26
- Daniel, o que foi aquilo?- Luana estava sentada a mesa com o filho
- Aquilo o que?
- Você e aquele garoto, se olhando daquele jeito... próximos daquele jeito...
Era manhã. A noite havia se passado de um jeito estranho, assim que encontrara a mãe, Daniel tentou disfarçar o clima entre ele e Wagner mas sabia que não tinha conseguido. Voltando para casa em silêncio, não trocou uma palavra com a mãe e com mais ninguém. Nenhum dos outros havia dado mais sinal de vida, nem Suzana, Índia muito menos Wagner, a mãe estava prestes a sair para o trabalho mas antes precisava conversar com Daniel.
- Nós estávamos nós despedindo... É normal olhar para as pessoas quando se faz isso!
- Você sabe, não sabe?- Ela bateu na mesa- Eu não quero você andando com esse tipinho de gente!
Daniel ficou em silêncio.
- Qual o seu problema?- Ela se levantou e colocou as mãos na cintura- Sempre se mete com o pior tipo de pessoas, toda vez que cruza essa porta vai parar em uma confusão! Eu não quero que você ande com aquele viado ou com a aquela garota...
- Mãe!- Daniel gritou enquanto esfregava as mãos, sem se concentrar em nada
- Você não pode fazer isso comigo Daniel! Não de novo! A gente já sofreu bastante por você, não queria repetir isso! Você tem que parar de arranjar problemas!
Daniel sentiu uma raiva crescer, palavras se acumulavam em sua boca e saíram, saíram como uma cachoeira ácida .
- Problemas!? Sabe qual é meu problema!?- Ele gritou- O meu problema é você mãe! Ou você grita comigo ou então me ignora! Quem é meu melhor amigo? Qual é meu prato favorito? De quem eu gosto? Quanto eu calço? Você sabe quem eu sou?
- Daniel não fale assim com sua mãe!- advertiu o pai descendo as escadas- Porque não podemos voltar a dormir? Podemos conversar com calma... aliás, por que estão gritando tão cedo?
- Porque o seu filho, está andando com aquele rapaz novamente, o seu filho estava de mãos dadas com ele, o seu filho está sendo seduzido por ele!- Luana saiu batendo a porta
Daniel e o pai se encararam por um tempo.
- Ela te acordou só para te dar uma bronca antes de sair?- O pai riu e se sentou na mesa tentando quebrar o clima- Qual é a da vez?
- Wagner...
- Bem... Sua mãe está paranoica com ele desde que ela recebeu uma mensagem anônima contando sobre o porquê que ele se mudou... você sabe o que foi?
- Sim! Ele me contou, não tem nada escondido...
- Eu sei Dani, eu sei. A sua mãe tem outra cabeça, é de outra época, tenta entender... desde sempre ela foi um pouco pilhada com esses assuntos... Mas ela falou sobre vocês dois estarem de mãos dadas, é isso mesmo?
Daniel se enterrou um pouco na cadeira e respirou fundo. Não era assim que queria contar, não era assim.
- Bem... É que...- Daniel sentiu as lágrimas se juntarem
- Ei! Eu sou seu pai, pode contar, se você não pode confiar em mim, em quem mais pode?
- Nós meio que estamos... ficando... eu e ele...
O pai ficou em silêncio por um tempo, encarando um ponto do nada mas logo se voltou a Daniel.
- E a Índia? Aquela garota ficou do seu lado em todos os momentos, até quando...
- Eu tenho muito o que agradece-la mas não gosto mais dela assim! Pai, eu gostei da Índia, eu amei a Índia... Eu saí com umas poucas outras garotas e agora eu quero sair com o Wagner, eu gosto dele...
- Bem...- o pai respirou fundo- Você sempre esteve com garotas e agora um rapaz... Você sempre...
- Mainha?- Rafael chamou com a voz sonolenta parando perto da escada- pai?
- Oi, meu filhinho...- Fernando se levantou e foi até ele- Nós terminamos essa conversa depois Daniel.
Daniel voltou para o quarto, seu sono já havia ido completamente embora mas mesmo assim deitou na cama, engolindo as várias lágrimas que queriam sair, assim que conseguiu se controlar um pouco o celular apitou e não ficou feliz vendo o número desconhecido que apareceu na tela, sem nenhuma coragem abriu a mensagem.
"Gostou da conversa com mamãe?
Não é bom esconder coisas por muito tempo, esconder te faz perder."
Logo em seguida uma foto, Wagner dormia esparramado pela cama, todos o detalhes do quarto e do garoto eram bem visíveis, a foto era tirada de cima, algo próximo a janela. Câmeras. Daniel se levantou e ligou para Wagner, enquanto procurava em seu quarto câmeras espiando sua vida.
- Alô...- Wagner disse sonolento
- Oi! Eu liguei pra falar... meio que...
- O que aconteceu Dani?- A voz já havia mudado agora o tom era de preocupação- Você tá bem? As meninas tão bem?
- Sim! Eu acho que tem uma câmera no seu quarto, na janela ou em cima dela.- Disparou Daniel- Aquele desgraçado me mandou uma foto sua dormindo!
- Eu vou olhar agora!
Daniel podia escutar os barulhos do outro lado da linha, Wagner estava dando um jeito de checar a janela mas logo os barulhos pararam e o garoto voltou a ligação.
- Eu achei! E essa não deve ser a única câmera aqui...
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Índia abafava seu choro no travesseiro. Ela havia chorado a noite inteira, quando chegou a casa de Suzana não havia ninguém lá, esperou que alguém chegasse e inventou uma desculpa mirabolante para entrar na casa e procurar Suzana mas ela não estava ali e em cima da cama dela haviam várias canetas, mais de duas caixas, ela enfiou algumas na mochila em um momento de desespero e saiu cambaleante da casa, alguém tinha que ter visto algo, Suzana não podia ter sido retirada de casa tão facilmente, bateu em todas as portas mas, ou não havia ninguém ou não haviam visto nada diferente ali.
Recuperou as forças e fechou a janela, havia ficado tão perdida que não conseguiu encarar a mãe e entrou pela janela, como fazia quando chegava alterada e não conseguia abrir a porta. Limpou as lágrimas e andou atrás de um copo de água mas se surpreendeu com o pai se sentando bruscamente no sofá.
- Meu Deus Índia! Onde você esteve!?
- No quarto...
- Eu e sua mãe, esperamos você cruzar a porta quase toda a noite, como entrou nesse quarto...
- Pela janela, Antônio.- A mãe de Índia estava escorada na porta do quarto já pronta pra ir trabalhar- Ela acha que eu não sei que quando ela não consegue olhar na minha cara entra pela janela. Qual o problema da vez?
- Nenhum...
- Fale para que possamos ajudar.- o pai se sentia um pouco culpado por não saber os mínimos detalhes da vida da filha
- E que eu acho...- queria gritar, socar tudo pela frente- Esses assassinatos... Tão cruéis e impiedosos...
- Ah!- a mãe andou até ela e a abraçou- Meu anjo, isso vai acabar, ok? Todo mundo tá trabalhando para isso.
- Vai sim! Eu tive uma conversa séria com a Luana ontem e ela disse que as coisas estão bem... ninguém mais vai se ferir.- Antônio se colocou de pé e andou até elas- Você está segura.
Índia limpou as lágrimas, ela sabia que não ia ficar bem, sabia que tudo ia continuar.
- Então quer dizer que já se encontrou com aquela lá!?- Cecília riu- Ela não aguenta me ver e solta alguma piadinha sobre o ensino médio, ensino médio Antônio!
- Nosso ensino médio foi agitado de mais.- Ele piscou para Cecília e Índia riu- Mas somos adultos responsáveis agora, Luana é uma mulher casada, com dois filhos, aliás eu vi o mais velho, Daniel, com um rapaz... eles pareciam um casal...
- Casal...?
- Luana quase bateu nos dois!
- Esse Daniel não é o seu Daniel?- Cecília perguntou pra Índia- O seu namoradinho do ensino médio...?
- É...
- O seu Daniel é o Daniel filho da Luana!?- Antônio parou por um momento e esfregou os olhos- Isso é tão louco! Eu namorei com ela um tempo... Você e o filho dela...
- É incrivelmente estranho...- Índia engoliu a vontade de falar sobre o segredo- Mas os dois são passado e o passado tende a ser esquecido...- estava tentando se referir ao passado do pai com Luana mas aquela frase estalou em sua mente, ligando várias coisas, o mapa e o ensino médio
Passado. Era isso, não que ela já não tivesse notado que o objetivo do unicórnio era algo que estava no passado mas eles estavam ignorando completamente esse fato. Estavam se preocupando com os desaparecimentos atualmente, em qual séria o próximo ataque e ignorando tudo que estava ali, no passado. As pistas.
Ela se despediu da mãe e ignorou o pai voltando ao quarto, abriu o mapa. A cidade não era grande, ela conhecia os quarto cantos do mapa, não havia nada novo, pegou uma das canetas e riscou.
A casa de Laura. A praça. A casa de Raphael. A escola. A casa de Mara.
Um padrão.
Índia quase surtou mas respirou fundo, as canetas eram a primeira pista ou então, todo esse tempo, haviam ignorado as pistas, observou as outras canetas que tinha pegado, uma delas havia algo dentro do corpo da caneta, tirou o papel de lá de dentro, em letra miúdas estava um desafio.
"Ache-a"
Mais uma vez Índia sentiu seu corpo se contorcendo por dentro. Sabia que não podia entrar em desespero, tinha que se concentrar o máximo, algo estalou em sua mente, a carta com o mapa estava endereçada a Daniel e junto a ela caíram pílulas de remédio, parecia algo além de uma de uma provocação. O antigo prédio de atendimento do hospital, concluiu.
O lugar estava abandonado depois que terminaram as reformas do hospital, era um espaço perfeito para esconder alguém sem levantar suspeitas! Ela circulou a localização no mapa e o guardou na mochila, se sentiu viva novamente, sentia falta de seu caderno, ela havia anotado tudo que conseguia juntar sobre o assassino, lá dentro também estava sua foto do Halloween com Daniel e também algumas anotações do passado que não a deixavam muito feliz. O assassino havia deixado uma pista premeditada mas em troca levado todas as possíveis conclusões sobre ele, seria um sinal para Índia, ela estava perto de mais de achar a verdade sobre ele?
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Suzana respirou forte, pareceu que tinha voltado a vida depois de um longo tempo morta. Estava deitada em um velho colchão, em uma sala pouco iluminada pela luz do sol, encarou o corpo, nenhum arranhão, nenhuma corrente também não havia uma porta, ela poderia fugir mas mudou de ideia ao encarar em sua frente, o unicórnio.
Sentado em uma cadeira de balanço, se movendo lentamente, a máscara de unicórnio a intimidava, a figura brincava com um canivete, ela queria gritar mas se conteve.
- Por que eu?- Ela queria parecer séria, pensou que, talvez, tenta-lo persuadir, o fizesse desistir de mata-la
- Não banque a Índia...- A voz robótica e abafada soou atrás da máscara
- Você fala!?- Ela tremeu e o unicórnio se levantou
Andando até ela e se agachou em sua frente, Suzana pensou que naquele momento poderia bater nele e tentar correr mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, a figura deu uma gargalhada e retirou a máscara
- É você...
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