipos de cantores, aquele que canta e aquele que expressa sua alma. Ultimamente eu era apenas um cantor, perdido, que dizia apenas coisas vazias tentando expressar minha dor, mas agora, com a minha alma, expressava pela primeira vez em minha vida, um sentimento chamado de: amor.
That I've never seen a mouth that I would kill to Kiss
And I'm terrified, but I can't resist
Como dito, tudo que eu planejava não saia do jeito certo.
O que era para ser uma declaração de amor, acabou sendo um desconforto enorme, no momento em que meus olhos passaram de relance ao guitarrista ao lado. A pessoa que me dava suporte era Baek, líder da banda Chase.
And I say
Foi nessa hora que minha voz soou fraca, me perdi completamente nas melodias e no automático disse:
— FUCK! — maldito microfone. Aquilo soou mais alto que um cantor de ópera.
E todos estavam ali, me encarando.
Meu coração acelerou mais que os carros do Need for Speed, todos ficaram surpresos — tinha certeza disso. Ali não era hora de encontrá-los, eu não queria vê-los tão cedo. Minha vontade era desaparecer, e olhei furioso para a única coisa vermelha que reluzia no meio as garotas eufóricas. Agora sim já tinha descoberto o motivo da frase: aconteça o que acontecer não desista.
— Continua... continua...— ele gritou.
O garoto era tão convincente que conseguiu fazer com que as pessoas à sua volta gritassem o mesmo, além dos juízes daquele evento. E ali, naquele palco simples, me deparei com outra decisão importante em minha vida: Continuar pela aclamação das pessoas ou sair daquele palco envergonhado.
Meu orgulho e vergonha de olhar para aqueles cinco rapazes, era imensa. Minha angustia apenas dizia: estou aqui ganhando a vida como um cantor desesperado em um bar excluso de Hollywood, pronto para me matar.
Aquilo era a única saída que eu tinha?
Pensando bem, não era vergonha estar ali fazendo o que eu gostava de fazer, minha guitarra e minha voz não eram uma vergonha, e sim um dom — como minha mãe dizia — e por ela e por aquele inconseqüente à minha frente, continuei minha canção até o final.
Desci daquele palco às pressas, não os cumprimentei. Por mais que estivesse bravo com o baixinho ali que me aguardava no final da escada, eu não conseguia dizer os palavrões a ele, decidi então ficar em silêncio.
(...)
Já em um lugar calmo, nos sentamos em frente a um food truck de Hot Dogs, porque um homem com raiva e fome juntas não era um bom sinal, e para quebrar aquele silêncio, lógico que ele não iria ficar de boca fechada.
— Você foi ótimo, ganhou um troféu de primeiro lugar, devia estar feliz, não chateado! — se ele soubesse que o único troféu que eu queria era ele, pararia de me animar naquele instante — Sério foi muito bom.
— Estou irritado, não devia ter feito isso sem me perguntar primeiro. — Era difícil manter a cara de mau, enquanto comparava seu tamanho ao troféu do lado.
— Desculpa, queria fazer algo legal por você antes de partir.
— Me colocar em frente a eles, e me obrigar a cantar não é legal.
— Não pense assim, dizem que temos que encarar nosso medo de frente, e outra você ganhou três cartões de empresários interessados em você, como solo. — e para enfatizar ele repetiu— S-O-L-O, solo!
— É fácil mandar as pessoas para forca, enquanto você é outro acusado fugindo da sua punição.
— Vou encarar meu medo logo, logo. Não se preocupe. — ele deu uma pausa dramática, devia me acostumar com aquilo. — Melhor irmos embora, o grupo está vindo.
Minha mandíbula travou, com quase metade do lanche dentro de minha boca. Senti aquelas risadas se aproximando lentamente, a lembrança de como havia me separado da banda voltou a ser clara como sol, respirei fundo tentando controlar minhas ações, mas uma mão pousada em meu ombro fez meu corpo estremecer de raiva.
— Ei Jungkook! — os olhos do loiro a minha frente brilharam de emoção por saber agora meu nome. — Há quanto tempo não é?
Apenas concordei com a cabeça tomando todo o refrigerante à minha frente e me levantando.
— Vamos! — segurei a mão do Sr. Engomadinho, não estava a fim de conversar com aqueles rapazes.
— Ei, não seja chato, estamos aqui para te parabenizar. — falou o cara que mal me conhecia. Aquilo me irritou, me irritou pra caralho!
— Parabenizar? Pelo o que? Você me conhece? — O garoto, estilo americano, apenas desviou o olhar. Ele não me conhecia, não sabia da minha fama de ser ótimo em deixar as pessoas sem palavras. — Aliás, não estou aqui por vocês, vim cantar porque meu namorado Dave me inscreveu nisso.
— Namorado? — O loiro sorriu, era impossível não sorrir de volta.
— Jungkook sempre se justificando. — disse Baek, com aquele sorriso cínico estampado no rosto.— Prazer Dave, sou Baek o cantor de Chase. — ele esticou a mão ao Sr. engomadinho, agora com o nome de "Dave" e eu apenas o encarei, se ele fosse bom em artes cênicas deveria mentir como um espião.
— Vamos Jungkook. — ele o ignorou, e eu adorei.
— Sabia que é um privilégio eu vir aqui até vocês? Vão se arrepender por não me cumprimentar. — Tentei imaginar na minha cabeça o que Chase tinha de tão especial, se nem mesmo um Grammy eles haviam ganhado.
Aliás, ser uma banda de apoio em um evento daqueles não era grande coisa, eles estavam no mesmo nível que eu, e olha que meu grupo era formado por mim e "Dave". Não sei de onde Baek tirava coragem para ser tão egocêntrico. Mas o que veio a seguir foi uma revelação a todos.
— Sabia que meu pai investe em vocês? Vão se arrepender se não me tratarem bem, aliás Park Choi, deveria saber a verdade de como Jungkook saiu do grupo. E outra coisa o que vocês estão fazendo aqui? Não era para estarem em Santa Mônica descansando?
Parei na hora e me coloquei a pensar, o garoto sabia do meu nome o tempo todo? Ele conhecia nossa história? Quem era ele afinal? Eu sabia que o senhor Park tinha dois filhos mas nunca me interessei em saber sobre eles, mas "Dave" podia estar atuando, e se aquilo fosse apenas teatro ele era um ótimo ator.
— Estamos fazendo serviço voluntário. — Pela primeira vez vi Baek se perder nas palavras, e lógico que eu não podia perder a oportunidade.
— Baek se justificando. Só vou dizer algo importante para todos vocês — imitei a cara intimidadora de Bill— quando o líder do grupo te levar para o meio da Wall Street, estejam com o inglês afiado e uma boa grana no bolso, porque ele vai chegar em vocês, dar uma nota de 100 dólares e dizer: "não precisamos mais dos seus serviços". E quando chegarem lá, espero que consigam superar a decepção. Porque no meu caso, eu estava sem grana no bolso e não sabia inglês. — me virei — Vamos embora Dave!
— Que história linda Jungkook, daria um bom livro. Pena que um perdido como você nunca vai alcançar o sucesso. Vamos galera deixe Jungkook se afundar na inveja.
— Inveja? — respondi.
Quando a verdade estava na ponta da língua para ser dita, meus punhos se fecharam. A raiva já dominava meu rosto como uma máscara. O surto era tanto por aquelas palavras vazias e sem empatia que minha visão estava embaçada. Meus ouvidos apenas escutaram aquilo que meus olhos podem ver claramente, "Dave" dando um soco certeiro no meio da cara de Baek — quem não queria fazer aquilo?
— Corre Jungkook! Corre! — Eu não ia correr, mas do jeito emocionante que ele falou, quis entrar no seu mundo e corremos como duas crianças, enquanto os seguranças vinham em nossa direção, deu tempo até para o baixinho pegar nossos hot dogs e eu pegar o grande troféu.
(...)
Somente paramos em frente a uma pousada antiga, toda pintada de azul, com uma placa rodeada de conchas escrito: Blue Sky, um nome brega mas funcionava quando se olhava para a paisagem à sua frente.
— Você mentiu não é? — mas a sua dificuldade em respirar me incomodava — Você está bem? Falei para irmos ao médico.
— Estou bem sim! Nunca soquei alguém na minha vida. — ele respirou pesado e voltou seu olhar e seu sorriso a mim — quer dizer que estamos namorando? Eu não queria isso.
Eu tinha que levar aquilo a sério, quando seu sorriso me dizia outra coisa?
— Porque não?
— Esquece, podemos ser namorados por hoje então. — Naquele instante queria forçá-lo a dizer: para sempre.
— Tudo bem. — eu vou te convencer, ainda hoje . Pensei confiando nos meus "dons de galanteador". — Me deixe ver sua mão. — aquela mão frágil fazia os hematomas pequenos parecerem piores do que eram — temos que encontrar uma farmácia por perto, precisamos passar algo nisso.
— Estou cansado, vamos entrar.
— Aqui?
— Sim, eu aluguei um quarto para nós. Deixa-me ver... — ele fuçou em seu bolso — Achei, quarto 09.
Andamos pelas madeiras antigas, cumprimentamos uma senhora até que simpática e ela nos olhou desconfiada, mas acredito que pela boa educação não disse nada. Nosso quarto não era luxuoso, mas era bem melhor que o local acima do North.
— Vai me dizer seu nome já que sabe o meu? — Nunca tinha feito aquilo antes, mas naquele nível de troca de olhares e segredos compartilhados queria avançar na nossa relação.
Ele tirou sua jaqueta vermelha e colocou sobre uma cômoda pequena, sentou na cama olhando para a janela a frente e finalmente ele disse o nome ao qual prometi a mim mesmo nunca esquecer.
— Jimin.
Seu olhar distante, insistia em me dizer que havia algo a mais que um simples estudante de artes cênicas.
— Lindo, não é?
— Seu nome? É sim.
— Não seu bobo, a praia.
Nunca havia me dado o luxo de parar minha vida e admirar algo, naquele caso era alguém. Me sentei ao seu lado na cama, e contemplei seu rosto harmônico com aquele nariz pequeno e aquela boca foda (nunca cansaria de pensar aquilo) Fiquei por alguns segundos observando seu rosto concentrado, ele parecia estar em paz.
— Jungkook — ele me chamou segurando minha mão fortemente. — Quando eu pedir pra você não soltar minha mão, você vai fazer isso por mim, não vai?
— Sim.
Não entendia o peso de um sim na vida das pessoas até estar desesperado por um. E o meu sim era valioso como uma promessa. Dessa vez não perguntei o porquê, da sua pergunta aleatória, eu não precisava.
Jimin tinha me provado que a única coisa que deveria ter com ele, era amor e confiança. E ali, bem no momento em que eu não tinha planejado nada, o que eu tanto esperava aconteceu: nosso primeiro beijo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top