Capítulo 5 (extra) - Roberta e Domingo
N/A: Salve, salve, minha gente. Chegay!
Olha eu aqui nesse domingão para trazer esse capítulo a vocês.
Sinto que vou frustra-las um tiquinho, porque não vem ainda aqui a conversa que a Sarah disse que ela e a Juliette teriam em casa. MAS... Ainda assim acho que vão curtir o que lerão. Apesar da presença da Roberta que em nada é uma ameaça ao nosso casal de doutoras. Fiquem tranquilas!
Ah! Uma leitora comentou em um capítulo da primeira versão de Jogos Sexuais, que queria saber como tinha sido o pedido de Sarah a Juliette sobre uma chance para elas. Pois bem... Aqui temos! 🥰🥰
Simbora nessa leitura!
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"[...]Não gostei nada do que vi. Tampouco do que escutei dos outros."
Essas palavras se repetiram na cabeça de Juliette incessantemente desde que saiu do hospital até o momento em que se encontrava agora, deitada em sua cama, de banho tomado e pijama, encarando o teto do quarto.
O que será que sua namorada escutou e de quem? Era a pergunta de um milhão de reais que ela se fazia.
Foi então que a cardiologista recordou do comentário nada engraçado de Arthur quando ela deixava a sala com Rodolffo.
- Ah, merda! - cobriu o rosto com ambas as mãos e quis esmurrar o fisioterapeuta.
Certamente, o médico continuou com seus comentários nada graciosos. Se duvidar os outros ainda foram na onda dele e falaram besteira na frente de Sarah, alimentando caraminholas na cabeça da outra e lhe despertando ciúmes.
- Arthur, eu vou te matar, seu caraio!
Agora fazia todo sentido aquela frieza de Sarah. Não foi só pelas mãos dadas que viu. Mãos dadas estas, que por sinal Juliette tentou desfazer no caminho de volta para a sala de descanso, mas Rodolffo não deixou. Ele tinha essa "mania" de querer andar assim com ela. Já tinha lhe repreendido várias vezes por isso, mas o piruca ignorava tal fato e seguia com aquela mania chata. Ia ter que falar seriamente com ele a esse respeito.
Alcançou o celular para ver as horas: 08h52m. Queria esperar Sarah acordada e conversar com ela. Desfazer as caraminholas que sabia que habitavam a cabeça da outra, mas sabe lá Deus que horas a loira ia chegar dessa cirurgia. Sem contar, que a cardiologista estava caindo de sono. Decidiu ceder ao sono e quando acordasse, decerto, Sarah já estaria em casa e elas conversariam.
Não tardou muito e ela já dormia profundamente.
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- Ótimo trabalho como sempre, doutora! - puxou saco Caio.
- Obrigada! - respondeu apenas por educação.
- Sarah pode deixar que eu me encarrego da observação do paciente e do pós operatório. Vá pra casa. Já passou e bastante do seu horário.
- Okay, Jorge. Vou nessa.
Enxugou as mãos em um papel toalha, descartado em seguida no cesto de lixo e saiu da sala rumo ao vestiário para tomar um bom banho, assim quando chegasse em casa era só comer qualquer coisa para cair na cama e dormir.
- Doutora Andrade!
A cirurgiã se virou no meio do corredor ao escutar o chamado.
- Sim, Thaís.
A enfermeira se aproximou da médica e lhe estendeu um envelope, avisando que Cíntia, a recepcionista do hospital, pediu para lhe entregar.
- Como ela está um tanto enrolada na recepção, me pediu para lhe entregar. Chegou pouco depois da senhora ter entrado no centro cirúrgico. - explicou a morena.
- Ah, obrigada, Thaís.
- Por nada.
A enfermeira se foi após um pedido de licença. Sarah seguiu pelos corredores do hospital rumo ao vestiário, encarando intrigada aquele envelope em seu nome. Foi somente quando estava no vestiário e se acomodou ao banco comprido situado diante da parede de armários, que a médica abriu o bendito envelope. Um convite para um Seminário de Medicina na UFCG, na Paraíba.
Ela sorriu com a ideia que na mesma hora acabava de lhe passar pela mente. Só precisava fazer um telefonema e torcer para dar certo. Buscou seu celular no armário e encostada a parede de armários, discou o número do responsável pelo evento, o qual estava escrito no convite e que se tratava de um velho conhecido seu.
- Aílton! Como vai? É Sarah! - havia um sorriso ao se identificar ao sujeito.
- Como se eu não reconhecesse sua voz, doutora.
A loira sorriu sem jeito.
Aílton de Mello era um dos mais conceituados cirurgiões do Brasil, residente em Campina Grande. Sarah havia lhe conhecido em um Congresso de Medicina que participou como palestrante no Rio de Janeiro há quatro anos. O médico experiente que havia sido também um convidado a participar do evento, ficou encantado com o desempenho dela em uma palestra e acabou virando amigo da médica. Sempre que realiza algum evento médico faz questão de sua participação como palestrante.
- Recebeu meu convite?
- Sim. É por causa dele mesmo que estou te ligando.
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Ela seguia para a saída do hospital com um sorriso enorme. Havia conseguido pôr em prática sua ideia. Seu amigo ficou um tanto decepcionado por não poder contar com sua presença no evento para palestrar e ministrar algumas aulas do curso que teria no evento, mas concordou com sua sugestão. Agora era só contar a sua namorada o que havia feito. Seria ótimo para ela e sua carreira a participação naquele evento e no curso, que tinha como objetivo promover o conhecimento sobre novas técnicas relacionadas a área médica, tendo um dia específico para área de atuação de Juliette: cardiologia.
- Sarah!
A cirurgiã se virou diante do chamado de uma voz conhecida.
- Roberta! - sorriu.
A morena de compridas madeixas escuras e lisas, olhos negros como a noite e uma boca muito bem esculpida se aproximou com um sorriso largo.
- Ei! Como está? - Roberta indagou enquanto trocava um abraço apertado de cumprimento, muito bem retribuído por Sarah.
- Na correria de sempre com muito trabalho, mas bem. - comentou a médica ao desfazer o abraço e ajeitar melhor a alça da bolsa em seu ombro. - E você?
- Estou ótima! - a garota sorriu um sorriso que fez até seus olhos brilharem.
- E o que faz por aqui?
- Vim visitar uma amiga que se operou de pedra na vesícula. Já estava de saída?
- Sim. E você?
- Também. Tem um tempo pra um café e uma conversa? Faz meses que não nos falamos. Queria saber as novidades da sua vida e te contar algumas da minha.
- Bom... Vou passar o café. Já está praticamente na hora do almoço. - comentou a médica ao consultar seu relógio de pulso.
- Ah, então melhor ainda, almoça comigo. E não aceito recusa quanto a isso.
Mesmo cansada, Sarah aceitou o convite já que fazia meses que não via e conversava com Roberta.
- Okay. Vamos lá.
Seguiram para o carro da médica no estacionamento do hospital e em segundos já estavam ganhando as ruas de São Paulo. Roberta instruiu Sarah a irem a um restaurante japonês que segundo ela era o melhor e também de um amigo seu. Durante o percurso as duas foram conversando. Roberta contou como estava no trabalho. Havia subido de posto e agora era supervisora geral da Butique, devido ao seu bom desempenho e o fato de a dona do estabelecimento gostar bastante dela e de seu trabalho. Sarah ficou contente pela amiga, que tinha a mesma idade da sua namorada. Com o novo posto e o aumento significativo no salário, Roberta iniciou uma faculdade há dois meses: Administração.
- Nossa, Robe, que ótimo.
- E eu devo isso a você. Se não fosse o emprego que me arranjou, sabe lá Deus em quê situação eu estaria agora. Provavelmente ainda naquela vida de prostituição. Você foi meu anjo da guarda. Obrigada de verdade. - a moça tocou a coxa de Sarah sem qualquer malícia, apenas com carinho.
- Imagina, Robe. Não precisa agradecer nada.
Em instantes as duas chegavam ao restaurante e estavam sendo acomodadas na melhor mesa do estabelecimento pelo próprio proprietário, que fez questão de atendê-las assim que viu Roberta.
- O almoço é por conta da casa. Podem escolher o que quiser. - o rapaz de traços orientais, aparentando ter na casa dos trinta, disse com um sorriso gentil e lançando um olhar afetuoso demais a Roberta que não passou despercebido aos olhos de Sarah.
- Ele não é só seu amigo, Robe, confessa! - pressionou a médica lançando um olhar inquisidor a outra por cima do cardápio em suas mãos.
- Okay, não é. Kio e eu estamos saindo. - contou envergonhada. - Nos conhecemos há dois meses quando ele foi comprar um presente pra irmã dele lá na Butique.
- E por que não me disse logo isso?
- Ah, sei lá, Sarah. Talvez porque não seja ainda sério.
- Pela forma como ele te olhou, logo vai ser sério. Esse sujeito está apaixonado por você.
- Você acha?
- Sim!
- Só que eu tenho medo. Ele não sabe do meu passado de... Você sabe.
A médica assentiu em compreensão.
- Mas se ficarem sérias, terá que contar. E se ele gostar de você de verdade, vai te aceitar com seu passado e tudo.
- E se ele não aceitar?
- Então bola pra frente. E você vai achar alguém melhor. - piscou para a outra garota.
Elas seguiram o papo por diversos assuntos após fazerem o pedido. Até a conversa chegar em Juliette ao mesmo tempo que a barca com o almoço chegava a mesa delas.
- Você ainda está namorando a ciumenta da Juliette?
Roberta conheceu pessoalmente a namorada de Sarah certa vez quando as flagrou juntas em um restaurante afastado do centro de São Paulo, comemorando três meses de namoro. Depois desta ainda houveram mais duas oportunidades em que se esbarraram. Antes disso só conhecia Juliette por conta de Sarah que falava muito dela para a amiga. E foi nítido para a garota o quão incomodada e enciumada a namorada de Sarah aparentava diante de sua presença.
- Ainda estou e pretendo estar por muito tempo mais. - afirmou com um sorriso antes de levar a boca um Nigiri (uma fatia de peixe em cima de uma pequena porção de arroz).
- Há quanto tempo estão juntas mesmo? - indagou Roberta antes de comer um Sashimi (fatia de peixe cru).
- Já vai fazer quase um ano e meio na semana que vem. - respondeu após mastigar e engolir a comida.
- Uau, então isso é sério mesmo? - comentou a outra depois de engolir.
- Tão sério que pretendo pedi-la em casamento.
- Meu Deus! - Roberta arregalou os olhos em surpresa. - Sério mesmo, Sarah?
- Sim. Já até comprei as alianças. Agora só preciso encontrar a oportunidade perfeita pra fazer esse pedido.
- Pode ser no dia do aniversário de namoro. - sugeriu Roberta.
- Talvez, mas eu estava pensando em outro momento.
- E quê momento mais especial que esse Sarah? Só se for no aniversário dela.
- Seria uma boa também. - o aniversário de sua amada era dali há poucos meses. Quem sabe! - Só que eu ainda estou pensando bem. Quero que seja especial tanto o pedido, quanto a ocasião do pedido, pra que seja inesquecível pra ela
- Nossa! Não sabia que era romântica a esse ponto. - admirou-se a outra.
Sara apenas meneou com a cabeça enquanto mastigava. Na verdade, ela não se considerava nada romântica, isso claro antes de Juliette fazer parte de sua vida. Depois que iniciaram seu relacionamento, ela descobriu esse seu lado até então desconhecido. Talvez a 'culpada' de lhe trazer esse lado seja Juliette. Ela tinha esse mérito. Sua namorada que lhe fazia ser romântica como não havia sido em nenhum de seus outros poucos relacionamentos.
- Você a ama muito, não é?
- Mais que a mim mesma, Robe.
A outra sorriu encantada com aquelas palavras. Desejava alguém que lhe amasse daquela forma imensurável que via Sarah amar sua namorada.
- Sabe o que eu acabei de lembrar? - comentou Roberta sorrindo mais.
- Não, o quê?
- A primeira vez que ouvi o nome da Juliette saindo da sua boca.
- Ah, não, Robe! Por favor, nem me lembre.
A loira escondeu o rosto com as mãos, fazendo Roberta rir um tanto mais alto, atraindo alguns olhares das pessoas das mesas próximas.
Sarah havia soltado o nome de Juliette, justamente no ápice da transa com Roberta. Foi tão espontâneo que na hora ela nem percebeu, só se deu conta quando Roberta perguntou quem era Juliette e lhe disse que ela havia chamado por esse nome durante o orgasmo.
- Nunca passei por uma situação tão constrangedora como aquela. Quis me enterrar de verdade quando você me revelou isso. - confessou ao tirar as mãos do rosto e sorrir sem graça.
Depois que passou o constrangimento do momento lá atrás, ela contou para Roberta toda sua história com Juliette, desde quando a conheceu até o reencontro no hospital e o modo frio como a vinha tratando na época, além das razões para isso. Desde então, Roberta passou a ser sua confidente sobre Juliette. Sarah lhe contava e compartilhava tudo referente a outra, já que com Ker não dava para fazer isso. E quando se acertou com Juliette a médica loira também contou a Roberta isso.
- Admito que na hora fiquei ressentida, mas depois passou. E fico contente em saber que você e ela estejam ainda juntas e prestes a dar esse passo importante. Gosto muito de você, Sarah. - Roberta esticou a mão por cima da mesa e pousou-a sobre a de Sarah. - Você se tornou alguém muito, muito importante na minha vida. E te ver feliz também me deixa bastante feliz, de verdade.
Gratidão era o que Roberta sentia e sentiria pelo resto da vida pela médica. Tudo bem que no começo chegou a confundir esse sentimento com outro, ainda mais pela noite que teve com Sarah. A loira tinha sido incrível na cama. Mas na mesma noite descobriu que aquela mulher já tinha uma dona em seu coração e que não havia espaço para outra. E se contentou em ter sua amizade e confiança.
Sarah não soube o que dizer além de um embargado "obrigada", já que não era tão boa assim com as palavras ditas.
O almoço seguiu com conversas sobre Juliette e outros assuntos até o cansaço começar a pesar na médica e ela avisar que precisava ir para casa descansar. As duas se despediram e enquanto Sarah deixou o restaurante rumo a sua casa, Roberta ainda permaneceu no lugar para um pouco de conversa com Kio.
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Assim que abriu os olhos a primeira coisa que Juliette viu, foi sua namorada dormindo ao seu lado em sua habitual posição de peito para cima, com um braço jogado acima da cabeça e uma mão repousando sobre a barriga aparente devido a blusa do pijama que estava levantada.
Sorriu e por longos minutos ficou velando o sono de sua amada, tentada em tocá-la, mas receosa de que se fizesse isso acabasse por despertá-la.
Se lembrou do modo frio com o qual ela se portou no hospital. Parecia tão zangada. Será que sua zanga passou?
Era um saco aqueles comentários que faziam tanto a seu respeito com relação a Rodolffo, quanto os que às vezes faziam referente a Sarah e Roberta ou Pocah. Decerto essas coisas acabassem se elas se assumissem logo. Mas isto implicava em mudanças e uma provável separação por conta da troca de turno, que certamente seriam obrigadas a fazer. E talvez nenhuma delas ainda estivessem preparada para esses eventuais acontecimentos. Mas que era uma droga ter que conviver com comentários inverídicos a respeito de suas vidas, era. E por isso mesmo, resolveu que ia dar um basta nisso no próximo turno de trabalho.
Uma espiada no relógio digital e ela constatou que eram quase três da tarde. Sua barriga logo reclamou por comida.
Deu um beijo delicado no rosto da namorada que se mexeu de leve, resmungando algo incompreensível, porém não acordou. E em seguida se levantou, seguindo até o banheiro. Escovou os dentes e apanhando a toalha e uma muda de roupa, foi tomar banho no banheiro social para não fazer barulho e acorda Sarah. Sabe lá Deus que horas ela chegou do hospital.
Algum tempo depois estava na cozinha almoçando uma massa acompanhado de filé de frango a parmegiana, que havia preparado. Assim que terminou de comer e limpar tudo na cozinha notou Bento muito agitado.
- O que foi, meu amorzinho?
Como se entendesse a pergunta da dona, o cão foi até a lavanderia e voltou com sua guia na boca, fazendo Juliette rir.
- Ah, você quer passear, né seu danado? - pegou a guia da boca dele.
O cão latiu e abanou o rabo.
- Shiiiu... Sem barulho para não acordar sua mãe. Vem, vou te levar pra dá um passeio no parque.
Ela prendeu a guia na coleira dele, pegou celular e as chaves do carro, e escreveu um bilhete que pregou na porta da geladeira, para caso Sarah acordar e lhe procurar.
- Vamos, lá, Bento.
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"Amor,
Bento estava agitado, então levei nosso garoto para dar um passeio no Ibirapuera. Tentarei não demorar, mas você sabe como ele é.
Obs: Deixei comida no forno para você.
Beijos."
Sarah esboçou um sorriso ao ler o bilhete, principalmente as duas palavras: nosso garoto.
Ao acordar momentos atrás, a loira chamou pela namorada ao não encontrá-la na cama e nem no banheiro do quarto. Levantou-se e veio em sua busca, mas nada. Ao ir a geladeira para beber água se deparou com o bilhete pregado na porta.
Seu filho de quatro patas deveria estar no céu. Passeio no parque que ele adorava, com sua companhia preferida, era tudo que Bento mais gostava depois de carinho na barriga, aquele dengoso traidor. Traidor, porque lhe trocou sem remorso por Juliette depois que a conheceu.
Sarah sorriu e balançou a cabeça. No lugar de Bento também faria a mesma troca.
A médica foi ver o que sua namorada deixou de comida para ela, já que sua barriga reclamou. Sorriu ao ver que se tratava de seu prato preferido.
"Querendo me amansar, doutora Freire?!", Pensou a médica ligando o microondas para esquentar o prato de comida que fez para si.
Ajeitou a mesa para fazer sua refeição. E quando o sinal sonoro do aparelho indicou que a comida estava quente, ela foi retirar do microondas e sentou-se a mesa para comer. Na primeira garfada soltou um gemido de satisfação, porque estava simplesmente uma delícia. Juliette era ótima na cozinha, ao contrário dela que era um desastre. Sabia apenas o básico e olhe lá.
Enquanto seguia sua refeição divina, Sarah não tirava da cabeça os comentários desagradáveis que escutou dos colegas de trabalho.
Aquela situação era chata. Muito! Agora com a cabeça mais fria, ela conseguia ver que acabou sendo ríspida com Juliette, sendo que ela nem tinha culpa.
Confiava em sua namorada. Sabia de sua índole. E também sabia que não tinha nada de verdadeiro nos comentários sobre ela e Rodolffo se pegando como Arthur e alguns outros mencionaram na sala de descanso, mas era impossível não se deixar enciumar e ficar irritada com aquilo.
No entanto aquelas coisas estavam com os dias contados. Era só fazer o pedido de casamento, Juliette aceitar e acabou segredo. Que todos soubessem que elas eram um casal e parassem com os comentários e brincadeiras sem graça envolvendo sua namorada e Rodolffo. E até mesmo os comentários envolvendo seu nome.
Estava farta deles. E não havia mais medo ou qualquer outro sentimento a não ser o de coragem de enfrentar a quem quer mais que fosse por aquela relação com Juliette. A Sarah cheia de medos ficou lá atrás. Deixou de existir no momento em que bateu na porta do apartamento de Juliette cheia de nervoso para pedir uma chance.
"Doutora?!"
Juliette não escondeu a surpresa de ver sua chefe ali na porta de seu apartamento. Quando seu porteiro interfonou segundos atrás, informando que uma mulher chamada Sarah estava ali, pedindo para falar com ela. A cardiologista arregalou os olhos em total choque. Sarah jamais tinha vindo em sua casa todo esse tempo em que já trabalha com ela. Sua presença ali era no mínimo curiosa e totalmente estranha. Ainda em estado de choque a cardiologista autorizou a subida da chefe.
"Oi!", saudou sem deixar de olhar a cardiologista de cima a baixo. Juliette estava com os cabelos presos em um rabo-de-cavalo, usava um top verde musgo, calça de Lycra preta e tênis, já que há pouco havia chego de uma corrida pelo quarteirão. Sarah a achou linda ainda que estivesse toda soada. "Posso entrar?", Pediu sem jeito.
Por dentro ela estava uma pilha de nervos e apreensiva, mas certa e segura do que tinha vindo fazer ali. Só torcia para o desfecho das coisas serem o melhor.
"Claro.", Juliette deu passagem a sua chefe, que por sinal estava cheirosa e linda em uma calça jeans justa de lavagem escura, sandália alta e uma blusa rosa de alças finas que deixou a mostra uma tatuagem em seu ombro direto e uma gigante em suas costas, que até então Juliette desconhecia, já que no hospital o jaleco e as camisas fechadas que Sarah, geralmente usa no seu ambiente de trabalho, não deixam aparecer as tatuagens.
"Uau!", a morena deixou escapar. "Não sabia que tinha tatuagens.", não se conteve em comentar.
A outra sorriu sem jeito.
"Adolescência. Minha época de rebeldia."
"Quer dizer que a séria doutora Andrade foi rebelde na adolescência?", havia um sorriso brincalhão na cardiologista ao cruzar os braços após fechar a porta.
"Minha rebeldia se resumiu a essas tatuagens e só.", revelou, enfiando as mãos nos bolsos laterais da calça.
"O que está escrito aí no seu ombro em espiral?"
A cardiologista estava bem curiosa. Sua chefe e tatuagens não pareciam combinar muito.
"É uma frase de Walter Franco, que diz: Tudo é uma questão de manter - a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo".
"Nossa!"
"Ainda tem essa aqui que fiz em homenagem a minha mãe.", ela mostrou a parte inferior do braço esquerdo onde Juliette leu: Amor materno, amor eterno.
"Jamais me passou pela cabeça que você tivesse tatuagem, quanto mais três sendo uma delas, essa enorme fada nas costas."
Sarah assentiu com um sorriso discreto nos lábios.
"Eu tenho essa aqui...", Ela mostrou a Sarah a sua na costela. "Originalmente, era um coração formado por palavras com a minha própria letra para homenagear minha avó, mainha, meus irmãos, incluindo a minha irmã Eninha que morreu. No entanto, o tempo fez com que as linhas desbotassem e ficassem difíceis de ler. Então fiz essas rosas por cima, formando um coração."
"É linda.", Elogiou Sarah.
"Obrigada!", Agradeceu e por um breve instante se instaurou um silêncio entre elas, que foi quebrado pela própria Juliette alguns segundos depois. "Mas então... A que devo a surpresa da sua visita, chefe?", disse em um tom já mais formal.
Era chegada a hora de abrir seu coração e por mais que tivesse ensaiado em frente ao espelho feito uma adolescente, agora parecia que de nada valeram os ensaios.
"A gente pode sentar para ter essa conversa?"
Juliette indicou o sofá ainda não entendendo o que teria sua chefe para conversar com ela, que a fez vir a sua casa, coisa que não havia acontecido antes.
"Você quer beber alguma coisa? Desculpa, nem te ofereci nada."
"Aceito uma água.", sua garganta estava seca e água seria uma ótima pedida.
"Já volto!"
Se vendo a sós na sala, Sarah deu uma olhada pelo ambiente. Era pequeno, mas aconchegante. Tinha o perfume de Juliette no ar e era cheio de cor e alegre, como ela. Em uma estante onde havia alguns livros, ela enxergou alguns porta retratos e saindo do sofá, foi até a estante para ver mais de perto as fotos. Havia algumas de Juliette sozinha e de biquíni em uma praia, dela pequenina em uma bicicleta com uma menina menor na garupa, com a beca da formatura, com um casal, com duas moça e outra em que estava linda em um vestido vermelho entre quatro homens de terno.
"Ei, o que estava xeretando aí, doutora?", Brincou e viu a outra se virar assustada como aquelas crianças que acabavam de ser pegas assaltando o pote de doces.
"Que susto, Juliette!"
A outra sorriu.
"Sua água."
"Obrigada!", agradeceu, pegando o copo da mão da outra e tomando um gole bem generoso da bebida transparente. "Estava olhando aqui as suas fotos. São seus pais?", Apontou para a que ela estava com um casal.
"Sim. Lourival e Fátima. Isso foi no aniversário de casamento deles. Fizeram um churrasco no quintal de casa. Ideia do meu pai, que minha mãe odiou depois, porque sobrou pra gente o trabalho de limpar a casa toda após a festa acabar.", Sorriu ao se recordar.
"Festa só é boa na casa dos outros, na nossa nem tanto por conta do trabalho que sobra, já dizia a minha mãe.", Revelou Sarah.
"Sua mãe Abadia, não é?"
Juliette se lembrava de Sarah ter mencionado o nome da mãe e do pai dela na conversa na universidade. Na verdade ela lembrava de tudo que falaram durante aquelas horas em que passaram juntas.
"Sim!", Confirmou a cirurgiã.
"Sua mãe é bem sábia e esperta!"
"Você não tem idéia do quanto. Ela e o meu pai são umas figuras. Faz uns cinco anos que não os vejo pessoalmente. E eles vivem me cobrando uma visita."
"Seu pai Evandro, que sua mãe o conheceu ao enquandra-lo."
Sarah encarou Juliette com uma expressão bem surpresa.
"Você ainda lembra dessa história que te contei naquela tarde."
"Lembro de tudo que me contou. Ao contrário de você.", Alfinetou.
Sarah deixou escapar um longo e amargo suspiro pela cutucada bem merecida, por sinal.
"Eu também lembro sim, Juliette, de cada palavra que trocamos não só naquela tarde, mas das nossas mensagens trocadas."
A morena estremeceu com aquela revelação. Achava que Sarah tivesse deixado para trás as conversas que trocaram, assim como deixou aquela Sarah tão mais receptiva que conheceu. Mas logo a cardiologista tratou de deixar esses fatos para trás também. Aquilo era passado e ela já tinha virado a página 'Sarah Andrade' de sua vida, ou ao menos era isso que repetia a si mesma todo dia.
"O que veio conversar comigo? Porque não acho que veio para falar da sua família e nem saber da minha, certo doutora Andrade?"
O tratamento formal somado a frieza em sua voz e a expressão que se fechou ao se pronunciar, causou em Sarah um desconserto momentâneo.
"Vamos sentar?", Foi a vez da loira indicar o sofá. Ambas seguiram de volta para o móvel. "Então...", apertando o copo de vidro em suas mãos, a cirurgiã começou sua fala hesitante e tentando encontrar as palavras certas, mas as benditas não vinham o que era uma droga. "Céus! Era tão mais fácil quando você era o espelho do meu quarto.", sussurrou com um sorriso nervoso.
"Eu não estou entendendo nada, doutora. Aconteceu alguma coisa?"
Será que sua chefe tinha bebido? Porque ela não parecia muito normal. Se bem que não sentiu qualquer cheio de bebida alcoólica vindo dela.
"Quero falar com você sobre nós, Juliette!", conseguiu dizer, erguendo os olhos do copo de água para encarar a cardiologista.
"Nós?", franziu a testa sem entender ainda mais nada daquilo. "Nossa relação chefe e subordinada?"
Se era isso, ela podia ter esperado até estarem no hospital, porém a resposta negativa da outra quanto a sua pergunta deixou a cardiologista mais confusa.
"Então que "nós" é esse, doutora? Porque o único 'nós' que existe aqui é o profissional."
O que era uma pena, pois adoraria muito que houvesse um nós além do profissional. No entanto já tinha perdido total esperanças disso acontecer. Inclusive outra vez o pensamento de que já tinha até virado essa página em sua vida, tomou conta de sua mente novamente.
"Pra favor, sem essa formalidade de "doutora.", Pediu.
Aquilo dela lhe chamar vira-mexe de "doutora Andrade" ou apenas "doutora" como se estivessem no hospital, estava lhe incomodando. Sem contar que esse tratamento denotava uma falta de intimidade algo que elas não tinham. Se conheciam há anos, muito antes do hospital. Conversaram por horas naquela tarde depois da palestra e ainda trocaram várias mensagens por alguns meses. Ao menos criaram uma intimidade. Tudo bem, que Sarah jogou isso pelo ralo com suas ações estúpidas de indiferença e rejeições para com a outra, mas estava disposta a resgatar isso e muito mais com Juliette.
"Você é minha chefe, portanto devo ser formal assim."
"Nós não estamos no hospital para isso."
"Mas ainda assim prefiro o tratamento mais formal."
Sarah assentiu desconfortável com aquilo.
"Uma vez você disse que eu era mais que uma chefe pra você."
Juliette se lembrava bem dessa ocasião. Foi nesse dia após essas palavras que se declarou para Sarah alguns meses depois de já estar trabalhando com ela. Disse que gostava dela, que na verdade, estava apaixonada. E recebeu em resposta da outra um longo silêncio seguindo das palavras: sinto muito, mas eu não posso te corresponder.
"Sarah por que trazer isso a tona agora? Nem tem propósito.", Rebateu séria.
"Tem sim, porque eu quero... ser mais que sua chefe, Juliette!"
"O quê?", a cardiologista franziu a testa e apertou as mãos em seu colo. Ela tinha ouvido aquilo mesmo?
Sarah depositou o copo sobre a mesinha de centro. E saindo do sofá que estava foi se acomodar no outro, bem próxima de Juliette.
"Sou completamente apaixonada por você." disparou sem entremeios ou fazer vírgulas. Viu Juliette arregalar os olhos diante de sua declaração de amor. "A verdade é que me apaixonei por você lá naquela tarde na lanchonete da universidade enquanto tomávamos café. Seu jeito alegre, falante e espontâneo me fisgaram instantaneamente."
"Sarah..."
"Não! Por favor, me ouve. Agora que comecei preciso terminar.", Assentiu com lentidão a outra. "Sei que não tenho sido a melhor pessoa do mundo com você desde que nos reencontramos e começamos a trabalhar juntas no hospital. Te evitei... Te rejeitei... Te magoei a beça... E me arrependo muito disso. Até me odeio por tal comportamento, que foi motivado por puro medo."
"Medo?... De quê?"
"Ah... Sou sua chefe, Juliette. Eu tinha medo de manchar sua carreira com uma relação entre a gente quando isso viesse a tona. Os comentários maldosos que fariam de que...", ela não ousou completar aquilo que diria.
"De que eu estaria com você para obter regalias?", Juliette completou pela chefe.
"Infelizmente tem gente maldosa a esse ponto, Juliette."
"Eu sei. E também sei lidar muito bem com comentários maldosos, Sarah. Não sou criança! Além do mais se eu fosse me deixar abalar por cada comentário maldoso que já ouvi até hoje, não teria vivido a minha vida."
"Também tinha medo por ser mais velha que você. Medo de ceder e depois você enjoar de mim e me trocar por um cara ou uma mulher mais jovem."
"Bom saber que você me acha tão volúvel assim!", Retrucou em tom ressentido.
"Não, não acho! Mas... Céus! Olha pra você... é jovem. Cheia de vida. E, agora, olha pra mim.", Abriu os braços. "Somos diferentes, Juliette. Mas... Eu acho que as nossas diferenças se completam, por isso estou aqui. Levei dois anos para entender isso, mas entendi. E agora, estou aqui para te pedir que se não for tarde demais e você me der uma chance só... Eu quero tentar... tentar não...", balançou a cabeça em negação. "...quero fazer dar certo nós duas juntas. Quero construir uma relação e uma vida com você, Juliette. E darei o meu melhor por isso, por nós.", tomando coragem, a loira segurou as mãos da cardiologista que descansavam unidas nas coxas da mesma. "Me dá uma chance, Ju?... Ou é tarde demais para haver um "nós" no lado pessoal?"
A cardiologista piscava quase que sem acreditar no que acabava de ouvir. Muita coisa que ela sempre desejou escutar saindo da boca de Sarah tinha saído naquele instante e parecia tão irreal e inacreditável, que sua ficha não queria cair.
Será que aquilo tiro era um sonho? Não era possível aquilo está acontecendo de verdade ou era?
"Juliette!", Sarah chamou calmamente diante do silêncio de quase meio minuto da outra. Seu coração já estava quase para sair pela boca de angústia e aflição por uma resposta da outra.
A cardiologista desfez com rapidez e pressa o contato de sua mão com a de Sarah e apanhou o copo de água da outra. Em um gole apenas tomou os dois dedos restante da água, para depois devolver o copo a mesa e se levantar do sofá indo para o lado oposto da sala, tentando organizar sua mente e seus sentimentos, e acalmar as batidas frenéticas de seu coração, diante de tudo o que foi ouvido.
Quer dizer que todo esse tempo sua chefe lhe rejeitou por medo? Medos bobos na visão da cardiologista, que só fizeram sofrer a ambas.
Do sofá, Sarah apenas observava a cardiologista andando em silêncio de um lado a outro enquanto torcia silenciosamente por uma resposta positiva vinda dela. Mas caso viesse uma negativa seria bem feito e merecido por ter sido uma estúpida e, principalmente, covarde.
"Sabe quanto tempo eu esperei pra ouvir você se declarar pra mim, Sarah?", a cardiologista enfim se pronunciou ao parar de andar e encarar a outra mulher no sofá. E sem esperar por sua resposta, ela mesma respondeu: "Muito tempo. Tanto que desisti de esperar e falei a mim mesma: vou virar essa página. E virei!"
Ao ouvir isso, Sarah fechou os olhos e quis chorar de tristeza, porque pelo visto tinha chego tarde demais. Mas também quem mandou ser uma covarde. Perdeu a única chance de ser feliz com alguém especial. Alguém por quem nutriu pela primeira vez na vida algo verdadeiro.
"Mas aí você aparece no meu apartamento e diz tudo isso e..."
Ela tinha todos os motivos para dizer "não", para se negar a dar uma chance a outra como ela pediu, ainda mais depois de saber as reações pelas quais Sarah agiu da forma como agiu esses dois anos. Porém seu coração era além de masoquista, um tolo apaixonado mesmo por aquela cabeça dura e sisuda médica, que tornava impossível lhe rejeitar como ela própria fora rejeitada por Sarah inúmeras vezes em um passado de algum tempo atrás.
"Droga! Eu não consigo te dizer "não"!", levou as mãos a cabeça e esboçou um sorriso nervoso para Sarah que aquela altura estava de olhos bem abertos lhe encarando.
"Isso por acaso, foi um... sim?", Indagou Sarah quase sem acreditar naquela possibilidade.
"Sim! Eu aceito te dar uma chance, doutora Andrade, porque eu também sou completamente apaixonada por você, sua médica cabeça dura."
Sarah sorriu da lembrança. Depois de ter recebido o "sim" de Juliette, ela descobriu pela primeira vez o gosto doce de seus lábios em um beijo que lhe tirou o fôlego e fez seu corpo entrar em combustão e ambas pararem na cama da cardiologista momentos depois para uma sessão quente de amor, a primeira de muitas que vieram depois daquela.
Por um segundo a loira se pegou pensando como estaria sua vida hoje se naquele domingo, Juliette tivesse lhe dito um sonoro "não". Provavelmente seria uma pessoa infeliz, amargurada e entregue completamente ao trabalho, algo totalmente oposto do que era. O "sim" de Juliette mudou sua vida e mudou a si mesma. Era como se houve uma Sarah antes da cardiologista fazer parte de sua vida e outra Sarah completamente diferente depois de Juliette e ela estarem juntas.
A loira terminou seu almoço tardio e lavou a pequena louça que sujou. Depois foi para sala, pegou seu notebook e do sofá abriu seu e-mail. Aílton disse que ia mandar alguns papéis com a inscrição de Juliette no Seminário e no mini curso, o qual Sarah seria uma das palestrantes e professoras, mas declinou do convite, inventando uma desculpa qualquer e pediu ao amigo se não poderia mandar outra pessoa em seu lugar não para dar aula, mas para participar do curso. Aílton concordou não muito feliz, porque queria sua amiga em uma palestra e ministrando uma das aulas do curso.
Assim que abriu o e-mail estava lá o nome de seu amigo. Abriu a mensagem e nela continha um anexo com a ficha de inscrição de Juliette com todos seus dados e o comprovante com os dados da sua passagem, assim como demais informações sobre o embarque que seria depois de amanhã. Na mensagem Aílton ainda disse que Juliette teria direito há hospedagem nos dormitórios da universidade.
Sarah tratou de enviar um e-mail em resposta, que Juliette não ficaria hospedada em um dormitório da UFCG, pois seus pais moravam perto do local. Em seguida agradeceu ao amigo pelo arranjo e tudo mais que ele fez para atender seu pedido.
Resposta enviada ao amigo e agora, era só contar a Juliette sobre aquele arranjo que fez, torcendo para que ela aprove.
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