Capítulo 11
Na visão de Clara:
Pouco tempo após cair a noite, a Sra.Laura bate na porta do meu quarto.
Eu estava na sala, quando olhei através da grande janela de vidro que há, com vista à frente da casa. O carro do Sr.Alberto estacionou e a primeira pessoa que vi descer, foi Lucas. Meu coração quase saltou pela boca, então resolvi subir e me trancar no quarto antes que resolvesse atravessar a porta e dar de cara justamente comigo.
Abri a porta para a elegante senhora usando saia longa e camisa social branca de gola.
_ Porquê trancou a porta? _ Pergunta, estranhando, já que nunca fecho a porta, mesmo quando vou trocar de roupa.
_ É... Eu... Nem percebi que havia trancado. _ Minto, com um sorriso forçado no rosto.
Ela me observa meio desconfiada.
_ Então tá... _ Senta na beirada da cama. _ Vim te ajudar a escolher uma roupa, vamos a um jantar na mansão dos Alves.
A mansão dos Alves, nada mais é do que a casa da minha melhor amiga, Aline Alves.
_ Qual o motivo? _ Sento ao seu lado.
_ Algo sobre um Garoto chamado... _ Faz uma pausa, tentando lembrar o nome. _ Al-A... Allan!
_ Alex. _ Corrijo-a, meio automática.
_ Isso! _ Concorda. _ Espera... _ Me encara com desconfiança. _ Como você sabe?
Sorrio meio sem jeito, levantando o ombro esquerdo, enquanto o sorriso se desfaz.
_ Eu... _ Penso na opção de inventar outra mentira, mas não gosto de mentir pra ela dessa forma. _ Estive lá hoje cedo. Fui visitar Aline. _ Não é mentira. Eu realmente fui com a intenção de vê-la.
Ela sorri. Um sorriso satisfeito. Tá na cara que nossa amizade é prestigiada.
_ Sabe, quando eu era adolescente, assim da sua idade, tive uma amizade tão bonita como a sua com Aline. Nós éramos inseparáveis. _ Fala com um sorriso estampado em seus lábios. Um tom de saudades.
_ E o que aconteceu? _ Pergunto com um pouco de curiosidade, já que ela nunca fala em nenhuma amiga durante nossas conversas.
_ Seguimos caminhos diferentes. _ as palavras saem amargas, com um leve tom de arrependimento.
_ Vocês brigaram?
_ Acaba que ela não era uma amiga tão boa assim. Cometemos o erro de nos apaixonar pelo mesmo garoto, e sem que eu soubesse, ela começou um relacionamento com ele às escondidas. Só fiquei sabendo de tudo, quando fui a uma festa na casa dela e a vi sentada no colo dele, em um beijo que marcou o fim de uma amizade com mais de 10 anos.
_ E vocês nunca mais se falaram?
_ Acabei me mudando de São Paulo. Fui passar dois anos na casa da Tia Ingride, em Santa Catarina, e quando voltei, não tive mais notícias suas, soube apenas que havia se casado com um milionário e se mudado do país.
_ Nossa, que história triste. _ Comento. _ Será mesmo possível uma pessoa com quem convivemos durante anos, ser uma pessoa tão falsa?
_ Se tem uma coisa que aprendi com Érica, é que nunca devemos confiar totalmente em alguém. _ Aconcelha. _ Agora chega de jogar conversa fora, vamos escolher um lindo vestido. _ Fala, indo em direção ao closet.
_ Espera, a senhora acha que Aline pode ser igual a Érica? _ Pergunto, ainda refletindo sobre a conversa.
_ Aline é diferente; É uma garota civilizada, educada, de boa família... Com certeza recebeu uma ótima educação. Esse é muito bonito. _ Diz, levantando um vestido azul marinho. _ É meio simples, um estilo social sem mangas, medindo até os joelhos. _ Na verdade, acho que é meio simples. _ Joga nos pufs e procura por outra peça. _ Perfeito! _ Levanta um vestido rodado de alças, decote raso e uma fita marcando a cintura. Entre as mais de 100 peças de vestido, é um dos meus preferidos. É branco, com estampa simples de flores. Bem delicado. _ Acho que vai combinar com a sandalinha preta de salto que comprei pra você quando fui ao Rio de Janeiro.
O que acha?
_ Adorei. _ Respondo sorrindo.
_ Eu sabia que ia gostar. _ Pega o sapato de uma prateleira um pouco mais alta, onde ficam inúmeros pares de sapatos, os quais não uso nem a metade.
_ Obrigada por me ajudar.
_ Sabe que é um grande prazer pra mim. _ Me dá um beijo na testa e sai, encostando a porta.
A mãe que nunca tive. _ Suspiro.
Após tomar um banho, visto a roupa que a Sr.Laura me indicou e calço as sandálias de salto com um pequeno detalhe de laço na frente. A combinação ficou perfeita.
Solto os cabelos que batem pouco abaixo dos ombros, faço uma maquiagem leve e após me perfumar um pouco, desço para esperar na sala.
Sento no sofá, enquanto espero impaciente, até que o Sr.Alberto e Sr.Laura desçam. Me distraio, ligando a TV para assistir uma bobagem qualquer, mas não o bastante a ponto de não escutar os passos descendo às escadas. Viro, já concluindo quem seja. O senhor Alberto tem passos leves, jamais desceria as escadas tão rápido. Já a senhora Laura, essa tem passos elegantes e está sempre de salto, se fosse ela, com certeza eu estaria ouvindo cada passo cronometrado pelo bico fino do salto. E como esperado, Lucas anda a passos rápidos em minha direção. Um olhar sério, face marcada, expressão dura. Antes que possa falar qualquer coisa, olho para as escadas e vejo a Sr.Laura descer elegantemente, em um vestido lápis azul claro, gargantilha de brilhantes, pulseira dourada cravejada em pérolas, cabelos presos em um coque bem acentuado, e os esperados saltos de bico fino. Maravilhosa como sempre.
_ Vamos querido, desse jeito chegaremos atrasados. _ Alerta, enquanto desce as escadas sem muita pressa.
_ Já estou indo. _ Responde com voz séria, aparecendo no alto da escada, ajeitando o nó da gravata.
O Sr.Alberto vai tirar o carro da garagem, enquanto ficamos o esperando na frente da mansão. Logo ele estaciona o Fiesta preto e abre a porta da frente para a Sr.Laura. Espero até que Lucas entre também e sento logo ao seu lado, já que decidiu ocupar o banco do meio. Não o olho, apenas fecho a porta do carro e encaro a janela com vidro escuro.
Por vezes, com o balanço do carro nas ruas defeituosas de São Paulo, Lucas jogava peso do seu corpo por cima do meu. Me olhava com malícia, semecerrando seus olhos castanhos. Sua mão em meu braço, apertando de leve, enquanto pedia cinicamente por "desculpas".
Agraci mentalmente quando o carro finalmente foi estacionado na frente da mansão dos Alves. Desci do veículo e soltei o ar que estava preso. Não sei porquê, talvez meus pulmões estivessem com medo de dividir o ar com Lucas. Ou simplesmente esqueci como se fazia.
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