Capítulo 6 (extra) - Rodolffo, DR e o Seminário

N/A: Salve, salve, minha gente. Chegay com atualização!

Bora lá ler?!

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❤️❤️❤️


- Vou contar pra ela isso, visse!

- Ei, nem se atreva, ficou maluca?!

Juliette caiu na risada do pavor que tomou conta da expressão de Rodolffo quando sentiu o celular vibrar no bolso traseiro da calça.

- Espera, meu celular. - a cardiologista puxou o aparelho ainda rindo e seu sorriso se alargou mais ainda ao ver quem ligava, chamando a atenção do amigo.

- Ih! Só por esse sorrisão de pateta já até suponho quem seja! - zombou o traumatologista.

Juliette lhe deu língua feito aquelas crianças birrentas e atendeu a chamada sob o olhar curioso do amigo.

- Oi, amor!

A cardiologista viu seu amigo fazer uma careta engraçada e depois fazer coração com as mãos. Ela lhe desferiu um tapa na perna, fazendo o homem rir.

- Pra quem ia tentar não demorar né?... Você já viu as horas? São seis da tarde. E o tempo está fechando.

- Nossa, já são tudo isso? Nem vi a hora passar. Fiquei de papo aqui com o... - ela se interrompeu bem a tempo de falar o nome de Rodolffo.

- Com quem você está de papo aí?

Ele lançou um olhar a Rodolffo e achou melhor não contar por telefone que estava em sua companhia. Já basta a cena do hospital para ela ainda adicionar mais isto. Se bem que, de qualquer forma, ela teria de contar. Mas seria bem melhor fazer isso cara-a-cara do que soltar essa informação pelo telefone.

- Quando chegar em casa te conto. E daqui a pouco já estou indo. Beijos, amor. - encerrou a chamada antes que Sarah ousasse insistir em saber com quem ela estava ali.

A verdade é que foi uma tremenda coincidência encontrar Rodolffo por ali. O enxergou primeiro e ia dar meia volta e ir embora de fininho, mas por alguma razão desconhecida, ele olhou para trás e lhe viu. Não pensou duas vezes em gritar seu nome e vir falar com ela.

"Ju que surpresa!"

"Eu que o digo! O que faz por aqui?"

"A Rafa veio fazer uma sessão de fotos aqui no parque com outras modelos. E como eu falei que não ia rolar de jantarmos, porque não consegui trocar minha folga. Ela então me convidou para tomar um sorvete e conversar depois que acabar sua sessão de fotos.", explicou e só então notou um cachorro conhecido com Juliette. "Ei, esse é o Bento. O que você faz com o cachorro da Sarah?"

Ela inventou uma desculpa qualquer, que não colou nada. Rodolffo então a pressionou pela verdade, já que estava na cara que sua amiga mentia descaradamente. No fim das contas, Juliette acabou abrindo o jogo com o amigo e revelando seu namoro secreto com a chefe deles. Viu o choque estampar a cara de seu amigo. Rodolffo chegou a ficar pálido que Juliette até achou que ele fosse desmaiar. Depois que ele se recuperou, o que levou um par de segundos, quis saber tudo sobre aquele "caso" delas, que Juliette tratou de corrigir dizendo não se tratar de um caso e sim, de um namoro sério.

"Por isso você não me dava moral, por causa dela né? Vocês já estavam juntas?"

Foi então que ela contou que na época que ele chegou e ficava flertando direto com ela, Sarah e ela não estavam juntas ainda, mas que ela já amava a outra médica e que por isso não tinha espaço em seu coração para outra pessoa. Contou toda a história delas desde o começo lá atrás quando se conheceram em uma palestra. Depois as mensagens que trocaram por meses até perderem o contato e se reencontrarem anos depois na sala de Dílson quando ele a apresentou para Sarah como a nova integrante de sua equipe. Relatou também sobre as rejeições que sofreu da parte de Sarah por dois anos até que um dia ela a procurou, se declarou e pediu uma chance e desde então estavam juntas.

"Cara que história!"

"Não foi fácil, mas hoje em dia tem sido maravilhoso cada momento nosso juntas."

Logo em seguida, ela pediu ao amigo que agora que ele sabia sobre ela ter alguém, que ele parasse com aquela mania de segurar sua mão como se eles fossem um casal e também parasse com os flertes para cima dela, porque isso incomodava muito Sarah. O que ele concordou na hora, alegando em brincadeira que não ia mais fazer para não correr o risco de ser demitido pela chefe por mexer com a mulher dela. Juliette lhe acertou um leve soco no braço, resmungando um: idiota. Em seguida ainda compartilhou com ele sobre seu descontentamento a respeito das piadas que fazem envolvendo a ela e ele. Avisou que ia dar um basta no próximo turno. Pretendia reunir o pessoal e pedir para pararem com aquelas piadas de que ela e Rodolffo têm algo.

"Não! Deixa comigo, Ju. Eu mesmo faço isso. Assim você não se expõem e nem expõem sua relação com a Sarah."

"Obrigada. Mas eu acho que devo falar. Já estou de saco cheio dessas brincadeiras sem graça, principalmente as vindas do Arthur."

"Estou pedindo que deixe comigo, Juliette. Não diz nada. Eu vou dar uma enquadrada legal nele e nos outros, tá?", Ele tocou a mão dela com carinho.

"Tá, piruca!", Sorriu ao ver o amigo revirar os olhos em desagrado pelo apelido.

- Cara, é tão estranho ouvir você chamando a Sarah de amor.

- Oxe! Estranho porquê? - indagou ao guardar de volta o celular ao bolso da calça. - Os casais não se chamam carinhosamente assim, não?

- Sim. Mas é que... sei lá... ainda vou demorar para me acostumar a ver vocês como um casal.

- Rodolffo, pelo amor de Deus, isso é para ser mantido em segredo. Você sabe que nós duas podemos sofrer punições a este respeito.

- Já entendi. Quantas vezes vai repetir isso? Eu não sou o Gil, não. Pode ficar tranquila que vou guardar seu segredo, moça.

- Obrigada. E eu só te contei, porque você me aperreou por demais, peste.

O traumatologista riu ao ganhar um leve golpe da amiga na coxa esquerda.

- O Gil vai se corroer de ciúmes quando souber que não foi o preterido para saber desse segredo.

- Gil é um boca aberta que nem a Kerline. Por isso que não contei a ele e nem a Sarah contou a melhor amiga dela. Eles podem acabar dando com a língua nos dentes, não por maldade, sem querer mesmo. E isso chegar aos ouvidos de quem não deve ainda.

- Dílson? - supôs com um olhar interrogativo.

- Sim. Ele vai nos trocar de turno na hora que souber. Sem contar que nos fará enfrentar um inquérito administrativo por se tratar não só de uma relação entre colegas de trabalho, mas também entre chefe e subordinada, o que agrava mais a situação. Sarah pode ser questionada quanto as suas avaliações a meu respeito.

- É, a punição pode ser pesada tanto pra ela, quanto a você. - ponderou Rodolffo com um tom sério.

- Mais pra mim que tenho menos bagagem que ela. Sarah é muito bem vista e quista pelo alto escalão do hospital.

- Isso é verdade. Mas vocês não podem ficar reféns deste segredo para sempre, Ju. Uma hora Dílson e todo mundo vai ter que saber de vocês.

- Sei disso, Rodolffo. E nem nós queremos fazer disso um eterno segredo. Mas ainda acho que não é o momento. Não estou preparada para ter que me separar da Sarah no trabalho. E acho que nem ela de mim. Ambas gostamos de trabalhar juntas e sabemos muito bem separar as coisas lá dentro. Somos profissionais o bastante para isto.

- Sem dúvida isso vai contar e bem a favor de vocês.

- É o que espero. Sarah jamais me favoreceu lá dentro desde que iniciamos nosso relacionamento. 

- Agora posso te fazer uma pergunta importante?

- Faz! Mas não é sobre a minha intimidade com a Sarah não, né?

- Claro que não! Eu só lá indiscreto a esse ponto, moça? Isso aí já é o departamento do Gilberto.

Ambos caíram na risada. Juliette sabia bem que assim que seu outro amigo tomasse conhecimento de sua relação com Sarah, as perguntas iam ser as mais indiscretas e descabidas possíveis.

- Faz a sua pergunta então, piruca.

- Ela te faz feliz?

Juliette sorriu de uma forma que até seus olhos brilharam, algo muito bem notado por Rodolffo.

- Como ninguém até então tinha feito, Rodolffo. Sarah é uma pessoa incrível.

- Mas que te machucou. - pontuou com seriedade. - Por que dar uma chance a alguém que te machucou um bocado?

- Porque o meu amor era e é tão grande por aquela mulher que me impediu de nos negar uma chance quando ela me procurou, pedindo isso Rodolffo. E eu tinha razões de sobra para dá um belo fora nela, mas não consegui.

- Você tem um coração de ouro, Ju. Eu não sei se teria essa sua capacidade de perdoar tão fácil e aceitar dar uma chance a alguém que me machucou assim.

- Acredito que as pessoas merecem uma segunda chance. 

Ele assentiu e tocou o ombro da amiga. Ela era uma pessoa incrível. Sarah tinha sorte de ter uma mulher como Juliette do seu lado.

- Pra mim, ela não parece levar muito jeito com relacionamento. - ele fez uma careta engraçada. - Sempre tão séria e sisuda. Ela sabe cuidar de você, Ju?

- Sabe até demais. - sorriu ao lembrar de cada gesto de cuidado e carinho da outra para consigo. - Amigo... por trás dessa imagem de séria e sisuda, há uma Sarah tão doce, amável e de sorriso fácil.

- Então essa Sarah aí é exclusiva sua, porque ninguém a vê circulando pelo hospital.

- É que ela é exclusivamente minha e de mais ninguém mesmo.

Os dois sorriram e nesse instante uma moça chegou no banco onde eles conversavam.

- Rodolffo!

- Rafa! - ele se levantou e trocou um abraço com a moça. - E aí, terminou a sessão de fotos?

- Sim. Interrompi algo? - ela olhou para Juliette. De longe viu aquela mulher de papo e altas risadas com Rodolffo e se incomodou um pouco.

- Que nada! Deixa eu te apresentar. Essa é a Juliette, uma amiga e colega de trabalho.

- Olá! - Juliette se levantou e saudou a outra lhe estendendo a mão em cumprimento.

- Olá, Juliette.

- Você é linda! - elogiou a outra.

- Obrigada. Você também.

- Se deu bem hein, piruca? - socou o ombro do amigo.

- Piruca? - Rafaella olhou sem entender para Rodolffo.

- É um apelido ridículo que ela insiste em me chamar. Já te pedi pra parar com ele, Juliette.

- Mas não paro. Gosto dele.

- E eu o odeio.

- Problema seu!

- E essa coisa linda, quem é? - Rafa se agachou para acariciar o labrador sentado ao lado de Juliette.

- É o Bento. O filho de quatro patas da minha namorada e meu.

- Namorada? - Rafa lançou um olhar para Juliette.

- Sim. Eu namoro uma mulher, linda por sinal. Algum problema com isso?

- Imagina! - Rafaella se pôs de pé. - Uma das minhas melhores amigas a Gizelly é casada também com uma mulher.

- Bom a Ju também é praticamente casada, já que mora com a Sarah, que por sinal é nossa chefe.

- Rodolffo! Não faça eu me arrepender de ter te contado a verdade.

- A Rafa não trabalha no hospital. Então não há riscos.

- Pelo visto é um namoro secreto.

- Sim. Lá há restrições sobre relacionamento entre membros da mesma equipe médica. - explicou Rodolffo.

- Nossa, ainda existem lugares com essa regra. Me parece tão antiquado. Mas não se preocupe que seu segredo está bem guardado comigo, apesar de termos nos conhecidos agora.

Juliette assentiu agradecida.

- Bom vou nessa. Minha namorada já ligou reclamando da minha demora.

- Ah, a Sarah faz marcação cerrada em você é? - zombou.

- Não. É bem o contrário. Eu que faço com ela. E antes que pergunte, eu também sou a mais ciumenta.

- Olha que tenho lá minhas dúvidas nisso. Acho que entre vocês é empate técnico quanto a ciúmes. 

Agora que sabia do relacionamento da chefe com Juliette, ele conseguia entender aqueles olhares assassinos que ela lhe lançava sempre que fazia algum gracejo a Juliette ou lhe abraçava ou qualquer outra brincadeira do tipo. E a forma hostil que sua amiga reagia a outras mulheres perto de Sarah, principalmente Viviane.

- Ela é um pouco, mas te garanto que sou bem mais que ela. - afirmou sem hesitar. - Rafa foi um prazer te conhecer. - estendeu a mão a outra. Havia se simpatizado com a outra moça, mais ainda depois do que ela tinha dito sobre manter seu segredo guardado, sendo que ela não tinha qualquer motivo para isto, já que acabavam de se conhecer. Torceria para as coisas entre ela e Rodolffo engrenarem e darem certo.

- Digo o mesmo. - apertou a mão da outra. - Tchau coisa linda. - tocou a cabeça de Bento.

- Tchau piruca.

- Tchau sua chata, ciumenta.

❤️❤️❤️

Sarah assistia uma série na TV da sala quando escutou o barulho de chave na fechadura da porta.

- Pensei que iam dormir lá pelo Ibirapuera. - comentou sem tirar os olhos da TV ao se dar conta da porta ser aberta e fechada.

- Por que? Ia sentir saudades?

- Talvez! - ela lançou um olhar por cima dos ombros na direção dos dois recém chegados.

Ao notar o leve sorriso no rosto da namorada, Juliette relaxou mais. Pelo visto sua amada não estava mais zangada como no hospital. Mas sabia que a conversa de qualquer forma ia rolar entre elas, porque Sarah não era de deixar para lá conversa quando ela dizia que queria ter uma.

- Mentirosa! Tá aí quase rindo. Ia sentir horrores a nossa falta e fica mentindo, né Bento?

O cão latiu e após ser solto correu até o sofá para ganhar um afago da dona.

- E aí, filhote, brincou muito no parque, hum? - afagava a cabeça do cão que retribuía o carinho lambendo seu rosto e lhe arrancando alguns sorrisos.

Ainda próxima a porta, Juliette apenas admirava abobalhada a interação dos dois e os sorrisos que Sarah deixava escapar, os quais iluminavam seu belo rosto. Se lembrou da fala de Rodolffo sobre Sarah ser séria e sisuda. De fato ela era isso e tinha lá seus momentos de introspecção e silêncio também quando estavam juntas, mas eram raros esses momentos. Na maioria das vezes quando estavam juntas, ela era com a namorada o oposto do que se mostrava ser em seu ambiente de trabalho. Era doce, cuidadosa, amorosa, tímida sim em certas ocasiões, mas às vezes bastante desinibida em outras. Mas também conseguia ser ranzinza sim. Ciumenta também. Teimosa por demais. Porém suas qualidades ofuscam esses seus defeitos.

- Ah, ele correu e brincou bastante. - contou Juliette se dirigindo ao sofá onde a namorada estava após se livrar do calçado e deixá-lo perto da porta.

- Então se divertiu a beça né? - beijou a cabeça do cão.

Mais alguns afagos e beijos, e Bento saiu rumo a cozinha para, certamente ir a lavanderia beber água e descansar de seu passeio.

- E eu não ganho também uns afagos, ou melhor, uns amassos e uns beijinhos não? - Juliette usou de um tom todo manhoso ao perguntar.

- Não está merecendo. Praticamente desligou na minha cara a ligação. - reclamou de cenho franzido. - Com quem estava conversando no parque, doutora?

Ela até pensou em retornar a ligação, mas não o fez para esperar a namorada chegar e saber pessoalmente dela aquilo. Achou bem estranha a atitude da outra. Sua namorada não era de fazer aquilo.

- Ah, pois só conto depois de ganhar uns beijinhos e uns amassos. - barganhou.

Sarah apertou os olhos quase os fechando.

- Sua chantagista de uma figa! Vem aqui então.

Sorrindo a cardiologista engatinhou pelo sofá e foi se acomodar no colo da namorada. Enlaçando o pescoço da outra com os braços, ela ganhou seus beijos e amassos que logo começaram a fazer as coisas esquentarem entre ambas. Porém antes que as coisas fossem mais longe, Sarah interrompeu o momento para saber o que queria e também, porque tinha uma conversa pendente com ela. Sem contar que ainda havia o assunto do seminário a ser tratado com a namorada.

- Pronto! Você já ganhou seus beijos e amassos. Agora vamos conversar.

- A gente não pode conversar depois e continuar de onde você nos interrompeu? - indagou, beijando o queixo da namorada.

- Não. Tenho um assunto importante pra tratar com você. Mas antes quero saber o que perguntei antes de você me chantagear pedindo beijos. Vamos lá, doutora Freire, comece a falar.

Juliette cessou os beijos e encarou bem a namorada. Já conseguia prever a insatisfação e o ciúmes dela ao ouvir a resposta. Mas não ia lhe esconder a verdade. Portanto, sem fazer rodeios deu sua resposta a namorada.

- Eu estava com o Rodolffo!

No mesmo instante Sarah trincou o maxilar, fechou os olhos, apertando-os e respirou bem fundo, soltando o ar de forma exasperada.

- Rodolffo. De novo Rodolffo! Mais que caceta! - resmungou ao abrir os olhos e encontrar os castanhos de Juliette. - Não basta a cena de vocês entrando de mãozinhas dadas na sala de descanso... os comentários que eu fui obrigada a ouvir do pessoal quando perguntei por vocês ao dar falta de ambos na sala... e agora isso de você no parque com ele, Juliette? - ela listou em um tom de voz altamente sério. - Qual é, hein?!

- Você pode se acalmar?

- Eu estou calma!

- Eu posso explicar tudo isso.

- É o mínimo que eu espero que faça.

- Vamos por partes, então? - pediu a cardiologista ao sair do colo da namorada e se colocar ao seu lado e de frente para ela, para conversarem melhor. - O lance das mãos dadas é uma mania que ele tem. Ele não faz por maldade ou com segundas intenções isso.

O que era verdade!

- Que engraçado! Porque eu não vejo o Rodolffo ter essa "mania" com as outras médicas do hospital, somente com você, Juliette. - cruzou os braços.

- Sarah sem ironias, por favor. - pediu.

- Não estou sendo irônica, apenas fiz um comentário.

- Irônico, por sinal! - rebateu. - Eu já cansei de pedir pra ele não fazer isso de segurar a minha mão, mas ele não escuta.

- Então ele deve ter algum problema auditivo. Sendo assim deveria fazer uma avaliação com o Carlos, otorrino do hospital. 

Juliette balançou a cabeça de um lado a outro, segurando um sorriso que queria escapar diante do comentário feito pela outra.

- Você é terrível, sabia?

- Eu? Você diz que ele...

A cardiologista nem deixou a namorada prosseguir e a interrompeu.

- Ele não precisa de um otorrino. E pode ficar tranquila que depois de hoje, Rodolffo garantiu que vai parar de segurar a minha mão, assim como vai parar com os flertes que também são brincadeiras da parte dele.

Sarah desmanchou um pouco a cara séria que vinha mantendo até antes daquela informação final ser dada pela namorada.

- Por que a partir de hoje ele vai parar de fazer essas coisas?

- A gente chega nisso depois. Agora quero saber que comentários foram esses que você escutou dos outros?

Ela bem podia imaginar quais foram, mas queria ouvir da sua namorada para ter certeza.

- Ah... Tipos que: você e o Rodolffo saíram de mãozinha dadas para dar uns pegas. E que vocês têm algo, mas não assumem, e blá blá blá. - gesticulou, agitando as mãos. - Sei que nada disso é verdade, porque você está comigo, mas... Caceta! Esses comentários incomodam e irritam muito.

Essa questão sempre vinha para atormentar o relacionamento delas.

- Eu sei. A mim também incomodam e irritam, e não é pouco. Ou você acha que por acaso, gosto de ouvir sobre você com a Roberta ou a Pocah?... Claro que não! Mas paciência. Temos que engolir isso enquanto não nos assumirmos.

Assumir!

Essa palavra ecoou na cabeça de Sarah, juntamente com um em breve isso vai acontecer.

Apenas precisava achar o momento certo para tal.

- Por falar na Roberta... - Sarah se pronunciou, lembrando-se do encontro com a amiga e de contar a namorada para evitar problemas futuros. - Eu a encontrei no hospital. Estou te contando antes que comentários maldosos cheguem aos seus ouvidos.

- Hum... - Juliette torceu a boca em desagrado. - Sua amiguinha querida foi te fazer uma visita, é?

Sarah resolveu ignorar o tom irônico que Juliette usou ao pronunciar a palavra "amiguinha".

- Não. Na verdade, ela foi visitar uma amiga que se operou. E acabamos nos encontrando quase na saída do hospital. Ela... - hesitou em contar sobre o almoço, mas depois achou melhor ser honesta. -... me convidou pra almoçar... e eu aceitei.

- Que fofo! As duas amiguinhas foram almoçar juntas.

- Juliette assim como você não gosta quando uso de ironia, eu também não gosto quando faz isso. Se vamos por esse rumo então melhor parar o assunto por aqui. - se irritou. - Eu podia muito bem omitir de você esse almoço com ela.

- Me esconder, você quer dizer.

- Que seja! Mas eu estou te contando, droga! 

A cardiologista teve que morder a língua para não sair com uma resposta ácida e desagradável.

- Roberta e eu fomos a um restaurante japonês. - continuou, explicando. - O lugar por sinal é muito bom e a comida uma delícia.

Juliette suspirou ainda nada contente com aquela história. Não era nada agradável saber que sua namorada saiu para almoçar com uma amiga com quem ela já transou. Dane-se o fato de essa transa ter sido no passado, e apenas uma vez, e antes delas começarem a namorar. E que Sarah vivesse repetindo que ela e Roberta eram somente amigas agora. Ainda assim, ela sentia ciúmes, inferno!

- Okay! - fui tudo o que a cardiologista conseguiu dizer após longos segundos se remoendo por dentro de ciúmes. A verdade é que queria ter dito mais, só que não queria arranjar briga maior. Então engoliu a seco seu ciúmes e as palavras que diria motivadas por este sentimento.

- Okay? - Sarah até estranhou a namorada não fazer mais caso sobre isso e estender aquele assunto.

- Sim. Sobre Rodolffo e eu no parque... - ela tratou de mudar do assunto: almoço de sua namorada com Roberta, porque isso lhe causava uma gastura. - Foi uma tremenda coincidência tê-lo encontrado por lá.

- Coincidência?

Juliette então explicou a razão de seu amigo estar lá e notou a expressão de sua namorada mudar da água para o vinho com a menção de que Rodolffo estava conhecendo uma moça.

- Que ele e essa garota dêem certo e assim ele para de ficar de flerte com você.

Juliette riu do comentário ciumento da outra.

- Mesmo se não der certo, ele já vai parar com isso. - ela não tinha a menor ideia de como sua namorada ia reagir quando soubesse que tinha contado o segredo delas a Rodolffo sem lhe consultar, mas torceu para Sarah não surtar tanto. - Eu contei sobre a gente pra ele, Sarah.

- Você o quê, Juliette?

- Ele me viu com o Bento. Eu ainda inventei uma mentira, mas não colou nada. Rodolffo sabe quando estou mentindo.

- Pelo visto ele te conhece bem, né?

- Sarah, por favor. - pediu.

- Tá bom. - ergueu as mãos em rendição. - E se ele contar?

- Ele me prometeu que não fará isso.

- E eu devo confiar na promessa dele, por quê?

- Você não é obrigada a isso. Mas eu confio na promessa que ele me fez.

Sarah balançou a cabeça em negação.

- Você não devia ter contado nada sem falar comigo antes, Juliette. - reclamou.

- É o quê, Sarah?... Essa boa!... Quer dizer que eu tinha que pedir sua permissão pra isso?

- Não é isso, Juliette.

- Quando você contou pra sua amiga Roberta não me consultou também. Por que eu não poderia fazer o mesmo e contar a um amigo meu?

- Pelo amor de Deus! A Roberta não trabalha no hospital. - rebateu, cobrindo o rosto com ambas as mãos.

- Ele não vai contar, Sarah. - repetiu. - Se fosse o Gil, eu ainda podia dizer que aquele boca aberta ia deixar escapar, mas Rodolffo não.

A loira retirou as mãos do rosto e encarou a namorada. Deixou escapar um suspiro. Não havia mais nada a fazer mesmo, Juliette tinha contado. Agora era rezar para realmente Rodolffo não abrir a boca.

- Que você esteja certa e ele não abra a boca mesmo. Não digo por mim, mas pra não prejudicar você.

- Não vai prejudicar nem a mim e nem a você, porque ele não vai dizer nada. Que saco! Confio no Rodolffo. Ele é meu amigo, Sarah. E quer saber? Vamos encerrar essa conversa por aqui? Não quero mais ficar nessa discussão com você ou isso ainda vai terminar péssimo.

Detestava quando discutia com a namorada.

- Tá bom. Paramos por aqui, porque eu também não quero estender mais esse papo e acabar em uma briga mais séria do que deveria.

- Ótimo! - disse antes de se levantar do sofá. - Vou tomar um banho e trocar de roupa. Ainda temos um jogo pra mais tarde? - lançou um olhar interrogativo na direção de Sarah.

- Jogo? - a loira franziu a testa sem entender a que a cardiologista se referia. Mas logo se lembrou a respeito do quê a namorada falava. - Ah! - bateu com a palma da mão na sua testa e sorriu. - É hoje que a gente começa com a sua lista?

- Sim! Esqueceu, foi?

- Por um momento, sim. Desculpa. - sorriu sem jeito. - Mas antes de ir quero conversar com você sobre outra coisa. Senta aqui de volta.

A cardiologista voltou a se acomodar no sofá.

- Deixa eu só pegar um negócio ali na minha bolsa.

Juliette assentiu e viu a namorada ir até a mesa de estar e remexer em sua bolsa. Em seguida ela retornou com um envelope na mão.

- Dê uma olhada nisso! - estendeu a Juliette o envelope do seminário.

- Mas está no seu nome. - observou Juliette ao pegar o papel.

- Vá em frente e abra!

Assim ela o fez e descobriu do que se tratava.

- Você vai para um seminário de uma semana em Campina Grande depois de amanhã, Sarah?

- Eu não! Você, linda. - apontou com o indicador para Juliette.

A cardiologista arregalou os olhos atrás das lentes de seu óculos.

- Eu? Como assim, Sarah?

- Fiz uns ajustes e consegui que você fosse no meu lugar.

Juliette ficou atônita com aquela novidade.

- Mas aqui está dizendo que é para palestrar e dar aulas.

- Você não fará palestra e nem dará aula, linda. Fique tranquila quanto a isso. - revelou para alívio da outra. - Falei com o meu amigo que é o organizador do evento e ele colocou você para participar de um curso e assistir algumas palestras. Vai ser bom pra você e sua carreira esse evento.

- Não tenho dúvidas disso. - concordou. - Mas uma semana? - seu olhar se desviou do papel para a namorada sentada ao seu lado. - Vamos passar o nosso aniversário de namoro longe uma da outra.

Sarah não tinha se atentado para esse detalhe quando teve a ideia de mandar a namorada para esse evento.

- Droga! - praguejou, deslizando uma das mãos pelos cabelos. - Bem... Mas nada nos impedirá de comemorar quando você voltar então, linda.

Juliette fez um bico nada satisfeito e voltou a encarar o papel em suas mãos.

- Ei! Que foi, não gostou de ir nesse evento?

- Gostei. - respondeu sem muita empolgação.

- Mas não parece. - tocou o rosto da outra. - Achei que você fosse ficar radiante com a novidade. Ainda mais por ser na cidade onde mora sua família. Quando vi onde ia ocorrer o seminário pensei logo em você.

- Sério? - seu olhar buscou pelo da namorada outra vez.

- Claro, linda. Pensei que seria uma ótima oportunidade para rever sua mãe, seu pai, seus irmãos e sobrinhos que você tanto diz que sente falta.

- Vendo por esse lado. - ela sorriu de leve. Fazia dois anos que não os via. A última vez foi em suas férias retrasada e agora, por conta de sua namorada ia poder rever sua família. Só Sarah para fazer essas coisas mesmo. - Obrigada por isso.

- De nada, linda. - piscou para a namorada. - Você tinha direito a ficar hospedada em um dos dormitórios da universidade. Mas eu dispensei isso, por imaginar que ia querer ficar na casa da sua família. Fiz mal?

- Fez muito bem. Eu ia lá querer ficar em dormitório de universidade, podendo ficar na casa dos meus pais e mais perto da minha família pra matar as saudades.

- Sua ficha de inscrição e o comprovante da passagem de avião, já me foram enviados por e-mail pelo Aílton. É só imprimir. Seu vôo está marcado para as duas de quinta. Também já liguei para o Dílson avisando que você irá se ausentar do trabalho por uma semana para participar de um seminário na UFCG.

Ela havia feito isso assim que enviou o e-mail de resposta ao seu amigo. O diretor do hospital não ficou muito contente com a notícia, mas não teve outra opção senão concordar. Até porque esses eventos eram ótimos para os profissionais do Gomes da Costa e para a credibilidade do hospital.

- Você pelo visto já tratou de resolver tudo pelas minhas costas né?

- Fiz mal?

- Não, mas... - ela pensou em dizer que Sarah podia ter lhe consultado antes, mas depois achou melhor não dizer é nada. Sua namorada parecia tão satisfeita por ter lhe feito aquela surpresa e tomado todas aquelas providências, que reclamar disso seria até uma insensibilidade de sua parte. - Quer saber? Amei. Com você não preciso me preocupar com nada pelo visto. - beijou o rosto da outra.

- Não mesmo! - respondeu, deslizando uma das mãos pelas madeixas castanhas da outra.

- Que interessante! - Juliette exclamou ao ver no rodapé do papel um aviso. - Aqui está dizendo que vai ter uma confraternização de gala no último dia. Vou ter que levar um vestido de festa. Talvez, eu leve aquele vermelho com a fenda na perna direita, o que acha? - lançou um olhar seguido de um sorriso provocador a outra.

A peça era uma perdição. O modelo toma-que-caia era justo, marcando com fidelidade suas belas curvas. E ainda tinha aquela fenda na altura da coxa, dando uma bela visão de sua torneada perna. Juliette havia usado o modelo no último Natal em uma festança organizada por Gil em sua casa, na qual a cardiologista havia feito o maior sucesso na comemoração, principalmente com alguns rapazes parentes do amigo, para o ciúme velado de Sarah.

- Acho que esse vestido não me parece combinar nada com um evento acadêmico.

Juliette apertou os lábios para conter um sorriso.

- Por que não diz logo escancaradamente que não quer que eu vá com ele, Sarah Carolline?

- Eu não quero que vá com ele! Satisfeita?

Juliette riu alto e foi se acomodar outra vez no colo da namorada. O clima estranho e tenso motivado pela discussão de momentos atrás havia desaparecido por completo.

- Muito satisfeita. Mas para sua informação, eu não pretendia ir mesmo com ele. Também acho que não combina com esse tipo de evento. Só disse que iria pra te provocar, boba. - apertou a ponta do nariz da outra.

- Pára! - afastou a mão da cardiologista de seu nariz. - Sabe que detesto isso.

- Por isso mesmo que eu faço.

- Ah, é? Então vou te fazer cócegas, algo que você detesta também.

- Não, amor, por favor. Eu não faço mais. Juro.

- Não jure em falso, porque isso é feio, doutora Freire.

As duas riram e trocaram um beijo demorado.

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