21
- Eu estou muito atrasado!?- Mateus perguntou enquanto analisava Índia
- Não, eu também cheguei agora.
- Então por que estamos aqui, exatamente?- Ele sorriu
- É que eu queria te agradecer por ter batido no Augusto e me impedido de sair correndo pela noite a fora no dia da festa.
- Aquilo não foi nada.- eles se sentaram na primeira mesa da pequena sorveteria- Você é muito legal, o Wagner te adora.
- Ele é tão legal, você também.- o telefone de Mateus começou a tocar era Augusto mas ele o ignorou- Trabalho?
- Não... na verdade quase isso.- Ele olhou em volta e encarou Índia, ela era mais bonita de perto- Vamos tomar um sorvete? Sabe... É uma... sorveteria...- Ele sentiu um frio na barriga
- Foi para isso que viemos aqui.- Ela piscou e sorriu, Mateus era lindo- Então, como foi o seu dia?
Assim que ele abriu a boca para falar, Índia se perdeu naquelas palavras, alguma coisa se remexia dentro dela, gostar de alguém que não fosse o Daniel, ela podia fazer isso, podia supera-lo, por mais que estivesse ligada a Daniel pela perseguição do unicórnio e pelo segredo que a afastou dele, podia ter outro alguém.
- Ai a minha mãe falou umas coisas sobre a parede, aquelas coisas que vocês colaram, sobre a festa...-, ela saiu de seus pensamentos e votou para ele- Lembra quando me perguntaram sobre a festa, eu acho que tenho todas as respostas.
- Como assim?
- Eu tenho as filmagens da festa...- a menina o encarou incrédula- Não faça essa cara, foi um presente de uma amiga do passado.
- O que!?- Índia riu como se fosse uma brincadeira
- Você precisa me devolver depois... Eu prometi que ia dar a Polícia.
- Claro!- as mãos soavam frio- Isso é...- Ela colocou a mão sobre a dele- Você é incrível.
- Mas... só depois de um sorvete.
Mateus piscou e Índia riu enquanto o encarava
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Mara estava deitada na cama, sem falar, sem comer, o estado de choque ainda não havia passado, a cada vez que seus olhos se fechavam, ela o via, sentia o sangue escorrer por sua pele. Sua casa estava cheia de polícias fazendo a segurança, o pai havia partido para outra viagem de negócios, a mãe estava seriamente preocupada com seu sobrenome, a partir de agora os Albuquerque seriam lembrados por uma festa mortal, era ultrajante.
- Mara?- As batidas na porta não obtiveram resposta- Estou entrando.
Suzana entrou pela porta encarando a garota sem maquiagem e de pijamas e se sentou na cama ao lado de Mara.
- Eu resolvi nosso problema, contei para a polícia tudo que eu sabia, eles vão nós proteger. O unicórnio vai nos deixar em paz Mara.
- Não vai.- a garota sussurrou
- Vai sim! Mara, a polícia vai nós deixar seguras! O investigador vai descobrir quem é aquela coisa sem mais mortes.
- Foi minha culpa, se eu tivesse escutado a Índia, olha só o que eu estou falando, ela disse para não fazer essa festa, ela disse pra não ficar só, ela tinha a razão! E o pior de tudo é que é real! Não é uma série, um filme!- Mara se deitou na cama- Nós vamos morrer.
Suzana ficou em silêncio por um tempo mas logo encarou Mara.
- Eu não vim só por isso, eu preciso daquelas filmagens ou melhor precisam ser destruídas.
- Pegue.- Ela apontou para uma caixa em cima do Guarda roupa
Suzana arrastou um pufe até perto do guarda roupas e subiu, havia uma caixa com a etiqueta escola, ela a pegou e colocou sobre a cama de Mara.
- Isso é tipo um baú do passado? Cheio de lembranças saudosistas?
- Não, é um baú de vingança.- Mara a encarou cínica- Tudo ai pode machucar alguém.
- A velha Mara está de volta!- Suzana sorriu.
Na caixa haviam vários papéis, CDs e pendrives, tudo ali tinha sido dramaticamente coletado durante os anos de ensino médio, tocar o terror era uma arte, Mara havia colocado medo em cada menina, em cada passo delas.
- O seu é o CD escrito vadia traíra, fui eu mesma que tive a ideia desse título genial!
- Não tem mais cópias? Nem ninguém que sabe? Me diga que não!
- Eu e você, só nos duas sabemos dessas filmagens.- Suzana enfiou o cd no bolso da saia- Quem é a próxima vítima?
- Não tem próxima... não tem ninguém...- Mara a analisava, conhecia cada expressão do rosto de Suzana
A ligação entre Suzana e Mara ia muito além de conhecidas. Marta vivia agarrada no pé de qualquer um que estivesse perto de Mara e arrastava Suzana junto, sempre querendo aparecer Marta despertava somente risadas e olhares cínicos enquanto Suzana, quieta e aparentemente desligada do mundo, era a perfeita subordinada que Mara precisava e não foi diferente. No primeiro podre descoberto, Suzana se tornou um capacho.
- O que é isso?- Suzana encarou uma pulseira
- Lembra quando a Paloma foi acusada de roubar a Maria na aula de educação física?- Suzana concordou- Fui eu. Paloma...
- Não vamos falar nisso!- ela fechou a caixa bruscamente e um papel voou- Regras do role 2015? Qual é a desse papel?
- Deixe-me ver!- Mara arrancou o papel das mãos de Suzana e começou a ler- Não se apaixonar, Mara descumpriu. Não ligar pro ex, Laura falhou... O que é isso?
- Tem coisas escritas do outro lado.
- Participar do grupo, novas regras, 2014.- A cara de Mara era de desinteresse, um pedaço de papel tão antigo não poderia ter uma informação importante, era só uma papel- Enaltecer a Mara, correr em volta da piscina sete vezes, roubar uma caneta da sala do diretor... coisas de criança, essa letra é minha mas essa que continua a escrever eu não sei, parece que alguém estava muito bêbado, invadir a casa do zelador, roubar o mercado da esquina, ir até...
- Continua!
- Não da pra ler! Alguém derramou algo em cima!- Mara riu e suspirou por um tempo- Nós éramos crianças malvadas, todos nós.
A mente de Suzana se encheu de lembranças enquanto ela deixava a casa de Mara, satisfeita por conseguir guardar seu segredo se permitiu pensar no ensino médio, em suas paixões, nas amizades, em coisas que um assassino não poderia transformar em poeira, fazendo o caminho mais curto até em casa, passou pela porta de uma pequena sorveteria, Mateus e Índia estavam lá, sorrindo e entretidos o suficiente para não vê-la passar.
Como podiam? Pensou enquanto seguia seu caminho. Eles tinham que estar, assim com os outros, ainda tristes com a morte de Pablo, Índia deveria estar preocupada, deveria procurando respostas... não tomando sorvete com um bonitão. Índia deveria estar tentando evitar que Suzana fosse a próxima, pois era isso que sentia depois da ameaça quando saiu da delegacia, Suzana sabia que algo ia acontecer e suas pernas tremiam, seus dentes rangiam de medo.
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Wagner estava arrumando as últimas prateleiras do mercado, a noite era fria e tudo estava tranquilo, o movimento na porta da escola havia terminado, ele só precisava fechar tudo. O barulho da porta se abrindo fez com que o garoto soltasse as bolachas de vez, elas rolaram pelo chão até pararem nos pés de alguém, Wagner encarou a figura.
Foi uma mistura de sentimentos e novamente estava com o corpo travado. O unicórnio. Wagner precisava correr, precisava se salvar, não era a hora de sentir nada, o unicórnio andava até ele calmamente, sem nenhuma arma na mão, suas roupas pareciam mais desarrumadas, Wagner respirou fundo, sentiu as lágrimas brotarem por um estante, ele estava bem com Daniel, tinha amigos, tudo era tão novo, não podia acabar agora.
Então o unicórnio se moveu lentamente em direção a ele, Wagner sentiu tudo queimar por dentro e correu em direção a porta do depósito, estava trancada, ele bateu nos bolsos pegando a chave, suas mãos tremeram, não conseguia acertar a chave, não podia esperar mais, ele correu em direção a porta de saída mas em seu caminho havia um unicórnio. O unicórnio o agarrou pelo braço e o jogou contra uma prateleira.
- Por... Favor... não...
A lágrimas escorram enquanto Wagner tentava se mover, o unicórnio o agarrou jogando-o no chão, ficando por cima de Wagner.
- Eu... não...- o unicórnio agarrou seu pescoço- Não...
Wagner podia sentir seu fim chegando, faltava ar, a boca seca e mesmo de óculos, uma visão turva, ele não queria morrer, não ali, não sem saber quem estava por baixo da máscara, não tinha forças para resistir, arrancar aquelas mãos de seu pescoço... mas podia... Wagner procurou por ar uma última vez e levantou as mãos em direção a máscara, não sabia com que força mas fechou as mãos e puxou a máscara.
Tudo parou. Para Wagner nenhuma dor, ou falta de ar poderia superar aquilo, ele mal sentiu o primeiro soco que estilhaçou seu óculos, o segundo até doeu um pouco mas em sua cabeça só pensava uma única coisa. O rosto por baixo da máscara. O cabelo loiro. Os olhos intensos. A boca bonita.
Augusto
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