She doesn't know yet!

Por incrível que pareça, posso dizer que estamos completamente parados desde as últimas semanas, sem fotos, sem shows, sem viagens, sem gravações, nada nos atrapalhou nesses quatorze dias, o que deveria significar pura paz e calmaria, mas quer dizer apenas que estamos nos arrastando no vazio que esse curtíssimo ''hiato'' causou.

Não tínhamos nenhuma atividade, nada que forçasse nosso cérebro a funcionar, e por consequência, nada que provocasse divertimento.

Tentamos de tudo, arrumar essa casa gigantesca, arrastar as mobílias de um canto ao outro, limpar cada centímetro que fosse, podar os arbustos, tirar e colocar quadros das paredes ou até mesmo lavar os pesados tapetes, e então descobrimos que nenhuma atividade na área doméstica garante diversão, só cansaço e dor nas panturrilhas de subir e descer os longos lances de escadas.

Com a última descoberta, decidimos escapar de casa, pubs, festas, restaurantes, ou até mesmo artistas de rua arranhando violões eram algumas das opções, estava funcionando, antes do sermão que levamos de Stigwood sobre a forma descabeçada que gastávamos as notas que chegavam nas nossas mãos, controle financeiro não era lá uma das nossas virtudes, afinal não é o tipo de coisa que temos controle, nem pagamos nossas próprias contas, ''parecem crianças brincando de 'gente grande'!" é o que Robert costuma esbravejar em nossos tímpanos em todos os nossos encontros.

Com mais uma das opções descartada (Por escolha própria, era melhor ficar em casa do que ouvir as palestras de Stigwood), decidimos então fazer nossas próprias ''sessões de bebedeira'', com aqueles convidados de sempre, variando entre Jim, Chris, Jack, Ginger, Geo, Pattie... Esses dois últimos com muito mais frequência, afinal somos praticamente vizinhos, se formos considerar que estamos em Surrey, e que meia hora de carro entre uma casa e outra é designada vizinhança.

A graça com as festas caseiras também acabou quando nos demos conta que acordar no dia seguinte, atulhados de dor de cabeça e defrontar com uma casa revirada não era tão divertido como a farra da noite anterior. 

Experimentamos todas essas situações em menos de quinze dias, decidimos largar de vez os esforços nesses últimos, suportávamos uma casa onde as cortinas raramente eram abertas, poucas refeições de verdade eram feitas, o maior  esforço que fazíamos durante o dia era apertar o botão da televisão, e apenas um, nem mesmo ajustes de volume ou escolhas do que assistíamos ou não eram realizadas, quando os sons não vinham do aparelho, vinham dos grandes amplificadores ensurdecedores que tocavam de forma infindável. 

E então percebi que, se não ocupássemos nossa mente com algo que necessitasse de atenção, íamos morrer ali, e mal perceberíamos a falta um do outro, estávamos anestesiados demais para isso. 

Em uma tarde qualquer, me dei conta do risco que corríamos, algo dentro de mim me deu força para respirar fundo e começar algo. 

Abri as pesadas cortinas de uma só vez, deixando a luz entrar naquele ambiente mórbido que gradualmente se tornava quase lúgubre, puxei por uma caderneta e cacei por uma caneta, subi as escadas correndo, eu não queria perder mais um segundo sequer naquela vida zero produtiva.

-Ric!- Berrei enquanto batia na porta da sala que, progressivamente, tem se tornado uma espécie de estúdio caseiro, passa horas lá dentro, não tenho a mínima ideia de como consegue se isolar desse jeito com tanta facilidade.

Continuei ali, me esgoelando em busca de atenção que não recebi, o som daqueles malditos amplificadores eram altos demais para que qualquer um notasse minha presença.

Sem pensar muito mais escancarei a porta, eu normalmente tento manter a 'privacidade' intacta para se algo sério saia dali, mas hoje não é um dos dias em que tenho disposição para isso. 

Certamente a atitude assustou o outro, dada em conta sua expressão, fiz sinal diversas vezes para que abaixasse o volume absurdo daquelas caixas, erguia as sobrancelhas e balançava a cabeça sem entender, então tive de fazê-lo com minhas próprias mãos, seria mais fácil se eu soubesse o que cada um daqueles botões fazia, tudo o que aconteceu foi provocar alguns sons de extrema bizarrice que eu nem sabia que uma guitarra poderia fazer.

-I didn't know that you like these weird kind of music...- Murmurou rindo enquanto consertava a bagunça que causei naqueles interruptores.

-Very funny...- Resmunguei me jogando ao seu lado no chão e deitando minha cabeça em seu colo. 

-Qual o motivo da visita ilustre, senhorita que nunca anda por essas bandas?- Questionou com suas mãos se enroscando em meus fios.

-Te ver? Querer companhia?- Ergueu a sobrancelha como se já soubesse que não era por isso, talvez porquê eu nunca venha aqui sem motivo...- Ok, descobri que temos algo importantíssimo para fazer, só não sabíamos disso- Completei me sentando e entregando o caderno em suas mãos, já tinham várias anotações ali, e não foi necessária explicação para que soubesse do que se tratava.

-Não acha que é cedo demais pra isso?- Perguntou finalmente largando o instrumento e dando um pouco mais de atenção ao meu ''Planejamento de casamento''.

-Claro que não! Por que seria?- Talvez eu estivesse realmente ansiosa com aquilo, mas é o tipo de coisa que precisa de muita atenção e cuidado.

-Talvez porque Rose nem saiba disso ainda?- Respondeu se deitando e coçando os olhos, ânimo certamente não está presente naquele corpo agora.

Eu não notei isso até o dado momento, como assim tivemos uma semana completa livre e nem ao menos cogitamos ir até lá e contar? Ou até mesmo telefonar! O que eu acho, particularmente, ser nada apropriado para a magnitude da notícia, mas que fosse!

-Somos pessoas horríveis!- Exclamei com os olhos arregalados- Tivemos todo esse tempo, e preferirmos passar aqui, quase que devorados pelo tédio, ao invés de entrar na porcaria daquele carro e dirigir durante míseros quarenta minutos até lá!

-Podemos fazer isso amanhã, não precisamos ir agora, ninguém vai morrer se não pisarmos lá...- Disse passando os braços ao redor do meu corpo e fechando o caderno.

-Isso não quer dizer que precisamos parar com as anotações!- Eu queria fazer isso agora, e eu ia, caso contrário voltaríamos ao ciclo desprezível que levávamos.

Depois de alguma insistência, consegui o fazer parar e pensar comigo, depois de não muito tempo, descobrimos que uma cerimônia tradicional não chega nem perto de se encaixar com a nossa personalidade, se fizéssemos aquilo seria um desastre, decidimos então descartar a ideia, sem vestidos longos, igrejas e bolos de quinhentos andares. 

Passei o resto do dia pensando sobre, durante a noite mal podia dormir, ansiando o dia de amanhã quando finalmente contaríamos para Rose, não sei se estou realmente animada ou se, na verdade, estou tremendo os ossos de medo, ainda não me decidi quanto a isso...

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