Capítulo 37

— Como você está, mãe?

— Melhor do que ontem. — Minha mãe brincou do sofá, abrindo um sorriso espontâneo.

As coisas estavam começando a melhorarem. Mamãe estava encarando a cirurgia de uma forma mais otimista. As sessões de quimioterapia ainda não tinham começado, mas depois do que ela passou, estava feliz em ver que ela estava tentando passar por isso da melhor forma possível.

— Vocês parem! Ciça está melhor do que a gente. — Fernanda brincou depois de sair do quarto e se sentar na banqueta atrás do balcão. — Olha só esses peitos maravilhosos e turbinadíssimos.

— Ainda dói bastante. — Minha mãe comentou.

— Você vai ver que vai valer a pena. — Fernanda disse, virando o rosto por cima do ombro para olhá-la. — Eu também tenho silicone e te garanto que logo, logo você vai arrasar corações com essa comissão toda.

O comentário me fez travar de desconforto e segurar com mais força a alça do bule de café. A sirene de alerta não ressoou nos ouvidos de Fernanda, mas não era um terreno bom para se pisar agora. Eu não queria que a minha mãe se envolvesse com mais um homem. Eu não teria cabeça para vê-la sofrer depois de tudo o que passamos, e não queria que Fernanda ficasse estimulando isso, então, tratei de simplesmente mudar de assunto.

— Nós vamos nos atrasar. — Comentei, colocando uma caneca cheia de café com leite na frente de Fernanda.

Fernanda arqueou as sobrancelhas, mas não disse nada.

— Fica bem, Ciça.

— Qualquer coisa é só me ligar, mamãe. — Complementei antes de sair.

*

As minhas férias finalmente haviam acabado e eu estava com saudade de respirar o ar agitado da Parilla. Duas semanas. Tanta coisa aconteceu, tanta coisa mudou e a Revista era a maior causadora dessas mudanças, mas eu ainda estava aqui. Era a chance de um bom recomeço com Thomas.

Depois de tantas tentativas inúteis de nos afastamos, nós finalmente estávamos juntos e isso me deixou tão realizada quanto ficara quando tinha 17 anos.

Juntos. Pensei exalando ao reviver momentos que colecionamos nas últimas semanas.

— Eu preciso dos relatórios de pagamento da Poket. — Augusto informou, passando abruptamente por nós quando a porta de entrada se abriu.

Fernanda e eu nos entreolhamos por alguns instantes como se buscássemos mais esclarecimentos uma no rosto da outra, mas isso foi tudo o que tivemos antes de seguimos em direção ao elevador, e eu me atrapalhei em segurar dois copos duplos de café e apertar para o botão do oitavo.

— Hum, sua safada... — Fernanda brincou, bebericando o seu café e apertando o botão para mim. — Café como desculpa para uma rapidinha de manhã cedo. Que inveja!

— Você não tem jeito. — Rebati sorrindo e revirando os olhos ao dar uma esbarrada com o ombro na minha amiga.

— Então, vocês estão namorado?

Eu não havia pensado sobre isso. Thomas não tinha me pedido em namoro, mas nós tínhamos passado um final de semana inesquecível e estávamos juntos como se fossemos um casal. Então, sim. Assenti para minha amiga num gesto de cabeça animado. Nós estávamos. Finalmente.

— E como vai com o seu advogato?

Fernanda não gostou da minha pergunta, pois virou o rosto para o outro lado com uma carranca formada.

— O que aconteceu? — Solicitei assim que o elevador começou a se aproximar do quinto andar.

— Eu não estou a fim de falar sobre isso, Nina. — Ela limitou-se a responder. — Na verdade, eu preciso ir. — Ela se apressou em sair do elevador como se estivesse em meio a uma fuga.

E eu fiquei com aquela típica cara de surpresa. Mas era Fernanda sendo Fernanda. Até que estava indo bem, até não estar mais.

— Ok. — Soltei, erguendo as mãos sem que ela visse, afinal já estava praticamente no meio do andar. — Achei que você tivesse dito para não fugirmos dos nossos problemas, mas acho que em casa de ferreiro o espeto é de pau.

Ela ouviu e não gostou. Ela com toda certeza ouviu, pois virou o rosto por cima do ombro e me fulminou com o olhar, mas a porta do elevador foi mais rápida quando se fechou diante de mim.

O tilintar do elevador me saudou, deixando-me na cobertura do prédio e eu avancei em direção à sala de Thomas.

Vi o nome dele reluzir na plaquinha dourada e eu me dei conta do quanto eu queria vê-lo, por isso meu corpo todo reagiu. Minha barriga começou a se revirar à medida que eu ia me aproximando da porta. Um misto de ansiedade e nervosismo começou a me tomar. Aquela tensão gostosa de quando você está prestes a ver uma pessoa que você gosta muito. Eu estava com saudades de Thomas e esperava que pudéssemos compensar todo o tempo perdido.

Passei pela mesa de Melissa que estava vazia e me aproximei da porta, atrapalhando-me em bater ali com as duas mãos ocupadas com os copos de café.

Não... — A inconfundível voz de Carolina me fez perceber que Thomas estava em uma reunião do outro lado da porta fechada, e a levar em consideração a animosidade da conversa, não estava sendo nada amistoso. — Porque eu não quero mais fazer isso. Você está manipulando todo mundo com esse plano de vingança desde que chegou aqui. Eu não sei o que essa garota fez a você, mas para de ficar correndo atrás dela como se fosse um maníaco psicopata.

Ouvir aquilo fez o ar embolar na garganta e eu retrocedi no movimento de colocar tudo em uma mão para notificar a minha chegada.

Você não sabe o que está falando. — Thomas pareceu tentar justificar com mais rispidez. — Você precisa pensar bem, Carolina. Não dá pra jogar tudo pro ar de uma hora para outra. Eu preciso de você!

— A única coisa da qual você precisa realmente é parar de ser tão mesquinho e egoísta. Eu estou cansada dos seus joguinhos de gato e rato com ela, porque eu sei que a Nina é uma boa pessoa e Samuel não merece passar por nada disso. — Carolina rebateu com altivez. — Eu estou gostando dele e quero ficar fora dos seus assuntos. — Ela suspirou apreensiva. — Chega uma hora que a gente precisa superar, Thomas. Por isso, vendi quarenta por cento das minhas ações. A Parilla não vai ser mais um dos seus objetos de caprichos... O nosso acordo acabou e o novo acionista já está a caminho.

De repente, a porta se abriu com brusquidão, e eu fiquei ali, inerte, apenas encarando a expressão de Carolina, tão pálida quanto a minha.

A confusão estava mais do que estabelecida e eu pensei em lhe perguntar do que ela estava falando e que jogo de vingança era esse, mas não fui capaz de pronunciar nada além de balbucios incrédulos enquanto o meu olhar alternava entre ela e ele.

— Nina. — A voz de Thomas soou tão surpresa quanto distante dos meus tímpanos.

Carolina não fez questão de dizer nada. Simplesmente fez a volta por mim e afastou-se o mais rápido que pode sobre seus saltos. Alguma coisa como decepção e vergonha reluziu no olhar dela antes de abaixar a cabeça e me deixar sozinha com Thomas.

— O que você está fazendo aqui? — Thomas indagou, abandonando sua mesa para vir até mim.

Vê-lo se aproximar fez a ficha cair bem rápido. Ele tinha planejado tudo, o tempo inteiro. Isso era verdade?

Ele queria me separar do Samuel por capricho. Era isso o que Carolina queria dizer?

Sem uma resposta clara, virei o rosto para o lado, na direção do elevador e a porta ia se fechando com Carolina lá dentro. Um suspirar forte e um comprimir de lábios foi mais do que o bastante para responder a minha pergunta.

— É-é verdade o que ela disse? — questionei ainda perplexa.

Thomas não respondeu. Ele ergueu a mão para me tocar e eu me esquivei com ressalvas, dando um passo para trás e olhando ceticamente para ele.

Não conseguiria admitir que ele me tocasse. Não sem uma resposta.

— É verdade? — Insisti na pergunta, elevando mais o tom.

Não precisava ser um gênio para saber que era. Um lampejo de pesar e culpa tomou conta da expressão de Thomas e isso foi o bastante para fazer o meu mundo se romper ao meio.

— Você sabia o tempo inteiro que eu estava aqui? — perguntei.

Como eu fui tola. Isso era tão ridículo. Era óbvio que ele deveria saber. A família de Thomas comprava empresas na lama por uma pechincha para reestruturá-las e depois colocá-las no mercado, à venda por muitos milhões.

As revistas na casa dele. Se ele as tivesse adquirido nos meses de publicação, então, ele sabia.

— Eu sei que é muito confuso, mas você pode tentar me ouvir. Juro que posso explicar tudo.

Thomas estava falando, e eu apenas acenava negativamente com a cabeça. Então, era realmente verdade. Ele queria se vingar de mim pelo que aconteceu.

Era muito bom para ser verdade. Ele estava dormindo comigo por vingança.

POR VINGANÇA!

Não dava para acreditar que ele tinha se rebaixado a isso. Ele estava jogando comigo o tempo inteiro e eu sabia disso.

Não era amor.

— O que você pretendia fazer como sua cartada final? Fazer eu me apaixonar novamente por você e pisar no meu coração como você acha que eu fiz com você?

Em conflito entre me esforçar para ouvi-lo e simplesmente ir embora, um zumbido começou a apitar dentro dos meus tímpanos e o meu rosto se retorceu junto com a necessidade de colocar uma distância segura entre mim e ele.

— Se era realmente isso o que você queria, vai em frente e comemore!

Sem controle total do corpo, apenas me virei e tomei distância de Thomas. Mas a mão fria dele segurou em meu pulso e isso fez meu corpo tomar um impulso de se virar e ficar diante dele que me fitou antes de se pronunciar. Só que eu não queria ouvir. Tudo o que havia ouvido atrás da porta já tinha sido o bastante.

— Não foi assim que aconteceu, Nina. Só — ele parou e gesticulou com a mão — tente me ouvir. Por favor.

— Ouvir ô que? Que você planejou tudo? — Interpelei com a voz embolando na garganta. — Apenas me diga que me separar do Samuca não foi um plano seu? Que você não sabia que eu trabalhava aqui quando comprou a Revista. Você teve todo esse trabalho apenas para me magoar? Isso é doentio.

Thomas engoliu em seco e não disse nada, porque ele não poderia que tudo isso não podia ser um mal-entendido. E eu gargalhei escandalosamente, jogando a cabeça para trás. Isso foi humilhante o bastante para eu saber a resposta e compreendendo que ele não daria o braço a torcer, me contive com seu silêncio, apontando para ele com ceticismo.

A minha gargalhada morreu quando a minha garganta se contraiu com a verdade.

— Estava sendo bom demais para ser verdade. Você, Thomas, é um grande idiota egoísta... — disse e continuei a andar em direção ao elevador. — Eu já tinha percebido isso, mas era idiota demais para entender. 

***

Dose dupla de capítulos hoje para compensar a ausência.

Thomas vendeu a Revista e as coisas ficaram bem feias entre a Nina e o Thomas.

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