Capítulo 40
A terça-feira chegou rápido e cá estava eu, no elevador com Mari, Lor, Fred e Fê seguindo para o meu andar de trabalho totalmente envolvidos na discussão do novo relacionamento do momento.
— Eu não faço a menor questão de esconder o quanto estou achando vocês esquisitos. — Lorena dizia quando a porta se abriu.
Fernanda estreitou os olhos para Lor, mas a porta do elevador foi mais rápida e nós tivemos uma visão panorâmica do que estava acontecendo no quinto andar.
Thomas estava de frente para nós e Hector cabeceava a confusão com Verônica, uma mão no quadril e a outra balançando no ar. Ele me pareceu um francês cordial e muito educado, no entanto, a levar em consideração o rosto vermelho, a expressão de aborrecimento e a forma como as palavras lhe saiam rapidamente pela boca, ele não estava assim tão agradável.
— O que é isso? — Fred perguntou, mais para si do que para nós mesmo, avançando em direção a agitação.
— Os tecstos não são dela. — Hector pode se fazer entender quando elevou o tom de voz.
— Essa é uma acusão muito grave, Sr. Abadie. — Verônica revidou, parecendo estar tentando se controlar, mas a forma como Hector insistia em lhe acusar a estava deixando desestabilizada.
— Eu trabalho com isso há muito tempo e reconheço traços de autoria. Tenho certeza do que digo. — Hector se explicou. — Ecoute maintenant, Mademoiselle Sanchez. — Hector recompôs-se ao deslizar as mãos para dentro dos bolsos da calça cara ao voltar-se para Verônica. — Eu não sou un idiot. Se os textes são seus, ela — ele voltou-se para mim e a ficha finalmente caiu — está mentindo.
Eu não podia acreditar no que estava acontecendo.
— O que? — Indaguei com descrença me aproximando do bate-boca.
— Diga-me, demoiselle. — Hector intuiu com as sobrancelhas. — Les textes sont ou não seus? Sr Roriz incsiste que tudo não passa de una confusão, mas isso não pode ficarr assim tão mal ecsplicado. Alquém está mentindo.
A pergunta me deixou desnorteada e um bolo se formou em minha garganta quando fitei Verônica com uma expressão furiosa.
Ele estava acusando a Verônica de plágio e tudo o que aconteceria daqui em diante seria minha responsabilidade.
— Hector. — Thomas intercedeu. — Já chega dessa confusão! Nós temos um reunião em dez minutos.
Todos nós ficamos em um silêncio tenso encarando Hector e Verônica, mas Fred assumiu a discussão quando passou o braço na minha frente.
— Acho que isso precisa acabar. — Fred suspirou antes de tomar a decisão que eu mais temia.
— Acho melhor você medir muito bem suas palavras, Fred. — Verônica o interferiu, mas isso não o intimidou.
— Você precisa parar de intimidar as pessoas para conseguir o que quer, Verônica.
— Você é ridículo, o seu trabalho é uma droga e eu não sei o que tinha na cabeça quando te contratei. Você está demitido. — Verônica praticamente cuspia as palavras na cara de Fred. — Agora, saia daqui.
Thomas nitidamente perdeu a paciência com toda a cena quando levou uma mão à cintura e passou a outra pelo rosto, puxando o cabelo para trás.
Verônica abriu a boca, mas Thomas gesticulou com a mão e isso foi o bastante para impedi-la de continuar com os insultos, encarando Fred e aguardando que ele continuasse.
— O Sr. Abadie está completamente certo, Thomas. Foi a Nina quem escreveu todos os artigos que a Verônica assinou e, inclusive, foi promovida por um esforço que nunca teve, mas a Nina é boa demais para denunciá-la.
Essas palavras foram o bastante para fazerem os olhos de Thomas se voltarem completamente para mim.
— Isso é ridículo — Verônica protestou — Ele não faz ideia do que está dizendo.
— Nina, isso é verdade? — Thomas indagou, passando as mãos pelos cabelos desgrenhados.
— Acho que as pessoas não costumam falar exatamente a verdade por aqui, não é, Sr. Roriz? — Lorena o afrontou com ironia, passando os braços pelos meus ombros. — Acho melhor sairmos daqui...
Nós nos afastamos, rumando em direção a minha sala.
— Eu quero você fora da minha Revista imediatamente. — Thomas ordenou elevando o tom de voz.
— O que? — Verônica revidou.
— à présent. — Hector disso.
— Nina. Fred. — Verônica nos chamou com arrogância e nós nos viramos para vê-la parada no meio do corredor, com Thomas e Hector seguindo em direção ao elevador. — Isso não vai ficar assim.
— Você precisa aprender o momento certo de recuar, vadia. — Fred gritou com desdém.
— Você é quase um filósofo, Fred. — Mari comentou, quanto voltamos a andar.
"Você precisa aprender o momento certo de recuar", esse foi um dos conselhos perspicazes que vez ou outra Fred solta. Mas isso não quer dizer que ele seguia esse conceito. Fato era que nem Thomas sabia o momento certo de recuar, porque lá estava ele, mais uma vez, atrás da porta, prestes a bater.
O que foi? Em que momento ele se tornara assim tão educado. Pensei em perguntar, mas percebi que talvez fosse esse o intuito dele, me provocar, por isso, optei por me calar.
— Eu sinto muito pelo que Verônica fez. — Ele disse antes de se sentar. — Eu não sabia.
Era meio óbvio que ele não sabia ou nunca fez questão de saber, porém quem se importava? Dei de ombros para ele e para as suas desculpas estúpidas, mas ele não pareceu se importar com a minha indiferença, pois pegou uma das minhas canetas e se jogou para trás na cadeira com uma presunção que apenas ele seria capaz de carregar, olhando-me diretamente nos olhos como se me afrontasse, o que foi o bastante para fazer todos os meus nervos se aflorarem.
Ele não iria embora.
— Desde quando você se importa? — inquiri sem remorso, cruzando as pernas e tentando manter a minha postura mais confiante e inafetada — Achei que o seu plano fosse me destruir.
— Eu nunca escondi isso de você, Nina. Estava magoado, cego o bastante para fazer coisas pelas quis...
— Chega, Thomas. — Interrompi o seu monólogo quando ele se tornou extenso demais. — Eu preciso trabalhar... — A minha garganta se apertou quando a minha mente começou a trabalhar nas possibilidades que Thomas tinha de tentar me derrubar outra vez. — A menos que você queira me demitir, deixe-me trabalhar em paz.
Ele franziu as sobrancelhas.
— Não vou demitir você. — Disse, elevando o tom de voz e livrando-se da cadeira. — Eu só quero que você me...
— Eu já ouvi tudo o que tinha para escutar, Thomas. — Respondi com rispidez. — Saia.
Ele ergueu as sobrancelhas e levou as mãos ao cós da calça de alfaiataria, nitidamente inconformado. Eu não me detive e isso foi o bastante para fazê-lo recuar.
Thomas não quebraria o meu coração, não outra vez. E era bom que ele mantivesse distância de mim.
Não levou mais do que dez minutos para que Hector batesse à minha porta e entrasse logo depois.
— Pois não. — Eu disse, levantando-me e esticando a saia evasê.
Hectou esticou os lábios num sorriso genuíno e se aproximou da minha mesa.
— Obrigada por... — Não quis continuar a frase, então apenas balancei a cabeça e apontei a cadeira diante da minha mesa para ele.
— Não foi nada. Aliás, meu convite permanece de pé. — Disse, sentando-se ao meu lado.
— O que? — Questionei confusa, sentando-me à cadeira novamente.
— Parri. — Cantarolou com um grande sorriso.
— Isso seria maravilhoso, Sr. Abadie, mas acho que não seja um bom momento para mim.
Hector arrastou na cadeira para frente e debruçou-se sobre a mesa, encarando-me com aqueles olhos exóticos e sóbrios antes de se pronunciar.
— Nós da Magnólia gostamos de incentivarr nossos funcionárrios a serem melhorres com bolsas de estudos e ajudas de custo. Você é uma escritorra notável, demoseille. Não é carridade, é oporrtunidade. Pense sobrre isso e me dê uma resposta até secsta, às nove hourras e embarcarremos pela tarrde.
— Oh meu Deus!
Os meus olhos estavam no mínimo esbugalhados.
— Está falando sério? — indaguei, ainda descrente.
Hector negou com um gesto de cabeça.
*
— Paris? — Mari rebateu extasiada.
— Sim, uma oportunidade para me especializar em Paris. — Acrescentei, ainda sem acreditar no que estava acontecendo.
Porque eu, estudando em Paris, era um sonho tão distante e agora, estava na palma das minhas mãos. Só precisava dizer "sim" a Hector. Pensar nisso fez o meu estômago efervescer.
— Isso sim é ganhar na loteria. — Fê brincou, muito empolgada. — Eu não recusaria essa proposta nem mesmo se nascesse de novo.
— Por quanto tempo? — Minha mãe indagou de trás do balcão que separava a sala da cozinha.
— O MBA dura dois anos. — Respondi.
— Você não tem nada que te prenda aqui, minha filha. — Mamãe observou com sororidade. — Talvez você não receba outra oportunidade como essa.
É, não havia nada que me prendesse ao Brasil. Suspirei com a constatação. Agora havia a possibilidade de crescer profissionalmente e consolidar uma carreira internacional.
— Ele me deu até sexta para pensar. — Comentei, fechando os olhos e assimilando tudo o que tinha acontecido até agora.
De repente, dizer sim me pareceu tão doloroso e contraditório ao mesmo tempo. Eu teria que abandonar tudo no Brasil por dois longos anos. Inclusive Thomas.
Precisaria abrir mão dele, mais uma vez.
— Você promete fazer chamada de vídeo todos os dias? — Lor disse, esticando os braços e pegando as minhas mãos, enlaçando os nossos dedos uns nos outros.
Sua atitude me fez abrir um amplo sorriso de gratidão, porque eu não tive a sorte de encontrar três boas amigas. Tive a sorte de encontrar três irmãs que me consideravam tanto quanto eu as considerava e se isso não me serviria de consolo, nada mais poderia servir.
— Mas preciso de você aqui para o meu casamento. — Ela acrescentou.
— Eu não perderia por nada neste mundo. — Declarei. — Eu amo vocês e obrigada por serem minhas melhores amigas.
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