Capítulo 14 (extra) - "Estão olhando pra ela!"
N/A: Salva, salve, minha gente!
Chegay com a atualização, quase ela não saí. Mas como só faltava o finalzinho para concluir e eu consegui, então estou postando.
Já deixo avisado de antemão que semana que vem não poderei atualizar, porque estarei sem tempo para escrever e na correria com consultas médicas. Portanto só na segunda semana de novembro teremos atualizações. E eu vou tentar compensar vocês depois por essa semana que vem sem capítulo.
Agora, simbora ler.
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❤️❤️❤️
"Será que foram seus olhos,
Ou seus lábios se abrindo
No mais sublime dos sorrisos?
Será que foi sua melodiosa voz,
Ou o simples toque de sua pele?
Será que foi seu jeito meigo de ser,
Ou a força que há em seu caráter?
Não sei dizer como começou o feitiço
Apenas sei que jamais terá um fim,
Pois do tamanho que é o infinito
Assim será o meu amor por você!"
Feliz aniversário para a gente, linda❤️ Obrigada por trazer alegria ao meu mundo; por me deixar fazer parte do seu; e por me aceitar e me amar com todas as minhas imperfeições que não são poucas;
Te amo...
Te amo...
E te amo...
Hoje, amanhã e sempre!
Com os olhos levemente marejados e um sorriso bobo nos lábios, Juliette leu e releu aquela mensagem umas quinze vezes nesses poucos instantes em que já estava acordada e viu a notificação na tela do celular, quando o alarme do aparelho soou lhe despertando para seu compromisso de logo mais na universidade.
A mensagem havia sido enviada por Sarah a meia noite em ponto. Dizer que amou cada linha daquela mensagem, bem como o pequeno poema, era pouco. Sua namorada era fora de sério!
Se fechasse os olhos podia escutar a voz de Sarah lhe recitando cada palavra escrita naquela mensagem.
Uma particularidade sobre sua namorada é que ela é boa em expressar seus sentimentos através das palavras escritas. Nas palavras ditas, ela tinha certa dificuldade por conta de seu jeito tímido e introspectivo, mas Juliette já notava uma mudança significativa nisso de quando começaram a namorar para o momento atual da relação delas. Sarah estava bem mais aberta a falar o que sentia de maneira mais natural e espontânea que às vezes pegava Juliette de surpresa. Mas era uma surpresa boa. Ótima, na verdade, como essa mensagem!
Pelo horário, ela sabia que Sarah poderia ainda estar ocupada no hospital, portanto mandou uma mensagem de voz em resposta.
"Você deve estar ocupada aí no hospital. Então estou te mandando esse áudio para dizer que amei muito, muito, muito sua mensagem, cada palavra dela. E também, para te desejar: feliz aniversário por hoje! Quero que saiba que eu sou muito grata e feliz por ter uma pessoa tão incrível e especial como você ao meu lado, doutora. Mesmo você sendo uma cabeça dura e teimosa às vezes, ainda assim... Te amo daqui até a lua, baby!... E, já que me mandou um poema, vou te recitar um também. Não lembro de quem é agora, mas ele diz assim:
'Para mim a vida começou
No momento que te vi
Meu coração bateu forte
E logo soube que era por ti.
Teus olhos me iluminam os dias
Teu sorriso é minha melodia
Teu perfume me inebria de encanto
E tua presença é minha alegria.
Te amo! Hoje e para sempre
Sem interrupções; sem falsas razões
Sem segundas ou terceiras intenções
Te amo! Simplesmente te amo!'
Um beijo, meu amor. No horário do almoço te ligo."
Depois do envio do áudio, a cardiologista saiu da cama em um pulo e foi cuidar de tomar seu banho e se arrumar para o último dia de aula do curso.
Sob os jatos de água do chuveiro, ela se pegou pensando no quão enriquecedor tinham sido esses dias de aula. Aprendeu muito. Sem contar no fato de estar ali com sua família passando esse tempo ainda que não tenha tido muita oportunidade de aproveitar bem mais isso quanto gostaria, já que seu dia era praticamente passado dentro da universidade em aula ou assistindo palestras. Porém os poucos momentos em casa, ela aproveitou ao máximo o colo de sua mãe e de seu pai, bem como a cumplicidade com Washington e as implicâncias com os outros irmãos.
Era bom estar ali com os seus, mas no fundo Juliette já sentia vontade de voltar para sua casa e para os braços de sua namorada. Sentia enormes saudades de Sarah e de Bento. E depois do desentendimento que teve com a loira por conta daquela foto e, que felizmente, se reconciliarem, Juliette sentia mais vontade de voltar para casa, para seu amor.
Se não fosse a tal da confraternização de amanhã, ela iria embora hoje mesmo para casa. Até comentou com a namorada ontem sobre isso enquanto se falavam por vídeo chamada antes de Sarah ir trabalhar, mas a loira a aconselhou a não faltar a confraternização pois seria uma desfeita de sua parte. Sem contar que tinha a entrega dos diplomas do curso.
"Eles vão enviar pelo correio, Sarah!", Contou Juliette.
"Mesmo assim, linda!"
"Nossa, você nem parece que quer que eu vá pra casa. Por acaso não está sentindo a minha falta, doutora?", Zombou a cardiologista.
"Claro que eu estou sentindo sua falta. Não só eu, mas o Bento também. Nós dois queremos você aqui."
"Então devia me incentivar a voltar logo pra casa. Até porque nós temos uns joguinhos pra fazer, lembra?"
"Lembro sim.", Respondeu com seu costumeiro sorriso tímido. "E se fosse por mim, linda, você nem precisava participar dessa confraternização, mas não acho certo você faltar nesse evento. Vai ficar chato, já que pedi ao Aílton para colocar você nisso e aí no encerramento, você não vai."
"Tá, me convenceu."
"Em dois dias a gente já vai estar juntas."
Desligando o chuveiro, ela sorriu só de imaginar que depois de prazo ia estar de volta para sua casinha, sua namorada e seu filho de quatro patas, já que considerava Bento como seu também. O cão era o filho de quatro patas delas duas!
❤️❤️❤️
Se a saudade que sentia da namorada já estava grande naquela manhã, especialmente por ser uma data importante para ela e Sarah, o sentimento de saudade só fez aumentar ainda mais quando já da metade da aula para o final, Juliette viu ser projetada na tela onde apareciam os slides com os assuntos abordados pelo professor, uma foto de Sarah junto a um artigo médico escrito por ela ano passado sobre Cirurgia Geral para a conceituada RAMB (Revista da Associação Médica Brasileira).
Mais do que saudade, Juliette também sentiu um orgulho imenso por ouvir os elogios rasgados que o professor teceu a Sarah como médica e escritora daquele "brilhante artigo", segundo o homem experiente.
De maneira discreta a cardiologista abriu um sorriso bobo enquanto ouvia as coisas boas ditas a respeito da namorada. É sempre um orgulho ver o quão respeitada e admirada Sarah é no meio médico. Ouvir os outros falando bem da competência dela como profissional e da pessoa culta e extraordinária que ela é, só faz engrandecer sua admiração por aquela mulher excepcional e seu coração bater mais ainda forte por ela.
Juliette mais do que qualquer pessoa ali sabe que cada elogio é mais do que merecido a sua namorada. Sarah é uma profissional sem igual. Dedicada. Competente. Eficiente. Que se doa com a alma para sua profissão. É sempre lindo vê-la em ação. Dá gosto e orgulho.
- Eu soube que temos alguém na sala que trabalha com a doutora Andrade. Gostaria de saber quem é o sortudo ou sortuda.
Meio sem jeito, Juliette ergueu a mão direita e viu a sala inteira de trinta pessoas lhe encarar. A cardiologista notou a cara de surpresa de seus amigos, principalmente a de Viih.
- Seu nome e especialidade, por favor?
- Juliette. Sou cardiologista.
- Juliette o que você tem a nos dizer sobre a estimada doutora Andrade. Como é trabalhar com ela?
- Bom... - ela tinha que falar de Sarah como colega de trabalho e não como namorada. Difícil porque tanto a opinião da Juliette cardiologista, quanto a da Juliette namorada é a mesma sobre Sarah Andrade. Mas ela tentou dizer a verdade sem colocar muita emoção para não soar muito estranho aos outros, uma colega de trabalho falando assim da chefe. - É uma grata satisfação trabalhar com a doutora Andrade. Ela é uma profissional e uma chefe extraordinária. Sabe liderar seus comandados com muita excelência e firmeza, mas sem ser rude. Tê-la como chefe é sempre motivo para aprendizagem. E dividir uma cirurgia com ela mais ainda, independente da nossa especialidade. Ela é um... exemplo de profissional.
- Isso é verdade. Eu já tive a oportunidade de dividir uma cirurgia com a doutora Andrade certa vez e foi uma grata experiência. Ela é realmente uma profissional excelente e extraordinária, como a senhorita muito bem disse.
A cardiologista apenas assentiu em resposta, sentindo muito mais orgulho de ser namorada de alguém que era tão admirada e estimada assim.
O homem de meia idade então voltou a falar do artigo de Sarah. Destacou alguns tópicos e debateu outros com o pessoal até que deu o intervalo da aula.
- Quer dizer que você trabalha com a doutora Sarah Andrade?
Juliette notou certa euforia em Vitória ao lhe questionar.
- Sim, Viih. - confirmou enquanto seguia com Vitória, Camilla e João para almoçarem no restaurante da universidade.
- Eu ouvi falar por aí, que ela é meio linha dura, é verdade?
- Ela é exigente, Camilla, como é toda pessoa em seu posto de chefia como o dela. - defendeu a namorada.
- Um colega meu chegou a trabalhar com ela anos atrás e disse que ela não é de muita conversa.
- Ela é mais na dela e calada mesmo, João.
Os três ainda bombardearam Juliette de perguntas e comentários sobre a doutora Andrade até chegarem ao refeitório.
Já acomodados a mesa e com suas comidas recém pegas. O assunto voltou a ser a doutora Andrade.
- Ela é bem bonitona.
Juliette apenas esboçou um sorriso do comentário de Camilla.
- Bonitona, você está sendo generosa, Camilla. - Vitória disse após um gole em seu suco. - Sarah Andrade é praticamente a deusa Afrodite.
- Ih, alguém aqui é muito afim da doutora Andrade ou eu tô enganado.
Juliette franziu a testa e lançou um olhar para Vitória sentada do outro extremo da mesa, ao lado de Camilla e de frente para João. A cardiologista viu a loirinha sorrir de um jeito que não gostou, bem como não gostou nada daquela excitação toda da outra ao falar de sua namorada.
- Não, João. Você não está enganado. Eu tenho um crush supremo na doutora Andrade desde que a conheci pessoalmente, admito.
- Conheceu?... Quando? - Juliette se adiantou na pergunta.
- Ah, tem uns três anos, eu acho, Ju. Ela deu umas aulas como professora convidada do meu curso de especialização. Inclusive tenho um episódio envolvendo a doutora e eu.
- Ai, conta. É babado?
- Babadão, Camilla. Mas o final não é lá o que eu queria, mas enfim.
- Compartilha assim mesmo com a gente, garota.
Juliette se remexeu inquieta na sua cadeira, não gostando nada do rumo daquela conversa.
- Então... - começou Vitória com um sorriso nada discreto. -... Quando eu vi a doutora Andrade a primeira vez, logo que ela entrou na minha sala... De cara já fiquei caidinha por ela.
"Você não foi a única!", Pensou Juliette ao lembrar que com ela foi igualzinho.
- Nossa tão rápido assim?
- Sim! Ela é uma deusa, João, e tem uma presença que... minha nossa! - se abanou Vitória arrancando risadas de João e Camilla. Já Juliette só esticou os lábios em um esboço do que se pode entender como um sorriso sem graça. - Uma das minhas amigas vendo meu interesse na nossa célebre e linda professora, comentou comigo que leu em uma entrevista que saiu certa vez da doutora Andrade, que ela é lésbica assumida.
- Deixa eu adivinhar, você se animou mais ainda com isso?
- Óbvio, Camilla. Aí, pra resumir a história, porque ela é longa... No fim de uma aula, eu tomei coragem e cheguei na doutora Andrade. Teci elogios a ela e tal, aí a convidei para um café com a desculpa de sanar algumas dúvidas sobre a matéria dela, mas na verdade eu queria mesmo era saber mais a respeito da minha linda professora temporária.
Juliette remexeu em sua cadeira como se houvessem pregos no assento lhe furando. Ouvir aquela história de Viih só lhe fez lembrar de si mesma outra vez. A tática usada por Vitória havia sido a mesma que a sua.
Meu Deus! Será que o desfecho também foi igual? Tomara que não!
- Ela aceitou?
"Diga que "não"... Diga que "não"... Diga que "não"!", Repetiu a cardiologista em pensamento.
- Não. Levei um fora.
Ao ouvir essa resposta, Juliette até respirou aliviada. Por um momento chegou a pensar que o desfecho do convite feito por Vitória tivesse sido o mesmo que ela própria fez a Sarah quando se conheceram anos atrás.
- E aí? Você pulou fora depois disso, né?
- Pelo contrário, Camilla. Eu quis mais ainda ela.
- Menina!
- Eu sou dessas, não desisto no primeiro não, quando eu sei que pode rolar um sim.
- E com ela tinha chances de rolar um "sim" é?
- Sim, porque eu via o modo como ela me olhava com interesse.
O suco que Juliette tomava naquele instante, desceu queimando pela sua garganta que nem o uísque preferido de Sarah quando a cardiologista experimentou pela primeira vez por sugestão da loira.
- E aí, o que você fez?
- Descobri o hotel em que ela estava hospedada e fui lá bater no quarto dela vestida pra matar.
- Garota abusada você hein! - rindo Camilla bateu de leve no ombro de Viih que sorriu.
"Demais abusada para o meu gosto!", Juliette pensou se consumindo em ciúmes.
- E aí? - João indagou curioso pelo desenrolar daquela história. E ele não era o único.
Ao lado do homem uma Juliette que ao mesmo tempo que tinha interesse em saber o desfecho daquela história, também tinha lá receio de ouvir o resto e não gostar do final. Seria bem desagradável ouvir que sua namorada dormiu com Vitória. Tudo bem que foi antes de ela e Sarah estarem juntas, mas mesmo assim seria horrível ter conhecimento dessas coisas.
- E aí que... - Vitória fez um pequeno suspense ao ficar alguns segundos em silêncio antes de por fim, revelar o restante: - Eu levei outro fora!
- Mentira?
- Verdade, Camilla.
- Que foi Juliette? Tá passando mal? - Camilla notou a colega cobrir os olhos com uma das mãos e baixar a cabeça.
Como a cardiologista não conseguiu responder verbalmente, então apenas balançou a cabeça em negativa.
Vitória então prosseguiu em seu relato, contando que apesar de toda a produção e charme que jogou descaradamente para cima da médica, Sarah lhe deu um fora colossal.
Juliette não conseguiu mais segurar o riso depois disso.
- Minha gente, parece... Eu vou ri, aqui. Me desculpa! - ela cobriu a boca com as duas mãos, abafando uma gargalhada alta que lhe escaparia.
Ao lado dela, João riu discretamente da reação colega.
- A doutora Andrade sequer me deixou entrar no quarto dela e ainda me deu um sermão pelo atrevimento. - continuou Vitória para a risada maior ainda de Juliette.
- Eu vou ri, João... Eu vou rir. - Juliette resmungava, rindo. - Não deixa, não João. - pedia aos risos.
- Pára, Juliette. - falou o homem tentando não rir que nem a cardiologista.
- Pode me dar uma multa, porque eu quero rir.
- Ô, Ju, não ri da minha desgraça. - pediu Vitória com o rosto corado de vergonha.
- Não, eu quero rir, me deixe. Pelo menos mais um pouco. - pediu sem conseguir conter as risadas e fazendo os demais, inclusive a própria Viih, começar a rir também em seguida.
O ciúmes que a cardiologista vinha até então sentindo de Vitória, evaporou e deu lugar ao divertimento ao ouvir esse desfecho da história.
Dizer que estava compadecida da desgraça de sua colega era mentira, porque não estava nenhum tiquinho. No fundo rezou para Sarah não ter cedido a loirinha com cara de anjo e que bom que sua namorada não cedeu. Melhor ainda que ela além de ter dado um fora na garota, pagou um sermão nela. Daria tudo para ter visto essa cena.
- Desculpa, Viih... - pediu já parando mais de rir. - Eu não consegui me conter, de verdade.
- Tudo bem, Ju. As minhas amigas na época também riram horrores disso. Fui zoada por elas durante semanas.
- Mas desde esse episódio, você não viu mais a doutora Andrade?
- Não, João.
- E mesmo com o fora de anos, você ainda tem um crush nela?
- Sim, Camilla. Apesar de tudo isso ainda tenho um super crush nela.
- Será que ela lembra disso?
"Boa pergunta, Camilla.", Pensou Juliette, fazendo uma nota mental de tentar saber da namorada aquilo quando já tiver voltado para casa.
- Gostaria de saber também.
- Para fazer uma nova investida para cima dela é?
- Quem sabe! Se eu tivesse uma oportunidade. - Vitória deu de ombros e abriu um sorriso malicioso.
- Essa é brasileira e não desiste nunca, minha gente. - Camilla zombou, batendo palmas.
- Sua oportunidade pode ser a Juliette aqui.
- Eu?? - a cardiologista que levava a colher a boca, parou com ela no ar e encarou João com olhos arregalados.
- Claro. Você pode fazer a ponte entre elas.
Nem ponte, nem estrada, nem o caramba a quatro!
- Minha gente isso... não vai rolar não. Desculpe.
- Por que?
"Porque eu sou namorada dela!"
- Porque não.
- Ela tem namorada, Ju? - arriscou Vitória.
"Tem! Eu!"
- Vai, Juliette, responde aí pra gente.
- Sim, ela tem!
- Quem é?
Será que teria algum problema contar a eles a verdade?
Ela pensou. E pensou naquilo. Ponderou. E ponderou sobre a situação.
E concluiu que talvez não houvesse tanto perigo, porque eles nem trabalhavam com elas mesmo. Então não havia como complicar o lado delas. Sem contar, que revelar a verdade acabaria com a chance que Vitória ainda mantém acessa em si de tentar algo com Sarah. Então seria ótimo cortar as asas da loirinha e de quebra, se divertir com a reação de Viih ao saber que ela é namorada de Sarah depois do que a outra compartilhou ali para Juliette e os demais.
- Estão olhando pra ela!... Eu sou a namorada da doutora Andrade. - revelou.
Como uma cena em slow motion, a cardiologista viu a boca dos outros três se abrir em um enorme O. Juliette apertou os lábios para não gargalhar da cena e chamar atenção das outras pessoas nas mesas ao lado.
Por segundos que Juliette não soube precisar, o silêncio imperou ali na mesa até que Vitória morta de vergonha foi a primeira a se pronunciar, pedindo mil desculpas pelas coisas que disse antes.
- Tudo bem, Viih. Relaxa.
- Caraca! Tô passada e chocada que você namora a doutora Andrade.
- E eu pedindo pra você fazer a ponte entre a Viih e a sua namorada. Juliette desculpa.
Ela sorriu.
- Amigo, você pegou pesado com isso. Mas fique tranquilo. Você, ou melhor, vocês não tinham como saber. Tá de boa.
- Há quanto tempo vocês namoram?
- Hoje faz um ano e meio, Camilla.
- Uau!
- É um namoro secreto, porque no hospital onde trabalhamos há regras que proíbem relacionamento entre membros da mesma equipe médica. - explicou, rezando para que eles entendessem que era para manter aquele informação em sigilo também.
Provavelmente, Sarah não ia concordar nada com o fato de estar contando sobre elas a pessoas com as quais havia feito amizade há poucos dias. Diria que foi imprudente de sua parte isso e perigoso. E, certamente, sua namorada estivesse certa naquilo. Ela mal conhecia aqueles três e já lhes confiava um segredo daquele, que nem mesmo seus amigos mais próximos do trabalho sabiam.
Mas a sensação de poder dividir e falar normalmente com outras pessoas sobre seu relacionamento era algo tão maravilhoso, libertador, na verdade.
- Lá no hospital que eu trabalho também tem isso. Acho o ó essa regra. Coisa mais ultrapassada.
A cardiologista também achava, mas fazer o quê?!
- Mas vem cá, Juliette... Os colegas de vocês não percebem nada?
- Não, João. Somos bem discretas, Sarah mais ainda. Só tem um amigo meu de confiança que faz parte da equipe médica que Sarah e eu somos, que soube recentemente da gente porque eu contei pra ele. O resto nenhum sabe, porque são tudo boca aberta e podem acabar nos prejudicando.
- Complicado. Aí, vocês tem que se esconder, né?
- É, João.
- Imagino que ao mesmo tempo que esse lance do escondido seja excitante, também seja frustrante, né? Porque vocês se restringem a não sair muito, tô errada?
- Não está, Camilla.
- Isso não te incomoda?
Às vezes sim. Porém era ciente dos riscos e das consequências que implicava a revelação daquele relacionamento para as pessoas conhecidas delas. No entanto tinha que reconhecer que em alguns momentos se sentia saturada daquele segredo. Sentia vontade de mandar tudo pelos ares e tirar sua relação com Sarah da "escuridão".
Poder andar de mãos dadas pela rua com seu amor. Ir ao parque com Bento e Sarah. Jantar em um restaurante que não seja na cidade vizinha por receio de serem vistas juntas. Ir ao cinema. Fazer programas que todos os casais "normais", geralmente fazem. Só que aí, ela se lembra que elas não são um casal comum, pois uma é a chefe e a outra sua subordinada e a merda que essa história vai dar quando for de conhecimento dos seus superiores, será imensa.
- Não vou mentir. Incomoda às vezes. Dá tipo uma sensação de que a nossa relação é errada ou pior, um crime estarmos juntas. E não é nem um e nem outro, gente.
- Claro que não, amiga. Mas uma hora ou outra vocês tem que trazer isso a tona.
- Sabemos. Só que no momento pelo nosso bem o segredo ainda é a melhor solução.
Um silêncio se fez presente na mesa por conta do assunto que tornou-se tenso e sério. Contudo, logo João tratava de romper tal silêncio com um comentário que tinha o intuito de levantar o astral ali.
- A Viih ficou totalmente muda depois da revelação da Juliette sobre ser namorada da doutora Andrade.
- Ai, deixa quieto, João! Não consigo nem olhar pra você de tanta vergonha, Ju, depois das coisas que eu disse.
- É, colega, no seu lugar eu estaria igual. - Camilla comentou em tom brincalhão, fazendo os demais rirem exceto Vitória.
- Deixa de bobagem, Viih. Não nego que no início me corrói de ciúmes quando você começou a contar esse rolo todo aí envolvendo a Sarah, mas o desfecho da sua história acabou com qualquer incômodo ou ciúmes.
- Ainda bem que o final foi esse. Imagina se você tivesse pego a doutora Andrade, Viih , e contado na cara da atual dela isso?
- Não ia ser nada legal.
- Não mesmo!
O celular da cardiologista reverberou ao lado de seu prato e ela abriu um sorriso ao ver de quem se tratava a ligação.
- Minha gente, se vocês me dão licença, eu tenho que atender. É a... doutora Andrade. - informou, piscando um olho para os colegas enquanto abria um sorriso enorme e se punha de pé.
- Manda um abraço da Viih pra doutora Andrade. - provocou Camilla rindo.
- Para, Camilla. - pediu Vitória sem jeito.
- A pobrezinha da Viih vermelha que nem tomate.
Juliette caiu na risada do bullying dos outros com Vitória enquanto se afastava do trio de amigos para atender com mais privacidade a ligação de sua namorada.
- Oi, Afrodite!
- Afrodite? Que história é essa, linda?
A cardiologista sorriu, apoiando as costas na parede de fora do restaurante. Fazia um dia bonito, ensolarado e quente.
- Longa história, amor. Depois te conto.
- Ok. Bom... Você disse que ia ligar, mas como estava demorando, então resolvi ligar primeiro.
- Pois que bom que ligou primeiro. Como você está?
- Com sono e com saudades. Mais com saudades do que com sono.
O som discreto da risada de Sarah arrancou um sorriso bobo de Juliette.
- Também estou com saudades, ainda mais pela data de hoje. Queria tanto estar com você, Sarah.
- Eu também queria estar com você, linda.
A saudade que já sentia da cardiologista era imensa que estava se tornando insuportável. Não via a hora de Juliette estar de volta a casa delas.
- E a propósito, gostei muito da sua mensagem e do poema, doutora. Lindo ele!
- Que bom que gostou. E que droga, é a gente passar mais um aniversário sem poder comemorar na data certa, visse!
Pouquíssimas foram as vezes que conseguiram comemorar no dia certo. Na maioria delas foram um dia, dois até uma semana depois da data.
- Parece ser a nossa sina essa, linda.
- Começo a achar que sim mesmo.
Ambas sorriram.
- E como foi no hospital?
- Cansativo como sempre.
- E as coisas com a Ker? - indagou a cardiologista com certa cautela.
Ela ouviu um suspiro vindo da namorada. Levou um tempo razoável para Sarah responder, tanto que Juliette achou que ela nem fosse fazer mais isso, até que ela o fez.
- Ela me procurou no fim do turno para pedir desculpas de novo.
- E você?
- Não disse nem que "sim" e nem que "não". A verdade é que eu ainda tô bem chateada com ela e com o que ela fez, Ju. Então prefiro evitar papo com a Ker por agora.
- Amor não acha que está pegando pesado com ela?
- Pesado foi o que ela fez comigo. Me expondo desse modo. Isso porque se diz minha amiga. Ker me conhece de anos, Ju. Sabe que o que eu mais preso é a minha privacidade. E ela vai e invade desse modo?
- Ok! Ela errou. Pisou na bola feio, mas ela merece uma segunda chance, Sarah. Vocês são amigas de anos, amor. E tem outra, a gente já se acertou. Tudo ficou bem. Vira essa página e desculpa a sua amiga, vai. Eu mesma já desculpei a Ker, sem ela saber que a sua ação me afetou. - riu a cardiologista.
- Você tem um coração bom.
- E você também. Sei que apesar de tudo está mal com esse gelo que está dando na sua amiga. Então acaba com isso, Sarah. Aceita logo as desculpas da Kerline.
- Eu prometo pensar em tudo isso que disse e levar em consideração. Só que agora, chega de falar na Ker. Não liguei para ficar falando dela.
- Ok! Do quê quer falar?
- Me conta como foi a sua manhã e a aula?
Satisfazendo a curiosidade da namorada, a cardiologista relatou sobre o que foi perguntado pela namorada. Mencionando inclusive sobre o artigo de Sarah que fez parte da aula.
- O professor foi só elogios a você. Disse que vocês até dividiram uma cirurgia.
- Como você disse que ele se chama?
- Eu não disse, Sarah. Mas ele se chama Rubens Aguiar, é cirurgião vascular.
- Rubens... Rubens... - repetia tentando se recordar. - Caramba, não lembro agora. Deve ter tempo isso.
Juliette ainda falou mais um pouco sobre a aula e quando ia comentar sobre Vitória e o episódio relado pela loirinha que envolvia Sarah, Camilla apareceu chamando-a para irem que em dez minutos começaria a segunda parte da aula.
- Sarah vou ter que desligar. - informou após a ida de Camilla. - Daqui a pouco recomeça a aula.
- Está bem.
- A noite você vai estar de folga, então a gente conversa.
- Na verdade não vou mais estar de folga. Decidi ir trabalhar hoje e transferi minha folga para outro dia.
- Ah, poxa queria conversar com você sobre uma coisa que eu soube envolvendo você e uma aluna que foi bater na porta do seu quarto há três anos, para te seduzir, doutora Andrade. - a cardiologista tinha um sorriso ao mencionar isso. Agora ela se divertia com aquele episódio, mas na hora quis esganar Viih por seu abuso. Ainda bem que sua namorada não caiu na de Vitória.
- Que história é essa Juliette?
Sarah não tinha ideia do que a namorada falava.
- Você quem vai me dizer na próxima oportunidade que nos falarmos.
- Mas eu não sei do que você está falando, linda.
- O nome Vitória Moraes te diz alguma coisa?
- Merda alguma!
Juliette riu alto da resposta.
- Quem é Vitória Moraes? - Sarah indagou sem conseguir associar o nome a uma possível pessoa que ela conhecesse.
- Vou ter que desligar, amor. Beijos. Te amo.
- Juliette... Espera.
- Tchau!
A cardiologista encerrou a ligação aos risos. Se bem conhecia sua namorada, ela ia ficar se remoendo, tentando lembrar quem era a pessoa que mencionou. No fundo ficou contente por ela não lembrar de cara, significava que o episódio envolvendo Vitória teve zero relevância para Sarah.
Melhor assim!, Pensou Juliette antes de ir ao encontro dos colegas.
Enquanto isso uma Sarah intrigada tentava a todo custo lembrar dessa tal Vitória Moraes que a sua namorada mencionou.
- Vitória... Vitória... Moraes... Três anos atrás... - ela resmungava as informações passadas por Juliette, tentando buscar sentido naquilo.
Mais uns instantes e tudo se clareou como em um estalar de dedos.
- Puta, merda! - Sarah cobriu o rosto com as duas mãos ao se recordar de Vitória Moraes, a aluna que teve o descaramento de aparecer na porta de seu quarto em trajes decotados, cheia de segundas e terceiras intenções.
A garota era até bonita. Loira, corpo cheio de curvas que ficaram evidentes pela saia justa e curta, e a blusa decotada na frente, a qual ela vestia. Sarah se recordou que ficou sem ação na hora, mas assim que entendeu as intenções claras da garota, tratou de coloca-la no seu lugar e dispensa-la. Na época até pensou em reportar o ocorrido a direção do curso, mas depois pensou melhor e desistiu porque não quis prejudicar a garota como sabia que prejudicaria se levasse aquilo ao conhecimento da direção.
- Droga! - resmungou a cirurgiã.
Intrigada em como Juliette tomou conhecimento disso, na mesma hora Sarah entrou no aplicativo de mensagens, e enviou uma mensagem a namorada.
"Como você soube dessa tal Vitória?"
A resposta não tardou a chegar.
"Ah, lembrou, doutora?"
O questionamento veio acompanhado de dois emojis sorrindo de maneira provocadora.
"Quem te contou sobre ela?"
"A própria. A Vitória é a Viih , minha colega de curso."
Sarah quase não acreditou no que leu. Merda de mundo pequeno!
"Não aconteceu nada. Eu a dispensei."
"Eu sei. Ela disse. E eu caí na risada ao saber do fora que ela levou."
Sarah riu e ficou mais aliviada em saber disso. Achou que Juliette ia fazer alguma cena.
"Agora, para de mandar mensagem, porque já vai começar a aula. Beijos, baby!"
A cirurgiã mandou dois emojis de uma carinha mandando beijo em forma de coração.
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Até o próximo, daqui duas semanas.
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