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Suzana abandonou Mara e Lucas para trás. Ela não podia acreditar que estava sendo exposta daquele modo, era sua intimidade, por mais errado que aquilo tinha sido, nem Mara tinha tido o direito de gravar aquilo, nem o Unicórnio tinha o direito de espalhar aquilo. E afinal, como aquele vídeo tinha ido parar na mão dele!?
Ela parou em uma esquina e começou a chorar desesperadamente.

- Suzana!- Lucas a segurou pelos ombros

- Pare com isso!- gritou Mara- Você está famosa agora!

- Vá se foder Mara!- Suzana chorava- Se você não tivesse filmado nada estaria acontecendo!

- Minha culpa!? Não fui eu quem trai minha melhor amiga!

- Parem garotas! Vamos te levar pra casa...

O telefone de Lucas apitou, ele precisava voltar para a delegacia. O caso havia se tornado uma bola de neve total, quando Mara pediu para falar com ele informalmente, achou estranho mas aceitou e agora sabia que podia ajudar, sabia quem devia proteger e sabia que agora acharia quem está por trás de tudo isso.

- Eu preciso ir.- Ele encarou Mara- Pode deixa-la em casa e de meu número a ela, qualquer coisa estranha que acontecer entrem em contato comigo!

- Certo...- Mara o analisou

Lucas soltou Suzana e Mara a amparou com um pouco de desgosto e continuaram ali, naquele momento Mara ligaria para Pablo e ele viria tão rapidamente... lembrar dele fez uma lágrima escorrer pelo rosto de Mara, borrando sua maquiagem perfeita e seu gênio indestrutível.

- Vamos ligar pra Índia...- Era a primeira vez depois de tudo que estava acontecendo que Mara aceitava, ela precisava de Índia
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Augusto bateu na porta da casa dos pais de Joana incessantemente e foi recebido por Luiz, o homem estava diferente, magro e com olheiras profundas, aquele não era o seu antigo professor.

- A Joana está aí?- Ele sentia o sangue ferver, a vodca fazia efeito

- Tem uma tempo que ela saiu... foi ao banco.

- Senhor Luiz... Eu sinto muito.- as palavras simplesmente escaparam da boca dele e ele agarrou o homem em um abraço desajeitado- Eu... sinto a falta do Pablo...

- Eu sei meu filho, eu sei.- o homem controlou as lágrimas

- Deveria ter vindo no enterro... Mas eu e Mara ficamos abatidos, ela nem estava saindo da cama, não comia, eu também não consegui enfrentar...

- Vamos entrar e tomar uma água.

Augusto já havia estado várias vezes naquela casa, como amigo de Joana, ele passava muito tempo no quarto dela contando suas aventuras, depois ele também ficou um pouco amigo de Pablo, acabava que estava sempre por lá mas a casa parecia outra sem vida, sem ânimo. Assim que eles chegaram na cozinha o irmão mais novo de Pablo lavava os pratos ao som de algum funk.

- Oi.- Eles se cumprimentam- Eu conheço a sua cara Augusto, eu sei que tá tudo estranho de mais.- disso o garoto ensaboando um prato- A minha mãe tá na casa de umas tias distantes, os meus irmãos trabalhando, a Joana tá tentando fazer as coisas continuarem no jeito e o papai tá assim, meio lá, meio cá.- a maturidade do garoto surpreendia Augusto, ele deveria ter seus 14 anos- As coisas vão voltar pro rumo, mesmo sem o Pablo...

- Vocês vão conseguir...- Luiz já havia sumido, o largado na cozinha

- O pai tá fazendo isso direto.- disse como se lê-se os pensamentos de Augusto- uma hora ele tá conversando, outra hora ele tá na cama do Pablo encarando o quarto... mas é bom você e aquele outro virem aqui, faz bem pra ele.

- Quem?

- Aquele lá... Eu não sei o nome dele, alto, magro, conversa com papai e vai embora, as vezes por telefone com a Joana, eu não gosto dele...

- Você tem o número dele?- Augusto encarou o menino

- Talvez.- o menino saiu da cozinha

Augusto continuou esperando, queria descobrir se aquele cara estranho era o unicórnio, ele não tinha uma pista completa, era sempre um numero desconhecido, uma voz robótica, um rosto escondido atrás de uma máscara de unicórnio, alguém que sabia de tudo, era a única pista que possuía. O garoto voltou com um número anotado em um papel e entregou na mão de Augusto.

Se despedindo de todos ele saiu da casa não mais relaxado do que tinha chegado, discou o número no telefone e estranhou quanto notou que aquele número já estava salvo em sua agenda, o nome Raphael brilhou em sua tela mas um garoto morto não liga para ninguém, não é?
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- O que isso quer dizer?- Wagner encarou o mapa

- É o mapa da cidade...- Índia coçou a cabeça- Mais um jogo? Brincadeira?

- Seria bom se lêssemos a carta.- Daniel apertava o papel com força

- Vamos...

O telefone de Índia começou a tocar,  os três se entreolham mas ficaram aliviados, era Mara, que contou uma história muito estranha e pedia ajuda para levar Suzana para casa. Os três se entreolham, depois da festa era a primeira vez que estariam juntos, era a primeira vez que Mara pedia ajuda a um deles. Wagner queria ir mas os dois o convenceram a ficar, Índia colocou todos os papéis de volta na mochila, guardando a carta e os três tomaram o rumo que Mara tinha indicado.

Andaram bastante até verem Mara e Suzana, sentadas na calçada, lado a lado. Suzana estava aos prantos, o rosto de Mara não tinha nenhum sinal de comoção, era a mesma cara de sempre.

- Suzana...- Daniel chamou a atenção dela, a abraçando- Vamos resolver isso, ok?

- Como!?- Mara debochou- Voltar no passado e impedir que ela faça merda? Logo todos...- Índia a puxou

- Pode por favor não destilar o seu veneno?- Ela agarrou os ombros de Mara- Nós precisamos cuidar dela, eu acho que ela é a próxima na lista daquele doente... Nós podemos para-lo...

- Podemos? Podemos fazer quem matou o Pablo pagar?- Mara riu- Nem a polícia consegue.

- Eu estou com as filmagens da festa de Halloween, assistimos e podemos acabar com isso, vamos conversar direito em outro lugar.

Mara respirou fundo e concordou, eles ajudaram Suzana a se levantar e começaram a caminhada, na metade do caminho, Índia ensinou o caminho da casa de Wagner e então ela e Daniel tomaram outro rumo, iam buscar os DVDs.

- Faz tempo que não ficamos assim,  sozinhos e sóbrios.- Comentou Índia

- Bastante.- Daniel chutou uma pedra- Sinceramente, precisamos conversar e não pode demorar mais!

- Sua mãe não vai aparecer no meio dessa conversa e me colocar para correr?

- Não.- Ele pensou um pouco- Foi ela que fez você terminar comigo? Ela te ameaçou?

Índia deu de ombros. Na verdade havia sido mais que uma ameaça.

- Me diz alguma coisa, por que eu não consigo acreditar que você tenha simplesmente fugido.

- Sua mãe me odeia e eu nem sei o porque... Na verdade eu imagino...

- Mistérios mais uma vez.- Ele disse confuso- Mais uma vez você foge de mim!

- Não é isso...- Ela riu enquanto o encarava- Eu realmente não queria ter sumido mas foi necessário.

- Necessário!? Parar de falar comigo, de olhar pra mim, nós estudávamos na mesma sala! Nós já nos beijamos depois daquilo e eu ainda não sei o que aconteceu!

Índia fechou a cara e continuo andando em silêncio. Eles entraram na casa de Índia e foram direto ao quarto, os DVDs estavam escondidos em baixo da cama, Índia os enfiou na mochila.

- Não mudou nada.- Comentou Daniel, analisando o quarto- Até a bagunça é a mesma...- Ele a encarou

E lá estava no rosto de Índia o sorriso bobo, a cara que ela fazia toda vez que Daniel cruzava uma porta. Essa era foto que o unicórnio havia mandado para ela antes da morte do Raphael, uma imagem dela admirando o ex. Como Daniel disse ela havia fugido dele mas sempre o olhava, quando ele não percebia, cuidava dele, queria estar perto mas não conseguia resolver a bagunça em sua cabeça. Quando voltou dos seus pensamentos, notou que eles já estavam próximos o suficiente para um beijo mas os dois encerraram aquilo antes do que algo acontecesse, suas testas se tocaram. Sem beijo. Sem nada.

Índia pensou em Mateus, algo estava acontecendo entre os dois, ela não podia negar e finalmente se sentiam livre, não queria se perder naquele limbo novamente, um em que ela era só uma garota obcecada pelo ex. Daniel também pensou em alguém, pensou em Wagner e em como seu coração e as borboletas no estômago faziam festa perto dele, não tinha porque se condenar a sofrer mais pela ex.

- Não podemos Índia.- Ele segurou a mão dela- Eu tenho alguém que eu gosto muito, você sumiu e me deixou. Você mal me olhava na cara...

- Eu realmente preciso te contar o que...

A mãe de Índia abriu a porta do quarto e encarou aquela situação, ela não parecia surpresa mas estranhava o que via.

- Já estamos saindo!- Índia bradou- Só viemos pegar umas... coisas.

Os dois voltaram para a casa de Wagner em silêncio e afastados, ela não podia aguentar mais guardar aquilo. Assim que chegaram na casa de Wagner, Suzana estava deitada na cama dormindo ao lado de Wagner e Mara não parecia estar animada.

- Pegaram?- Perguntou Mara

- Sim.- disse Índia, já retirando os DVDs da mochila

Wagner se remexeu e acordou, ele já havia deixado o notebook pronto para Índia usa-lo, ela colocou o primeiro DVD mas não apareceu nada, o segundo também já o terceiro, vozes em um lugar escuro, logo a imagem estava crianças correndo, depois em jovens dançando mas logo tudo se apagou e então a imagem que se formou era do unicórnio.

Quando a máscara se afastou da câmera, podiam ver Pablo, sem camisa, machucado e sentado no chão. Eles estavam apreensivos de mais para tirar aquilo, foi então que a seção de tortura começou ou continuou, com uma pequena faca o unicórnio fez Pablo gritar de dor, depois arrastou um balde com água e o unicórnio encenou botar a mão na água e assoprar como se estivesse quente, molhou um pano dentro do balde e com o pano bateu em Pablo.

Mara voou em cima do computador, ela não aguentava ver aquilo, Pablo havia sofrido na mão do canalha, aquilo não podia continuar ali  passando como se fosse uma programação, mas ao invés de tirar apertou o botão de avançar. A imagem que se formou agora era de sua festa, a última festa de Laura, todos estavam naquela imagem.

No centro Pablo e Laura dançavam, em um canto Daniel e Índia se beijavam, Mara brigava com Raphael, Jonas e Paloma pareciam disputar quem bebia mais, Augusto gritava com Suzana e logo depois ele e Wagner entravam de mãos dadas em um quarto e Suzana se sentava no chão, guardando a porta. A imagem se apagou e voltou, a festa de Halloween do nono ano, Mara reconheceria a arrumação em qualquer ângulo possível, na tela haviam vários quadradinhos, cada um mostrando um ponto externo da escola, o pátio interno, a quadra, a rua da frente, o pátio externo e foi ali que viram a primeira movimentação diferente, eles acompanhados do unicórnio saiam da festa, assim que cruzaram o portão, tudo se apagou e uma foto surgiu, a mesma que Índia tinha visto no perfil de Mateus, todos e o unicórnio, logo depois um compilado de fotos dos mortos e no fim do vídeo, uma frase.

"Juntos sempre, até na morte"

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