Capítulo 13 (extra) - Confrontos

N/A: Salve, salve, minha gente! Chegay com nossa atualização de quarta.

Quem estava ansiosa pelo capítulo levanta a mão aí? 🙋

Simbora ler então!

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❤️❤️❤️


Assim que Sarah desligou o carro em sua vaga no estacionamento do hospital, não pensou duas vezes em fazer uma nova tentativa de contato com a namorada na esperança de que desta vez obtivesse algum sucesso. Mas assim como as outras inúmeras ligações esta também foi direto para a caixa postal. Até quando isso vai durar?! Resolveu deixar um recado para Juliette então.

- Linda, por favor... Eu tô desesperada aqui querendo falar com você sobre essa foto e esse vídeo que recebeu. - fungou, deslizando a mão livre pelos olhos marejados. - Sei que essas coisas que te mandaram são comprometedoras e dão margem para você concluir que eu te... Traí. - náuseas foi o que ela sentiu ao pronunciar aquela última palavra, porque nunca, nem mesmo em pensamento ela se via sendo capaz de trair Juliette. - Mas eu não fiz isso, Ju. Jamais faria uma coisa dessas com você. A gente precisa conversar, por favor, linda. Me liga quando pegar esse recado, se caso eu ainda não tenha conseguido entrar em contato com você. E... Bom.. Eu... Te amo... Te amo... Te amo!

A médica finalizou a chamada e largou o celular no banco do carona. Fechando os olhos e apoiando a cabeça no encosto de seu banco, ela suspirou em angústia, fazendo seu desespero só crescer a cada vez que ligava para Juliette e ela seguia em off.

- Merda! - com uma das mãos fechadas, socou o volante do carro em um acesso de raiva.

Juliette e ela estavam tão bem, vivendo o melhor momento de seu relacionamento e na iminência de um aniversário de namoro. Aí, lhe vem esse fato inesperado com Pocah de proporções catastróficas para ruir com tudo de melhor que viviam. E, esse silêncio de Juliette, só piorava a situação, criando em Sarah mais preocupação e suposições de que o ponto final na relação com a namorada estava por vir a qualquer momento.

- Não pode terminar assim! - sussurrou com a voz embargada.

Fim é uma palavra que não via quando se tratava do seu relacionamento com Juliette. Mas, agora, a palavra estava ali, brilhando como um letreiro multicolorido em sua mente.

Céus!

Se ela terminasse tudo não saberia o que fazer ou como lidar com aquilo. Trabalhar ao seu lado e saber que depois do expediente não a encontraria mais em casa, que não teria mais seus sorrisos e gargalhadas contagiantes soando como melodia em seus ouvidos; seus olhos castanhos que em várias vezes os flagrava lhe observando com tanto amor e admiração; seus beijos que lhe tiravam o ar e a razão; sua companhia para dividir não só a casa e a cama, mas também conversas, momentos e a vida juntas. Perder tudo isso seria quase como a morte. A morte total seria vê-la com outra pessoa, proporcionando a esse outro alguém tudo o que lhe proporcionou nesse tempo juntas. Fazendo outra pessoa tão feliz ou até mais do que vinha lhe fazendo.

Nunca foi uma pessoa religiosa, mas agora se via rogando a Deus e a todos os santos conhecidos, para lhe ajudarem nessa situação e não deixarem que o fim fosse aquele.

Sentiu ímpetos de ligar o carro, dirigir até o aeroporto, pegar o primeiro vôo que tivesse disponível para Campina Grande naquele horário da noite e aparecer no seminário amanhã cedo, já que não sabia onde era a casa dos pais de Juliette, atrás da namorada para conversarem pessoalmente, mas sabia que não devia fazer nada disso por dois bons motivos. O primeiro é que tinha obrigações a cumprir no hospital, ainda que sua cabeça estivesse zero para trabalho hoje. E segundo é que podia apostar que tudo que Juliette menos desejava no momento era lhe ver.

Portanto, mesmo não sendo sua vontade, era melhor permanecer em São Paulo e seguir tentando contato com a cardiologista até obter êxito, o que desconfiava que ainda ia demorar, porque se bem conhecia Juliette, ela devia estar possessa e precisaria de um tempo para se acalmar. Só que Sarah sabia que o tempo ali poderia ser seu pior inimigo naquela situação toda, fazendo Juliette ter mais certeza de suas próprias conclusões errôneas a respeito daquele maldito vídeo e foto, e não acreditar na sua versão quando contasse a ela.

Por mais alguns segundos ela ainda ficou ali no carro antes de vestir sua máscara de gelo e sair do carro para trabalhar, e também colocar no lugar os causadores daquela situação em que ela se encontrava agora.

- Antes de iniciar os trabalhos quero ter uma conversa com vocês. - anunciou Sarah em um tom tão sério quanto a expressão que trazia no rosto ao estar diante de seus comandados daquela noite: Rodolffo, Kerline, Gilberto, Vivian, Fiuk e Carla.

- Aconteceu alguma coisa, Sarah?

- Aconteceu, doutora Cardoso.

Kerline engoliu a saliva por sua amiga lhe tratar com aquela formalidade e seriedade toda. Ela não era disso no hospital, não com a amiga. Com os demais comandados, ela na maioria das vezes chamava de um modo formal, mas Kerline quase nunca.

- Eu poderia ter essa conversa fora daqui, ou melhor, deveria ter fora do hospital. Até porque o fato ocorreu fora do nosso ambiente de trabalho. Porém, dane-se. Me acusem de autoritarismo, porque eu vou fazer uso do meu poder de chefe para deixar as coisas muito bem claras aqui... - bateu com a ponta do dedo indicador na mesa. - Já que tenho a ligeira desconfiança que vocês... - o mesmo dedo que bateu na mesa, apontou aos subordinados que lhe encaravam dois deles com cara de mea culpa. -... só vão assimilar o recado se for dado pela chefe e não pela pessoa Andrade.

De seu canto Rodolffo só observava quieto e já ciente do motivo daquela conversa. Achava bem feito Sarah chamar a atenção do pessoal, porque o que eles fizeram com ela não se faz. Invadiram sua privacidade e não tiveram o menor respeito por ela tanto como pessoa, quanto como chefe e colega de trabalho.

- Eu quero saber desde quando a minha vida virou livro, série ou algum filme, para vocês acompanharem ou ficarem compartilhando entre si como se fosse algum capítulo ou cena? - indagou Sarah olhando para cada um dos seus subordinados, exceto Rodolffo.

O silêncio tomou conta da sala enquanto o pessoal trocou olhares culpados. A falta de resposta irritou mais ainda Sarah.

- Respondam! - cobrou, batendo com a mão aberta na mesa, assustando seu pessoal. - Agora desaprenderam a falar?... Pois aposto que falavam que era uma beleza enquanto estavam de conluio e mandaram para a doutora Freire vídeo meu dançando com a doutora Queiroz e uma foto em que ela me beijou, não é?

O fato de não ter conseguido entrar em contato com Juliette aumentava mais sua raiva pelo que fizeram. Eles não tinham o direito de fazer aquilo. Ainda que nem saibam sobre sua relação com a cardiologista, aquele comportamento de seus 'amigos' passou de qualquer limite. Eles invadiram sua privacidade sem o menor respeito.

- Nos desculpe, Sarah. Não era nossa intenção te irritar ou ofender.

- E qual era a intenção, doutora Cardoso? Me expondo de uma maneira ridícula, para alguém que está a quilômetros de distância daqui.

- Chefe foi só uma zoeira.

- Zoeira? - seu olhar raivoso enquadrou Fiuk que engoliu em seco arrependido pela sua fala. - Não foi uma zoeira, doutor Galvão. Foi uma enorme falta de respeito o que cometeram comigo. Vocês foram lamentáveis, vis e sem qualquer noção, e eu estou enojada com a atitude de vocês, principalmente da doutora Cardoso e do doutor Nogueira que foram os responsáveis pelo envio da foto e do videozinho.

Se eles mandaram a foto, não foi difícil ela concluir que o vídeo foi responsabilidade deles dois também.

- Como você...

- A doutora Freire me contou junto com suas felicitações por eu estar me divertindo.

Meia mentira, meia verdade, porque não ia entregar Rodolffo dizendo que foi ele o responsável por dar o nome dos dois colegas.

- Sarah...

- Acho que os dois aí... - a loira não deixou Kerline falar. Estava com uma raiva maior pela "amiga", que não queria nem ouvir a voz dela. - Estão na profissão errada. Deviam ser jornalistas de revista de fofoca daquelas bem baixas, em vez, de estarem em uma profissão tão linda como essa nossa de médicos.

- Me desculpe, doutora. De verdade, eu estou arrependido.

- Acha que só isso basta? Desculpa e tudo resolvido? Não, doutor Nogueira. Deviam pensar antes de fazer as coisas, porque sempre há consequências para os nossos atos.

- Vai nos dá uma advertência?

- Não, doutora Cardoso. Como eu disse lá atrás, o que aconteceu foi fora daqui do nosso ambiente de trabalho, mas... A partir de hoje, deste momento, mais precisamente, se eu pegar qualquer um de vocês de comentário maldoso ou fofoquinha com o meu nome e a minha vida particular aqui dentro do hospital, vai ser advertência na hora. E se houver reincidência de comportamento, eu levarei o nome ao Dílson e pedirei a cabeça da pessoa a ele seja ela quem for. Entendido?

- Sim. - a resposta foi dita em coro baixo pelos demais.

- Ótimo! E quando os outros 'amiguinhos' de conluio de vocês voltarem, repassem o aviso que acabei de dar. Agora ao trabalho. Não quero ninguém a toa nesse hospital.

Ela saiu da sala no instante seguinte.

- Falei que ela não ia gostar. - Rodolffo disse aos demais ao se levantar da cadeira e ser o primeiro a tomar o rumo de saída da sala.

O traumatologista apressou os passos e alcançou a chefe mais adiante.

- Conseguiu falar com ela? - ele indagou baixo a chefe.

- Infelizmente não. Ela segue com o telefone desligado ou talvez tenha bloqueado o meu número.

- Está desligado mesmo. Estou tentando ligar para ela também e nada.

- Pelo menos bloqueada eu não fui... ainda. - sorriu com tristeza.

- Acho que ela não faria isso com você.

- E eu já não sei o que achar mais Rodolffo. Não tenho nem cabeça para trabalhar. Estou aqui, mas só eu sei onde queria estar nesse momento.

Ele sentiu dó dela. Pela primeira vez via a chefe fragilizada apesar da máscara de gelo que ela tentava manter no rosto no momento.

- Vai dar tudo certo, doutora. Vai ver.

Ela lhe lançou um olhar e sorriu de maneira triste. Quando que ia imaginar que no fim das contas o traumatologista de quem sentia ciúmes com Juliette, estaria nesse momento lhe reconfortando nessa situação toda. É como dizem por aí: o mundo não gira, ele capota!

- Obrigada, Rodolffo. Agora vamos trabalhar. Você atendendo e eu com burocracia.

- Burocracia? Você detesta isso!

Não era segredo entre seus comandados, que ela detestava aquela parte de sua função. Tratar de relatórios e questões burocráticas era algo que ela fugia o quanto pudesse, mas hoje estava sem cabeça para atender. Preferia se refugiar em uma sala e lidar com papéis do que com pacientes. Sem contar que não queria topar com nenhum de seus outros comandados depois do sermão que lhes passou.

- Mas é o que eu prefiro hoje. Qualquer emergência grave vou estar no consultório dez. Até, doutor.

- Até, doutora.

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- Trouxe um copo de leite com biscoitos pra você, já que não quis jantar.

Juliette sorriu de leve com aquele gesto da mãe, que lhe remeteu para lembranças da época em que ainda morava ali. Fátima sempre vinha com leite e biscoitos quando ela não jantava.

- Obrigada, mainha. Mas não estou com a menor fome, mulher. - suspirou.

- O que houve, hein? - quis saber a mais velha ao colocar a pequena bandeja ao lado da filha na cama e se acomodar diante de Juliette. - Você me parece triste. Aconteceu algo?

- Não.

- Juliette não minta pra mim, filha. Sei que tem algo de errado com você. Não quer contar pra mãe o que é?

A cardiologista suspirou. Também conhecia sua mãe e se contasse a verdade, Sarah nunca que ia botar os pés naquela casa. Se é que um dia ela ainda botaria os pés ali.

- Deve ser TPM, mulher. Lembra como eu ficava sensível e com bruscas mudanças de humor? - forçou um sorriso.

- Verdade. - assentiu Fátima com um sorriso. Depois já séria, ela tomou uma das mãos da filha entre as suas e acariciando as costas das mãos de Juliette, se pronunciou outra vez. - Só que eu acho que é mais do que TPM a causadora desse seu comportamento. Vamos lá, meu doce. Conte o que foi que houve?

- Nada. Tá tudo bem, mainha. - persistiu na mentira se esforçando ao máximo para não ceder ao choro e deixar cair as lágrimas que a duras penas segurava.

- Ok! - Fátima deu-se por vencida. - Se você não quer contar pra mãe, tudo bem. Eu respeito e saiba que vou estar aqui quando quiser se abrir. - se inclinando a frente, Fátima beijou a testa de sua caçula. - Tome o leite e coma os biscoitos pra não dormir com o estômago vazio, visse.

- Tá bom.

- Mãe te ama.

- Também te amo, mainha.

- Qualquer coisa eu tô aqui.

Assentiu a cardiologista.

- Boa noite, mulher.

- Boa noite, meu doce. Fique bem. Mainha não gosta de lhe ver assim.

Tão logo viu sua mãe fechar a porta do quarto e se viu sozinha no cômodo, Juliette não segurou mais a onda e deixou as lágrimas virem, em um choro sentido, que não durou muito pois logo já enxugava as lágrimas com receio de alguém aparecer e lhe ver naquele estado. Não queria mais ninguém sabendo a razão de seu estado. Bastava Washington.

Sua mente vagou até certa doutora loira a quem evitou o dia todo ao manter o celular desligado até agora. Sorte sua que Sarah não tinha o contato dali da casa dos seus pais e nem do seu irmão, senão não teria como fugir dela como vinha. Mas sabia que essa 'fuga' tinha prazo de validade. Não podia evitar Sarah por tanto tempo. Elas precisavam conversar.

A cardiologista pensou mais uma vez na suposição levantada por Washington lá na praia. E se seu irmão tivesse certo mesmo? Se foi Pocah quem beijou Sarah de surpresa?

"Eu não conheço a Sarah o suficiente, mas você sim. Você mora com ela. Tem um relacionamento de mais de um ano com essa mulher. [...] Acha que a Sarah depois de deixar os medos dela de lado pra ficar com você, ia jogar pelo ralo toda a história bonita, que você me contou que vocês vêem escrevendo juntas depois que se acertaram?"

Já perdeu as contas do quanto essas palavras de seu irmão se repetiram em sua cabeça.

Agora com o sangue mais frio e bem menos raiva do que tinha horas atrás, ela conseguia raciocinar melhor sobre aquilo. E, a Sarah que ela conhecia, a Sarah que quando ela despertava estava ao seu lado na cama na maioria das vezes já acordada, lhe observando com um olhar de veneração; que satisfazia suas vontades até mesmo as mais loucas; que cuidava e se preocupava com ela como nenhuma pessoa de seus antigos relacionamentos fez; que se entregava de corpo e alma quando estavam juntas. Essa Sarah NÃO faria isso.

- Posso entrar? - Washington espiou para dentro do quarto da irmã.

- Entra!

Ele o fez sem demora e logo após fechar a porta foi se acomodar ao lado da irmã na cama.

- E aí, deu tudo certo lá? - Juliette quis saber se referindo ao trabalho que ele foi realizar.

- Deu sim.

Pouco tempo depois que os irmão chegaram da praia quase no fim da tarde, Washington recebeu um telefonema da chefe o convocando para substituir uma das cabeleireiras que faltou por motivos de saúde. E lá foi o homem ter que fazer os cabelos das madrinhas de um casamento.

- E você, já conversou com a Sarah?

- Não!

- Por que não?

Ela deu de ombros.

- Ah, Washington. Ao mesmo tempo que eu quero falar com ela, também não quero. Ao mesmo tempo que não acho que ela me traiu, eu também acho que traiu. Está tudo tão confuso.

- Só há um jeito de desfazer essa confusão. É você conversando com ela, mana. Liga logo pra Sarah, Ju. Quanto mais você retardar isso, mais monstros vão se instaurar aí na sua mente e aqui no seu coração. - com o dedo indicador, ele tocou a testa dela e depois o lado esquerdo do peito da irmã.

A cardiologista lançou um olhar ao telefone no móvel ao lado da cama. Seu irmão tinha razão, retardar aquela conversa só alimentaria mais ainda os monstros dentro de si.

- Você pode me deixar sozinha pra conversar com ela?

- Claro! - ele se levantou na hora da cama, deu um beijo no topo da cabeça da irmã e saiu do quarto no instante seguinte.

Assim que estava sozinha no quarto, Juliette pegou o celular e ligou o aparelho. Uma chuva de notificações de mensagens e ligações a maioria de Sarah outras de Rodolffo e algumas de Gil começaram a cair aos montes.

Não entrou no aplicativo de mensagens para lê o que os três mandaram. Mas escutou a mensagem que a namorada havia deixado no correio de voz. Foi com o coração apertado e os olhos cheios de lágrimas que ela terminou de ouvir a curta mensagem.

Uma pessoa que na voz dava para sentir a angústia e o desespero, não teria lhe enganado.

Antes mesmo de discar o número de Sarah a tela do celular foi tomada pelo nome de Rodolffo ligando para a cardiologista.

- Alô!

- Juliette, caralho, até que enfim!... Desde cedo estou tentando entrar em contato com você.

- Acabei de ligar o celular e ver suas chamadas e mensagens.

- Aposto que não há só as minhas. Sarah também está desesperada querendo falar com você sobre o lance da foto e do vídeo que você recebeu daqueles inconsequentes.

- Me diz que ela não teve culpada de nada, Rodolffo. - era mais uma súplica.

- Eu não estava lá no momento da dança e do beijo. Tinha ido deixar a Rafa em casa e quando cheguei foi que soube pelo pessoal do beijo. Mas sei que ela é inocente. E tenho certeza que você também sabe. Você a conhece melhor que eu, Ju. Sabe como ela é. Acha mesmo que ela faria isso com você?

Era a segunda pessoa que lhe fazia aquela pergunta e usava o mesmo argumento: você a conhece!

- Tá tudo tão confuso pra mim, Rodolffo.

- Ela tá péssima. - ele revelou. - Nunca vi a Sarah assim. Mesmo com aquela máscara de gelo que ostenta dá pra ver no fundo, que ela tá péssima.

- Eu também estou, amigo.

- Não duvido. Se isso te conforta saber... Ela pagou um tremendo sermão no pessoal, porque eles mereciam. Foi de uma falta de respeito sem tamanho com ela o que fizeram. Ainda que ela e você não tivessem algo, foi desrespeitoso a atitude deles de te mandarem essas coisas.

- O que ela disse a eles?

O traumatologista contou palavra por palavra do sermão da chefe e finalizou, revelando o que a chefe estava fazendo.

- Ela ficou tão mal com toda essa situação, que resolveu fazer trabalho burocrático hoje. E nós sabemos o quão avessa a doutora Andrade é com esse lado do trabalho dela.

Sim, ela mais do que qualquer outra pessoa sabia bem disso. Inúmeras foram às vezes em que ouviu sua namorada reclamar em casa do lado burocrático de seu posto de chefe.

- Conversa com ela, Jujuba. Não deixa que a ação de uns sem noção acabe com a relação bonita de vocês.

Seu amigo tinha razão.

- Eu vou ligar pra ela.

- Faz isso!

- Obrigada, piruca.

- Vou relevar esse apelido ridículo aí.

Ela sorriu pela primeira vez desde que recebeu a foto da namorada beijando Pocah. Eles se despediram e a ligação foi finalizada. Logo em seguida uma nova chamada era iniciada pela cardiologista para a namorada.

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De cabeça baixa, Sarah tentava focar sua atenção nos relatórios gerenciais de pacientes, mas estava difícil se concentrar quando sua mente e seu coração estão inquietos e preocupados.

- Com licença!

Por cima das lentes de seu óculos de leitura, Sarah viu Kerline aparecer pelo pequeno vão da porta que abriu após desferir duas leves batidas nela.

- O que quer, doutora Cardoso? - indagou a cirurgiã voltando sua atenção aos papéis em suas mãos.

- Preciso que assine a liberação desse paciente. - Kerline informou com a voz baixa e contida.

Sarah ergueu outra vez os olhos dos papéis e encarou a outra médica. Sem dizer nada estendeu a mão na direção da outra mulher e esperou que ela viesse lhe entregar os papéis, o que Kerline fez em segundos.

Uma lida rápida e Sarah assinou a liberação do paciente, estendendo os papéis de volta para Kerline sem dizer uma palavra.

- Mais alguma coisa, doutora? - indagou Sarah com a atenção voltada outra vez para seus relatórios, mas atenta ao fato de que a outra médica não arredou o pé da frente de sua mesa.

- Me desculpa, Sarah. Eu passei do ponto. Não devia ter feito aquilo. Invadi...

- Eu não quero mais falar deste assunto. - Sarah ergueu os olhos dos papéis e encarou a outra mulher. - Portanto, se não tiver mais nada relacionado a trabalho para tratar comigo, então peço, gentilmente, que se retire, doutora, porque como você vê... Estou com relatórios para analisar e suponho que você deva ter serviço também para fazer. Se não, eu posso arranjar para a senhora.

Em todos esses anos Kerline nunca tinha visto a amiga sendo tão dura e fria com ela como estava sendo.

- Ok. - assentiu. - Só... Me desculpe do fundo do coração.

Sarah manteve sua expressão impassível de qualquer sentimento. Viu Kerline lhe dar as costas e ir em direção a porta, antes que a outra saísse a chamou.

- Doutora Cardoso.

Kerline se virou.

- Sim.

- Avise aos outros que não quero peregrinação deles vindo aqui para me pedir desculpas também. Só quero ser incomodada se for algo grave, senão nem se dêem ao trabalho de vir. Ok?

- Como quiser. - respondeu a outra antes de sair da sala cabisbaixa.

Assim que Kerline se foi, Sarah suspirou e retirando os óculos, largou o objeto sobre os relatórios. No momento não se compadecida nem um pouco de Kerline pela forma ríspida com a qual a tratava. Sua amiga bem que merecia sua hostilidade, pois por culpa de Ker e sua ação inconsequente - tão pior quanto a de Viviane por lhe beijar -, um estrago que poderia não ter conserto, havia sido feito na vida particular da cirurgiã.

Sempre relevou algumas ações de sua amiga, mas aquela foi demais. Kerline mexeu onde não devia e Sarah estava muito sentida com a 'amiga', assim como com os demais. Porém, o ressentimento maior era com Ker por ela ser sua melhor amiga e ter encabeçado esse conluio. Amigas não fazem isso com as outras, pelo menos Sarah jamais faria algo parecido com Kerline. Respeitava sua privacidade e a de qualquer pessoa, e respeito foi uma coisa que sua amiga e os outros não demonstraram por ela.

Mas assim como foi curta e grossa com Viviane, foi com seu pessoal e esperava que eles levassem a sério cada palavra que lhes dirigiu porque estava disposta a cumprir a ameaça que fez a eles também.

O toque alto de seu telefone sobre a mesa chamou de imediato a atenção da médica. Ao pegar o aparelho de maneira rápida e afoita, e ver quem ligava, Sarah atendeu na hora a chamada.

- Juliette, graças a Deus!... Eu estou desesperada querendo falar com você, linda. - enquanto falava a médica se levantou e, praticamente correu até a porta do consultório, trancando-a para não ser surpreendida por alguém entrando sem avisar e interrompendo sua conversa com a namorada.

- Eu sei. Ouvi seu recado no correio de voz ainda pouco, Sarah. - sua voz soou baixa e triste, pelo que Sarah conseguiu identificar.

- Você deve estar me odiando pelas coisas que recebeu, né? Além de ter tirado suas próprias conclusões baseadas nessas coisas. Mas deixa eu contar o meu lado da história, Ju? Me ouve, por favor. - implorou.

- Eu estou te ouvindo, Sarah. Fale.

Com uma calma que estava longe de ter, Sarah narrou todos os eventos começando desde o pedido de dança de Viviane que ela rejeitou de cara, mas que Kerline acabou se intrometendo e lhe empurrando literalmente para ir com Viviane dançar. Passando pela insistência da médica morena em querer uma chance com ela ao ir atrás de Sarah ao final da dança. E finalizando com o beijo que a outra lhe deu.

- Ela me pegou desprevenida, Ju. Quando vi, ela já estava com a boca colada na minha e no instante seguinte eu me afastei dela. - Sarah ouviu a namorada suspirar longamente do outro lado da linha. - Depois tive uma conversa muito séria com ela. Contei que eu tenho alguém que amo, que me faz muito feliz e que Viviane tem zero por cento de chance comigo.

- Você disse isso? - Juliette se mostrou surpresa com essa revelação.

- Com todas as letras pra ela entender de uma vez por todas e parar de insistir comigo.

Sarah ainda contou da ameaça que fez a Viviane e que estava disposta a cumprir caso a outra persistisse com aqueles assédios.

- Quando eu vi aquela sua foto foi como se o chão tivesse sido arrancando dos meus pés, Sarah. - revelou com a voz embargada. - Admito que achei que você tivesse me traído.

- Não!... Linda... Eu queria tanto poder estar aí com você para dizer tudo isso olhando nos seus olhos. Assim, você veria que eu não estou mentindo, mas como eu não posso então... Escute bem... Eu NUNCA... NUNCA... NUNCA te trairia com a Pocah ou com qualquer outra pessoa nem em pensamento, quanto mais fisicamente.  Tudo o que construímos nesse tempo é precioso demais para mim. Jamais jogaria no lixo o que temos juntas, Juliette. Eu te amo mais que tudo nesse mundo, linda! Quero ter você aqui comigo muito juntinho de mim. Se possível pra sempre. Acredite em mim, eu te imploro.

Sarah não escutou qualquer resposta da namorada a não ser seu choro baixo vindo do outro lado da linha.

- Ju... Por favor... Diz que acredita em mim... E não me deixa. - pediu já chorando também. - Eu não sei o que vou fazer sem você, linda. Não consigo imaginar mais a minha vida longe de você.

- Ai, Sarah! Nem eu consigo me imaginar sem você. - confessou entre os soluços de seu choro.

- Então, você acredita em mim, linda?

Foram segundos de uma espera angustiante, que só teve fim quando a resposta veio.

- Sim!

Como seu irmão e Rodolffo bem disseram, ela conhecia Sarah. E ainda que, na hora da raiva tenha duvidado da namorada, agora mais calma e tendo ouvido o lado de Sarah, ficou mais claro para ela o caráter da loira e do quão íntegra ela é como pessoa. Portanto, uma traição daquele porte não condizia com a Sarah que ela conhecia e com quem vinha se relacionando todo esse tempo.

- Ainda não vai ser agora que você irá se livrar de mim, doutora Andrade. - brincou a cardiologista.

- E nem quero nunca isso, sua maluca adorável.

O som fraco da risada de Juliette soando do outro lado da linha encheu de paz o coração de Sarah. 

- Eu queria tanto está aí com você. Te abraçar apertado e te encher de beijos.

- Então vem!

- Olha que eu vou mesmo.

- Pois venha. Só teremos um problema aqui... A cama é de solteiro.

- Não vejo isso como um problema se a gente vai só dormir.

- Só dormir?

- É. Ou você quer fazer algo mais além de dormir?

- Claro!

- Tipo?

- Vai bancar a sonsa, é doutora?

Sarah sorriu e antes que pudesse dar uma resposta, ouviu uma batida na porta e a voz da enfermeira Thaís lhe avisando que precisavam dela no centro cirúrgico.

- Avise que já estou indo!

Escutou um "ok" da outra.

- Com quem você está falando?

- Thaís veio me avisar que precisam de mim no centro cirúrgico.

- Ah!

- Não queria, mas preciso desligar.

- Fazer o quê, né?!

- A gente se fala amanhã?

- Com certeza, doutora.

- Te amo!

- Eu também te amo, Sarah. E me promete que você vai ficar longe da Viviane?

- Depois do que eu disse a ela, é capaz da própria Viviane ficar bem longe de mim. Mas ainda assim, eu prometo que vou manter distância dela.

- Ótimo! Até, amanhã, amor.

- Até, linda.

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Podem respirar aliviadas e ficarem felizes, porque as nossas doutoras se acertaram 🥰

Tudo de boa outra vez no nosso conto de fadas!

Até quarta-feira!

Xero

Obs: Que jantada da Sarah nos comandados dela, hein meus amigos 😁

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