We need to say now?
Acordei desejando não acordar, estava morrendo de medo de contar para Rose, não sei porquê, eu sabia que tudo daria certo e que voltaríamos de lá com aprovação, mas ainda assim algo fazia meu corpo arrepiar só em imaginar o momento.
Com muita dificuldade e tentando levar o máximo de tempo possível para executar a mais simples das atividades, a fim de atrasar nossa chegada e consequentemente atrasar a ocasião da notícia, estávamos quase prontos para partir, infelizmente.
Eu andava pela casa de forma nervosa, checando as trancas de todas as portas e janelas em todos os cômodos sem exceção, e obviamente soltando fumaça como uma locomotiva inquieta e barulhenta.
A cada tique do relógio meu coração disparava, estava chegando cada vez mais perto e eu não tinha a mínima ideia de como dizer isso, eu ia direto ao ponto? Eu enrolava mais um pouco? Eu fazia textos bonitos? Ou quem sabe só deixava o anelar sempre a mostra até que alguém notasse o pequeno brilhante e me perguntasse?
Minha ansiedade era tanta que minhas pernas vacilavam pelos passos que eu dava, sentia como se estivesse sobre frágeis gravetos prontos para quebrar, eu esforçava para conseguir respirar direito e minha cabeça pulsava, estava presa nesses sentimentos até sentir braços se enroscando ao redor do meu corpo.
-Lizzie? Que aconteceu?- Sua voz suave tocou meus ouvidos, realmente não queria que notasse que algo estava errado, sinto que tem medo de que eu mude de ideia sobre esse casamento, e certamente não quero aumentar essa insegurança, que agora eu já sabia da intensidade.
-Nada! Só vim ver as janelas e conferir as portas- Respondi o mais rápido que pude, me virando bruscamente com o objetivo de sair dali e partir para o carro, era melhor só acabar com a tortura.
-Elisabeth, o que aconteceu com você?- Perguntou novamente apoiando as mãos nas paredes estreitas do corredor impedindo que eu passasse.
-Medo, estou morrendo de medo, não consigo me imaginar dizendo isso- Falei depois de um profundo suspiro.
-Não consegue se imaginar dizendo que vamos casar?- Parecia um tanto confuso, eu certamente não devia ter dito isso dessa maneira.
-Não é esse o problema, o problema é especificamente contar para ela!- Expliquei gesticulando de forma nervosa.
-Sabe que não precisa de tanto medo não é? Não é um pedido de autorização, é um comunicado, vai acontecer independente da reação- Disse olhando no fundo dos meus olhos, isso não muda em nada no fato de que vamos ter que comunicar- Não pode fugir disso para sempre Lizzie, não pode fugir nem mais um minuto se não quiser se atrasar mais.
-Eu sei...- Murmurei olhando para baixo e rodando a aliança em meu dedo- Vou pegar as bolsas e desço, juro!
-Já fiz isso Elisabeth- Cruzou os braços e apoiou o ombro na parede, eu precisava de alguma desculpa para pensar um pouco mais sobre, talvez silenciosamente derramar algumas lágrimas...
-Então vou- Fui cortada quando fui jogada sobre seus ombros, como uma criança forçada a tomar banho após fugir a noite inteira- Ric! Consigo fazer isso sozinha, e eu vou fazer isso!- Eu me debatia tentando sair dali, mas nada adiantou, eu tive de ser carregada até o carro, por mais estupido que isso seja.
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Chegamos depois de não muito tempo, tudo é mais fácil e rápido quando não se depende de trens e longas esperas em estações.
Sendo essa a primeira vez que viemos aqui em 67, posso declarar que nada mudou, exatamente, nada mudou, parece que o lugar está congelado desde 64, quando viemos aqui da última vez, as fachadas estão iguais, as lojas são as mesmas e nem as cores das janelas mudaram.
E assim como a aparência do lugar não mudou, seus residentes também não, lá estavam Stu, Peter e Rose, com os olhos atentos na estrada aguardando que chegássemos.
Saí daquele carro e mal sentia as pernas, meu pânico estava crescendo cada vez mais, e os quarenta minutos de viagem ajudaram consideravelmente nisso, mas já estamos aqui e não tem mais como retroceder, por mais que eu ainda me culpe por não ter escolhido contar isso por meio de um telefonema.
-Pra quem chegava de trem e lotados de olheiras, chegar de carro e óculos de sol é uma grande evolução- Peter comentou e quase imediatamente corri para me jogar em seus braços, senti saudades desse abraço.
-Senti falta de vocês...- Sussurrei puxando Stu para o abraço- Por que não apareceram sem aviso prévio na porta da minha casa? Sabem que podem ir a qualquer hora!- Reclamei desprendendo de seus braços.
-Quando estiver disposta a me dar um carro para que eu faça isso, pode ficar a vontade, senhorita!- Pete retrucou de imediato.
-Quem sabe algum dia, quando eu estiver multi milionária e não tiver mais onde queimar meu dinheiro!- Respondi enquanto me juntava ao outro no abraço que dava em Rose.
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Entramos e, como sempre, uma refeição mais que agradável ocorreu, não me recordo de ter vindo aqui sem que algum prato estivesse sobre aquela mesa de madeira.
-Como tem ido a vida na casa gigantesca de vocês?- Rose pergunta sorrindo e se sentando na cadeira em frente as nossas, apoiando os cotovelos na mesa e preparada para ouvir todas as histórias que temos a contar.
-Bem, eu acho...- O mais velho respondeu me olhando, como se esperasse que eu dissesse algo sobre a última afirmação.
-Sim! Tudo vai perfeitamente bem!- Exclamei estalando os dedos, o nervoso só crescia- Temos uma gata agora! Maxine, é uma siamesa...
-Isso é ótimo queridos- Sorriu se levantando para pegar mais um copo de suco.
-We need to tell her now?- Cochichei para o outro que estava ao meu lado, talvez eu tenha dito isso um pouco alto demais...
-Contar o quê? Que estão noivos?- Perguntou rindo e se sentando novamente, como diabos essa mulher sabia disso?- Porquê os olhos arregalados? Revistas me contam o que meus olhos não veem, meus amores.
-O problema é que não contamos para revistas!- Esbravejou se virando para mim- Elisabeth?
-O quê? Não falei nada! Sabe disso!- Me defendi imediatamente, realmente não fiz- Eu te juro que se Ginger tiver dito sem eu saber, eu mato aquele graveto ruivo de dois metros!
-Claro que não foi ele!- Encobertou rapidamente- Eu espero...- Completou abaixando o olhar.
Uma parte de mim, estava inflada de ira, e a outra de alívio por não ter que dizer aquilo em palavras diretas...
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