28

Wagner tentava relaxar, estava perdido em seus pensamentos, largou o celular na mesa e suspirou, Suzana ainda era um dos assuntos mais comentados, não iam esquecer tão cedo, já era por volta de uma da tarde e ele esperava Daniel chegar ainda na mesa vendo Mateus terminar de almoçar.

- Então como vai você e o Daniel?- Mateus perguntou com a boca cheia de comida

-Bem.- Wagner sorriu para o primo- E você e a Índia?

- O que eu posso dizer, ela tá me ignorando eu acho, não me responde desde ontem... acho que se tivéssemos ficado na sorveteria, ela ainda ia tá me dando bola...

- As coisas estão meio complicadas para todos...- Wagner bateu os dedos na mesa- e não vai melhorar...

- Não seja tão pessimista! Eles vão prender o assassino e todos os casais vão ser felizes para sempre.- Mateus não riu, somente futucou o prato, algo estava errado

- Tem alguma noticia do Augusto?- Wagner arriscou perguntar

- Aquele lá, eu nunca mais vi! Espero que esteja bem longe de você.

- Ele tá. Eu estou esperando o Dani...

Mateus encarou o celular com cara feia e olhou para Wagner.

- Eu vou ter que sair... lava os pratos hoje...

Ele se levantou, correu ao banheiro, e saiu deixando Wagner na mesa sozinho sem entender nada, no mínimo algo no trabalho havia dado errado. Daniel chegou alguns minutos depois, com os olhos inchados e o nariz fungando mesmo sem entender nada Wagner o acolheu em um abraço apertado, e foi ai que Daniel chorou mais.

- Eu posso saber o que foi?- perguntou calmo e não obteve resposta- Vamos pro meu quarto.

Os dois subiram a escada, pelo menos lá, Wagner achava que não tinha mais câmeras, mesmo depois de vasculhar a casa e não achar nada, ainda se sentia completamente vigiado. Eles se sentaram na cama, Wagner tentava entender o que ocorria mas Daniel continuava chorando.

- O Unicórnio fez algo com você? Ou a sua mãe...

Wagner reconheceria o olhar que Luana os lançou no outro dia em qualquer lugar do mundo, era o mesmo que seu pai possuía toda vez que os dois se encontravam.

- Eu.. contei pro meu pai!- Daniel quase gritou- Não como eu queria mas contei!

- Você falou de nós pro seu pai? Isso é...

- A minha mãe está com raiva e me disse umas coisas bem ruins, aquele assassino me mandou mensagem! Ele ta se divertindo vendo essa confusão toda!

- Eu sei...- Wagner segurou o rosto de Daniel, fazendo-o olhar em seus olhos- Primeiro respira, vamos acalmar esses sentimentos, se quiser água eu posso ir pegar, qualquer coisa que você quiser, ta bom?

- Fica aqui! Não sai não... eu não to bem.

Wagner sorriu e o envolveu novamente em um abraço apertado. Seu rosto já havia desinchado bastante da surra de Augusto, só restavam algumas poucas marcas, não podia parar o unicórnio, só podia ficar ali, o ajudando a se entender. Daniel parou o choro e se soltou lentamente do abraço, tomando as mãos de Wagner e as segurando, ele respirou e inspirou lentamente mais de dez vezes, você está no controle, disse para si mesmo.

- Está melhor?- Wagner analisou

- É um pouco... Essa coisa de unicórn...

- Shhh!- O impediu de terminar de falar- Vamos assistir um filme, ok? Pensar em outras coisas.- Wagner pegou o notebook.- Eu deixo você escolher dessa vez!

Daniel riu, seu gosto para filmes era péssimo e Wagner sabia bem disso, ele escolheu um dos filmes dos Transformers e escutou alguns protestos mas pouco tempo depois estavam deitados agarradinhos vendo o filme.
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Eu preciso do meu caderno.
Eu preciso do meu caderno.

Era o mantra que Índia repetia ao lembrar que tinha sido roubada, ele podia usar contra ela, podia usar tudo contra ela! Se arrependia de ter sido tão cruel com os outros no seu segundo ano, esperava não ter escrito nada no caderno... somente suspirou profundamente ao lado do pai.

- Hoje você não fica sozinha!- Repetiu o homem- Vai ficar nas minhas vistas, todo o tempo, comigo na Luciana!

Índia suspirou novamente. Não tinha chegado a nenhum nome ainda, ninguém parecia ser alto o suficiente ou terrível o suficiente para matar e o também não via o motivo, não enxergava naquela festa de Halloween, a bebida havia apagado todos os motivos da cabeça dela mas eles saíram da festa com o unicórnio, o que quer que tiver acontecido foi fora dali. Quando chegaram a porta da casa de Luciana, Índia reconheceu o carro ali parado. Augusto.

Ela entrou na casa ainda mais desconfiada, ele estava ali era a oportunidade perfeita de joga-lo contra a parede, de destrui-lo. Deu uma rápida observada pela sala e cozinha, ninguém lá além de seu pai e Luciana, subiu as escadas, só havia mais uma pessoa naquela casa, Leo...

A porta do quarto do garoto estava fechada mas podia escutar um pouco da conversa.

- É isso mesmo?- A voz de Leo se sobressaía- Não...

- Você não sabe de nada!- Augusto falou alto- É só um hackerzinho, nem tava aqui, me deixa resolver meus problemas!

- Eu sei onde quer chegar!- Algo caiu dentro do quarto- Porra!

- Isso é maior do que você pensa!

- Você é a porra do assassino!

Foi o suficiente para que Índia entrasse no quarto, ela não sabia como aquilo tinha começado, porque Augusto estava ali, mas era sua deixa, escancarou a porta do quarto. Leo estava caído no chão assustado, Augusto estava pronto para esmurra-lo mas a encarou, deixando o braço cair.

Não era o mesmo olhar de quando ele estava bêbado na festa de Mara, obcecado pelo Wagner, era um olhar seco, como se não houvesse uma alma ali naquele corpo. Augusto andou para cima de Índia, sua cara fechada a fizeram dar alguns passos para trás, mas ela permaneceu em pé encarando ele.

- Eu vou ligar pra Polícia!- Ela bradou

- Não sou eu!- ele balançou a cabeça- Não sou eu!

- Tem algo acontecendo aí?- o pai de Índia gritou de algum lugar da casa

Índia pensou em responder mas foi o tempo suficiente para que Augusto corresse e ela se meteu atrás dele. Ele era mais rápido e cruzou a porta primeiro, Índia ia logo atrás, escutando os gritos do pai a chamando, Augusto entrou no carro e acelerou, dobrou a esquina e Índia foi atrás, por mais idiota que fosse a ideia de correr atrás de um carro parecia estar dando certo ou ela corria muito rápido ou Augusto estava deixando que ela o seguisse. Quando estava virando a terceira esquina, seu corpo estava cansado, sentiu o celular vibrar, em meio aquela corrida desbloqueou o celular e viu a mensagem do número desconhecido.

"Brincando de pega-pega sem mim, isso não é legal. Já que gostam de brincar sozinhos, eu e Suzana vamos nos divertir mais sozinhos."

Índia grunhiu de raiva, Suzana estava na mão daquele porco, Augusto não deveria estar só, alguém mais estava o ajudando, mandando essas mensagens, quando finalmente voltou a si esbarrou em alguém, os braços fortes a agarraram antes que ela caísse, ela quase gritou vendo o carro sumir da vista dela, mas encarou quem a segurava, e era Mateus.

- Você tá bem?- ele encarou a menina ofegante e com rosto vermelho

- Eu... Eu... merda.- se recompôs, firmando os dois pés no chão- Perdi ele...

- Perdeu quem?- Mateus a encarava- Acho melhor você se sentar, ali, vamos.

O banco do ponto de ônibus não estava ocupado por ninguém e eles se sentaram. Mateus não entendia nada, a garota tinha um misto de raiva, cansaço e desespero no olhar.

- Então... o que tava rolando?- ele perguntou tirando alguns fios de cabelo que estavam grudados no rosto dela- Não me parece uma corrida normal.

- Mateus, eu podia ter resolvido tudo! Eu sou uma idiota.

- Olha, se acalma. Vamos conversar direito, do início.

- Eu perdi o Augusto de vista!- Mateus ficou ainda mais sem entender nada- Ele socou o meu primo e depois eu corri e ele tava no carro...

- Porque diabos ele socou seu primo!?

- Eu não sei!- Ela quase gritou- Tem algo haver com os assassinatos...

- O Augusto...?- Falou incrédulo

- É! Eu vou denuncia-lo... Ele vai ser preso e tudo vai acabar...- Índia se desfez em lágrimas- Vamos descobrir onde está a...

O quanto Mateus era confiável? Foi a primeira vez que ela se perguntou, ele era amigo de Augusto, ele havia colocado bebida no ponche... As filmagens, ele quem tinha a entregado... Wagner confiava nele, não era? Mas Mateus realmente era confiável?

- Quem te deu as filmagens? Por favor me diz quem te deu as filmagens?

- Foi...- Ele pareceu hesitar por um tempo- A Joana mas o Augusto insistiu que eu levasse para a delegacia, insistiu que eu levasse comigo, tinha uma carta marcando um lugar de encontro pra entregar as filmagens mas ele me fez levar comigo.

- Ele sabia do nosso encontro?- Mateus negou- Mas... Aquelas filmagens... merda! Tudo foi planejado!- Índia socou a própria perna

Mateus timidamente segurou a mão dela, eles não se encararam, continuavam olhando para a rua, as pessoas andavam nas ruas, dirigiam seus carros, contavam suas histórias, falavam sobre adolescentes mortos mas aquelas vidas não paravam, eles não faziam ideia do que acontecia, do que era ver pessoas sendo mortas! Paloma, Raphael, Jonas... tinha visto todos esses morrerem e não os havia salvo.

- Índia, o que tá rolando?- Ele a encarou ainda segurando a mão dela- Não é só você que tá estranha, Wagner também, o que estão escondendo?

- Eu não tenho certeza de nada mas tem alguém perseguindo e matando todos!- O encarou, esperando que ele estivesse com alguma cara estranha mas continuava focado nela- Eu to com medo e não sei como fazer isso passar! Pelo menos por um segundo!

- Assim...

Mateus moveu sua mão segurando a bochecha de Índia, seus narizes se tocaram e logo após um beijo terno e lento. Ela havia esperado por isso, os dois haviam, desde o primeiro momento em que se encontraram na sorveteria e nas mensagens trocadas, eles queriam se beijar, estavam se beijando e isso era intenso. Os dois se afastaram lentamente, não querendo se afastar. Mateus pegou o celular que vibrava no bolso e o encarou por um tempo.

- Eu preciso ir... to atrasado.- ele se levantou mas voltou a beijar Índia- Eu não sou o Unicórnio.

Mais um beijo e Índia sorria enquanto ele saía mas então percebeu, eu não sou o Unicórnio, mas ela nunca havia o acusado, muito menos tocado no assunto Unicórnio com Mateus, Wagner havia contado algo? Ela pegou o celular e discou, andando em direção à casa de Wagner.

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- Você fez bem em brigar com Augusto.- soou a voz robótica

Leo fechou a porta da van, tinha prometido parar de se meter nisso, aquela briga não era dele.

- Esse soco na cara, minha mãe surtada, não vai dar pra continuar.

- Não é você que escolhe, sabe bem disso.- Não podia ver nada além do capuz preto- Realmente quer deixar sua prima morrer? Índia gosta de você.

- Eu...- Ele hesitou

Pensou na primeira noite que foi "convidado" a fazer algo inofensivo, ensinar a mandar mensagens sincronizadas sem deixar rastros, logo depois Paloma apareceu morta, ele não se lembrava muito bem de todos já que tinha feito o ensino médio em um internato no Rio de Janeiro, mas os nomes dos mortos eram bem vivos em sua mente e depois voltou a se encontrar com aquele ser abominável, ensinando coisas novas sobe a ameaça de Índia ser a próxima da lista.

- Aqui tá tudo que você vem me pedindo.- Leo entregou um pendrive- Eu sei que nunca precisou de mim.

- Nunca? Precisei mas você deixou cair e depois não ajudou.- ligou a van e partiu, deixando Leo para trás

Leo se lembrou daquele dia, ele havia saído sorrateiramente de casa para ir na festa de Halloween da escola, quando estava na praça, lugar onde anos depois Paloma morreria, viu uma movimentação estranha, as pessoas em volta da árvore pareciam alteradas e gritavam para alguém que se mantinha em cima da árvore, ele observou aquilo até que seus olhos se cruzaram com a máscara de unicórnio, a figura levantou a máscara rapidamente para olhar o chão mas o viu e encarou, não pode ver quem era mas sabia que estava suplicando ajuda, mas Leo seguiu em frente e continuou mesmo escutando o barulho da queda e das risadas

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