Capítulo 23

— Parabéns, Judy. Você acertou 99% da sua prova de recuperação final em história. Confesso que não esperava sua escolha em comparecer, estou orgulhosa.

— 99? Eu acertei 99?

A sala de aula estava vazia, na verdade toda a escola estava. A senhorita Brenner ficou bem decepcionada por ter que abandonar seus confortáveis dias de descanso com a família para aplicar a prova a somente uma aula retardatária, quando acreditava que o assunto tivesse sido encerrado.

O dever a chamou, e todos ficaram bravos com Judy após seu chilique por querer prestar a prova.

A coordenadora da escola fez uma ligação de emergência para a diretora, explicando a situação. O psicopedagogo precisou intrometer-se na situação e explicar a importância da decisão da criança de enfeitar seu medo, e como aquilo aliviaria sua tensão. O pai e a mãe não ficaram nada felizes, e a pobre professora, lá no fundo de sua alma, desejou que ela não tirasse 100% nessa prova, só como castigo por interromper seus merecidos dias de descanso no interior e fazê-la pegar a estrada de volta.

Deixaram somente uma carteira na sala de aula, ligaram o ar condicionado, e, completamente sozinha com a professora Brenner, um globo terrestre e um quadro-negro com as palavras "Bom descanso" escritas em letra cursiva, Judy finalizou sua prova e entregou para correção em pouco menos de uma hora

— 99% Você errou uma questão. Uma questão boba, de menor pontuação possível. Na verdade, nem sei o que essa questão faz na prova. — Justificou-se, com medo da estudante ter outro problema de nervos. - Você acertou questões muito importantes sobre cultura egípcia, datas... Estou impressionada.

— O que eu errei, senhorita Brenner?

Judy levantou, deixando o lápis e a borracha rolarem pelo chão. Vestia a farda da escola, sugestão do pai; o cabelo amarrado em um rabo de cavalo ridículo, sugestão da mãe. Passou a noite inteira acordada, pensando na prova, era questão de honra. Honra por Oliver LeBlanc e tudo que passou.

A infeliz professora, jovem para a função, cruzou as mãos sobre a mesa, sorrindo desgraçadamente por não ter mentido sobre a nota. Professores não são seres dotados de sabedoria e paz interior o tempo inteiro, às vezes eles são só seres cansados esperando ansiosamente por um salário mínimo e uma folga, abrindo a geladeira de noite e encontrando alunos furiosos com um 99% como Judy Henderson, ou simplesmente cobranças quanto a notas e correções.

— Você errou a questão de número quatro. A questão pergunta de forma simples e direta qual país possui como capital a cidade Paris, você respondeu que Paris é capital da Itália. Só isso.

Judy correu até a mesa, vários passos ecoaram pelo vazio silencioso da sala, estendeu as mãos sobre a mesa e fitou profundamente a senhorita Brenner, de maneira maníaca e assassina.

— Oh senhor, é tarde demais para desistir de história e vender minha arte na praia?

— Eu respondi que Paris é a capital da Itália?

— Não, eu errei. Desculpa, tá? Corrigi muito rápido. Você na verdade tirou 100!

— Puxa que bom, sabe, eu estive nessa cidade e seria um tanto trágico que não soubesse. — Afastou as mãos da mesa da professora, uma gota de suor lhe escorrendo pela testa. — Por um momento pensei que meu cérebro tivesse bugado e pregado uma peça durante a aplicação da prova, é óbvio que eu sei que Paris é a capital da França!

— Sim, você foi muito bem. Meu cérebro que pregou uma peça, não se preocupe. Eu estou corrigindo meu erro agora. Parabéns pelos 100%, Judy. — Enquanto a menina se virou para pegar seu material do chão, a professora revirou desesperadamente sua bolsa até achar sua borracha, apagou com as mãos trêmulas e resposta errada de Judy e com seu lápis marcou a certa, enviaria o documento juntamente com o boletim para a coordenação.

— Até o próximo ano letivo! — A expressão da menina mudou completamente, confundindo a mulher. Ela passou de uma maníaca perturbadora para uma criança adorável e inocente.

— Eu não sei se serei sua professora, querida. Tenho alguns planos, outras profissões que quero seguir... Mas preciso pagar as prestações do carro, então até o próximo ano letivo, acho.

— Senhorita Brenner, o que vamos estudar em história na próxima série?

Recolhendo sua pasta e colocando a alça da bolsa sobre o ombro, a mulher preparou-se para sair. Só queria que aquilo acabasse.

— Bom, nós vamos ver os grandes conflitos do século XX, como a primeira e a segunda guerra mundial, a grande depressão, a União Soviética... Já ouviu falar?

Uma imagem angustiante dela correndo pelas ruas da Alemanha sob ataque aéreo, perseguida por nazistas furiosos e esbarrando com Hitler em uma esquina quase a fizeram desmaiar, aquele olhar maluco deve ter reaparecido sobre seus olhos como uma sombra, pois a professora adiantou-se e sua mão agarrou a maçaneta da porta com força.

— Poxa, senhorita Brenner, terei que me esforçar o dobro para não ficar de recuperação na próxima série. Não seria trágico se eu por acaso ficasse de recuperação no assunto das guerras mundiais?

— Judy Henderson, juro pela minha vida que enquanto eu for sua professora, jamais ficará de recuperação em história novamente.

— Obrigada.

— Boas férias.

Então ela ficou sozinha na sala, caminhou até o globo terrestre e encostou seu dedo indicador sobre a Ucrânia, porque pensou que a França fosse a Ucrânia. Não estudou o mapa. Fechou os olhos e lembrou-se de Oliver.

— Tirei 100, amigo. Você não estaria orgulhoso de mim? Venci minha própria revolução, e acho que já está na hora de comprar um novo smartphone.

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