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- Eu não quero você nessa casa!- o homem alto e forte de cabelos castanhos gritou- Você sabe a vergonha que me fez passar?
- Mas pai.... Eu não...
- Não me chame assim! Eu não te criei pra ser assim!
- Desculpa... Me deixa explicar! Eu...
- Não quero suas explicações! SAIA DESSA CASA AGORA!- o homem apontava para a porta da rua- Você é uma vergonha!
Wagner acordou atordoado, se sentou na cama com o coração palpitando forte, odiava aquelas lembranças, odiava qualquer coisa que o lembrasse do início do ano passado. A porta do quarto estava aberta, realmente ele não lembrava de tê-la fechado. A reunião que Índia havia inventado tinha sido um extremo fiasco e transparecido ainda mais os dois grupos que haviam se formado. Mara, Suzana e Pablo estavam do mesmo lado, acreditando que estavam no lugar errado na hora errada enquanto Índia e Wagner, por mais louco que parecesse, acreditavam que algo os ligava, algum laço, ao invés de fugir queriam uma explicação.
As fotos da festa eram o único ponto de ligação, Wagner não morava na cidade ainda, não conhecia ninguém, ao se quer estava presente na festa mas porque ele estava metido nessa confusão? Ele pegou o telefone e foi até a cozinha, talvez água o afastaria de qualquer pensamento. A cozinha era pequena, ele ascendeu a luz e andou até o filtro, o movimento para pegar um copo na prateleira fez as costas arder, nada deixava esquecer que havia um assassino a solta.
- O que aconteceu com as suas costas!?- Mateus gritou
O primo estava parado em pé perto da porta da cozinha, sua roupa de frio estava molhada e segurava um capacete.
- Não grita.- Pediu Wagner
- Olha isso!- Ele analisou a ferida- Você está cuidando disso? Vamos no hospital...
- Mateus, você acabou de chegar, vá dormir!
O primo trabalhava como entregador em uma lanchonete, trabalhava das três da tarde até a meia noite. O moreno de cabelos curtos estava desesperado.
- Quem fez isso? Me diz quem fez?
- Ninguém!- Wagner coçou a cabeça- Não é tão grave! Não é tão importante!
- Estou de olho. Pode me contar qualquer coisa, ok?
- Ok.- Wagner sorriu- Mateus.... Você participou de alguma festa de Halloween enquanto estudava na Santa Borgonha?
- Você não lembra? Eu quase fui expulso por levar bebida.
- Tem fotos?
- Acho que sim... Mas porque?
O celular de Wagner apitou. "Estou do lado de fora da sua casa, venha me ver agora" a mensagem era uma ordem de um número não salvo mas Wagner sabia quem era, ele andou até a porta.
- Onde você vai?- Mateus perguntou
- Tomar um ar.
- Sem camisa? na chuva? De madrugada?- Ele olhou pela janela e viu o carro parado do lado de fora- Não vou falar nada pra ninguém.- Ele piscou
Wagner andou até o caro, a chuva já havia parado e sem muita cerimônia se sentou no banco do carona. O motorista loiro o encarou por um tempo antes de tentar investir um beijo mas Wagner virou o rosto, o loiro segurou o rosto de Wagner fazendo-o olhar dentro de seus olhos.
- Eu te quero.- O rapaz sussurrou
- Eu não.- Ele se encolheu para trás- Por que me chamou aqui?
- Já disse, eu quero você!
- Augusto, você mesmo disse que estava tudo acabado entre nós! Qual é a sua?
- Você não entende.- Ele se deitou sobre o volante- É tão complicado.
- Eu já disse as minhas condições.- Wagner ia abrir a porta mas Augusto o segurou
- Você acha realmente que eu vou terminar o meu namoro? Destruir a minha reputação? Para nos dois ficarmos juntos?
- Me deixa ir embora! Nós não temos nada, você mesmo disse na festa da sua namorada, é só diversão.
- Wagner, você precisa de mim. Nessa cidade se não for eu, quem vai te beijar? Quem vai cuidar de você? Quem vai te amar?
Wagner travou.
- Quem vai te querer? O seu pai não te quis, quem vai?
- Vá se....
Augusto beijou Wagner. Quase dois anos. Dois anos se mantendo na sombra, sendo a segunda opção mas isso era melhor que nada. Todo o terceiro ano se escondendo, escondendo os sentimentos em uma relação conturbada. Mara e Augusto estavam juntos a três anos e meio, desde o dia que ficaram pela primeira vez, na festa de Halloween. Eram o casal perfeito, os reis da escola e por mais que eles já tivessem se formado, ainda sim tudo o que aconteceu na escola resvalava sobre eles.
- Eu tenho que ir.- Augusto olhou para o telefone- A Mara vai dar uma funeral party, estou a ajudando.
- Uma o que?
- Logo você vai entender.- Augusto abriu a porta do carro
- Até...- O carro disparou sem buzinar ou Augusto olhar para trás
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Mara estava impaciente, ela tinha exatamente dois dias para preparar uma festa. Como sempre Helena, Diego, Luiz, Gabriela e Sofia estavam em sua casa, assim que ela teve a genial ideia convocou seu grupo para a organização. Mesmo sendo de madrugada os amigos- capachos- atendiam prontamente as vontades dela. O enterro de Jonas seria em dois dias e assim que acabasse, ela daria uma festa. Uma festa épica.
- Copos, pratos, bebidas.- Anotou Helena
- Muitas bebidas.- reafirmou Diego, ele era filho do dono de uma distribuidora de bebidas
- Eu não acho certo.- Luiz andou pelo quarto
- Eu estou fazendo um favor a essa cidade meu caro.- Disse Mara- Não podemos deixar nos abater.
- Exato.- Gabriela bateu palmas
- E para comemorar a minha festa, nada melhor que beber algo.- gritou enquanto saia do quarto
O pai de Mara havia chegado de uma longa viajem e com ele todo tipo de bebida exótica ou bastante embriagante. Ela desceu até a cozinha e observou as várias bebidas distribuídas na estante, qual seria a mais adequada? Pegou alguns copos e os colocou sobre a mesa, havia um envelope negro escrito em Prata Marasia.
Ninguém a chamava por aquele nome desde... desde o nono ano, quando seu nome se tornou sinônimo para maravilhosa. Ela abriu ferozmente o envelope, havia um pequeno recado digitado.
"Quanto tempo leva para a rainha perder a cabeça?"
Ela olhou para os lados. As grandes portas de vidro mostravam somente a escuridão do jardins, não havia nada, não havia ninguém. Mara respirou fundo e abriu uma garrafa de vodca, colocou um pouco no copo e virou. O calor da bebida era melhor que o medo mas assim que ela escutou o mínimo barulho de passos seu corpo tremeu.
- Gabriela?- Gritou- Parem com isso! Eu vou acabar com vocês!
Ninguém respondeu, ela escutou um forte estrondo, como uma porta sendo batida, segurou a garrafa na mão e deu uma golada.
- Eu estou armada!- abriu a primeira gaveta que viu e pegou uma faca- Muito bem armada!
Mara andou na ponta dos pés até a porta da cozinha, respirou fundo e quando olhou para porta da sala tremeu. Parado estava o unicórnio segurando um machado, ela voltou para a cozinha, se ligasse para alguém talvez conseguissem prender aquele maníaco, o celular estava.... tinha o deixado no quarto, ainda havia uma opção o telefone fixo que o pai mantinha no escritório, ela só teria que ter coragem o suficiente para correr, passar pela sala e ir até a porta a direita da escada.
Uma última golada e ela começou a correr, o assassino a seguiu sem se apressar, ela bateu com o corpo na porta que não se abriu. Enquanto o desespero tomava conta do corpo ela mal conseguia se mexer e então atirou a garrafa contra o assassino que apenas desviou enquanto suspendia o machado. Com a mão livre e trêmula, Mara forçou a porta até que ela se abriu e então ela a bateu com força trancando-se sozinha, dentro da sala.
A sala era repleta de livros, uma mesa ao centro e um pequeno sofá no canto. Voou em cima do telefone e ligou para Augusto mas não atendia, se ligasse para alguém que estava na casa... Não, podia acabar levando os amigos a morte, ao escutar o barulho do machado na porta se desesperou e ligou para Pablo que atendeu.
- Ele está na minha casa!- Gritou- Vai me matar!
- Você está sozinha!?
- Não mas tem algo errado...- as machadadas ficaram mais altas- ELE VAI ME MATAR!
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