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Daniel e Mara não podiam evitar de trocar olhares assustados a cada dois segundos. Daniel realmente estava assustado e Mara se consumia de medo pelo que estava fazendo, mas não havia volta. Ela estava presa ao mestre, e ele havia a mandado fazer coisas horríveis.

O carro do investigador ter quebrado? A culpa era dela. Tinha descoberto onde o carro ficava guardado durantes as noites que o investigador não estava na delegacia e dado a informação ao Unicórnio. Agora estava levando Daniel para sabe lá o que. O Mestre havia mandado.

"Que Daniel esteja somente com você e então o leve sempre pela direita."

Não queria pensar nisso mas não conseguia parar, sempre se lembrava da máscara de unicórnio escondida em baixo da cama, não tinha mais volta, ela ia se salvar. Continuaria pensando só em si mesma e fingindo para eles que havia mudado.

- Então... você não ficou com raiva do Wagner... Ele e o Augusto...

- Um pouco, logo quando eu soube.- ela forçou um sorriso- Depois eu só fingi que não sabia.

- Porque?- Ele parou e a encarou- Foi uma traição.

- É que...- Ela encarou o corredor a sua frente- Acho que deveríamos ir pela direita.

- Certeza?- Daniel encarou o corredor, ele parecia mais frio que o outro

- Sim...- Ela agarrou o braço dele tremendo- Porque não falamos de como a sua mãe aceitou você e o Wagner? Aliás, já oficializaram!? É muito importante para um namoro...

- Mara, não acho que seja um assunto para agora, temos que focar na Suzana.- Ele a encarou

Porque ela estava fazendo aquilo? Não conseguia afastar o pensamento de sua cabeça enquanto olhava para Daniel, ele até era bonito mas não fazia o tipo dela, ela havia infernizado todo o relacionamento de Daniel e Índia, somente por infernizar, e quando os dois se separaram sentiu uma pontada de culpa por alguns segundos, mas logo viu uma nova oportunidade de infernizar, principalmente porque ninguém sabia qual o motivo da separação.

- Eu sei...- Ela falou

Daniel a soltou e virou para a direita, ele se lembrava um pouco daquela parte dos corredores, nunca tinha chegado a explorar todos os lugares enquanto ia as consultas, ele só sabia que por quase dois anos precisou frequentar aquele lugar e não se arrependia disso. Andando mais um pouco Mara o fez virar a direita novamente, Daniel não estava gostando do jeito dela, não era a Mara de sempre, tinha um fogo no olhar mas não o mesmo, mas continuava a seguir as instruções que ela dava, pareciam decisões mais convictas que as que ele poderia tomar.

Entraram em algumas salas, olharam pela janela, parecia apenas mais um lugar abandonado, um bom e velho cenário de filme de terror. A cada porta que abriam sentiam a respiração acelerar, um zumbido no ouvido, o batimento acelerar mas não encontravam nada foi então que a iluminação mudou, uma porta a direita mais ao fundo de onde estavam, parecia ter um brilho saindo por baixo dela, um brilho fraco e destoante daquele cenário abandonado, Mara sabia era ali, era ali que tinha que levar Daniel.

- A Suzana tá lá dentro?- Sussurrou Mara

- Eu não sei...- Daniel tremia, eles andaram mais um pouco e pararam de frente para a porta- Tem algo ai e particularmente não acho que seja a Suzana...

- Nós vamos ter que descobrir...- Ela colocou a mão na maçaneta

- Deveríamos chamar a Índia e o Wagner...- ele encarou o celular, sem sinal- Acho melhor não entrar ai.

Mara fechou a cara e rodou a maçaneta empurrando a porta de vez, nada, um misto de alívio e medo percorreu pelos dois.

- Nada...

- Mas a luz... veio daí.- Daniel olhou para dentro da sala, da porta ele realmente não conseguia ver nada e seu sistema apitava, se sentia em um jogo onde a qualquer momento poderia morrer por um headshot.

Com cuidado Mara pegou o celular e iluminou o lugar, a luz fraca mostrava somente um pouco, no chão não havia nada.

- É só uma sala vazia!- Ela revirou os olhos

- Daniel!- um grito e todo o lugar parecia estar tomado por uma força estranha

- Tem alguém ai?- O garoto tremeu encarando Mara

- Daniel!- outro grito, não era de desespero nem nada parecido, somente alguém o chamava

- Nós temos que...

Daniel respirou fundo e entrou na sala, como se ao mesmo tempo quisesse provar "não há nada aqui" e "Não tenho medo disso". Pela primeira vez ele queria se provar mas ai estava seu erro. Lá estava o unicórnio, não na sala com ele, mas atrás de Mara. Daniel tentou abrir a boca mas o unicórnio agarrou Mara e a porta se fechou.

- Não!- Ele forçou a porta- Não... Não...

E ali estava Daniel, sozinho e preso em uma sala. Ainda tentando abrir a porta, ele sentiu um gelo na espinha novamente seu nome era chamado, ele se virou e respirou fundo, precisava achar aquela voz, andando chutou algo e iluminando com a lanterna do celular viu duas extensões, assim que juntou as duas, a sala se ascendeu, ele finalmente pode ver o que o chamava.

Havia uma caixa de som em cima da mesa no centro da sala, ele não podia entender, uma caixa em forma de porco clamando por ele, assim que encostou perto dela algo se iluminou contra a parede, um vídeo, ele estava naquela imagem sorrindo. Encarou o lugar, não havia reparado no Datashow preso ao teto que refletia a imagem, os cabos ultrapassavam a parede indo para outra sala por um buraquinho na parede.

- Que tipo de merda é essa?- Gritou para ele mesmo

- Qual a importância dos polissacarídeos?

Em qualquer outro momento ele riria daquele vídeo mas simplesmente o encarou, um trabalho de química do terceiro ano. A pergunta era dirigida a ele, seu rosto na filmagem era nítido e um pouco animado, respondeu a pergunta e a filmagem contínuo ali, mostrando o rosto dele mas logo tremeu mostrando a última pessoa que ele esperava ver... Índia.

- Então Dani... O que você acha de nós...

Daniel sentado em uma das cadeiras da sala, Índia em pé debruçada sobre ele, mas quem diabos filmava aquilo?
Isso era antes, antes dela mudar misteriosamente, eles eram um casal apaixonado. Daniel, do vídeo, sorriu e ela se curvou o beijando rapidamente, a cena mudou lá estavam eles novamente sentados em um dos bancos da escola abraçados, logo depois em pé conversando animadamente, era como uma viagem, uma viagem que o deixa cada vez mais assustado, Daniel não tentava mais forçar a porta, estava sentado no chão encostado na parede abraçando as próprias pernas.

- Você não ganha nada me mostrando isso!- Daniel gritou- Eu superei! Não me importo mais com a Índia, não desse jeito!

As imagens não param, dessa vez eles estão no quarto de Índia, aquele foi o último dia em que eles estiveram juntos, a mãe dela não estava em casa, a mãe dele trabalhando, era o momento perfeito para os dois evoluirem as coisas, mas nada aconteceu, Daniel tinha vergonha do próprio corpo, ele não era seguro como Índia, naquela época as cicatrizes que ele possuia não eram simplesmente riscos em sua pele, ainda eram parte de sua alma.

- Você sabe que tá tudo bem.- a voz de Índia preencheu a sala

O Daniel do vídeo e o da realidade engoliram as lágrimas, os dois estavam tendo aquela lembrança. Daniel havia tentado se matar. Eram férias, ele havia abandonado o tratamento, não tomava mais os remédios, estava difícil aguentar seus próprios pensamentos, só queria que aquilo parasse, que tudo parasse, já havia se cortado algumas vezes na barriga mas queria algo definitivo dessa vez, se lembrava de ter levantado e ido até a cozinha a partir daí a noite era um borrão estranho, na manhã seguinte ele estavam em um hospital com o pai o encarando e Índia sorrindo aliviada.

Daniel tinha parado de pensar nisso, mas voltar ao lugar onde se consultava com a psiquiatra, trazia essa lembrança a tona, foi difícil aguentar até o fim do tratamento com remédios, foi difícil persistir. Estava tão preso em seus pensamentos que nem percebeu que o vídeo havia mudado, estranhamente continuava mostrando Índia, mesmo depois de Daniel ter ido embora da casa dela. A garota estava ali arrumando as coisas até uma batida na porta, a imagem avançou rapidamente, atrapalhando ver quem estava com Índia e quando parou, a garota já estava em outro lugar, um campo aberto.

- Eu não vou deixa-lo ok? A menos que ele queira!- Índia gritou para o outro alguém

- Você precisa! Não podem continuar com isso!- Daniel reconheceu a voz na hora, Luana, sua mãe

- Não me odiei por isso! Eu gosto dele, de verdade!

- Não pode gostar dele, principalmente se for igual a sua mãe, uma piranha.

- Minha mãe não tem nada haver com isso ok? A senhora a odeia, deve ter seus motivos, mas não deixe que isso fique entre eu e Daniel!

- Vocês são irmãos...- Luana sussurrou e encarou Índia- Vocês são irmãos, porra, irmãos.

Índia riu.

- De todas as ideias que podia inventar essa é a mais sem noção.

- Daniel é seu irmão e eu posso provar.- ela pegou algo no bolso e deu para ela- Não podem ficar juntos. Não assim.

A garota jogou o papel no chão e correu em dessespero, a câmera escureceu aos poucos deixando a imagem de Luana em foco.

- Irmãos.- Daniel cuspiu as palavras que rodavam em sua cabeça

Índia e Daniel eram irmãos.

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