Capítulo 11 - O Clichê do CEO e a Babá
Gabriela abriu os olhos. Sua primeira visão foi de um teto completamente diferente da casa de seu pai. Piscou algumas vezes, trazendo as lembranças os motivos que lhe faziam sentir-se completamente cansada, mesmo após dormir.
Em primeiro lugar, estava em cima de um colchonete no chão. Ao seu redor, as crianças dormiam e roncavam. Em seu peito, um bebê dormia de bruços, relaxado. E ao lado, com o rosto perto de seu ombro, havia um homem. O CEO de uma startup de tecnologia, Diego Bueno.
Gabriela sentiu o coração ir até a boca e voltar, recordando tudo que havia acontecido, reclamando por ter podido dormir apenas duas horas inteiras.
Noir, o bebê em seus braços, teve uma forte crise de cólicas. Foi só com os medicamentos que Sr. Diego trouxe da farmácia, seguindo as recomendações da farmacêutica, mãe de um bebê de seis meses, que o problema foi resolvido. Entretanto, o menino conseguiu apenas dormir no peito de Gabriela, naquela mesma posição e seletivamente na sala de estar.
Diego, sorrindo que o bebê havia parado de chorar e sentir dores, preparou um jeito para que todos dormissem na sala, com Gabriela. Ele trouxe de seu quarto colchonetes que disse usar quando acampava. Assim que a moça deitou, mantendo o bebê em seu colo, ele dormiu, embora ela não pudesse se mexer. Qualquer movimento era suficiente para acordá-lo, então, mesmo tentando deixar a pequena criatura confortável, ele era como um gato grudento, que dorme no meio das pernas do dono.
Ela passou as últimas duas horas na mesma posição, sentindo todo o corpo formigar. Pior, as crianças se cansaram de mexer nas coisas de Sr. Diego, e caíram no sono ao redor dela. Atena, agarrada a sua cintura, Pi do outro lado. Atoide achou um cantinho entre suas pernas. Sr. Diego apoiou a cabeça bem em seu ombro.
— Misericórdia... — ela murmurou, cansada.
Talvez por se mexer um pouco, Gabriela acordou o Sr. Diego. Ele abriu os olhos, em seguida saltou em pulo. Sentou-se, e Pandora estava agarrada a ele, dormindo com a boca entreaberta e babando. Ele parecia um pouco fora de área, por isso passou a mão nos cabelos ondulados, confuso, acordando como se uma barra de download transferia os dados da realidade para seu cérebro.
Assim que terminou de receber a alma de volta no corpo, Diego avaliou sua nova realidade. Gabriela pensou que ele fosse ficar furioso, irritado com o fato de ter sido colocado em uma posição onde metade dos homens não queriam estar. Ela lembrou-se de Nando Werneck zombando, dizendo que os homens com filhos eram fracos e perderiam sua paz e dinheiro para sempre. Seu coração ficou acelerado.
Wermeck era o tipo de homem que dava apelidos estranhos para mulheres, dizendo que apenas unicórnios eram suas preferidas. Ele achava que Gabriela era um unicórnio. Mesmo na cara dela, constantemente falava sobre todas as mulheres, exceto as unicórnios, estavam interessadas em "roubar" os homens. Odiava a ideia de ter filhos, pois iriam ferrar sua felicidade para todo sempre, sendo uma garantia de renda para mãe. Ele até mesmo havia feito vasectomia, para não ter bebês. Seu ideal de família era um homem, mulher e seu salário protegido por um contrato de separação de bens.
Gabriela foi consumida por sentimentos negativos devido ao comportamento insensível do homem em questão, que nem mesmo era seu parceiro. Ela começou a julgar todos os homens de forma geral, baseada naquele idiota.
Quando viu o olhar de Diego lhe olhando de lado, ela se encolheu e apertou as pontas dos dedos no macacãozinho de Noir, tensa, temendo uma chuva de gritos e ofensas.
No entanto, Sr. Diego bocejou e resmungou, então, disse:
— Que horas são? — mexeu a boca como se sentisse um gosto ruim. — Acho que dormi demais...
Gabriela ficou tensa quando o rapaz levantou a mão, mas relaxou ao ver que ele apenas acariciou suavemente os cabelos escuros de Pandora. Ele bocejou, e sua outra mão foi direto para a camisa, coçando a pele visível. Quando ele levantou um pouco o tecido da camisa, Gabriela viu que ele tinha um tanquinho.
— Tudo bem, acho que vou dormir um pouco mais — ele se jogou nos travesseiros. — Posso fazer trabalho remoto mais tarde. Talvez, por um mês...
Pandora reclamou algo sobre querer ração de peixe, e voltou a relaxar ao lado de Sr. Diego. O CEO relaxou, virando-se do mesmo jeito que esteve antes, regressando ao seu sono bem ao lado do ombro de Gabriela.
Sentindo o rosto corar, Gabriela passou a mão na testa. Ela iria morrer por falta de circulação no corpo se não se mexesse. Suas pernas estavam perto de gangrenar se não movesse um centímetro.
Preocupada, envergonhada e muito cansada, a moça se levantou com o máximo de cuidado para não acordar nem o bebê, tampouco as outras crianças. Quando se colocou de pé, seus joelhos falharam, e teve de se apoiar no sofá, segurando Noir para ele não cair.
— Volte aqui — reclamou Sr. Diego, remexendo-se incomodado. — Sabe quanto tempo estou sem dormir decentemente? Seis meses. Estou todo esse tempo com uma severa insônia!
Ele levou o pulso até a testa, e olhava com um olho meio-fechado para ela. Era tão lindo que Gabriela achou que um vulcão explodiu em algum lugar, acelerando o seu coração.
— É a primeira vez que durmo mais de quatro horas — Sr. Diego disse, suspirando.
— Pre-preciso me mexer, ou vou morrer sem circulação — ela gaguejou, tentando não morrer de enfarto. — Além disso, seria bom levar Noir ao médico.
— Finalmente, ele parou de chorar — suspirou Diego, bocejando. — Tudo bem agora.
Em resposta, Pi, Atena e Atoide se aproximaram de Sr. Diego, como gatos procurando calor e conforto.
— Tu perdeu o seu lugar — disse ele, sorrindo de forma encantadora. Gabriela achou que podia ter havido um lançamento de foguete no espaço, ela até olhou para cima.
Mas, logo em seguida, Diego fechou os olhos e voltou a dormir. Gabriela achou melhor se afastar, para evitar qualquer problema cardíaco.
Levou Noir para uma inspeção leve, pois o bebê havia acabado de acordar. Ele estava com as fraldas muito sujas, mas não parecia sofrer de cólicas. As dicas da farmacêutica foram de grande ajuda — nada superava uma mãe experiente!
Mesmo com o corpo todo dolorido, Gabriela começou a seguir os passos de um vídeo na internet, ensinando como dar um banho em bebês. Ela estava animada com o processo, e se sentiu bem mais confiante ao ver que conseguiu trocar as fraldas e vestir Noir com facilidade.
Para sua sorte, depois da noite de incessantes chororôs, Noir era na verdade um bebê incrivelmente alegre e esperto. Aparentava ter uns dez meses, e tinha um sorriso encantador, assim como uma risada contagiante. Gabriela não conseguia resistir à sua animação e energia. Enquanto cuidava dele, descobria mais sobre sua personalidade e se apaixonava ainda mais por ele. Apesar de ser pequeno, Noir parecia ter uma presença forte e carismática. Ela adorava fazer-lhe carinho e falar com ele, que respondia com algumas palavras.
Gabriela estava tão concentrada em cuidar do bebê, que nem percebeu o avanço das horas, já era nove da manhã.
Logo em seguida, Gabriela se virou para a cozinha, onde começou a preparar o café da manhã para todos. Sr. Diego e as crianças precisavam de um bom começo de dia para ter energia e disposição. Enquanto o café da manhã estava sendo feito, Gabriela ouviu o barulho de passos se aproximando da cozinha. Era Sr. Diego, que acordou com o cabelo todo bagunçado.
Ele parecia um pouco atordoado, bocejou ao sentar na cadeira da mesa da sua cozinha, que era bem espaçosa para um apartamento. Nada disse, apenas bocejou e coçou os cabelos bagunçados.
— Desculpe, Sr. Diego não queria me apropriar da sua casa — explicou Gabriela, tentando justificar sua ação. — Acabei fazendo o café da manhã sem sua permissão.
Sr. Diego lhe olhou para ela, bocejando antes de responder.
— Sem problemas — ele despertou de leve ao ver Pandora se arrastando, morrendo de sono. Ela se encostou no ombro dele, voltando a dormir de pé. Ele riu, dando conforto em seu colo.
Mas as outras crianças começaram a acordar, Atoide muito irritado, reclamando de fome, Pi bocejando, descabelada e Atena perguntando se tinha ração para comer, chamando Gabriela por mãe.
— Quero café um pouco amargo, puro, por favor — pediu Atoide. — Preciso de um pouco de café para começar o dia.
— Nem pensar — Gabriela lhe serviu um leite e bolachas. — Quando estiver mais velho, quem sabe pode começar tomar a café.
— Mas não sou uma criança, tenho mentalidade de 30 — Atoide reclamou, retorcendo a boca para sua refeição.
— Seu corpo é de um bebê, então, é melhor comer algo leve, garoto — Gabriela lhe puxou a orelha de leve.
— A Pi quer leite! — Pi pediu, se confortando na cadeira ao lado de Atena.
— Eu quero leite de peixe — Atena falou, animada.
Ao ouvir a palavra "peixe", Pandora despertou.
— Também quero, peixe! — disse, ligando-se. — Me dá peixe, mamãe!
Sr. Diego olhou ao redor, e Gabriela se preocupou novamente que fosse mandar todo mundo embora. Ele estava rindo, observando tudo como se estivesse em um parque, divertindo-se. Olhando de lado, preocupada, enquanto servia leite e pão com geleia para Pi, Atena e Pandora, percebeu que virou o rosto para Noir. O bebê estava indo muito bem, comendo com seus dedinhos gordinhos a fruta que ela descascou para ele, sentado na cadeira que compraram para alimentar bebês.
— Sinto muito, Sr. Diego — Gabriela se desculpou, observando-o diretamente. — São crianças muito barulhentas. Vou levá-las para casa, e não vão te incomodar, prometo.
— O quê? — Sr. Diego arqueou as sobrancelhas em direção a mão dela, que lhe servia uma xícara de café. — Por que está me chamando de "Senhor" Diego? Foi criada nos século XVIII por acaso?
— Desculpe-me, não somos tão próximos e, bem, estamos nesta situação por acaso — Gabriela respondeu, virando-se para cuidar de Noir. — E, além disso, tu é como meu chefe.
Diego riu enquanto bebia seu café.
— Não precisa se desculpar — bufou como se aquilo fosse um absurdo. — Pode me chamar de Diego e não se preocupe com as crianças também. Tu disse que elas estão aqui por acaso, então, por que ficaria bravo com isso? São crianças, apesar de um dia terem sido gatos.
Ele olhou para Pi e Atena e começou a rir.
— E uma delas é um alienígena — Diego continuou. — Sinto como se estivesse vivendo uma aventura de RPG.
Gabriela franziu a testa, sem entender.
— Não se preocupe, guria — Diego acalmou-a, passando manteiga em um pedaço de pão. — Depois que fui adotado, cresci sozinho em uma casa vazia, sempre quis ter irmãos, mas meus pais só queriam um filho. Então, eu não estou bravo por ter uma manhã animada.
Ele se inclinou para frente, sério:
— Além disso, tu está cuidando tão bem dessas crianças, e ainda preparou o café da manhã. Não posso reclamar.
Apesar de agradecida pela compreensão de Diego, Gabriela ficou curiosa sobre seus verdadeiros sentimentos sobre tudo aquilo.
— Obrigada — ela disse. — Eu só quero fazer o melhor as crianças.
Diego sorriu de volta.
— Eu sei. Tu está fazendo um ótimo trabalho — em seguida, mordendo um pedaço de pão, ele perguntou: — Assumir as crianças em uma situação dessas é muito nobre. Diversas vezes só pensei em deixar o bebê na assistência social...
Gabriela o olhou, recordando que quase o fez. Mas lembrando do rosto do velho que um dia quase lhe sequestrou, sentiu um arrepio descer por suas costas, deixando a colher com o mingau de Noir parado no ar.
— Não posso descartar minhas crianças — disse ela, olhando para os pequenos em volta da mesa.
Suspirou, sem ideia de quando começou a considerá-los dela.
— Claro que não — disse Atoide, ainda muito mal-humorado. — Tu poderia até ser presa, segundo meu sistema auxiliar acusa. Todos nós temos seu DNA, a polícia acharia que é só uma maluca tentado abandonar os próprios filhos.
Ela olhou para o menino, arqueando as sobrancelhas. Abriu a boca para falar, mas preferiu não saber nada daquilo.
— O que é esse sistema auxiliar? — perguntou Diego, curioso.
— Não é como se um idiota como tu pudesse entender — Atoide bufou, bebendo seu leite.
— Ati! — reclamou Pi. — Ati mau!
Diego tentou segurar, mas riu.
— Se não sabe garoto, sou considerado uma das mentes mais brilhantes desse país — revelou, apontando para si mesmo. — Responsável pelo sistema financeiro de créditos-reais.
— Um programa baseado em matrizes financeiras básico, feito com a lógica humana matemática básica — Atoide bufou novamente. — Se acha tão inteligente com algo tão básico? Tu choraria com a lógica de sintaxe totem do Sistema Aaru. Só para ter uma ideia, eles usam lógica computacional para programar tudo, tudo mesmo! Até os corpos das pessoas. Jamais entenderia, e choraria feito um bebê chorão.
— Ati! — Gabriela repreendeu o menino, sem compreender completamente o que havia dito.
No entanto, Diego estava animado, colocando a mão na mesa e se aproximando de Ati.
— Ei, guri, tenho uma pergunta. Tu é inteligente, então, me prove que sabe tudo sobre sintaxe totem — desafiou Diego, o que fez Ati ficar ainda mais irritado.
— Está duvidando da minha inteligência?
— Não, claro que não. Só quero confirmar o que sabe. Seria incrível se pudesse me ensinar também. Um homem inteligente sabe que o conhecimento deve ser compartilhado.
— Sr. Diego! — Gabriela sacudiu a cabeça, tentando interrompê-los.
Mas Diego sorriu para ela.
— Por favor, me chame apenas de Diego. E decidi: quero que traga as crianças todos os dias.
— O quê?
Ele se levantou, tirando a camisa e cheirando-a. Resmungou algo sobre precisar tomar um banho. Gabriela sentiu o coração acelerar ao ver o corpo forte e musculoso dele. Ela tentou desviar o olhar, mas era como se seus olhos estivessem presos naquele cenário, deixando sua mente completamente vazia.
Cada detalhe do seu corpo, cada músculo, cada curva, parecia gritar para que ela olhasse novamente. Seu peito, liso e definido, se movia suavemente enquanto ele respirava. Gabriela tentou controlar a respiração, mas parecia impossível. O simples ato de olhar para ele fazia seu coração bater mais rápido.
— Lembra? — Diego disse, jogando a camisa no ombro.
— Hã? — Gabriela ficou confusa de repente.
Diego sorriu enviesado.
— Tu foi contratada como minha babá, Gabriela — ele fez um movimento com a cabeça, parecendo curioso.
Gabriela havia esquecido completamente disso. Ficou boquiaberta, com a mão suspensa no ar.
— Não se esqueça — ele disse, com o que lhe soou provocador ao passar a mão no peito musculoso.
Engolindo em seco, Gabriela sentiu Noir agarrar a colher de sua mão, gritando irritado. Ela viu Diego se afastar, rindo, com Ati se levantando no mesmo momento para correr atrás dele, reclamando do desafio.
— Espera, humano, quero esclarecer que sou um dos cérebros mais inteligente dos Cosmos!
— Ah, é? Me explique, então.
Gabriela abaixou a cabeça, enrubescendo. As meninas continuavam falando sobre a comida, sem se intimidarem com o estranho homem. Elas eram inocentes. Gabriela se lembrou do corpo de Diego e percebeu que era a única não-inocente ali.
Agora, pensou consigomesma, seria uma história clichê de um CEO e uma Babá?
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