Capítulo 29 (extra): Mudanças e revelações
N/A: Salve, salve, minha gente! Primeiro quero pedir desculpas por ontem não ter postado o capítulo, meus amores. É que cheguei em casa com uma crise horrorosa de enxaqueca e nem pegar no celular pra revisar o capítulo eu peguei. Tomei remédio e apaguei. Segundo que não deu para postar de manhã, porque estava muito atarefada. Mas cá estou com o capítulo revisado para vocês.
Vamos lá saber o quê o Dilson quer conversar com a Sarah e também, descobrir a reação do mesmo e dos demais ao saberem sobre o relacionamento das nossas doutoras?
Então simbora comigo!
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Ela deu duas batidas na porta e aguardou a autorização que veio dois segundos depois. Ao entrar na sala de Dílson, Sarah encontra o homem ao telefone. Ele sinaliza com a mão livre que ela se aproxime e lhe aponta uma cadeira. A médica fecha a porta atrás de si e segue até se acomodar no móvel de estofado macio, que fica diante da mesa do homem.
- Sim. - ele fala e ergue a mão para Sarah, pedindo que aguarde só um instante. - Tudo bem. Sim, sim, ela já está aqui a minha frente. - Sarah franze a testa ao ouvir o sujeito se referir à ela com a pessoa que está falando com ele na linha. - Tá, ok. Passar bem.
Dílson encerra a chama, devolvendo o telefone a base em sua mesa abarrotada de papéis e umas pastas.
- Desculpe, Sarah. Estava falando com o Diretor Geral do hospital. Assunto de suma importância que tem a ver com a conversa que pretendo ter com você.
A loira assente com desconfiança.
- Bom, estou aqui... o que quer conversar comigo?
O quanto antes ele fosse ao assunto melhor seria para Sarah, pois queria logo ter a sua conversa com ele.
- Seguinte, Sarah... - inicia o homem, cruzando as mãos sobre a mesa enquanto sua expressão facial adquire uma seriedade maior. - Há meses comecei a notar uma movimentação estranha por parte Diretor Clínico e relatei ao Diretor Geral, que por sua vez passou a ficar mais de olho no doutor Mauro, assim como eu também, sem que o próprio Mauro desconfiasse.
- Hum...
- Então aos poucos foi se descobrindo algumas irregularidades na gestão do Mauro.
- Tipo? - indaga a médica com o cenho franzido.
Doutor Mauro, um homem de mais de meia idade, sempre passou uma imagem de confiança e coerência. Apesar de seu jeito um tanto turrão e de algumas reclamações de pacientes e alguns médicos a respeito do tratamento um tanto quanto rude que ele costuma ter certas vezes, o diretor clínico lhe parecia muito correto e isento de qualquer desconfiança quanto a sua gestão.
- É bem desagradável contar isso, porque você e eu conhecemos o Mauro há mais de uma década quando ele ainda sequer era diretor clínico. E para mim, ele sempre passou uma imagem irretocável de profissionalismo desde que passou a assumir a gestão clínica do hospital há uns anos.
- Para mim também. - pontua Sarah enquanto assente e nota certa decepção na voz do chefe.
- Só que as irregularidades na gestão de dele, mostraram o contrário. Só para se ter idéia, os insumos médicos e medicamentos necessários para a realização de exames e tratamentos, que ele passou a pedir de um tempo para cá, aumentaram substancialmente, com preços superiores aos praticados no mercado, pelo que se foi averiguado. Sem contar, no uso excessivo de certos medicamentos e equipamentos do mesmo fabricante, sendo deixado de lado outros fornecedores mais em conta.
- Isso é muito sério. Você tem provas, não é?
A médica loira ficou bem surpresa com aquelas irregularidades mencionadas por Dílson e, para ele está afirmando categoricamente aquilo é porque já tinha como provar.
- Sim. Consegui após autorização do diretor geral de abrir sem alardes, uma auditoria analítica para se comprovar de fato tais irregularidades. E foi comprovado, que não só Mauro vinha junto com os fornecedores superfaturando os preços dos insumos e medicamentos, além de máquinas de exames, como também, o fornecedor e o distribuidor desses materiais estavam concedendo um determinado percentual de comissões ao diretor pelo uso de seus medicamentos / equipamentos. E isso vinha acontecendo há pouco mais de um ano já, Sarah, bem debaixo dos nossos narizes.
- Céus! - balança a cabeça em negativa a loira sem ainda acreditar. - Como ele pode fazer isso? Tantos anos aqui para sujar a carreira desta forma?
- Foram exatamente estas mesmas questões que lhe fiz, mas ele nem se dignificou a responder, ficando calado.
- E, agora, o que vai ser feito com ele? - questiona de forma retórica, por supor já o que ouviria.
- Já foi. Para começo de conversa, ele foi destituído de seu cargo e em seguida, denunciado por corrupção passiva e ativa, ao receber vantagens e valores em detrimento da administração pública.
Como ela supôs que ouviria. Até porque aquilo seria só o começo do que deveria acontecer. A médica loira sabia que vinham muitas consequências mais para Mauro e seus atos fraudulentos.
- O rigor da lei vai puni-lo pelo que fez.
- Uma pena que ele tenha se deixado levar para este lado da corrupção, mas seus atos, realmente têm que ser punidos com o rigor da lei. - Dílson assente em concordância. - Bom... Agora, eu preciso te perguntar: onde eu me encaixo nisto? Por que você está me informando desta situação? Eu não sou do corpo administrativo.
Em sua concepção, a médica loira não via qualquer razão para ela, uma simples chefe de turno, ser informada de algo que nem é de sua alçada.
- Com a destituição do Mauro do cargo de Diretor Clínico, abriu-se tal vaga. E em uma reunião de conselho seu nome foi citado junto com o da Doutora Lumena para assumir a Direção Clínica, já que ambas tem um "tempo de casa" bem significativo aqui no hospital e são duas profissionais acima da médica.
Sarah se remexe na cadeira, já começando a entender o rumo pelo qual a conversa iria.
Por favor, não diga que serei eu!, Roga em silêncio Sarah.
- Foi feita dias atrás, uma eleição direta com voto secreto, na qual os votantes foram a alta junta médica do hospital e eles decidiram por dois votos de diferença que... Você é a mais nova Diretora Clínica.
- Eu? - sua voz soa vacilante após ficar certo tempo em estado catatônico pela tão temida informação recebida.
- Sim. - confirma Dílson para em seguir desatar a dar mais informações, que Sarah sequer consegue prestar atenção ou digerir.
Ela, Diretora Clínica!
Tal cargo exigiria muito mais ainda dela e de seu tempo. Sem contar que lidaria com muito mais assiduidade com burocracias, algo que detesta, por isso mesmo rogou para não ouvir aquela novidade sair da boca de seu superior.
E, se não bastassem essas coisas, ainda tinha a proposta do livro que aceitou escrever.
Um certo pânico passa a lhe acometer. Como fará para balancear aquelas responsabilidades todas sem negligenciar uma ou outra?
- Sarah, você ouviu o que eu disse?
- Ãhm?! - sua atenção se volta ao homem diante de si com uma expressão confusa. - Pode repetir? Eu me perdi na sua explicação.
Ela nota Dílson exalar de modo áspero o ar pela boca.
- Ok. - diz o sujeito sem muita boa vontade. - Você assume o cargo já depois de amanhã quando sair a homologação de sua promoção e também a da doutora Lumena como sua vice-diretora, no Diário Oficial. Com sua subida de posto, a doutora Cardoso passa a assumir a supervisão do turno noturno e um novo médico será deslocado para a equipe não ficar desfalcada.
Ainda aturdida com todas aquelas informações que iam sendo despejadas sobre si, Sarah só sabia assentir em concordância. Não deixou de ficar genuinamente feliz com o fato de Kerline assumir seu posto. Sua amiga é mais que merecedora daquela promoção.
Dílson ainda prossegue com mais informações burocráticas as quais agora Sarah mantém sua atenção focada, ao mesmo tempo, que vai lhe caindo a ficha de quê tal posto pode ter vindo em uma hora providencial, pois com aquilo TALVEZ, ela e Juliette não sofressem sanções mais duras por violar a regra do hospital.
Sua promoção não faria com que ela tivesse que entrar em conflito com Dílson a respeito de uma eventual mudança de Juliette de turno, já que agora Kerline seria a superior da cardiologista e a mesma não mais iria se reporta à Sarah.
Porém, desconfiava que ainda assim poderia se abrir margem para um inquérito administrativo pelos anos de relação secreta, mas Sarah tinha argumentos prontos na ponta da língua quando assim contestada por Dílson.
- E, é isso, Sarah. - finaliza o diretor técnico. - Peço que dê a notícia aos seus comandados sobre a nova supervisora deles. Além de deixar resolvidas suas pendências e repassar todas as informações que sejam de importância a doutora Cardoso.
- Certo!
- Terminamos por aqui.
- Na verdade não. - se pronuncia a loira. - Agora sou eu quem tenho uma conversa a tratar com você.
- Dúvidas ainda sobre o seu...
- Não tem nada a ver com meu novo posto. - se adianta em dizer, atropelando a fala do homem.
- Então do quê se trata?
- Só um instante... - ela pede já enfiando a mão no bolso do jaleco e apanhando o celular. -... Tem outra pessoa que precisa estar presente na nossa conversa. - informa já discando o número da namorada. Leva três toques até que Sarah ouça a voz de Juliette do outro lado da linha. - Oi, você já pode vim a sala do Dílson para falarmos com ele. - ao fundo a loira escuta a voz de Gil cobrando algo de Juliette, que o manda se calar antes de responder a cirurgiã um "já estou indo". - Te aguardo.
Ela encerra a chamada e devolve o celular ao bolso do jaleco sob o olhar curioso do homem a sua frente.
- Posso saber quem está vindo fazer parte da conversa? - não se contendo de curiosidade o diretor técnico indaga.
- A doutora Freire.
- Qual razão dela participar da conversa? Aconteceu alguma coisa?
- Quando ela chegar, você saberá.
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Acomodada em uma cadeira na sala dos médicos, Juliette era alvo de diversos pares de olhos inquisidores e atônitos por conta do anel de compromisso que sem querer, ela deixou à mostra.
Desde que chegou, a morena mantinha a mão direita escondida dentro do bolso do jaleco, mas em um pequeno descuido tirou a mão do lugar e foi o bastante para Gil com seus olhos de águia notar do outro lado da mesa, a jóia de compromisso, e fazer um escarcéu na mesma hora, chamando a atenção dos demais.
- Bora, Juliette! Desembucha, mulher. - exige Gil diante do silêncio da amiga. - Quem é o felizardo ou felizarda?
A cardiologista se sentia a própria ré em um julgamento, onde era interrogada e deveria confessar seu crime enquanto os companheiros de trabalho pareciam o corpo de jurados, em sua maioria lhe encarando de forma incisiva. Apenas Rodolffo não fazia isso.
- Eu ainda não posso contar. - revela com rapidez.
Sarah e ela tinham combinado mais cedo de contar juntas depois da conversa com Dílson, por isso mesmo, a cardiologista vinha mantendo escondida a mão com o anel de compromisso, para que os outros não descobrissem antes do tempo. Só que acabou falhando nisto e a vontade de estapear sua própria cara é gigante no momento.
- Por que não? - Arthur foi quem indagou.
- Porque não, oras. - responde sem conseguir formular uma resposta mais decente, por conta de todo o nervoso pela situação.
- E você dizendo que ia usar sozinha aquelas coisas que comprou no shopping, né? - Caio tinha um sorriso malicioso ao se lembrar daquele episódio.
- Que coisas? - a pergunta saiu em um coro quase que perfeito dos demais que não sabiam das aquisições da morena.
- Nada de importante. São coisas minhas. - responde, lançando um olhar assassino para Caio que no mesmo instante desfaz o sorrisinho malicioso da cara.
- Juliette só escondendo o jogo da gente, sua danadinha. - comenta Kerline rindo ao se lembrar do episódio do shopping mencionado por Caio, que era do conhecimento dela e não dos demais.
- Vocês podem parar? - pede a cardiologista extremamente sem graça.
- Aí, estão deixando a Ju envergonhada, pessoal. Vamos parar! - Rodolffo intercede pela amiga.
- Ih, se mete não, Rudolffo! Que o papo aqui é entre a Juliette e eu. - Gil rebate de modo grosseiro ao colega. - Eu sou o seu melhor amigo e sequer sabia que você estava namorando e aí, do nada, você aparece com uma aliança na mão direita. Isso é muita cachorrada da sua parte, amiga. Eu estou indignado!
No fundo a cardiologista até dava razão a indignação de seu amigo e o visível ressentimento dele. Só que ela conhecia Gil bem o bastante para saber que o seu melhor amigo apesar de ser uma pessoa maravilhosa e deles terem uma relação que beira a irmandade, guardar segredo não é uma das virtudes do homem. Gil é um boca de sacola de primeira, diferentemente de Rodolffo. Por isso mesmo que ela tomou a decisão de não contar para Gil sobre sua relação com Sarah.
- Gil, eu acho que você está sendo dramático demais, moço. A Ju não tem que dar satisfações da vida particular dela pra você SÓ porque são os melhores amigos. - pontua Rodolffo. - Na verdade, ela não tem que dar satisfação a nenhum de vocês aqui. A vida é dela, gente.
A sala cai em um silêncio total após a chamada de atenção de Rodolffo. Com o olhar, a cardiologista agradece a intervenção do amigo.
- Tá, mas quem é o felizardo ou felizarda?
Pela segunda vez Gil lança a questão.
- Eu falei em japonês, foi? - Rodolffo taca uma bolinha de papel na direção de Gilberto, lhe acertando em cheio na cabeça e causando risadas no pessoal.
- Ai, seu basculho!
- Como é que é, moço?
- Basculho! - repete o outro em meio a risada do pessoal.
- Que porra é basculho, Gil? - Rodolffo franze a testa.
- Não interessa! - rebate o outro homem. - Anda, Juliette, me responde, mulher! - cobra de novo o homem.
Para sorte e alívio da morena o toque de seu celular reverbera no bolso do jaleco. E ela agradece mentalmente por aquela providencial ligação a qual já até imagina de quem seja.
- Alô! - ouve do outro lado, Sarah dizendo que ela já pode ir a sala de Dílson para falarem com ele. Enfim havia chego o momento de contar ao sujeito sobre elas.
- Juliette dá pra parar de tentar me enrolar e dizer o que quero saber?
- Cala a boca, peste. - retruca ao amigo. - Já estou indo. - diz a Sarah, ouvindo em resposta da outra um "Te aguardo".
Assim que encerra a ligação, a cardiologista se põem de pé.
- Preciso resolver uma coisa. - comunica já se dirigindo para a saída da sala.
- Você não vai contar mesmo pra gente de quem está noiva?
Parando em frente da porta já aberta, a cardiologista se volta aos companheiros de trabalho.
- Juro que quando eu voltar, conto.
Dito isso, ela sai da sala.
O caminho até a sala de Dílson pareceu longo demais. E a cada passo em direção aonde Sarah lhe aguardava, Juliette sentia o coração bater mais acelerado e um nervosismo misturado com apreensão ir tomando conta de si.
Ao mesmo tempo em que se sentia aliviada por poder abrir o jogo e passar a não mais esconder das pessoas sua relação com Sarah, também havia certo receio por revelar e as consequências daquela revelação serem duras a ponto de arranhar tanto sua carreira ainda em crescimento, como a de Sarah, que já é consolidada e irretocável aos olhos dos superiores que tanto tinham estima por ela.
A cardiologista é ciente o suficiente para saber que o lado mais fraco da balança é ela e que se o pior vier a acontecer, ela têm chances enormes de ser a que se dará mais mau se comparado com Sarah. Mas também é ciente que sua noiva fará de tudo para não deixar que nada de ruim venha lhe acontecer ou a elas.
"Se eu tiver que brigar por você, pela gente. Eu brigarei. Se demitirem você. Eu irei junto, linda! Não terá meio termo."
Recorda a cardiologista enquanto se aproxima da porta distante dela já pouco metros. De forma alguma, queria pensar naquela consequência de demissão, ainda que ela seja real e nada improvável de vir a suceder.
Porém mesmo com o temor gritando dentro dela, não custava buscar nas profundezas do seu ser um pouco de positividade e esperança de que no final, tudo não terminará tão ruim quanto seus receios teimam em pintar dentro de sua cabeça.
Assim que se vê diante da porta fechada da sala onde lá dentro está sua noiva e o superior delas, Juliette inspira o ar pelo nariz e expira pelo boca. Uma vez. Duas. Três. De maneira funda e lenta, tentando acalmar as batidas de seu coração e baixar seu nervosismo. O exercício de respiração surte efeito após mais algumas repetições e esta é a deixa para Juliette ergue uma das mãos fechadas, para dar duas batidas na porta. Não tarda quase nada para ouvir um "entre" do diretor técnico.
- Com licença. - pede ao entrar na sala e ser alvo dos olhares de Sarah e Dílson. Enquanto sua namorada transmite segurança com seus belos olhos verdes, o homem do outro lado da mesa demonstra certa confusão.
- Vem, linda. - chama Sarah ao se pôr de pé e estender a mão na direção da cardiologista. Atrás de si, a loira ouve Dílson sussurrar em tom interrogativo o apelido pelo qual chamou Juliette.
Pega de surpresa pela forma com a qual a namorada lhe chama na frente do sujeito ali com elas, a cardiologista leva alguns segundos para fechar a porta atrás de si e caminhar até onde Sarah lhe espera. Mesmo hesitante, Juliette segura na mão da noiva, que entrelaça seus dedos aos dela pouco se importando com a presença de Dílson.
Sem largar a mão da cardiologista, Sarah aponta para a amada a cadeira vazia ao seu lado. Tão logo as duas mulheres se acomodam cada qual em uma cadeira e encararam o sujeito, percebem sua cara de completa confusão e choque.
Se não estivesse tensa e voltado ao seu estado de nervosismo, a cardiologista seria capaz de rir da cara do sujeito. Seus olhos pareciam prestes a saltar da cara e sua boca estava aberta, formando um O enorme.
- Dílson... - Sarah inicia, mas nem tem tempo de dar continuidade, já que o sujeito diante dela lhe interrompe na mesma hora.
- O que significa isso? - o homem aponta para as mãos juntas das duas médicas, descansando sobre o braço da cadeira de Juliette.
- Eu não gosto de muito rodeio então... Vou ser bem direta. - Sarah pontua, lançando um rápido olhar a Juliette antes de voltar a encarar o homem diante delas e dar prosseguimento em sua fala. - Dílson, a doutora Freire e eu temos um relacionamento amoroso e resolvemos abrir o jogo com você, porque em um mês pretendemos nos casar.
Juliette não sabia se dava um beliscão no braço de Sarah ou um beijo em sua boca linda por ser tão direta na revelação. Sua noiva poderia ser mais sutil e não disparar aquela informação a queima roupas. Pôde ver pela segunda vez os olhos de Dílson se arregalarem e quase saltarem de sua cara.
- Desde quando vocês estão juntas? - balbucia o sujeito ainda em choque.
- Há mais de um ano e meio! - de forma calma, Sarah responde quase que imediatamente a pergunta feita.
- O quê?!
Dílson se deixa cair com as costas no encosto de sua cadeira giratória.
- Se não fosse por culpa minha, nós estaríamos juntas há muito mais tempo que isto. Talvez antes mesmo de Juliette vir trabalhar aqui.
- Espera aí! Vocês já se conheciam antes?
- Sim. - desta vez foi Juliette quem tomou a dianteira da responda. - Nós conhecemos em uma palestra que Sarah deu na época em que eu estava cursando a faculdade.
- Por que não me procuraram logo que... Que... Começaram a... Se relacionar romanticamente?
Foi nítido para as médicas o desconforto do sujeito ao fazer o questionamento. E, por incrível que pareça, seu embaraço chegava a ser cômico, assim como as caras e bocas que ele fazia a cada informação que recebia por intermédio das perguntas lançadas ao casal.
- Porque não queríamos que soubesse ainda, ora.
A resposta um tanto quanto ríspida de Juliette, não foi muito bem recebida pelo diretor.
- Aí, resolveram esconder isso, mesmo cientes de que não era a melhor opção?
- Dílson...
- Vocês infringiram uma regra de conduta do hospital em que diz...
- Não se dê o trabalho de nos dizer qual é a regra, porque somos cientes dela. - Juliette se pronuncia, interrompendo o sujeito. - Sempre estivemos cientes dela.
- Então também estão cientes que enfrentarão um inquérito administrativo por isso? - o homem revesa seu olhar furioso entre a cardiologista e Sarah, que assentem juntas em resposta. - Que muito provavelmente, suas avaliações... - aponta com o indicador para Sarah. - quanto a doutora Freire serão contestadas? Bem como, possíveis privilégios que, certamente, tenha dado a ela por ser sua namorada?
- Sempre fui imparcial nas minhas avaliações. E jamais previlegiei a doutora Freire por termos um relacionamento da porta para fora deste hospital. - explica Sarah em uma calma que ela não sabia de onde estava tirando.
- Sarah e eu soubemos muito bem separar as coisas, Dílson. - Juliette endossa o argumento da noiva. - Aqui ela é minha chefe e nada mais que isto.
Nesse tempo em que estão juntas, Juliette nunca foi privilegiada por Sarah, muito pelo contrário, se alguém ali tinha um pouco de privilégios e regalias com a cirurgiã chefe, esse alguém era Kerline. Talvez por ser amiga de longa data da cirurgiã chefe e/ou assumir um posto de quase assistente de Sarah por algumas vezes, quando a chefe se ausentava para participar de algum simpósio ou congresso fora de São Paulo e a doutora Cardoso assume a chefia.
- Eu vou fingir que acredito. - debocha o homem.
- Se não quer acreditar, não podemos fazer nada. Mas tanto eu quanto a doutora Freire temos a consciência tranquila de que não faltou respeito, profissionalismo e ética em nosso tratamento e na nossa relação de chefe e subordinada. - verbaliza a cirurgiã em um tom mais áspero diante do deboche escancarado da fala de Dílson.
O diretor técnico vagueia seu olhar entre as duas mulheres diante de si, ao mesmo tempo, que bate com as postas dos dedos das mãos sobre uma pequena pilha de papéis, nada satisfeito ainda.
- A sorte de vocês é que Sarah acaba de ser promovida.
- Promovida? - Juliette não esconde sua surpresa ao indagar.
- Ela agora é a nova Diretora clínica. Acredito que em casa, ela vá lhe dar os devidos detalhes disto. - Dílson sorri de forma tão irônica quanto soam sua segunda frase.
- Com certeza em casa darei os detalhes a ela, sim. - rebate a loira sem se deixar abalar pela ironia vinda do sujeito.
- Diante deste novo cargo dela, não será necessário que você mude de turno, posto que agora, doutora Freire, você irá se reportar a doutora Cardoso. Mas isto não significa que não abrirei um inquérito administrativo por burlarem uma das regras de conduta do hospital.
- Pode abrir o inquérito que quiser. Não vai encontrar nada de errado.
- É o que espero mesmo, Sarah. E ambas já fiquem logo cientes que cada uma receberá uma carta de advertência.
O homem ainda dita mais algumas reprimendas ao casal pelos quase dez minutos seguintes.
- Uma dúvida, Sarah. - Dílson diz quando as médicas estão prestes a sair de sua sala após o homem dar por encerrada a conversa com elas.
- Qual?
- Seu pessoal sabia sobre vocês?
- Não. Mas saberão assim que eu e Juliette chegarmos lá na sala onde eles estão. - dito isto a cirurgiã saiu da sala logo atrás de Juliette.
Ao ver a porta ser fechada por Sarah atrás de si, Juliette apoia as costas na parede ao lado e tira o óculos, apertando o canto dos olhos.
- O que foi? Está passando mal? - Sarah toca o ombro da amada mostrando-se imediatamente preocupada.
A cardiologista nega de olhos fechados.
- Tem certeza?
- Absoluta. - fala ao abrir os olhos. - Achei que seria pior do que foi.
O saldo foi muito mais positivo do que as melhores - e ilusórias - projeções que fez. Elas saíram apenas com uma carta de advertência, um sermão enorme na conta e SÓ!
- Também. - Sarah sorri e apoia a mão na parede, quase próximo ao rosto da cardiologista.
- Juro que teve vezes que quase ri das reações dele a cada coisa que contávamos sobre nós.
- Não via a hora dele ser acometido por algum mal súbito.
O comentário da cirurgiã rende risos no casal, que em poucos instantes já havia cessado o riso.
- E essa sua promoção, hein?
- Ah, confesso que a princípio não me agradou nada. Mas após pensar em quão providencial para nós ela foi, aí passei a gostar.
- O que houve com o Mauro?
- Depois te conto tudo. Agora temos um round 2 a enfrentar lá na sala dos médicos, doutora Freire. Vamos lá?
- Vamos nessa, doutora Andrade. - recoloca o óculos a cardiologista.
Enquanto elas seguem lado a lado pelo corredor do hospital, Juliette revela a Sarah que sem querer Gil viu a aliança no dedo dela e fez um moído danado na sala, querendo saber de quem ela havia ficado noiva.
- Ah, então era isso que ele estava te cobrando, quando liguei e ouvi ao fundo a voz dele?
- Era.
- Pois a curiosidade dele será sanada já, já.
Alguns instantes depois elas estavam diante da porta da sala.
- Pronta para enfrentar as feras lá dentro? - Juliette brinca.
- Mais que pronta! - responde a cirurgiã, tomando a mão da noiva na sua e entrelaçando seus dedos aos dela.
Antes que Juliette pudesse dizer qualquer coisa com relação ao fato de entrarem de mãos dadas, Sarah já tinha aberto a porta e entrado, levando consigo a cardiologista pela mão.
- Boa noite, pessoal!
Os outros médicos respondem e no segundo seguinte vários olhos estão arregalados ao repararem melhor que Sarah se aproxima do grupo de mãos dadas com Juliette, que tentava não rir da cara dos companheiros de trabalho.
- Antes de dar início ao trabalho, quero comunicar a vocês que... A doutora Freire e eu estamos juntas e vamos nos casar. - conta da mesma forma direta com a qual havia feito anteriormente com Dílson.
Tirando Rodolffo que sorriu, demonstrando alegria e Viviane que de semblante fechado não era capaz de esconder seu descontentamento com o que ouviu, os demais ostentavam em suas expressões faciais um grande estado de choque que chegava a ser cômico de se ver.
- Acho que fui direta demais. - cochicha Sarah antes de morder o canto interno de uma das bochechas.
- Também acho.
Assim que a cardiologista termina de falar, Carla é a primeira a se expressar verbalmente depois da notícia "bomba".
- Gente do céu!
Em seguida foi a vez dos demais se expressarem com frases como: "Não acredito!", "É pegadinha, certeza!", "Isso não pode está acontecendo!" E mais outras.
Na sequência veio um bombardeio de perguntas de todos os lados e ao mesmo tempo, não dando margem para respostas das médicas. Então, Sarah interveio proferindo um alto "chega!". Foi o suficiente para o pessoal se calar no ato.
- Depois do turno a gente responde as perguntas de vocês, porque se formos fazer isto agora, não vamos trabalhar. E nosso horário já deu.
O argumento não deixa de ser a mais pura verdade. No entanto, também é um meio eficiente que a cirurgiã encontra de fugir por hora do interrogatório do pessoal, o qual se mostrou assustador e intimidante, como ela não imaginou que seria.
- Não acredito que você vai nos fazer esperar até o fim do turno, Sarah?
- Sim, doutora Cardoso. Mas antes tem mais outra coisa que preciso dizer.
- Vocês vão ser mães, é isso? - alguém questiona, atropelando a fala de Sarah.
- Não, minha gente! - a cardiologista se adianta em responder. - Ninguém aqui vai ser mãe ainda, não. Oxe!
- Ainda? - Sarah olha com surpresa para a noiva. Até então o tema "filho", sequer havia sido conversado entre elas, exceto mencionado ontem quando Sarah falou em seu pedido de casamento que queria construir uma família com Juliette.
- É, ainda! - diz dando de ombros a cardiologista.
- Se não é isso o que é?
- Depois de amanhã, eu assumirei a Direção clínica do hospital. - comunica se voltando para o grupo.
- Que?! - o pessoal todo diz em uníssono.
- Doutor Mauro foi destituído e Dílson me contou que houve uma votação na qual eu acabei sendo a eleita para o cargo. - resume.
A cirurgiã recebe então os parabéns de cada um dos colegas e depois, quem recebe felicitações é Kerline ao saber que ficará no lugar de Sarah no comando da equipe médica.
- Por que o Mauro foi destituído, Sarah? - a nova chefe do turno da noite indaga o que os demais queriam indagar, mas não tinham muita coragem.
- Descobriram algumas irregularidades em sua gestão. - diz não querendo entrar em detalhes. - Agora, chega de perguntas. Ao trabalho que já estamos atrasados. Andando.
- Vocês duas têm contas a acertar com a gente, viu? E nada de nos enrolar, não. - sentencia Ker ao passar por Sarah e Juliette.
- Eu só vou dar os parabéns ao casal depois que conversamos direito. - é a vez de Gil dizer também ao passar pelas médicas.
Os outros foram passando sem dizer nada, mais em compensação, sorriam para o casal recém revelado ou então apenas lançavam olhares de malícia ou seriedade. O último a passar pelas médicas foi Rodolffo que fez questão de felicitar o casal pelo futuro casamento.
- Obrigada, piruca.
- Espero ser convidado.
- Mais é claro, né Sarah?
- Sim.
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A notícia sobre a promoção de Sarah e, principalmente, seu relacionamento com Juliette logo já havia se alastrado pelo hospital, mais rápido que fogo em palha seca.
Não era surpresa alguma tanto para a cirurgiã quanto para a cardiologista, se depararem com outros funcionários do Gomes da Costa de cochicho pelos cantos quando passavam perto deles. No início chegou a ser incômodo para ambas, mas depois elas decidiram ignorar, seguindo com seus trabalhos.
Quando o horário na tela do celular marcava cinco para à meia-noite, Sarah que naquele instante havia terminado um atendimento, digita uma mensagem para um número bem conhecido.
Juliette estava terminando de atender uma criança cardiopata com o auxílio da cardiologista pediátrica, quando o ruído sonoro vindo de seu celular se faz presente. Ao apanhar o aparelho, ela nota que se trata de uma mensagem de Sarah.
"Linda, venha ao almoxarifado rápido. Preciso da sua ajuda urgente, mas não diz nada a ninguém. Vem sozinha, por favor."
- Meu Deus! - exclama Juliette preocupada, já temendo que algo de ruim tenha acontecido a Sarah no almoxarifado.
- Aconteceu alguma coisa, doutora Freire?
A morena levanta os olhos da tela do celular para encontrar tanto a experiente médica Stella quanto o pequeno paciente que atendiam, bem como os pais dele, lhe encarando.
- Hum... - com um pigarro, Juliette limpa a garganta antes de se pronunciar. - Sim. Será que a doutora se importa de finalizar o atendimento sem mim? Preciso resolver uma coisa agora.
- Sem problema, mas você está bem? Me parece pálida.
- Estou bem, sim. Com licença.
Em passadas rápidas, quase que correndo, a cardiologista segue para pegar um elevador que lhe deixará no andar do almoxarifado.
No pouco tempo que leva para pegar o bendito elevador e chegar ao andar que queria, foram dois angustiante minutos em que sua cabeça foi inundada por diversos motivos - a maioria ruins, diga-se de passagem - que teriam ocorrido com Sarah.
Quando enfim, a cardiologista entra no local onde a loira disse que estaria, a primeira coisa que Juliette faz, é chamar pelo nome da amada.
- Aqui atrás da última estante onde ficam os EPI's. - responde a cirurgiã.
A morena se dirige até o lugar, para encontrar uma Sarah fisicamente bem e, ainda por cima, exibindo um pequeno sorriso nos lábios, enquanto suas mãos estão escondidas atrás de si, feito uma garota que tinha acabado de aprontar uma daquelas.
- Pode me explicar o que está acontecendo? - cruza os braços de cara fechada. - Eu quase tive um infarto com a sua mensagem, achando que tivesse acontecido algo de ruim. E, agora dou de cara com você aí, muito bem, obrigada. Ainda por cima, rindo.
- Desculpa ter te assutado. - pede a outra se aproximando lentamente da amada. - Mas eu precisava que você viesse o quanto antes e sozinha até aqui.
- Por que?
- Pra ser a primeira a te dar os parabéns. Já são exatamente meia-noite. Feliz aniversário, linda!
A cardiologista vê a noiva lhe estender um estojo retangular na cor preto. Dentro dele, ela encontra uma delicada pulseira de ouro 3 cores com Berloques Sol, Lua e Estrela.
- Ai, Sarah! É lindo! - ela se atira nos braços da loira em um abraço apertado, deixando de lado sua pequena ira pela mensagem da namorada. - Obrigada, baby! - agradece com o rosto escondido na curvatura do pescoço de Sarah
- De nada, linda! E desculpa de novo por te assustar.
- Tá desculpa. - seus braços se afrouxam em torno da cintura da loira e Juliette encara o rosto da amada. - Só dessa vez, hein, porque se tu me assustar assim de novo, eu vou arengar feio contigo.
- Vou me lembrar disso da próxima vez. - diz Sarah antes de receber um selinho demorado da cardiologista como mais uma demonstração de agradecimento pelo presente, que um tempo depois ela já ostentava no pulso esquerdo após o casal retornar ao trabalho cada qual para um lado do hospital.
❤️❤️❤️
Reunidas em uma mesa da lanchonete próxima ao hospital, com o restante do pessoal da equipe - exceto Viviane que declinou do convite para um café com o grupo, o que Juliette apreciou muitíssimo diga-se de passagem - a cardiologista e Sarah eram sabatinadas pelos amigos com perguntas do tipo: "Quando começou o relacionamento?", "Quem chegou em quem e se declarou primeiro?", "Por que omitiram deles a relação delas?" E outras mais, que o casal se revesava em responder como se estivessem em programa de perguntas e respostas.
As cômicas expressões que os companheiros de trabalho deixavam escapar em reação a cada resposta dada, desencadeava altas risadas em Juliette e sorrisos discretos em Sarah. A reação que mais tirou risos, ou melhor, gargalhadas da cardiologista foi quando eles souberam que elas até moravam juntas há tempos já.
Foi exclamações de "passada e chocada!" de um lado, "tô bege!" do outro e alguns palavrões que chegaram a chamar a atenção de outras pessoas nas mesas próximas, o que rendeu uma reprimenda por parte de Sarah.
Aí, quando Gil e Kerline começaram com sua indiscrição, querendo saber mais do que deviam, o casal de médicas, principalmente Sarah, se recusou terminantemente a responder.
- Minha gente, parou! Vocês estão querendo saber além da conta já, oxe! - repreende a cardiologista.
- "Vocês" uma vírgula. - Arthur se manifesta após um gole de café. - ELES... - aponta na direção de Kerline e Gil. - que querem saber além da conta.
- Exatamente. Eu não estou interessado em saber quem é a ativa, passiva ou o outro trem lá que a Ker disse, como é o nome?
- Relativa. - responde Kerline aos risos.
- Isso aí mesmo. Não quero saber quem é esses trem aí da relação de vocês, não. - Rodolffo foi quem disse.
- Muito menos eu. - agora foi a vez de Fiuk, que foi acompanhado por Carla que disse a mesma coisa.
- O Caio pelo visto quer, porque foi o único que não se negou que nem os outros. - comenta Gil em tom de malícia.
- Eu não, moço! Cê tá doido?! - se apressa em dizer o anestesista fazendo os demais rirem.
- Então por que ficou calado?
- Ai, chega, desse assunto, pelo amor de Deus, minha gente! Pula pra outro.
Atendendo ao pedido de Juliette, a conversa então mudou e se estendeu até mais um tempo quando o cansaço pelo último plantão começou a pesar no grupo, que resolveu bater retirada após cantarem parabéns para a aniversariante do dia e brindarem com suas xícaras de café.
❤️❤️❤️
- Me sinto leve, por não precisarmos mais nos esconder.
- Eu também, linda! - Sarah beija o ombro da noiva, por cima do tecido de algodão de seu blusão de dormir, que a cardiologista tomou para si.
As duas mulheres se encontram acomodadas na cama depois de um banho quente, tomado poucos instantes após chegarem em casa.
- Acho que deveríamos ter feito isso muito antes.
- Não acho. - rebate a cardiologista ao se virar de frente para Sarah.
- Não?
- Não. Mainha costuma dizer que as coisas acontecem no tempo certo delas. Então o tempo certo de termos contado a todos sobre nós, foi no dia que tinha que ser e não antes.
- Sua mãe é uma mulher sábia.
- Muito!
- E eu uma mulher sortuda, porque em um mês estarei me casando com a mulher mais linda!
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Aqui seria o fim da fic 💔
SERIA!
Porque depois de pensar com MUUUUUITO carinho no pedido de uma leitora enviado por MP, no qual ela disse que gostaria que tivesse o capítulo sobre o casamento das nossas doutoras, eu decidi que ainda não iremos nos despedir aqui neste capítulo só no próximo, o último. O casamento!
Então até semana que vem.
Um xero 😘😘
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