Promessas ao Entardecer

Ji Yeon observava pela janela do quarto, perdida nos pensamentos enquanto as folhas secas caíam no jardim, movidas por uma brisa suave. O silêncio era acolhedor, mas também carregava uma melancolia que parecia não deixá-la em paz. Já haviam se passado semanas desde o trágico incidente, e embora ela estivesse se recuperando, havia algo que ainda prendia seu coração.

Com um suspiro profundo, ela afastou-se da janela e caminhou lentamente em direção ao seu closet. Cada passo era tomado com cuidado, como se estivesse prestes a encarar algo que não queria, mas sabia que precisava. Ao abrir as portas de madeira clara, seus olhos foram diretamente para uma pequena caixa azul, com delicadas fitas de seda amarradas ao redor.

Ji Yeon hesitou por um momento, sentindo o peso daquele simples objeto, antes de finalmente pegar a caixa com as duas mãos e sentar-se na beira da cama. Com os dedos trêmulos, desfez as fitas e, com cuidado, levantou a tampa. Lá dentro, dois sapatinhos de bebê bordados com carinho e três pequenas peças de roupa também bordadas por ela, cada uma representando as esperanças e sonhos que ela tinha para o filho que nunca chegou a conhecer.

O silêncio foi rompido apenas pelo som de sua respiração pesada enquanto as lágrimas enchiam seus olhos. Ela passou os dedos pelas costuras dos sapatinhos, lembrando-se das noites em que havia se sentado sozinha, bordando cada detalhe com tanto amor. O coração apertou no peito, e a dor que ela havia tentado esconder veio à tona.

Enquanto olhava as roupinhas, ela não percebeu a chegada de Taehyung, que havia parado na porta do quarto, observando-a em silêncio. Ele viu o peso das emoções que ela carregava, e por um momento, sentiu um aperto no coração. Não era culpa, mas sim o pesar por algo que ele também ansiava e que havia perdido.

Sem dizer nada, Taehyung entrou no quarto, aproximando-se lentamente de Ji Yeon. Ele sentou-se ao lado dela na cama, seus movimentos cuidadosos, como se não quisesse quebrar a fragilidade do momento. Seus olhos recaíram sobre as roupas de bebê que ela segurava, e o peso da realidade os atingiu em uníssono.

Ji Yeon soltou um suspiro trêmulo, e sem desviar o olhar das roupinhas, ela finalmente quebrou o silêncio.

— Eu... fiz tudo isso com tanto carinho, Taehyung... — Sua voz saiu fraca, quase um sussurro. — Eu sonhava com o momento em que veria nosso filho usando essas roupas... Esses sapatinhos...

Ela fechou os olhos, sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto. Taehyung permaneceu ao lado dela, ouvindo em silêncio, o peito apertado com a dor que eles compartilhavam.

— E agora... tudo parece tão... vazio. — Ela continuou, sua voz embargada. — Não consigo deixar de me perguntar... por quê? Por que isso aconteceu com a gente?

Taehyung respirou fundo, olhando para Ji Yeon com ternura. Ele sabia que não havia palavras que pudessem tirar a dor dela, mas também sabia que ela precisava ouvi-lo.

— Ji Yeon... — Ele começou, sua voz suave, mas firme. — Muitas coisas acontecem em nossas vidas e, às vezes, não entendemos o porquê. É difícil aceitar... especialmente quando é algo que desejávamos tanto. — Ele passou o braço em volta dos ombros dela, puxando-a gentilmente para perto.

Ji Yeon inclinou-se contra ele, sentindo o calor e o conforto que ele oferecia. Suas lágrimas continuavam a cair, mas ela sentia que não estava mais carregando aquele peso sozinha.

— Mas... — Taehyung continuou, a voz agora com um toque mais firme. — Essas coisas, por mais dolorosas que sejam, muitas vezes nos tornam mais fortes. Não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos nos apoiar um no outro para seguir em frente.

Ji Yeon olhou para ele, as lágrimas ainda caindo, mas agora com um olhar de compreensão. Ela sabia que ele também estava sofrendo, mesmo que não mostrasse tanto. Ele havia perdido aquele filho tanto quanto ela, e agora, eles precisavam se apoiar mutuamente para curar.

— Eu sei que não será fácil, mas nós vamos superar isso. — Ele disse, enxugando delicadamente as lágrimas dela com o polegar. — Juntos.

Ela assentiu, sentindo uma leveza começar a preencher o espaço onde antes havia apenas dor.

— Eu só... sinto tanto por ter sido tão fraca. — Ji Yeon murmurou, ainda olhando para os pequenos sapatinhos em suas mãos.

— Você nunca foi fraca. — Taehyung respondeu rapidamente, segurando as mãos dela com firmeza. — Nunca pense isso. Você é a pessoa mais forte que eu conheço. — Ele deu um sorriso leve, embora a tristeza ainda estivesse presente em seus olhos. — Nós dois somos. Vamos passar por isso... como sempre fizemos.

Eles ficaram em silêncio por mais um tempo, apenas se abraçando, deixando que o conforto um do outro fosse o suficiente para, pelo menos por aquele momento, aliviar a dor.

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O parque estava repleto de tons vibrantes de verde, com o sol suave da tarde iluminando as folhas das árvores. Era um dia perfeito para um piquenique, e Eleanor, sentada sobre uma toalha bem estendida no chão, ajeitava as frutas e queijos em pequenos pratos, enquanto Jungkook observava com um sorriso discreto no rosto. Ele se acomodou ao lado dela, esticando as pernas e se recostando nas mãos com um ar despreocupado.

— Por que está sorrindo assim? — perguntou Eleanor, levantando uma sobrancelha, enquanto cortava um pedaço de queijo e o colocava no prato dele. — Parece que vai soltar alguma piada a qualquer momento.

— Eu só estava pensando... — começou Jungkook, sem perder o sorriso. — Você está muito diferente da menina teimosa que conheci há três meses. Olha só, preparando o piquenique direitinho... quase uma verdadeira dama.

— Muito engraçado, Major Jeon — replicou Eleanor, empurrando o prato para ele com um olhar afiado. — Se sou uma dama, você deve ser o perfeito cavalheiro, não é? Sempre pronto para sentar e observar enquanto eu faço todo o trabalho. Muito cavalheiresco.

Jungkook riu baixo, pegando o prato sem pressa.

— Você tem razão. Eu poderia ajudar... mas acho mais interessante ver você tentando ser delicada.

Eleanor revirou os olhos, mas o sorriso em seus lábios entregava sua diversão.

— Eu não preciso de delicadeza para ser eficiente. Além disso, se você mexesse nos meus queijos e frutas, teríamos uma bagunça aqui. Deixe isso para mim.

— Claro, claro. — Jungkook mordeu um pedaço de fruta e olhou ao redor, o vento bagunçando um pouco seus cabelos. — Mas, falando sério agora, você está bem com... tudo isso? — Ele gesticulou de leve, referindo-se à iminente partida. — Sei que você não é de demonstrar muito, mas estamos chegando perto do fim da tarde.

Eleanor deu de ombros, pegando uma uva e a colocando na boca, mastigando lentamente antes de responder.

— Eu vou ficar bem, Jungkook. Não sou do tipo que desmorona fácil. Sei que você vai, mas também sei que você volta. Além disso, não sou dessas que precisam de declarações de amor eternas a cada cinco minutos. — Ela lançou um olhar de soslaio, sorrindo. — E você, acha que vai sentir falta da minha companhia?

Jungkook ergueu uma sobrancelha e fez uma expressão pensativa exagerada.

— Sentir falta? Hm... Talvez um pouco. Sabe, alguém para me chamar de idiota quando faço algo errado faz falta.

Eleanor riu alto.

— Bem, se você realmente sentir falta de ser insultado, posso escrever umas cartas cheias de críticas. Vou garantir que o mensageiro entregue diretamente nas suas mãos.

— Eu adoraria — respondeu ele, sem perder o tom brincalhão. — Vou guardar cada uma delas perto do meu peito, como lembrança da sua doçura.

Os dois riram juntos, o ambiente leve e descontraído, enquanto o vento soprava suavemente as árvores ao redor. Mesmo sem trocarem palavras de afeto exagerado, a conexão entre eles era clara. O silêncio confortável que se seguiu foi interrompido apenas pelo som das folhas e pássaros ao longe.

— Sabe, — começou Eleanor, sem olhar diretamente para ele, como se falasse para o vento — Por mais que eu finja que não ligo... é bom saber que alguém lá fora estará pensando em mim. — Ela deu uma mordida em uma fatia de maçã, ainda sem encará-lo, suas bochechas tomando uma coloração avermelhada. — Mas você também não vai se livrar de mim tão fácil, então não se acostume com a distância.

— Ah, disso eu não tenho dúvidas — disse Jungkook, inclinando-se para mais perto, provocando-a com um sorriso. — Sei que vou receber uma carta sua cheia de sarcasmo antes mesmo de passar uma semana. Talvez você até me lembre de não me machucar no caminho.

Eleanor sorriu, finalmente olhando para ele.

— Alguém precisa manter você na linha. Não que eu me importe tanto assim, é mais pela reputação, sabe? Não posso deixar meu noivo voltar com cicatrizes feias. Isso acabaria com minha imagem.

— Claro, sua imagem é o mais importante. — Jungkook riu, balançando a cabeça. — Acho que vou usar essa desculpa com o meu capitão. 'Desculpe, senhor, mas não posso me arriscar muito, tenho que voltar ileso por causa da minha reputação com a senhorita Hawksley.'

Eleanor lançou um olhar de desafio, os olhos brilhando de diversão.

— Melhor você voltar mesmo. Mas não se preocupe, sou boa com agulhas. Se precisar de um ponto ou dois, posso dar um jeito em você.

— Isso me conforta bastante. — Ele se aproximou um pouco mais, o sorriso nos lábios suavizando. — Sabe, por trás de tudo isso, você é a pessoa mais incrível que já conheci.

Eleanor ergueu a sobrancelha novamente, segurando o olhar dele por alguns segundos, antes de sorrir com uma pequena risada.

— Não ouse ficar sentimental agora, Jeon. Temos um trato, lembra?

Jungkook riu e assentiu.

— É verdade. Sem sentimentalismo exagerado.

Mas, mesmo sem mais palavras, o olhar que trocaram em seguida disse tudo. Eles tinham um entendimento mútuo, um carinho silencioso que não precisava ser expresso com longas declarações. Era simples, natural, e exatamente como os dois gostavam.

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O céu tingido de tons alaranjados e rosados pintava o fim da tarde, criando um cenário melancólico e, ao mesmo tempo, de uma beleza serena. O cavalo de Jungkook, emprestado por Taehyung, estava preparado à sua espera em frente à residência dos Kim. Todos estavam reunidos para se despedir do major que, dentro de poucas horas, voltaria ao serviço militar.

Eleanor mantinha-se firme ao lado de seus pais, embora a expressão um pouco distante nos olhos traísse seus verdadeiros sentimentos. Jungkook, com uma expressão calma, se aproximou dos Hawksley para as despedidas.

— Bem, eu acho que isso é um "até logo", — ele começou, com um sorriso suave, enquanto estendia a mão para Alexander.

O pai de Eleanor, com sua postura rígida, apertou a mão de Jungkook com firmeza, mas o respeito entre os dois era evidente.

— Jungkook, cuide-se por lá. Não queremos que você volte cheio de cicatrizes para minha filha, hein? — Ele disse, a voz grave carregada de seriedade, mas o aperto de mão amigável quebrava qualquer frieza aparente.

— Pode deixar, Alexander, prometo voltar em uma só peça — brincou Jungkook, enquanto os dois trocavam um sorriso cúmplice.

Ângela, com seu ar sempre caloroso, aproximou-se e, sem hesitar, pegou a mão de Jungkook, depositando um beijo suave em sua testa.

— Vai com Deus, meu querido. Você já faz parte da nossa família, e espero que isso nunca mude. — Havia um carinho profundo em sua voz, e o sorriso que lhe deu era maternal.

— Não tenho dúvidas de que voltarei para esta família, — respondeu Jungkook, segurando a mão de Ângela e retribuindo o carinho com um beijo no dorso de sua mão.

Em seguida, Ji Yeon se aproximou com um sorriso afetuoso, abraçando Jungkook com sinceridade.

— Não se esqueça de escrever quando tiver tempo. Espero que volte logo, sem mais batalhas em seu caminho.

— Pode deixar, Yeon. Vou fazer o possível para evitar os problemas... mas não posso prometer nada, — ele riu, ao que Ji Yeon balançou a cabeça, rindo também.

Quando chegou a vez de Taehyung, os dois primos trocaram um olhar silencioso por um momento. O que aconteceu em seguida não foi apenas um simples abraço, mas sim um encontro de irmãos. Taehyung apertou Jungkook com força, demonstrando a profundidade da amizade e da irmandade que compartilhavam, muito além do laço sanguíneo.

— Se cuida lá, — Taehyung disse em tom sério, mas os olhos não escondiam a preocupação. — Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar.

— Sempre soube, — respondeu Jungkook, batendo levemente no ombro de Taehyung. — E você cuide da Ji Yeon. Não quero voltar e descobrir que a fez enlouquecer. Ela já tem que lidar comigo.

Taehyung riu, balançando a cabeça.

— Ela vai sobreviver... assim como você. Volta logo, tá?

Com os cumprimentos feitos, restava apenas Eleanor. Jungkook se aproximou dela com um sorriso, mas a força que ela demonstrara durante o dia começou a se dissipar. Ele percebeu a emoção contida em seu olhar. Sem dizer uma palavra, ele a puxou levemente para o lado, para que ficassem mais afastados dos outros, dando-lhes um breve momento a sós.

— Ely... — começou Jungkook, sua voz baixa e cheia de sinceridade. Ele a olhou nos olhos, vendo a força dela, mas também a vulnerabilidade que raramente ela deixava transparecer. — Eu não sei como vou conseguir estar longe de você sem pensar, a cada segundo, na pessoa incrível que você é.

Eleanor o olhou com atenção, seus olhos brilharam ligeiramente, mas ela ainda tentava manter sua postura firme.

— Você é rara, sabe? — continuou ele, sua voz carregada de admiração. — Não só pela sua inteligência ou coragem, mas pelo jeito que você desafia o mundo, do seu jeito, sem pedir desculpas por ser quem é. Essa determinação... é algo que eu nunca vi em mais ninguém. E, honestamente, é uma das coisas que mais admiro em você. Você me inspira, Eleanor.

Jungkook deu um passo mais perto, tocando suavemente o rosto dela.

— Eu te amo, sim. Mas é muito mais do que isso. Eu te respeito. Admiro cada decisão que você toma, cada passo que dá, e sei que, não importa o que aconteça, você vai alcançar tudo o que quer. Eu tenho orgulho de estar ao seu lado... e eu prometo que voltarei. Eu vou voltar pra você.

Eleanor, que até então mantinha uma fachada de controle, sentiu as lágrimas rolarem silenciosamente. As palavras dele a desarmaram de uma maneira que ela não esperava. Era raro que ela se sentisse tão vulnerável, e talvez fosse por isso que ela o amava tanto. Ele conseguia enxergar a parte dela que ela própria evitava ver.

Jungkook a abraçou com firmeza, puxando-a para seu peito, enquanto ela se deixava chorar em seus braços. Ele permaneceu em silêncio, apenas a segurando com carinho, até que os soluços diminuíram.

Quando ela finalmente se acalmou, ele se afastou o suficiente para olhar em seus olhos e, com delicadeza, inclinou-se para beijá-la. O beijo foi suave, cheio de amor e ternura, sem pressa, como se quisesse gravar aquele momento na memória de ambos.

De repente, a voz grave de Alexander rompeu o ar.

— Por Deus! No meio da rua? As pessoas vão comentar! — Ele exclamou, parecendo indignado, mas com um leve toque de humor em sua expressão.

Ângela riu e deu um leve tapa no braço dele.

— Deixe-os, Alexander. Você também não era nenhum santo quando jovem! — Ela disse, provocando o marido, que bufou, mas não insistiu.

Eleanor, ainda com os olhos brilhando de emoção, sorriu para Jungkook, e em meio ao momento, disparou:

— Você volta inteiro, ou eu vou atrás de você e faço questão de te consertar com minhas próprias mãos. — Sua voz carregava o habitual tom sarcástico, mas com um sorriso brincalhão.

Jungkook riu, acariciando seu rosto mais uma vez.

— Você é terrível, mas eu não esperaria menos. — Ele deu mais um beijo breve em sua testa, e com um último olhar, montou no cavalo, pronto para partir.

Enquanto ele se afastava, Eleanor permaneceu parada, observando-o até desaparecer no horizonte. Mesmo com a tristeza que sentia, sabia que ele voltaria. E isso a fazia sorrir.

*

Olá amores, espero que tenham gostado desse capítulo, e que ele tenha aquecido seus corações de alguma forma. Muitas emoções ainda estão por vir então vejo vocês no próximo capítulo 💜

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