Capítulo 42

A sexta-feira havia chegado e não foi sozinha. Arrumar duas malas de viagem nunca tinha sido tão desesperador até ontem, mas depois de me debulhar em lágrimas e tomar vinho o bastante para me deixar anestesiada, tudo parecia ficar bem.

Eu não podia abrir mão dessa oportunidade e por mais que estivesse morrendo de medo de encarar o novo, tratei de erguer a cabeça, engolir qualquer sentimento de que tudo poderia dar errado e caminhei sobre meus saltos, inflando o peito e injetando todo o estoque de confiança que havia armazenado ao longo da vida.

— Não dá pra viver à sombra do medo, minha filha.

Até que mamãe estava fazendo um bom trabalho em me reconfortar e essa tinha sido a coisa mais poética que eu já tinha ouvido de sua boca nos últimos tempos.

Mas não é um conselho fácil de ser seguido. Sem medo.

Era muito fácil falar, difícil mesmo era controlar esse frio que tomava conta das mãos e dos pés e se alojava na barriga. Os meus músculos estavam rígidos e eu não sabia o que mais me pesava a consciência. Esse sentimento de estar fugindo de Thomas ou de estar abandonando a minha mãe num momento delicado.

— Vai dar tudo certo. — A afirmação de Mari só me deixou ainda mais insegura. — São onze horas de viagem, mas vai ficar tudo bem.

Hector se fez ver na fila para validar os cartões.

— Liga pra gente assim que o avião pousar. — Foi Lor quem pediu isso.

— E me manda um cartão postal. — Fê exigiu, empurrando o meu passaporte.

— Nina. — Hector me cumprimentou com um sorriso genuinamente branco quando nos aproximamos — Meninas...

— Hector. — Suspirei com o resquício de apreensão que não conseguia esconder. — Essa é minha mãe. Ciça.

— É um prazer, demozeille. Vocês chegaram bem na hora. Nós precisamos embarcar.

— Certo. — disse, o meu olhar fixo no que havia através das amplas janelas do aeroporto.

Era um sonho que estava se tornando realidade, então porque eu não conseguia me sentir plenamente satisfeita?

Despachei minhas bagagens e nos direcionamos a fila de embarque.

— Eu gostaria de agradecer por essa oportunidade...

— Nina. — Uma voz urgente e muito alterada me fez virar e olhar para a extensão do aeroporto.

Para a minha surpresa, Thomas estava correndo na minha direção e isso fez a minha perna bambear.

— Nina. — Ele exclamou outra vez quando parou na minha direção. — Eu sinto muito pela forma como tudo aconteceu.

— Não é hora para isso, Thomas.

Thomas balançou a cabeça.

— Para onde vai? — Thomas indagou.

— Eu vou pra Paris, Thomas. — Sussurrei para ele ainda bastante confusa ao fitar Hector ao meu lado na fila de embarque.

Thomas deu mais alguns passos e segurou a minha mão.

— Eu sei que deveria ter esperado tanto, mas eu te amo e não posso permitir que você saia do Brasil sem me perdoar. Eu sou um idiota. Comprei a Parilla sabendo de tudo e foi realmente planejado. Eu só queria ver a sua cara quando me reencontrasse depois de tudo, mas desde o momento em que recebi essa carta — ele puxou o envelope do bolso nada mais passou a ter sentido. Eu fiz tudo errado e você pode me odiar, me xingar, mas por favor, não me abandona.

Suspirei, sentindo o meu coração inflar dentro do peito ao ver que ele estava sendo bastante honesto.

— E aí? — perguntou enquanto eu o fitava de perto.

— O que?

— Você pode me perdoar? — Os cantos dos lábios dele arquearam-se num sorriso ansioso.

— Perdoa logo. — O moço da companhia aérea atrás do balcão disse. — Nós precisamos embarcar.

Naquele momento, tinha me dado conta de que o destino é tão incerto quanto assustador, mas isso não quer dizer que precisamos nos esconder ou ter medo dele. A vida é um rio, seu destino é um canal, você só precisa segui-lo. Nem sempre o final é o que você está esperando, mas ainda assim, é o seu final.

Thomas seria o meu final, então apenas assenti com a cabeça.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu. — Thomas balbuciou, envolvendo a minha cintura com seus braços. — Não vai acontecer de novo. — Ele usou de um beijou para selar aquela promessa.

De repente, o vazio que eu sentia, já não estava mais ali e depois de tanto tempo, eu me sentia  exatamente no lugar onde deveria estar. Nos braços de Thomas.

Fim!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top