Lembra das 3 ou 4 horas de sono? Foram literais hoje, passamos a madrugada inteira sem uma gota de sono, afinal estávamos ocupados demais (fazendo o que? não me lembro).

Manhãs pós vodka são sempre iguais: Eu jogada sobre o corpo de alguém, minha cabeça a ponto de explodir, olheiras terríveis e um total de zero vontade de levantar dali.

E qual a diferença de hoje? Uma coisa sobra e a outra falta. O que sobra é um corpo a mais nessa cama, o que falta? Roupas.

Eu tinha minha cabeça apoiada sobre Jim que dormia tranquilamente assim como o outro que tinha os braços ao redor do meu corpo.

O que aconteceu aqui?

-Bom dia...- Ouvi Jim murmurar

-Perguntas: 1, por que estamos dormindo juntos?, 2, por que não temos roupas?

-Elisabeth, isso é mais que óbvio- Respondeu calmo, parecia relaxado como nunca- Não lembra?

-Não...

-De nada?- Perguntou mais alto dessa vez

Não, eu não lembrava de nada depois que abrimos as garrafas, minha última memória clara é de pegar copos no armário, daí pra frente...

-Vocês falam demais pra quem acabou de acordar sabiam?- O outro dizia bocejando- Bom dia também...

-Lisa não lembra do que aconteceu- Falou rápido.

-De nada?- Perguntou assustado

-De nada...- Respondi- É tão absurdo assim eu não lembrar do que aconteceu?

-Sim- Disseram juntos

-Lembra dos cubos de gelo?- Jim perguntou na tentativa de me desbloquear alguma memória.

Sim eu lembrava daquelas malditas pedras geladas deslizando na minha pele, era perfeitamente torturante demais pra eu esquecer.

-Lembra como elas se conectam com isso aqui?

Sim, uma delas 'acidentalmente' caiu na minha roupa e daí pra frente mais delas começaram a andar por aí...

Eu estava vermelha como um pimentão agora, sem dúvidas.

-Lisa se acalma, foi só uma vez...- O outro tentava me consolar- Aconteceu, existem várias formas de se divertur sabia?

-Essa foi a que escolhemos...- Jim completa rindo.

-Quem te ver agora até acredita que é pura, conservadora e da igreja!

-E eu não sou?

-Lisa... Eu moro com você, eu acho que te conheço o suficiente pra dizer que não.- Respondeu rindo e se levantando.

-Pelo menos aprendemos ótimas lições hoje...- Falei mudando completamente o assunto.

-Que eu não devo nunca mais beber no apartamento de vocês e que beijos triplos não funcionam- Jim responde se levantando em seguida.

-Tentamos isso?- Não lembrar de nada é bem agoniante nessas horas...

-Algumas vezes- Deus me perdoe.

Bem, não dá mais pra voltar atrás, o que passou já passou e é isso. Hora de levantar e seguir em frente como se nada disso tivesse acontecido.

Seria mais fácil se meus joelhos tivessem força o suficiente pra me manter em pé.

-Denovo Lisa?- me perguntou vendo que eu simplesmente desmontei no chão.

-Como assim denovo? Isso já aconteceu quantas vezes?- Jim pergunta espantado.

-Uma, uma única- Respondi rápido- Vai precisar pegar remédio com Margaret... Ela tem de tudo lá deve ter pra isso também.

-E como eu explico pra mulher católica fervorosa que você não anda por um ato impuro como esse?

-Se continuar falando alto desse jeito não vai ter que explicar, ela já deve saber...

-Bicicleta! Saíram pra andar de bicicleta e agora tem que lidar com a dor muscular terrível...- Jim diz, não era uma má idéia...

Decidimos por usar a tática da bicicleta, afinal era possível de acreditar nela, ou não...

-É bom ver os jovens praticando mais esportes como esses, bicicletas são ótimas pra saúde!- Calma, ela tinha que vir até aqui com o remédio?

Ela vai infartar logo que ver as garrafas na sala, fora o fato de que só Deus sabe onde o resto das minhas roupas estão...

Tive que correr pela minha própria reputação, trancar a porta daquele quarto e tentar manter a calma.

-Liss, Margaret disse que tem um creme ótimo pra ajudar nisso...- Ouvi dizer do outro lado da porta- E achou melhor vir aqui te ajudar.

-Só uns minutos que eu já vou!- Gritei procurando alguma peça de roupa nas gavetas.

-Vamos querida eu tenho mais o que fazer!- Margaret dizia

-Já viu o nosso quadro novo Margaret? Fica a vontade...- Tentei fazer ela sair da porta.

Deu certo, Jim conseguiu distrair a mulher lá fora com o mapa mundi que montamos enquanto eu puxava o outro para dentro do quarto.

-É maluco? E as garrafas na sala? Como essa velha não morreu?

-Quem disse que não? Não deu pra ouvir ela dizer que estávamos perdidos no mundo?

-Então era disso que ela tava falando logo que entrou?- Nem tinha pisado na nossa casa já começou a falar besteira.

-Com licença minha querida, mas eu vou entrar!- Falou abrindo a porta- Então é pra isso que me chamam aqui? Não queriam ajuda? Já esqueceu das dores?- Gritou ao me ver naquele estado.

-Margaret... Eu só precisava trocar de roupa...- tentei me explicar, não que eu devesse satisfação pra ela.

-E precisa de companhia pra se vestir?

-Foi só coincidência...- Eu já estava vermelha de vergonha.

-As garrafas na sala também são coincidência? E as roupas jogadas pela casa?- Perguntou enquanto deixava o tal creme na mesinha de cabeceira- Nem se casaram ainda...

-Margaret eu só preciso do remédio... Por favor!- Falei me sentando na cama- Nem consigo andar direito, eu preciso melhorar logo, eu trabalho amanhã...

-Se eu souber que gastei meu quase milagre cremoso com um pecado dessa ordem...- Falou se sentando ao meu lado- Deve esquentar a área antes...

'Esquentar a área' aparentemente significa bater na minha perna dolorida pra descontar todo o ódio na pecadora aqui.

-Sempre em movimentos firmes e circulares...- Disse enquanto apertava minha perna como se fosse massa de pão.- Pode ser que fique roxinho depois, mas passa rápido...

-Aham...- Eu concordava enquanto tentava esconder a dor.

-Pronto meu amor, três vezes ao dia e deve melhorar ainda hoje- Falou se levantando e deixando um beijo em minha bochecha- Por mais que vocês sejam desviados e meio doidinhos, eu amo vocês meus queridos!

-Muito obrigada Margaret, eu nem sei o que seria de mim sem você...

E o creme funcionava até que bem, no dia seguinte acordei como se nada tivsesse acontecido...