46
Quatro anos atrás. Halloween. Escola Santa Borgonha. Brasil.
A festa ia mudar a vida deles e eles sabiam disso perfeitamente. Cada um tinha um novo objetivo ao entrar no ensino médio, não queriam mais ser crianças.
- Sabe essa festa, ela é como uma brincadeira...
- Queta ai!- Índia gritou sorrindo para Daniel- Hoje nós vamos nós divertir bastante e é melhor que você aceite isso!- Ela bebeu o ponche, que só saberia depois que estava batizado
- Só você para me fazer vir nisso.- Ele se aproximou da garota fantasiada, não podia negar a queda que tinha por ela- Quando esse ano acabar, vamos ser somente dois nerds estudiosos.
- Isso vocês já são.- Paloma riu de braços dados a Mara
- Losers!- a loira gritou jogando o cabelo para trás, indo pegar um copo, mas um rapaz do primeiro ano lhe estendeu um cheio de bebida- Obrigado Augusto!
As duas garotas saíram rebolando em seus saltos altos dali e assim que ficaram mais sozinhas Paloma encarou Mara cruelmente.
- Eu disse que eu deveria vir fantasiada de marinheira!- Advertiu Paloma, ela queria ter todos os olhares daquela festa
- Bem...- Mara suspirou fundo, bebendo seu ponche e com um risinho encarou o copo, vendo seu liquido avermelhado- Acho que você deveria beber ponche também, está maravilhoso!
Vodca barata. Ela reconheceu no primeiro gole. A noite ia ser uma criança e Mara estava treinada para isso mas logo quis dar meia volta, Marta arrastando Suzana, bem, ela não odiava as duas mas já estava de saco cheio.
- Palomaaa! Maraaa!- gritou Marta- Vocês estão tão lindas hoje! Um absurdo essa festa!
- Já fui em melhores!- Paloma riu, adorando ter o saco puxado
- Então Suzana...- Mara agarrou a menina pelo braço- O que você tem para me dizer nessa noite!
- Nada!- Suzana se soltou bruscamente derrubando a bebida de Laura que passava- Ai Deus! Me desculpa!
- Sua Desgraçada! Olha o que você fez! Eu tinha que devolver esse roupa!- Laura estava totalmente irritada
- Eu posso te ajudar!- Rafael apareceu encarando a mancha que se formava na roupa dela- Vamos lavar isso!
- Eu sinto muito!- Suzana estava envergonhada
Laura e Rafael saíram dali rapidamente, era um estrago grande e a mancha só crescia, eles empurraram algumas pessoas e Rafael fez guarda na porta do banheiro feminino.
- Olha... determinação.- Mateus riu- Não vai pegar mulher assim não...- Ele encarou Rafael
- Sai.
- Ele tá gritando comigo!- fez de conta que estava intimidado- Ele tá me ameaçando.
Jonas não pode deixar de rir da cena, Rafael não ameaçava ninguém, já Mateus era popular e forte, quem se metia com ele saía machucado e isso garantia que Jonas o respeitasse, queria ser assim, que olhassem para ele e disse: o Jonas vem aí, se preparem, mas ele sabia que não ia ser assim. Ele tinha que ser popular, de algum jeito, os próximos anos iam ser descentes, o Unicórnio passou por Jonas, odiando aquela festa, não tinha diversão, Wagner quase caiu enquanto caminhava, não fazia a mínima ideia onde Mateus tinha ido, como um vulto Pablo passou correndo, animado de mais para o normal dele, se sacudindo e dançando loucamente, Pablo estava bastante alterado.
- É isso ai!- Ele agarrou Joana, sua irmã mais velha
- Vai Pablo dança.- Augusto riu dando mais um copo de bebida a ele
- Você não acha que tá bom em?- Joana tomou o copo dele, não estava preocupada, ela só sabia que tinha que falar isso
Joana sabia que a bebida estava batizada, ela mesma havia derrubado "sem querer" vodca ali, e estava se divertindo com o irmão bêbado, o garoto estava louco de mais.
- PUTA QUE PARIU!- Pablo gritou- Minha musica! É a minha música!
Ele sorria alegremente e agarrou quem passava, um estranho fantasiado de unicórnio.
- Cara é a minha música!- Ele sacudiu o fantasiado de unicórnio enquanto cantarolava- Because I'm happy!
Ele estava ali abraçando e sacudindo um estranho, com uma roupa preta e máscara estranha com um chifre dourado. Todos estavam felizes.
Because I'm happy
Índia e Daniel dançavam tão próximos que o ar em volta deles ardia, seus narizes se tocaram e então se beijaram.
Clap along, if you feel like a room without a roof
Mara dançando com Paloma encarava Augusto pela primeira vez como um pretendente, ele era bonito e atraente de um jeito meio torto
Because I'm happy
Marta e Suzana conversavam com Joseph, Suzana sabia que Marta gostava dele e por isso ignorava que também estava afim dele
Clap along, if you feel like happiness is the truth
Laura e Rafael tinham conseguido resolver o problema da macha e falavam mal das roupas dos outros alunos
Because I'm happy
Jonas encarava o nada, o ponche estava horrível e ele estava pensando de mais em coisas que havia prometido guardar somente para ele
Clap along, if you know what happiness is to you
Pablo sacudia o Unicórnio derrubando sua máscara mas não deu atenção
Because I'm happy
Unicórnio se abaixau rapidamente para pegar a máscara de unicórnio de volta e a colocou
Clap along, if you feel like that's what you wanna do
Wagner só queria encontrar Mateus e ir para casa, tanta gente que ele não conhecia no mesmo lugar, até que alguém segurou seu braço.
- Eu preciso ir...- Disse como defesa
- A gente se conhece de algum lugar... Você já fez aula de Karatê?
- Não... Eu não da daqui.
- Daniel, o pessoal tá chamando...- A garota vestida de bruxa encarou Wagner- Oi!
- Acho que não nós conhecemos mesmo...- Daniel o soltou e se voltou para Índia- O que eles querem agora?
- Vem! Temos um novato.- eles estavam visivelmente bêbados
Wagner voltou a caminhar, Mateus não estava em nenhum lugar possível, ele avistou Augusto, um dos amigos de Mateus e se aproximou dele.
- Você viu meu primo?
- N... Não...- sorriu completamente bêbado- Mas eu peguei aquela loira da Mara... você tinha que ver...
- Ele foi pra lá.- Disse a menina que estava na mesa de comida, apontando para dentro da escola- Quer alguma coisa? Ponche?
Ele já tinha bebido alguns copos e aceitou, o líquido desceu queimando mas achou normal, nunca tinha bebido ponche na vida, não pode negar o outro copo que ela lhe deu e então saiu dali, haviam tantos jovens estranhos correndo por aquele lugar, não devia ter aceitado o convite, se escorou na parede, algo não lhe caia bem, ele só precisava de um lugar silencioso para relaxar e não vomitar.
Continuou andando, a cabeça zumbia, pensou em se sentar no chão, mas era uma péssima, algumas pessoas estavam sentadas lá, umas se beijando, outras pareciam passar mal, foi então que viu alguém saindo de uma sala e se aproximou, na porta estava colada uma placa feita de emborrachado vermelho e dourado escrito sala do beijo, não se importou e entrou, nem percebendo quem estava ali, somente se jogou em um canto.
Estava escuro, sentia-se zonzo e emotivo, começou a chorar, até que a porta bateu e ele notou que não estava só, alguém tentou abrir a porta mas não conseguiu, não havia lâmpadas na sala, mas a luz de uma lanterna de celular foi ligada, iluminando a estranha máscara de unicórnio.
Alguém vestida de princesa, tomou o telefone e iluminou o rosto de Wagner.
- Mais um patinho para nós!- riu jogando o cabelo negro para trás, era Paloma
- Ai que assustado!- Mara tomou o celular da mão dela, estava vestida de marinheira- Vocês dois ai, parem de se engolir e peguem-no!
- Você não manda em nós!- era Daniel
- Não é um de nós.- Raphael riu ao fundo- Coloca para fora, Índia.
- Eu não, ele tá mal, olha as lagrimas dele. Que que foi?- ela cambaleou até Wagner- Eu sou sua amiga pode contar.
- Índia boazinha!- Jonas riu em algum lugar- Deixa participar! Vamos decidir o que fazer com aquele...
- É, o que vamos fazer?- Pablo gritou animado e a luz o iluminou
Ele estava segurando o Unicórnio. Segurando o Unicórnio pelos ombros, a mesma máscara estranha a mesma roupa preta. As mãos de quem quer que estivesse por baixo daquela máscara tremiam agarradas a roupa preta.
- Isso está tão chato.- Índia segurou nós ombros de Wagner- Você gostaria de se juntar a nós? Ao nosso rolê?
- Uhum.- ele engoliu em seco
- Então tem que seguir nossas regras.- Foi Mara quem disse
- Nós vamos sair da escola!- Índia se dirigiu até a porta, batendo forte com a mão aberta- Abre essa porcaria!- Índia chutou a porta- Abre ai!
A porta se abriu e Índia riu, cambaleando para frente e para trás, os outros a seguiram, Mara era a única que parecia não tão bêbada entre eles, ela se aproximou dos dois novatos.
- Eu vou ser a rainha... Eles vão ver... vão ter que passar por cima de mim se quiserem me vencer...
Eles se dirigiram a porta da escola, o porteiro os encarou mas nada fez, Laura riu, tomando a dianteira da situação, os arrastando até a casa dela. Lá eles entraram fazendo barulho mas ninguém se importou, os pais de Laura estavam viajando como sempre, os dois passavam mais tempo em viagens e congressos do que com a filha, mas a achavam responsável o suficiente para a deixar sozinha sem ao menos telefonar para ela, os vizinhos também não se importavam com o barulho, as casas eram separadas e distantes, um quintal grande o suficiente para um jardim nunca cuidado. Os jovens se espalharam pela sala e decidiram que precisavam de regras, Laura correu atrás de papel e caneta, Pablo estava sentado no sofá mantendo os dois novatos cativos, Wagner tentou se pronunciar sobre o que estava acontecendo mas Pablo apertou seu braço com tanta força que ele desistiu.
Foi assim que a lista do rolê foi começou, Mara escrevia enquanto todos opinavam e riam, coisas bobas começaram a ser escritas, Suzana queria voltar para festa e roubar uma caneta da sala do diretor, Mara queria que eles corressem em volta da piscina de sua casa, mas Índia tomou o papel, dizendo que era tudo sem graça, precisavam de algo mais vivido e subir em uma árvore pareceu uma aventura bem mais motivacional, Paloma que havia sugerido a ideia os guiou até a praça. Pablo usou da força para convencer que os dois subissem na árvore, mesmo com Wagner lutando pra fugir daquilo, ele não podia enfrentar Pablo.
Em cima da árvore as coisas eram arriscadas, a árvore era grande mas seus galhos não passavam segurança. O Unicórnio parecia saber como subir em uma árvore, rapidamente chegou aos galhos altos, enquanto Wagner subia mal conseguindo se agarrar em um lugar seguro, o Unicórnio levantou a máscara rapidamente olhando em volta, vendo assim o garoto que passava no outro lado da rua mas acabou ignorado, abaixou a máscara novamente e foi o suficiente para escutar o barulho de Wagner caindo da árvore.
Pablo foi ajudá-lo de qualquer jeito enquanto os outros riam, gargalhavam, em volta, o Unicórnio desceu da árvore e se juntou a eles. Quando todas as gargalhadas morreram um silêncio estranho tomou conta do lugar, então Índia caminhou aos tropeços até o centro daquela roda.
- Qual é a próxima?- Índia gritou- Vamos, a próxima prenda!
- A minha casa não é tão longe...- Raphael se escorou em Mara- Meus pais me matam se formos lá, mas da pra entrar pela porta dos fundos da cozinha... e sei lá... comer?
- Roubar algo sem ser visto.- disse Suzana, séria, analisando a grama
- Entrar e pegar algo sem ser pego.- Raphael sorriu para Índia
- E pra isso precisamos só de um deles!- Índia riu e pulou- Qual Daniel?
Daniel estava completamente alheio aquilo tudo, ele apenas encarou Índia e riu, ignorando a pergunta.
- Mamãe mandou eu escolher esse daqui...- Índia riu e parou, Mara andou até o lado dela
- Tanto faz Índia!
- Ele!- Índia apontou para Wagner e Pablo o empurrou para frente
- Próxima aventura!- gritou Laura
O grupo começou a andar e Índia sentiu alguém tocar em seu ombro, era o Unicórnio.
- Sorte sua que eu gostei da sua máscara.- Índia sorriu antes de correr o deixando lá
A noite se seguiu estranha e barulhenta, tentaram voltar a festa, ideia de Jonas, mas não puderam entrar mesmo tentando entrar pelos fundos, e então Suzana os levou até o hospital e obrigaram Wagner a fazer uma grande bagunça, Suzana o fez ir até a brinquedoteca enquanto os outros vigiavam a porta, onde ela gritou, xingou, esperneou e bateu em Wagner até que ele derrubasse todos os brinquedos, saíram correndo, nem eles mesmo entendiam como não tinham sido pegos.
A casa de Mara, parecia ser a parada final para eles, o grupo estava sentado no chão, com as várias bebidas caras do pai da garota espalhada pela roda, Suzana escrevia algo no papel mas logo foi perdido quando Jonas derrubou um copo de bebida sobre o papel. Pablo estava deitado no chão, tão bêbado, Wagner estava acanhado, haviam feito-o beber mais, Daniel encostou do lado dele segurando uma garrafa de uma bebida que mal sabia qual era.
- É... assim... mesmo... tudo fica lá nas al... al... alturas.- Daniel se sentou ao lado dele- A vida é complicada...- ele deitou sua cabeça sobre o ombro de Wagner- Um dia... a gente vai ser próximo... e vo... você... vai... ver- tomou um gole da bebida- Vai ser legal.
Nenhum dos dois percebeu quando Pablo voou para cima de Wagner, o garoto bêbado gritou algo indecifrável antes de dar um soco em Wagner, Daniel se afastou assustado, derrubando bebida por todo o chão e encarou Índia, a garota parecia esconder um sorriso por trás do copo de bebida, levaram alguns minutos até que Rafael e Paloma conseguissem acalmar Pablo.
- Agora é a minha vez!
- Não Índia. Acabou.- Daniel a encarou- Ele tá sangrando! Puta merda!- Daniel se agachou perto de Wagner, o nariz sangrava, boca, havia um corte no supercilio
- Vamos roubar um mercado! Eu e ele vamos...
- Não vão fazer nada!?- Daniel olhou em volta, por um momento ele parecia sóbrio- Eu vou pra merda da minha casa!
- Eu... Eu...- Laura tentou falar mas vomitou tudo que tinha no estômago
- Vamos!- Pablo encarou Wagner e o puxou
- Vamos!- Índia cambaleou
Os três saíram da casa e no meio do caminho encontraram com Mateus e Augusto dirigindo um carro, os dois bêbado, aceitaram um carona que quase resultou em um acidente, Pablo adormeceu e ficou dentro do carro, Índia e Wagner desceram em frente ao mercado perto da escola. Wagner reconheceu logo o mercado do tio, ele não fazia a mínima ideia de que horas eram, a noite estava fria e o mercado pouco movimentado, eles entraram, o caixa estava vazio e passaram diretamente para a prateleira de bolachas.
- Enfia isso na roupa!- Ela segurava um pacote de bolacha e o entregou, andou mais um pouco até os refrigerantes- Esse refrigerante também!
Índia estava eufórica segurando o refrigerante estendido.
- Vai! Anda!
Wagner apenas encarou quem quer que estivesse atrás dela, Índia olhou para trás e viu o alto homem que não parecia feliz com o que eles estavam fazendo.
Índia começou a correr mas não conseguiu passar da porta, o tio de Wagner a segurou, mas Wagner conseguiu cruzar a porta
- Corre!- Ela gritou enquanto se sacudia- corre, continue...
Atordoado Wagner largou a porta, o rosto do tio o encarava sem entender nada, o garoto apenas correu entre lágrimas e desespero, as coisas escondidas em sua roupa caíram pelo caminho e ele correu até ver a escola do primo, parou e se sentou no meio fio.
Machucado, triste e humilhado.
Aquele foi o primeiro momento em Wagner Pacheco pensou em vingança. Eles mereceriam pagar. Todos eles.
Mateus, por tê-lo convidado a aquela festa.
Aqueles idiotas que se achavam no direito de fazerem tudo.
E Índia, a culpada por ele estar assim.
Eles pagariam. Não importava quanto tempo se passasse ou que acontecesse com eles. Eles pagariam. Wagner garantiria isso.
Garantiria que o futuro fosse de sangue e ódio.
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