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Giovana vomitou na privada tudo o que tinha comido no café da manhã e no almoço, entre a vida e a morte, era uma frase que ela realmente gostava, mas não quando era sobre o seu David, ela lavou o rosto e andou de volta até onde Guto estava sentado, ele estava ali desde a madrugada e só tinha se levantado uma vez para segurar a mãe de David durante um desmaio, Gi sabia que os dois eram amigos, mas não o suficiente para que os pais de David deixassem Guto "tomando conta" da situação no hospital.
Giovana está vestida com a blusa do curso, calça e um sapato desconfortável, Guto está com os cabelos bagunçados, short e uma blusa velha, as olheiras profundas em seus olhos, ele olha para cada médico que passa, já tem tempo que eles tiveram alguma notícia, o quadro de David variava, estável quando chegou, depois disseram que ele não corria nenhum risco de vida e a última coisa que souberam era que o estado tinha se agravado vertiginosamente.
— Você tá melhor? — Guto questionou
— Não vou vomitar mais. Eu só preciso de uma notícia, uma palavra... Meu Deus como isso aconteceu? Por que ele tava fora de casa de noite? E tão longe de casa!
— Quero te mostrar uma coisa, mas tem que prometer, ficar só entre nós, mas por favor entre nós, não inclui seu blog.
Giovana estava mal demais para pensar em ser cruel, ela observou as mãos trêmulas de Guto desbloquearem o celular e mostrarem as últimas mensagem de Daivd enviadas às 10 da noite.
"Se eu sumir por mais de uma hora você me liga.
Não posso explicar muito.
Estou fazendo a maior merda da minha vida.
A Gi não sabe de nada.
Você é meu melhor amigo, eu amo você e quando tudo isso acabar você vai querer me matar.
É pelo bem do blog"
Correu o dedo rapidamente sobre as mensagens desesperadas de Guto atrás de informações e acabou na última mensagem de David.
"EU VOU ME ENCONTRAR COM O UNICÓRNIO."
Ela parou por um segundo e devolveu o celular.
— É uma piada?
— Não.
— O Unicórnio morreu, a Índia matou, não é possível que a teoria maluca dele estivesse certa... E ele vai morrer por isso? - Giovana tentou engolir todas as lágrimas - Ele pode ter se metido com qualquer um! Eu... Eu...
Guto a abraçou, conhecia David desde seus doze anos, sabia que se ele tinha algo em mente ia até o fim, mesmo sabendo que era burrice, Giovana se desvencilhou do abraço e pegou o próprio celular.
— Eu vou falar com a minha mãe.
Haviam tantas mensagens que ela mal conseguia prestar atenção no que fazia, ligou para a mãe, contando sobre as últimas notícias, e depois se voltou para as mensagens, Sol e Carol estavam desesperadas sem nenhuma notícia, mas o que chamou a atenção, foi um e-mail sobre o blog, na verde sobre comentários em um post de hoje, mas era impossível, ninguém tinha postado nada. Assim que abriu o blog, a vontade de vomitar voltou, alguém fez um post, cruel e cheio de ódio.
Havia uma imagem, uma tabela com as fotos de Mikaela, Sávio, Sol, Carolina, Índia, Daniel, a própria Giovana, Guto e David, a foto de David tinha um enorme X vermelho e em cima daquilo uma única frase.
Quem é o próximo?
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Índia não conseguia desgrudar do celular, a aula sobre as civilizações ameríndias não fazia sentido mais, Mikaela não sabia de nada, estava tentando aguentar a informação que David tinha tomado dois tiros, afinal de contas era a única coisa que todo mundo sabia.
O professor parecia perceber a inquietação dela e quando deu o intervalo, obrigou Sávio e Mikaela a pegarem seus coisas e irem para um local mais reservado.
— O que aconteceu? — Sávio segurou as mãos de Índia a encarando
— Eu preciso explicar com calma, preciso de toda a atenção
— Larga esse celular Mika! — Reclamou Sávio
— Não até o David me responder! Já mandei umas 500 mensagens!
— É sobre ele que eu quero falar... — Os olhos dos dois pararam sobre Índia — Ele não tá respondendo porque não tá podendo usar o celular, tá no hospital...
— Quebrou o braço? — Mikaela riu
— Não... foi pior... — Mika soltou alguma piadinha sobre Índia ser muito preocupada com tudo e o que fez Índia agarrar os ombros da menina — Mikaela, o David tomou dois tiros! E ele tá no hospital, eu não consigo saber o estado dele, o Guto sumiu, a Gi também!
— Como assim!? Pra qual hospital ele foi? Me explica direito isso!
— Eu não sei! — Quase gritou enquanto Mikaela procurava seu telefone algo
— Gente, vamos respirar. — Sávio me encarou - Se ele está no hospital, está em mãos seguras, e não podemos fazer nada...
O celular de Índia tocou, eles deram um pulo mas era apenas Luan... Índia encarou por um tempo, não fazia sentido, eles só tinham trocado algumas mensagens, não o suficiente para uma ligação, mesmo assim Índia atendeu.
— Você tá em casa? Onde você tá? Posso ir te buscar? — Ele foi direto, parecia nervoso
— O que? Calma. Eu tô na Universidade ainda, mas não tô entendendo...
— Índia, precisamos falar com você! — A voz de Daniel preencheu cada centímetro de Índia — Nós vamos aí, precisamos de internet e um lugar pra sentar!
— Biblioteca!
— O que foi agora? — Sávio quase gritou
— Daniel tá vindo pra cá, aparentemente é importante.
— Mas que merda tá acontecendo?
— Eu não sei!
Os três andaram apressados e se sentaram em uma das mesas que ficava perto da porta da biblioteca, o espaço era arborizado muito bonito, internet gratuita para os alunos e tomadas espalhadas por quase todos os prédios, Índia sentia o coração querer pular para fora, tudo parecia em câmera lenta, a respiração estava pesada, tudo parecia tão desregulado que ela mal conseguia prestar atenção em volta, só conseguiu voltar um pouco a realidade ao sentir uma mão tocar seu ombro e encarar o olhar preocupado de Daniel.
Luan estava logo atrás de Daniel, os dois usavam a blusa preta com o nome do curso e calça jeans, Luan usava o boné para trás e parecia mais desesperado que Daniel, os dois se sentaram e encararam os outros por um tempo.
— Sou o Sávio. — O garoto quebrou o silêncio tentando entender alguma coisa — Essa é a Mikaela... você deve ser o Daniel. — Sávio sorriu tentando ser amigável
— Isso e esse é o Luan...
O garoto tirava apressado da mochila o notebook e ligando mais desesperadamente ainda.
— Eu preciso de internet. — Sávio pegou o notebook e entrou no portal de acesso, colocando sua senha.
— Índia, você viu alguma coisa de estranha hoje? — Daniel segurou a mão de Índia — Nós precisamos mostrar algo para vocês... Mas eu preciso que não surtem.
— A Giovana tá me ligando... — Mikaela quase gritou e se levantou
Índia acompanhou a menina com os olhos, enquanto Mikaela gesticulava tensa.
— Coincidência ou não, viemos falar da Giovana...
— A gente já sabe sobre o David. — Índia começou — Não temos muito...
— Então você já sabe do post?
— Post?
— Ok... Alguém fez um post no blog da Giovana sobre...
Um grito e Sávio se levantou correndo para agarrar Mikaela antes que ela caísse em lágrimas no chão, todos em volta pareciam preocupados, outros alunos que estavam ali por perto pararam para ajudá-la, Sávio tomou conta do celular, o olhar dele para Índia foi certeiro, ela abriu a boca em choque e depois balançou a cabeça em negação.
— O que foi? — Luan questionava, enquanto Sávio trazia Mikaela de volta a mesa
— O David... O David... — Mikaela tentava se segurar - Ele...
— Merda. — Daniel se levantou e correu para cima do notebook, apontando alguma coisa para Luan — David.
— O que... isso é real? Daniel? O que tá acontecendo?
— Ontem a noite, o David tomou dois tiros... ele estava no hospital... e agora ele se foi... — A voz de Sávio era trêmula enquanto ele abraçava Mikaela — Precisamos ir para um local mais reservado...
— O que vocês vieram mostrar pra mim? — Índia encarou Luan — O que tem no notebook?
— Não, é melhor não... Eu posso levar vocês em casa...
Índia agilmente puxou o notebook para frente dela, em um primeiro momento um susto, mas logo depois entrou em análise e o choque logo bateu como uma machadada no peito. Quem é o próximo?
— Ok. Vamos... Eu não sabia o que tava rolando... ir para casa...
As palavras de Luan pareciam distantes, na verdade tudo, a única coisa que ela conseguia focar era na foto de David com um X e na mensagem clara que estava ali. Estava começando de novo.
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Mariana estava deitada na cama com Guto, ele finalmente tinha dormido depois de uma longa crise de choro. Ela estava tentando se sentir desolada com a morte de David, estava só triste, um pouco triste, se levantou e começou a encarar Guto, queria ansiosamente ir para casa.
Olhou para ele novamente e a primeira pergunta que veio a mente era: Valia a pena? Guto era bonito, charmoso e divertido, mas Mariana sentia saudade das meninas, de quando ela, Carol, Sol e Vanessa eram amigas, iam ao shopping, faziam festinhas do pijama, mas agora Vanessa estava morta, Sol e Carol a odiavam, ela sabia que tinha culpa, desde o momento que viu Guto tinha certeza que era o homem certo pra ela e não mediu esforços para agarrá-lo, por mais que ele fosse o namorado da amiga e resistisse a todo custo, mandava mensagens, pedia caronas, provocava de todos os jeitos possíveis, então as garotas perceberam e contaram a Vanessa, Vanessa se tornou insegura e o relacionamento dos dois um inferno, Guto só decidiu terminar quando Vanessa ia se mudar para outra cidade, Giovana não se importava com nada além do umbigo, mas David era um pé no saco, sempre direto sobre ela, sempre presente, até brigaram uma vez, muito feio, palavrões para todos os lados e Guto, mesmo que não demonstrasse, ficou do lado dele, aquilo tinha sido o estopim para que Mariana quisesse se livrar de David, e ela ia tentar afastar os dois de um jeito irreversível, mas não precisava, David estava morto.
Guto se remexeu na cama e então Mariana decidiu ir ao banheiro que ficava naquele mesmo quarto, terminou suas necessidades, lavou as mãos e quando estava saindo escutou um barulho, um click de janela se fechando, voltou ao quarto, e Guto estava na mesma posição dormindo, Mariana apenas deu de ombros e volta a se deitar e dormir. O sono é tão leve que no mínimo bater da porta Mariana acorda, agora ela está desperta e resolve beber um copo de água, a cozinha é longe, sai do quarto e passa pelo corredor, o quarto seguinte tem a luz desligada e porta fechada como deve ser, mas o último quarto em frente ao banheiro estava estranho, a luz ligada, Mariana sem óculos pouco enxergava, de perto era menos pior.
Mariana encarou a porta, pareceu ver uma pouca movimentação de uma sombra embaixo da porta, mas ignorou sem óculos era normal confundir um saco de lixo com um cachorro, por um segundo pensou em não abrir a porta, então a abriu e não tinha nada, nadinha, apenas desligou a luz e se virou de vez ao ouvir a porta do banheiro ser aberta.
Foi muito rápido, a coisa ou pessoa, pulou em cima dela, derrubando-a dentro do quarto, Mariana mal teve tempo de se debater, já recebeu um soco logo quando caiu, seguido de outros dois, tossiu desnorteado, recebendo outros socos no rosto, o gosto e o cheiro de sangue se misturaram, sentiu engasgar e depois tossiu, tão desnorteada, que o agressor se levantou, acendeu a luz e Mariana continuou no lugar, ela virou o rosto vendo apenas o borrão preto que se aproximava.
— Guto... — implorou, enquanto as mãos enluvadas analisaram seguraram seu rosto e apertavam com força
Mais socos e dessa vez Mariana mal conseguia se manter acordada, ela queria gritar, não era possível que não estivesse fazendo barulho suficiente para acordar Guto... Era uma péssima hora para os calmantes que ele tinha tomado no hospital fazerem efeito, foi quando sentiu sua perna ser puxada, seu corpo semi acordado estava sendo arrastado para perto da janela, onde foi levantada e jogada pela janela, seu rosto bateu tão forte contra o chão que que soltou um chiado e apagou.
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