18
Mikaela achou que seu mundo ia desmoronar quando descobrisse a verdade, mas ali encarando Sol, sentia apenas como esperado, parecia que Sávio gritava em sua cabeça todas as paranoias dele juntas. Ela estava ali, frente a frente com Sol e só tinha uma tesoura pequena para se defender.
Se sentiu burra por ter entrado no salão, deveria ter escolhido um lugar melhor, deveria ter escolhido algo com movimento dos lados, se as pessoas que estivessem passando na rua se atentassem a qualquer barulho, se as lojas do lado estivessem abertas, se ela não tivesse ido ao banheiro, mas pensar em tudo que podia ter acontecido não salvaria sua vida.
A assassina soltou a cabeleira, a mulher caiu no chão assustada e engatinhou rapidamente para a porta que não conseguiu abrir, Sol se virou um pouco o rosto balançando a chave na mão livre e a guardou no bolso da calça. Sol encarou Mikaela de cima a baixo, e então correu em sua direção, levantando o martelo.
Mikaela desviou pisando de lado e se equilibrando para não cair, não conseguia desviar os olhos do martelo e foi isso que a ajudou a se mover nas primeiras tentativas de aceitá-la, notando que Sol ficava irritada a cada falha e parecia ficar mais descuidada com os movimentos, Mikaela aproveitou disso para soltar a tesoura e meter a mão na bolsa, andou para trás ainda tentando segurar firmemente o canivete e quando conseguiu, se abaixou segundos antes de Sol mover o martelo. O barulho dos esmaltes sendo destruídos e caindo no chão fez a mulher aumentar seu lamento por piedade, Mikaela rolou pelo sofá, caindo no chão e se arrastando, Sol não perdeu tempo, desviando do sofá e pulando para cima de Mikaela, que gritou e se arrastou para o canto da parede apontando o canivete na direção de Sol.
Antes que Sol pudesse chegar em Mikaela, a mulher agarrou o calcanhar de Sol implorando para que a deixasse ir, Mikaela tinha certeza de ter visto um sorriso e então a mulher gritou quando foi atingida pelo martelo, soltando Sol que a acertou novamente.
— Para! — Mikaela gritou como se fosse ter algum efeito
Sol abriu um enorme sorriso e olhando para Mikaela acertou o martelo mais uma vez e a mulher parou de se mover.
— Pede de novo.
— O que!?
— IMPLORA DE NOVO! — Sol gritou
Mikaela se apertou ainda mais contra a parede enquanto Sol se aproximava. O que ela ia fazer com o canivete? Ia conseguir acertar Sol com crueldade? Devolver para a assassina todo o mal?
Mikaela se impulsionou para frente e se jogou para o lado, sua bolsa estava aberta e todas as coisas se espalharam, ela ficou em pé apontando o canivete como sua única salvação, Sol correu e se aproximou usando a mão livre para agarrar Mikaela pela roupa. Enquanto se sacudia, Mikaela movia o canivete para todos os lados, Sol soltou o martelo e segurou o braço dela, imobilizando-a.
— É assim que funciona... — Sol sussurrou — Você morre e o seu mindinho...
— Vai te catar! — Mikela gritou enquanto tentava acertar um chute — Eu não preciso escutar sua historinha! O que vai me contar!? Como é uma coitadinha e precisa matar!
Sol riu soberba.
— Coitadinha aqui é você! Cá entre nós, todas vocês eram, sofrendo por tudo, reclamando de tudo... Nem os seus mindinhos conseguem proteger. — Apertou o braço de Mikaela, a fazendo apontar o canivete na direção do próprio rosto — Você não é forte, eu sou.
— Matou as meninas... elas achavam que eram suas amigas...
— É chocante que você acertou. Vocês andam na rua como se fossem as donas do mundo, saem, sorriem, brincam, mas não conseguem proteger os mindinhos.
— Bela merda. — Mikaela se sacudiu e Sol a apertou com mais força ainda
Mesmo resistindo com toda sua força Mikaela não conseguia se livrar de Sol. Mindinho soltou uma das mãos e colocou na cabeça de Mikaela a empurrando em direção ao espelho, cerrou os dentes esperando que alguém milagrosamente abrisse a porta e a salva-se, ela não gritou e o barulho do vidro se partindo se sobressaiu, se sentiu tonta e tentou manter em pé, mas quando mindinho acertou novamente sua cabeça contra o espelho, o sangue escorreu de sua testa e ela se sentiu quase como se flutuasse.
Mindinho a soltou e Mikaela mal conseguia se focar em algo, tentou olhar para a assassina se gabando dos seus feitos mas não escutava tão bem, algo zumbiu em seu ouvido, ela conseguiu distinguir pela batida reconhecível do seu grupo de kpop favorito, seus dedos se moveram tentando se arrastar, seu corpo se projetou um pouco para frente e depois mais, foi então que Sol riu e se abaixou pegando o celular.
— Índia. — assobiou em deboche, seu rosto tomou uma expressão sofrida, ela tossiu arrumando a voz e atendeu o telefone — Índia! VOCÊ PRECISA ME AJUDAR! — As lágrimas escorreram no rosto dela, do mesmo modo quando Carolina morreu e Alex acreditou em suas lágrimas — Eu estou em uma casa... Eu não lembro onde é... Ela está vindo!
Sol olhou para Mikaela no chão e se sentou no sofá, olhando o estado caótico do salão enquanto chorava de mentira.
— Ela me prendeu aqui esse tempo todo! — Soluçou — Eu estou tentando me lembrar... É uma casa no meio da cidade... As paredes são forradas... Ela me prendeu aqui Índia! A Mikaela!
Ficou mais alguns segundos em silêncio na linha antes de desligar. Índia deveria estar surtando, pegou o celular e o colocou no bolso, deveria logo levar os dois corpos, enrolá-los na lona que levava em seu carro e ir para sua preciosa casinha. As coisas tinham saído um pouco do controle e ela não gostava disso, por enquanto Sol deveria estar morta em cima da cama e para quando a polícia descobrisse a verdade esperava ter Mikala em mãos de um jeito mais fácil, na sua cabeça tudo estava perfeito.
Quando começassem a busca pela verdadeira ela, Sol "escaparia" de seu cárcere e entregaria Mikaela, dizendo que havia sido presa e torturada, tendo até mesmo seu cabelo raspado para confundir todos na descoberta de identidade do corpo e Sol estaria livre, mindinho dormiria por alguns anos e então voltaria em uma nova cidade.
Mas Mikaela era difícil e resistente, balançou a cabeça e levantou, olhou para o corpo da cabeleira no chão e em seguida para onde Mikaela deveria estar, virou o rosto quase no mesmo momento que Mikaela acertou sua boca com o martelo. Sol cabaleou e caiu sentada no sofá, abrindo a boca ensanguentada e derrubando seus dentes, Mikaela segurava o martelo com as duas mãos, com a cara fechada, respiração ofegante e sangue marcando seu rosto negro, Sol balbuciou alguma coisa, antes de mais sangue sair de sua boca, e depois abriu um sorriso desdentado, ainda tinha uma carta na manga, sua mão se moveu para a arma escondida em sua cintura.
Mikaela foi esperta e tentou acertá-la com o martelo novamente, mas Sol se moveu para frente, desequilibrado seu corpo, as mãos da assassina foram para o pescoço de Mikaela, tentando se livrar do aperto e do sangue pegajoso que escapava da boca de Sol.
O telefone no bolso de Sol tocou alto, Mikaela se debateu mais ainda, não ia morrer ao som de Dumb Litty.
— Mikaela!? — A voz de Sávio do outro lado da porta chamou a atenção
Ele podia escutar barulhos vindo de lá dentro, coisas caindo ou se arrastando, forçou a porta, chutou, as poucas pessoas que passavam na rua o olhavam com desconfiança, forçou mais uma vez, pegando o celular pronto para ligar novamente quando notou a mensagem de Índia.
Sol estava com Mikaela...
Sol tinha sido levada por Mikaela.
Mentira. Chutou a porta novamente e tremendo segurou o telefone ligando para a polícia, finalmente alguém que passava pela rua resolveu parar e questionar o que estava acontecendo, foi quando o barulho de tiro explodiu no ar, logo após tudo ficou em silêncio extremo, Sávio não aguentou, mal conseguia dar as informações de onde estava, o homem forçou a porta mais uma vez e então conseguiu escancará-la. Sávio não perdeu tempo e entrou, logo travou e engoliu em seco, apertando o celular com força para que não caísse da mão.
— Mikaela!
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