We want to go back!
Fomos até a enfermaria e eu tentei inventar milhares de desculpas diferentes pra podermos ir embora, inventei mais uma vez que minha "cólica" estava fortíssima e já estava com dores de cabeça por ela, o desmaio foi um pouco mais complicado mas foi resolvido com a invenção de diabetes e que tinha passado muito tempo sem comer e coisas do tipo.
-Passou quanto tempo sem comer garoto?- A mal amada da enfermeira perguntava pela décima vez em menos de 15 minutos.
-Algumas horas...- O outro respondia nervoso e obviamente confuso por de repente ter aparecido em um corredor de ensino médio.
-E qual a sua turma?- Nunca perguntam isso na enfermaria, mas essa mulher estava relutante em nos liberar mais cedo.
-Terceiro B!- Respondi rapidamente, tinha que responder as coisas rápido, caso contrário ela pensava que era invenção e já era.
-Vocês são da mesma classe?- Perguntou abaixando os óculos até a ponta do nariz.
-Sim, e por favor precisamos ir embora logo, ele acabou de desmaiar no corredor e minha cabeça está explodindo! Não tem remédio que resolva isso, eu preciso ir descansar em casa- Falei tentando forçar uma expressão de desconforto que fosse minimamente aceitável.
Eu olhava aquelas fichas de papel rosa sobre a mesa e nunca desejei tanto uma delas, aquela mulher parecia uma tartaruga enquanto escrevia meu nome, claramente era de propósito, sempre me disseram que era difícil que ela deixasse sair antes do horário, mas nunca pensei que fosse tão demorado assim.
Um tempo passou e mais algumas mentiras depois conseguimos sair daquela sala maldita, como meus pais estavam trabalhando tínhamos que ir a pé, o que foi até bom, eu pude explicar resumidamente o que aconteceu e Eric por mais que confuso, pareceu acreditar que viajamos no tempo até 2019.
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-Relaxa, eles não chegam antes das cinco nunca...- Falei sorrindo para o mais velho que apertava minha mão durante todo o caminho.
-Mas as cinco vão chegar, e então vou ter que falar com eles, só de pensar me assusta Lizzie!- Estava desesperado com a idéia de conhecer meus pais.
Eu sei que eles iam aceitar tranquilamente, até porquê não precisamos contar que estamos juntos, vamos voltar a 1964 e nada que acontecer aqui vai ter importância.
Coloquei a chave na fechadura da porta da cozinha, sempre entramos por lá, logo se a casa estivesse vazia ela estaria trancada, e não estava.
-Voltou cedo Elisabeth?- Minha mãe pergunta com ódio claro no olhar- Ah e trouxe visitas!- Falou tentando parecer amigável com a surpresa.
-Sim! Não me perguntou sobre Eric mais cedo? Então, aqui está!- Falei enquanto abraçava o mais velho por trás, era uma ótima tática para acalma-lo e para me proteger da fúria nos olhos da minha mãe.
-Muito prazer querido...- Dizia enquanto o estendia a mão desconfiada- Por acaso algum motivo específico para a visita?
-Química, temos um trabalho enorme para fazer, provavelmente vamos passar a noite inteira trabalhando nele...- Falei saindo da cozinha.
-A noite inteira? Vai passar a noite aqui?- Me perguntou com o nervosismo explícito na voz.
-Algum problema?- Perguntei com a sobrancelha erguida.
-Nenhum querida... Vai ser um prazer ter sua companhia no jantar Eric!- Ela estava claramente irritada, mas tentava ao máximo disfarçar- E Lisa, suba, troque de roupa e volte aqui por favor, preciso da sua ajuda...
Eu era uma pessoa morta.
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-Você é maluca Elisabeth?- Me perguntou sentando na cama- Não sei nenhuma fórmula de química pra colocar em um trabalho!
-Eu também não!- Falei rindo e jogando minha camisa longe enquanto procurava outra na gaveta- E é por isso que precisamos estudar bastante...- Completei apertando suas bochechas e juntando nossos lábios.
-Elisabeth!- Falou arregalando os olhos e olhando para a porta.
-Qual o problema?
-Sua mãe lá embaixo!- Respondeu corando de vergonha.
-Fazíamos na casa da sua avó, qual a diferença de fazer aqui?- Perguntei rindo e saindo do quarto, era hora de ouvir a bronca imensa que eu ia levar.
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-'Nós não precisamos de lavagem cerebral'- Falava andando de um lado ao outro com minha prova em mãos, como ela pegou aquilo tão rápido?- Fora todas as respostas erradas temos isso atrás? O que aconteceu com você Elisabeth?
-Eu te disse que estava com dor, meu cérebro não funciona direito, queria as respostas certas ainda?- Eu não dei a mínima pra aqueles comentários, eu vou voltar no tempo de qualquer forma, não importa que me odeie aqui, amanhã meu lado consciente volta para a realidade perfeita e meu lado inconsciente que se vire com essa mulher cheia de raiva.
-Trouxe esse garoto pra cá pela dor também? De onde tirou que pode escolher quem dorme ou não na nossa casa?
-Já falei que temos trabalho pra fazer! Não foi atoa!- Eu estava gritando com minha mãe, as chances dela me matar eram altíssimas nesse momento.
-E o que seu pai vai pensar desse menino ali? Onde ele vai dormir Elisabeth!?- Perguntava com medo da resposta.
-Número um: Ele tem um nome, número dois: Provavelmente meu pai não vai nem perceber que tem mais alguém nessa casa. E número três: Eu não tenho uma cama de casal para não usar!- Falei correndo escada acima, mais um minuto com ela e eu levava uma facada.
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Passamos o resto da tarde e da noite trancados no meu quarto, volta e meia escreviamos alguma coisa na cartolina para caso alguém aparecesse.
Quando de repente uma visita inesperada: Jenny.
-Se divertindo?- Perguntou assim que apareceu no quarto, o que obviamente assustou o mais velho.
-Qual o problema e o que temos que fazer para voltar ao normal?- Perguntei logo, eu não tinha me esquecido do que ela disse mais cedo.
-Na verdade preciso de uma resposta sua- Ela parecia bem séria hoje- Suas cartas, revistas, ou até as contas tem vindo para o futuro, e isso vai se tornar um problema muito maior, já que seu lado inconsciente não pode jogar essas coisas no lixo, elas vão começar a acumular e só Deus sabe o que vai acontecer- Ela explicava e nós só concordavamos com a cabeça- E o único jeito de resolver é te levando definitivamente para o passado, vai ser como se nunca tivesse existido aqui, mas nada muda com a Elisabeth do passado. A pergunta é: Quer mesmo apagar sua vida aqui para viver lá?
Não pensei muito e gritei que sim, eu odiava viver aqui de qualquer modo, e lá minha vida era um paraíso, tinha minha casa, tinha a melhor pessoa do mundo ao meu lado, tinha a minha carreira...
-Então podemos voltar?- O mais velho perguntou animado.
-Vão acordar lá, é mais fácil que desmaiar no meio da rua mais uma vez... E por mais que vá sumir aqui Lisa, suas coisas são suas, elas vão com você, com isso eu quero dizer que as coisas que encaixarem na década em que oficialmente vive agora, continuam sendo suas...- Falou Jenny sumindo.
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Por mais que fosse inútil, continuamos com aquele trabalho idiota, estava estranhamente divertido, mas cansativo...
-Já estudamos o suficiente, podemos nos divertir agora?- Perguntei sorrindo e me acomodando em seu colo.
-Lizzie vão ouvir...- Falou com as mãos em meus cabelos, não sei pra que tanta preocupação.
-Se ouvirem não é problema meu, eu não vou ter que lidar com as broncas mesmo...- Respondi dando de ombros, o que fez o mais velho mudar de idéia rapidamente sobre "não fazer essas coisas na casa dos meus pais".
Pouco tempo depois uma de suas mãos teve que cobrir minha boca, era impossível controlar que ruídos saíssem dali, todo esse medo de que ouvissem e sensação de estar fazendo algo que não devia só aumentou a minha vontade de gritar... Era estranhamente interessante.
E estávamos nós, jogados sobre o colchão macio, abraçados e extremamente cansados.
-Até 64 Liss- Falou deixando (mais um) beijo em minha testa.
-Até 64...- Respondi com os olhos quase fechando pelo sono, foi um dia longo.
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Acordamos no dia seguinte com o sol da janela aberta nos nossos rostos. Eu mal podia esperar para enfim abrir os olhos e ver nosso apartamento denovo...
-Seu cabelo!- O mais velho gritou abrindo um sorriso logo em seguida.
-Seu cabelo!- Respondi logo que vi a mudança brusca nos fios do outro.
Meus cabelos estavam mais curtos que o normal, em algum momento eu consegui uma franja, eu não tinha ela ontem. E não só meu cabelo tinha ganho outro corte, os do mais velho estavam consideravelmente mais compridos e encaracolados.
Estávamos juntos, no 'passado', mas aquilo não era 1964.
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