14

Os olhos abertos rapidamente a cabeça doía, ele tentou balançar os braços mas estava amarrado a uma cadeira. Aquele lugar. Onde era aquele lugar? Pablo estava sozinho no escuro, amarrado a uma cadeira, seu corpo doía, como tinha ido parar ali afinal?

Uma pequena luz se ascendeu em cima dele, ele podia ver pouca coisa, a terra do chão, podia ver as paredes com pintura descascando e podia ver a roupa preta que vinha em sua direção, ele gritou enquanto a pessoa se aproximava a passos lentos com uma faca na mão.
......................................................................

- Índia!- a mãe gritou da cozinha

A garota acordou assustada, haviam vários papéis espalhados pelo quarto, ela havia transformado o quadro de fotos em uma linha de investigação. Se levantou da cama e andou até a cozinha, a mãe estava de pijamas mexendo no fogão.

- O que aconteceu com o forno disso!?

- Precisa de concerto.- Índia pegou um copo e colocou café

- Eu vou ligar para alguém vir olhar isso.- Cecília respirou fundo- Seu pai ligou.

- O grande Antônio, deu as caras?- Ela riu

- Não fale assim dele Índia! Ele está preocupado com você e esses assassinatos, até sugeriu que fosse morar com ele já que ele está em uma casa a poucos quilômetros da universidade que você quer fazer.

Elas ficaram em silêncio por um bom tempo.

- Ele está tentando ser um bom pai.- suspirou a mãe

- Como estão as coisas no hospital?- Índia mudou de assunto

- Loucas. Tudo nessa cidade está!

O barulho de uma viatura cruzando a rua fez com que Índia ficasse de ouvidos em pé, alguém tinha encontrado o carro de Pablo, concluiu.

- Eu disse que tudo está maluco, ontem a noite eu tive que ir até a casa dos Albuquerque, achei que o meu único problema seria ter que enfrentar o nariz empinado deles mas a Luana estava lá, cheia de si....

- A mãe do Daniel?- Cecília afirmou com a cabeça- Ela teve a ousadia de perguntar se e seu pai estávamos juntos.

Daniel... ele ainda não havia mandado nenhuma mensagem. Eles haviam se beijado. Na festa de Mara também haviam se beijado mas ele não se lembrava, dessa vez ele ia se lembrar e ia saber que ela ainda não tinha o esquecido. Índia queria assumir o risco, dessa vez não deixaria se intimidar pela mãe dele, não deixaria que ela os separasse novamente.
Terminou de tomar o café e voltou para o quarto, enfiou os papéis de todas as suas anotações na mochila e mandou uma mensagem para Wagner dizendo que ia para a casa dele.

Wagner estava parado na porta de casa desde que acordou. Havia sido um noite muito louca. Augusto indo atrás dele, Pablo desaparecido, Mara atacada, Índia beijado Daniel, Daniel o beijado, tudo isso em uma noite só. Estava difícil de entender, ele encarou a rua até que o telefone apitou Índia havia descoberto algo importante e ia mostrar para ele.
Esperou por ela por alguns instantes e logo a garota apareceu na esquina.

- Oi.- Índia disse enquanto entrava no quarto dele- Eu descobri uma coisa que você não vai acreditar!

- Eu também...

- Eu vou organizar tudo.- ela começou a tirar vários papéis da mochila- Tem uma ligação...

- Por que você beijou o Daniel?- Índia o encarou- Quer dizer, você foi super ríspida quando falou dele pra mim, eu achei que se odiassem.

- Nós éramos namorados, eu sempre achei o Daniel medroso mas a minha maior raiva é da mãe dele. Naquele momento eu entendi que o que eu sentia por ele podia superar toda essa raiva acumulada.- eles ficaram em silêncio por um tempo- e o que você descobriu?

- Era sobre... Sobre o meu primo estar na festa de Halloween, ele pode ter alguma foto em que o unicórnio apareça, era só isso.

- Tem certeza que era isso?- Índia andou até ele- Eu sou sua amiga pode contar.

Ele parou por um momento, aquela frase soava como se não fosse a primeira vez que a escutasse, a mesma entonação, a mesma ordem de palavras. Não era possível, vários fleches vieram a cabeça de Wagner pode concluir.

- Índia... Eu estava naquela festa de Halloween!

......................................................................
Daniel havia chegado em casa completamente perdido, subiu as escadas e foi para o quarto onde se trancou, por incrível que pareça ninguém veio o incomodar, depois que viu Wagner ir embora pela janela apagou mas quando acordou um turbilhão de coisas passaram em sua mente e prantos se jogou na cama.

Quem afinal ele era?

Seus sentimentos estavam bagunçados igualmente sua cabeça. Desde o segundo ano ele só pensava em Índia e em como ela era maravilhosa, tudo que ele queria era aquele beijo novamente mas nada parecia mais no lugar quando ele e Wagner começaram a passar bastante tempo juntos, por mais tenso que fosse o momento, ele se sentia confortável e completamente encantado, aquele sentimento não era uma simples amizade, não tinha como ser.

- Daniel!- a voz do irmão invadiu o quarto o fazendo levantar- Daniel!

- O que é?- gritou

- A mamãe ligou e disse que não é pra você dormir até o meio dia.

- Onde ela está?

- No trabalho. O papai está me levando pra escola ou talvez pra casa da vovó... tanto faz. Até mais tarde.

O silêncio voltou a reinar. Ainda bem que a mãe não estava em casa. O que ela diria se soubesse que ele estava nutrindo coisas por um menino e que havia beijo um. O beijo... para sua surpresa, Wagner não pareceu fugir, depois daquilo nenhum disse nada um para outro, somente passaram mais um tempo ali até Daniel terminar a bebida, Wagner até tentou dizer algo mas Daniel estava perplexo demais para responder. Não conseguia entender.

Atrapalhando seus devaneios o celular apitou. Índia estava atrás dele, ele deveria ir a casa de Wagner com tudo que tinha da festa de Halloween. Daniel quase respondeu que não iria mas sabia que isto está acima da confusão mental que sentia.
......................................................................

Pablo ainda estava amarrado, havia uma faca fincada em sua perna, alguns cortes abertos pelo rosto. Ele não conseguia pensar em nada, não conseguia entender quem era aquele desgraçado atrás de uma máscara de unicórnio.
O unicórnio voltava tranquilamente para perto de Pablo segurando uma caixinha de som em forma de porco, era o que ele esperava que fosse.

- Por que!?- gritou Pablo

O unicórnio se abaixou e colocou a caixinha na frente de Pablo, a ligou em um primeiro instante nada aconteceu mas logo começou a tocar uma música muito animada e muito conhecida, o toque de Happy de Pharrel Williams completamente reconhecível. Pablo não conseguia entender o significado daquilo, as lágrimas começaram a escorrer. Ele sempre tinha sido um garoto comportado, não aprontava, só havia perdido de ano uma vez, nunca tinha feito nada de errado.... não podia ser!

Because I'm happy

O unicórnio andou em sua direção agora segurando uma faca maior, Pablo não fazia a mínima ideia de onde aquela faca tinha saído.

Clap along, if you feel like a room without a roof

Pablo tentou soltar as mãos, por mais desesperado que estivesse havia achado a ponta do nó mas não conseguia desamarrar.

Because I'm happy

O unicórnio puxou a faca da perna dele, o fazendo gritar e apontou a faca maior para o seu peito.

Clap along, if you feel like happiness is the truth

Pablo sentindo a lâmina gelada perfurar sua blusa, finalmente conseguiu desembolar a corda, podia sentir o sangue voltar a circular.

Because I'm happy

O unicórnio segurou Pablo pelos cabelos fazendo olhar diretamente para a máscara.

Clap along, if you know what happiness is to you

Em um momento de adrenalina Pablo usou a perna que não estava tão ferida para chutar o unicórnio que não se moveu mas agora pressionava mais a faca contra seu peito.

Because I'm happy

Pablo não ia desistir, com as mãos soltas agarrou o braço que segurava a faca e conseguiu se levantar. O unicórnio o girou e colocou a faca em seu pescoço mas Pablo acertou uma cotovelada na barriga do unicórnio que deu alguns passos para trás o soltando. Desnorteado Pablo correu mancando para a porta de madeira que se abriu facilmente.

Clap along, if you feel like that's what you wanna do

Escutando a música o unicórnio bateu palmas, uma pequena gargalhada abafada podia ser escutada. O assassino pegou a faca e correu em direção a Pablo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top