Capítulo 33
— Me desculpe, mas eu preciso ir.
Essa foi a última coisa que Samuel disse antes de desligar o telefone e o bipe frequente e constante ressoar com o encerramento abrupto da chamada.
Samuel tinha ido, apressado e ocupado como sempre.
O bolo não me desapontou tanto, porque estava ocupada demais analisando Thomas do outro lado do recinto. Era errado olhar assim para ele. Eu tinha consciência disso, mas ainda assim, eu fiquei ali, parada, com os lábios entre abertos, vislumbrando-o à distância, incapacitada de fazer outra coisa, pois ele estava tão incrivelmente bonito sob a camisa social bordô posta para dentro da calça de alfaiataria preta, suspensa pelo cinto de couro e fivela prateada na altura perfeita do quadril. O meu olhar vagou mais pelo corpo dele, seguindo os braços fortes, com algumas veias mais protuberantes do que outras, surgindo dos nós dos dedos e sugerindo-se por baixo das mangas perfeitamente dobradas na altura dos cotovelos e me davam um pequeno prelúdio do que havia pelo caminho; mais acima.
Por alguns instantes, pude sentir o tempo passar em câmera lenta. E eu não me senti mais desapontada com Samuel. Na verdade, ele ao menos se passou pela minha cabeça neste momento.
Thomas também estava olhando para mim, por isso, eu abaixei o telefone e ajeitei a postura para não parecer tão afetada.
— Nina — ele pronunciou, ainda segurando a maçaneta da porta, virando o corpo de lado e abrindo passagem para mim.
Eu avancei, tentando soar o mais segura de mim possível, mas o barulho orquestrado dos meus saltos estava tão ensurdecedor que por alguma ironia entraram em harmonia com as batidas do meu coração. Parei diante dele, agarrando as alças da minha bolsa de ombro com as duas mãos e esperei, um pouco constrangida e cautelosa, que ele sacasse o envelope para me entregar.
Ele sabia claramente o motivo pelo qual eu estava aqui, mas mesmo assim, ele fez questão de mudar as regras do jogo quando gesticulou com a cabeça, apontando para dentro de sua sala.
Thomas queria que eu entrasse e sem pensar muito, foi o que fiz, passando por ele que fechou a porta e virou-se para mim, pegando-me de surpresa ao abrir um sorriso maldoso e de lado, antes de soltar a ponta dos dedos da maçaneta e vir certeiro em minha direção.
O que ele estava fazendo?
Foi o que eu me perguntei quando as mãos frias devido ao contato com metal envolveram e molduraram o meu rosto. A boca dele cobrindo a minha, abrindo e fechando num beijo inesperado. Sua língua roçando os meus lábios com suavidade para que eu a recepcionasse, correspondendo ao gesto.
O ar embolou na minha garganta, e eu levei uma fração de segundo para conseguir reagir àquilo.
Tão quentão, tão macio, tão gostoso.
As mãos dele envolveram a minha cintura sobre a saia de lã cinza, rodada até o meio das coxas e as minhas mãos ergueram-se pela lateral do quadril dele.
— Thomas... O que você está... — Foi o que eu perguntei quando ele me colocou sobre a mesa dele e encaixou-se entre as minhas pernas.
— Nós estávamos fazendo uma coisa muito interessante ontem...
Ele estava não olhando para o meu rosto enquanto dizia isso, porque estava observando a forma como a sua mão deslizava pela pele da minha coxa e emaranhava-se por debaixo da minha saia, subindo o tecido grosso sem pressa, mas eu estava fitando-o e acompanhando a forma como a boca dele se movia e exibia as pontinhas dos dentes da frente.
O calor de seu toque emitindo uma espécie de frenesi incontrolável em direção ao meio das minhas pernas. O rosto dele encaixou-se na curva do meu pescoço, a respiração calorosa e ofegante dele acariciando a minha pele enquanto ele deixava dois beijos sobre o meu ombro. O desejo reprimido que eu sentia por ele soltou-se da coleira e inclinei a cabeça para trás, entregando-me sem resistir.
— Você não quer... — a voz dele estava mais rouca que o normal, comedida o bastante para se tornar apenas um sussurro próximo do meu ouvido e fazer os pelos da minha nuca se arrepiarem. — Continuar.
Pensei sobre isso, ontem eu não teria o interrompido e agora a resposta foi dada pelo meu estômago que revirou-se de fome.
Ele parou e se afastou, mas não o bastante porque dava para sentir as lufadas de ar da respiração entrecortada por risadas.
— Isso foi muito esclarecedor — ele disse arqueando as sobrancelhas; esbanjando um riso espontâneo enquanto ajeitava a barra da minha saia onde estava há poucos minutos. — Eu estava saindo para almoçar antes de você chegar, quer ir? — questionou, esticando o braço o bastante para pegar o meu tão desejado e despercebido envelope que estava sobre a prateleira móvel que havia ali.
— Almoçar com você? — repeti.
Ele estava a meio caminho de abrir o papel dobrado quando estacou.
— É. — Ele sacou a caneta imponente e dourada que havia ali, acionando-a ponta no botão olhando para mim, parecendo analisar uma vez mais se era realmente o que ele deveria fazer.
Ficou mais do que claro, pela forma como ele estava me olhando e esperando uma resposta para o seu convite, que minha conclusão definiria o seu bom senso.
Ele segurou a caneca e se reclinou sobre a mesa, mas não movimentou a mão.
— Você sabe que isso o que está fazendo comigo é errado, não sabe? — indaguei, alcançando os meus pés no chão.
Ele virou a cabeça, fitando-me por cima do ombro e sorrindo de lado, um riso astuto e confiante que só uma pessoa que sabe muito bem o que está fazendo daria.
— Eu não sabia que alimentar uma pessoa era errado.
— Você é tão cheio de si — revidei, sorrindo e balançando a cabeça numa negativa.
Ele arqueou a sobrancelha, virando-se e apoiando-se na mesa, encarando-me como quem espera algo. O meu estômago se revirou outra vez.
— Tudo bem. — disse, erguendo as mãos em rendição.
Ele se virou com satisfação, inclinou-se novamente sobre a mesa; o barulho da caneta correndo rápido contra a superfície porosa pode ser ouvido. Thomas soltou a caneta e juntou papel e envelope, virando-se e andando até mim, erguendo com prepotência a papelada para mim, na altura da minha clavícula.
— Espero que isso te satisfaça — disse ele, quando peguei a papelada e confirmei a rubrica no rodapé do documento.
Ele abriu a porta e ficou ali, esperando que eu passasse.
Thomas pressionou o botão para chamar o elevador e quando virei furtivamente o rosto para olhá-lo, o ar prendeu-se no meio do caminho, porque eu o tinha flagrado olhando e sorrindo amplamente para mim. O meu rosto queimou e eu sorri de volta; era o mesmo sorriso de antigamente: um toque de ingenuidade e dois de perspicácia.
Ele era tão sufocantemente sexy com os cabelos alvoroçados e ainda assim arrumados. O rosto anguloso combinava com o nariz levemente aquilino e arrebitado. Eu sabia que ele se tornaria um belo homem, mas isso... Isso era demais para qualquer mulher, porque toda essa beleza misteriosa e magnética vinha acompanhada de toda a imprevisibilidade e presunção.
A porta do elevador se abriu e ele gesticulou com a mão para que eu entrasse primeiro.
— Obrigada. — disse. Ele merecia pelo menos isso.
— Pelo que? — indagou casualmente, virando-se para mim e deslizando as mãos para os bolsos dianteiros de sua calça.
A minha resposta foi um forçar de sorriso e um sacolejar do papel com a solicitação que estava na minha mão, e ele não disse mais nada, apenas ficou ali me encarando de um jeito diferente que fazia o meu corpo todo entrar numa espécie de combustão.
*
— Por que você está fazendo isso? — indaguei assim que ele sentou na mesa de frente para mim. — Sendo legal comigo...
Ele enviesou as sobrancelhas, fitando-me de um jeito profundo e depois, virando um pouco do rosto, permitindo-me ter um vislumbre de seu sinuoso perfil. Thomas umedeceu os lábios, a língua deslizando suavemente pela região inchada e rosada, quando pareceu encontrar uma resposta.
— Você também está sendo legal comigo. — Contra argumentou, deixando a resposta para que eu mesma respondesse.
— E você fica me olhando de um jeito estranho... — soltei, tentando entender. — Como se quisesse me dizer algo...
Ele sorriu amplamente. Aquele sorriso de tirar fôlego que capturou minha atenção e tomou-se para si.
— Eu não sei. — Ele se inclinou mais sobre a mesa, e sua mão passou pela lateral do meu rosto deixando um rastro quente por onde quer que tocasse, o dedo indicador deslizando cabelo para trás da minha orelha.
A minha resposta foi um suave enviesar de olhos com a mão dele ainda sobre o meu rosto.
— Eu não sei. — Reafirmou, parecendo bastante honesto e convicto desta vez. — Gosto quando você está perto.
— Me irritar não estava dando certo... — soltei, não era uma brincadeira. Era uma constatação.
Alguma coisa tinha mudado e agora, para a minha completa desgraça, conseguia ver um pouco do Thomas que eu amava. Estava ali, o tempo todo e embaixo do meu nariz. Talvez simplesmente eu não quisesse ver, ou então, ele o escondia de mim por trás de uma máscara de cretino.
— Na verdade, também gosto quanto você fica brava.
Um pensamento foi levando a outro e não precisava de muito para concluir uma coisa que eu já estava desconfiando.
— Então, você estava se divertindo o tempo todo. — Constatei, com um pouco de ressentimento.
Ele não disse nada por um tempo, apenas ficou ali olhando para mim de um jeito que poderia me engolir com tanta intensidade, como um buraco negro costuma fazer quando encontra luz em seu caminho.
E o que eu devia fazer? Fugir? Era o certo a se fazer, porque eu ainda queria ficar com Samuel, mas eu, definitivamente, não sentia vontade de fugir agora.
Samuel...
O sorriso que eu não sabia que estava exibindo foi se fechando gradualmente.
Talvez fosse coisa da minha cabeça, ou a força do pensamento fez com que ele, Samuel, se materializasse no restaurante e passasse ao lado da mesa em que estávamos. Ele estava de costas pra mim e de cara para Thomas, quando passou. Mas eu tinha certeza, eu conhecia aquela silhueta sob o terno preto em qualquer roupa que ele escolhesse vestir. O olhar de Samuel fixou-se na mão de Thomas que estava sobre meu rosto.
Puxei meu corpo, desvencilhando-me do contato físico com Thomas, sentindo meu corpo todo congelar, meu rosto perdeu a cor, e o coração errar duas batidas.
Samuel não parou e agiu como se ao menos me conhecesse. Ele seguiu até o final do corredor de mesas quadradas de madeira, onde uma mulher de cabelos chocolates estava sentada de costas para mim.
***
Com que você mais shippa a Nina?
Thomas
Samuel
deixa seu comentário em um dos nomes para eu saber o que você acha.
Gente, o capítulo talvez estaja um pouco vago, porque eu vou voltar nele depois para mexer, mas talvez isso só aconteça depois que ele esteja pronto.
Por isso, vou seguir as postagens assim mesmo e se eu acrescentar alguma coisa, não vai ser na história em si. Espero que gostem mesmo assim.
Bjinhos e até o próximo capítulo.
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