Capítulo 19
Eu só tenho uma coisa a dizer: Respira fundo e vai. Gente, sem spoiler, mas eu fiquei sem fôlego quando escrevi esse capítulo e não via a hora de postar!
Socoorro, amo vocês e espero que gostem!
***
A sequência de Dua Lipa animava o local com as batidas agitadas de Don't Start Now, mas eu não apreciava essa energia, porque já passava do sétimo chope, e começava a me afogar num desânimo que só conseguia me tirar suspiros frustrados.
— Pensei que sair para beber fosse me deixar menos nostálgica. — Confessei apática, apoiando a cabeça em uma mão e girando a caneca de vidro vazia pela alça.
— Conversar ajuda — Mari disse, olhando para mim como quem espera alguma coisa.
— É verdade... — Lorena concordou, e Fernanda pegou a mão que girava a caneca sobre o tampo de madeira do bar do Brews.
— Às vezes... — eu hesitei um pouco em falar, mas o álcool já tinha soltado a minha língua na quarta chopada — eu me pego pensando o porquê de algumas coisas acontecerem — confessei, abrindo um meio sorriso que foi mais doloroso do que feliz — e, geralmente, é tão irônico. Vocês já repararam? A minha mãe, uma enfermeira e com câncer — pisquei mais demorado, tentando conter uma lágrima teimosa, mas ela escapuliu e correu pela bochecha — parece tão ridiculamente improvável até simplesmente acontecer. — A minha mão passou pelo rosto, limpando o caminho da lágrima.
— Doenças só aparecem, Nina. Elas não escolhem quem. — Mari disse, lançando-me um olhar complacente.
— Eu sei. — Funguei, engolindo o nó de choro que se formava em minha garganta e sacolejei a cabeça tentando dispersar a nuvem pesada de tristeza que se instaurou sobre mim.
— Eu gosto de acreditar que tudo acontece por um motivo. — Lorena praticamente se debruçou sobre a mesa. — Não pense nisso, apenas viva o momento, por mais doloroso que seja.
O que ela estava querendo dizer? Que a doença da minha mãe poderia trazer alguma coisa além de dor e sofrimento. Eu não conseguia ver sob essa perspectiva. Na verdade, a essa altura, só conseguia pensar o quanto algumas situações conseguem ser injustas e cruéis demais. Mamãe já tinha sofrido tanto nessa vida, e como se isso não fosse o bastante...
Câncer.
— Eu me recuso a acreditar que uma doença vem para algum bem, Lor — contra argumentei, me recusando a acreditar no que ela tinha dito.
— Eu não disse isso — Lorena refutou, inclinando a cabeça para me fitar — apenas considere. Nada é por acaso, você não pode controlar tudo.
— Já chega desse assunto. — Fernanda decretou batendo na mesa. — Eu estou ficando deprimida. — Ela ergueu a mão para chamar o garçom. Foi o Léo quem veio, e a Mari praticamente o confrontou. O meu olhar vagou para o rapaz. Ele vestia uma camiseta preta que ficava justa nos bíceps devido aos músculos protuberantes e a barba despontava pelo rosto. Tentado amenizar a situação, cutuquei o pé da Mari por baixo da mesa e o olhar dela se voltou para mim.
— Trás mais uma rodada pra gente, Léo. — O olhar dele saiu da Mari e parou na Fernanda.
Ele escreveu alguma coisa no bloquinho e saiu sem se dar ao trabalho de olhar para a Mari.
— Vocês ainda não se resolveram? — perguntei, virando por cima do ombro a tempo de ver ele passar para trás do balcão.
— De verdade, eu não quero falar sobre isso. — Mari respondeu, tentando soar o menos afetada possível. Mas ela não obteve muito sucesso.
— Mas você reparou que ele deixou a barba crescer? — A Fernanda se inclinou sobre a mesa e comentou num sussurro.
— Ele deve estar pensando que a barba vai transformá-lo num homem.
Léo voltou com a nova rodada de bebidas, e a caneca da Mari foi a última a ser servida, mas não comentamos na a respeito para não alimentar o rancor que ela estava sentindo por ele. A Fernanda pareceu compreender, porque mudou de assunto.
— E como está sendo trabalhar perto do chefe gostosão? — Fê tinha apoiado a cabeça na mão e mordeu o lábio inferior ao balançar a cabeça insinuativamente para mim.
— ANGH! — rosnei. Só de pensar no Thomas o meu interior se revirava. — Nossa! Como ele é irritante. Graças aos céus a minha sala ficou pronta esta tarde, e na segunda já estarei de volta a normalmente.
— Para! — Lorena parecia estar prestes a defendê-lo antes de cruzar a perna e erguer o dedo indicador. — Se ele é tão insuportável assim, então porque você o namorou?
A campainha do meu celular notificou uma mensagem. Era o toque do lexos, o aplicativo de comunicação da empresa. Acendi a tela e não me dei ao trabalha de conferir o remetente, porque já sabia que era a Verônica, e me recusava a ver as mensagens dela às oito e quarenta e sete da noite, então ignorei-a virando a tela do smartphone para baixo.
— Porque ele ERA legal — a palavra foi amplamente destacada — mas as pessoas mudam. — respondi simplesmente, dando de ombros. Esperando que isso fosse o suficiente para encerrar o assunto.
— Ele ainda me parece um cara legal, não é meninas? — Lorena levou o copo de chope dela aos lábios.
As meninas balançaram a cabeça concordando.
— Vocês são um bando de puxa saco! — murmurei ao revirar os olhos.
— É verdade, Nina. Eu não tenho nada contra ele. — Fernanda bateu na mesa.
— Eu também não. — A Mari concordou bebericando o chope.
O meu olhar rolou com julgamento da Mari, que estava na minha frente do outro lado da mesa, para a Lor que estava ao lado da Mari, até parar na Fernanda que estava que estava de frente para a Lor.
— Ah, entendi! — concordei, num gesto lento de cabeça. — Estou me sentido no filme Advogado do Diabo, porque a minha vida está um inferno. Ele está pagando vocês? — que tolice a minha perguntar — com certeza está!
— Nina. — A Fernanda me chamou, depois de dar uma golada bem grande no chope. — A única que vendeu a alma pro diabo foi eu, quando tive a péssima ideia de dar para o Augusto.
Ela se virou na cadeira, passando as pernas para o meu lado e depois segurou a minha mão. Virei de frente para ela quando ela puxou a outra e nossos joelhos se encostaram. Fernanda já estava nitidamente bêbada, e eu percebi que desse assunto só poderia sair alguma gracinha, quando ela soltou uma risada que me fez ver todas as coras inferiores dos seus dentes brancos.
— Agora, confessa! — ordenou, simplesmente. — Isso vai ficar entre a gente.
— Confessar o quê? — indaguei, confusa, querendo rir.
— Que você não quer gostar dele...
— O que? — rebati, incrédula, soltando a mão dela como se tivesse acabado de encostar no ferro quente.
— Ah, amiga. — Ela persuadiu — assume, vai... É mais bonito. Seu ex é um puta gato. Tem aqueles olhos penetrantes. Alto, forte, Uma delícia de homem. Às vezes eu tenho vontade de tocar a barba dele para ver qual sensação tem.
— Eu acho que você está exagerando. Ele não é isso tudo...
Abaixei o olhar para o celular quando ele notificou outra mensagem, e eu comecei a ficar um pouco transtornada, mas ainda não foi o suficiente para me fazer abri-las. Eu sabia que era a megera, o que era um absurdo. O que ela estava pensando que eu era? Uma máquina de trabalho.
— Com certeza a batida na cabeça dela danificou alguma coisa nessas engrenagens. — Lorena afirmou, gargalhando ao jogar o corpo todo no espaldar da cadeira.
Eu balancei a cabeça com descrença, fulminando Lorena com o olhar, e ela balançou a cabeça em concordância.
— Nada me tira da cabeça que ele cismou de quebrar a minha sala para ficar bisbilhotando o meu serviço.
Outra mensagem. Eu bufei, mas a falta de insensatez da Lor a seguir roubou totalmente a minha atenção.
— Talvez ele esteja querendo ficar perto de você. — A Lor gesticulou com a mão e eu quis rir da possibilidade. — Bem típico de homens orgulhosos.
A ideia soou absurda demais até para mim. Thomas queria pisar em mim, sapatear na minha dignidade.
— Nem pensar! Ele quer ficar perto da Carolina. — Corrigi ao erguer um dedo. O meu celular notificou outra vez e eu o peguei, suspirando incomodada, desbloqueando a tela antes de voltar a falar — Ele está fazendo isso para me castigar. Vocês tem noção do quão constrangedor é ver seu ex apertar a mão seu atual? Além do mais? Nada me tira da cabeça que ele sabia que o Samuca era o meu noivo, e fez isso de propósito.
— Eu acho que isso é amor suprimido em raiva. — Mari comentou abaixando a caneca, inclinou-se para frente, os braços esticados sobre a mesa, ao me estudar com um sorriso brilhante e os olhos reluzentes de curiosidade. — Tem uma matéria na Santorini sobre isso. Vocês não leram? — Ela arregalou os olhos como se aquilo fosse muito óbvio. — É verdade, foi a Lutz, aquela psicóloga Curitibana quem escreveu. — informou, ela realmente era boa, mas muita coisa era balela, jogo de marketing para conseguir leitores. — Ela disse que a raiva nunca vem da indiferença. Talvez a Nina o odeie como uma forma de proteção, por causa do...
O que?
Não!
Eu franzi o cenho, encarando-a com ceticismo. Eu não pude permitir que ela terminasse. A conversa estava passando dos limites.
— Já chega — disse — vocês só podem estar de sacanagem com a minha cara... — interrompi, balançando a cabeça com a negativa. O celular notificando novamente, e dessa vez eu cliquei nas caixas do aviso do aplicativo.
— Você está lendo a Revista da concorrência? — A Fernanda inquiriu a Mari.
— Não é concorrência se você...
Oh meu Deus!
Todo o barulho ao meu redor ficou mudo quando eu comecei a ler as mensagens. O meu coração deu uma batida tropeça.
Essa situação não tinha como ficar pior. Pensei, enquanto o meu olhar corria pelas mensagens que de primeira não pareciam fazer sentido.
Não era a Verônica. O celular tremeu na minha mão que se tornou fria devido à falta de circulação sanguínea.
"É uma boa pergunta, Nina. Por que eu te incomodo tanto?"
"Desde quando você passou a ter toda essa raiva de mim?"
"Como você é mesmo muito presunçosa! Fala sério! Eu não estou "bisbilhotando" você."
"Ah! Ela está exagerando? Isso magoou. Achei que você gostasse da minha aparência."
Na quinta eu já estava de pé, sem sangue no corpo para bombear. Prestes a exalar e fugir para o banheiro. Olhei para o chão, esperando que por uma fração de segundos o chão se abrisse, e eu pudesse enfiar a minha cara.
"Eu quem deveria ter raiva de você."
Ele estava por aqui. Essa constatação me fez ficar alarmada.
O cretino estava no Brews e ele estava ouvindo a conversa, mas sequer conseguir erguer a cabeça para procurar ver onde esse imbecil estava. Passei as mãos pelos cabelos, baixando o celular. Não precisava ler o usuário no canto superior da tela para que o meu rosto começasse a ardeu com todo o constrangimento. Eu abaixei a cabeça, esperando que o meu cabelo fizesse o papel de me esconder, enquanto eu fizesse a caminhada da vergonha.
Depois de dois tropeços, bati a porta do banheiro com tudo e me encostei à beira da pia, respirando fundo e esfregando o rosto com força. Eu não deveria ter bebido tanto.
Vergonha não era suficiente para descrever o que eu estava sentido.
Pela forma como ele estava escrevendo, Thomas estava muito consciente do que nós falávamos, mas eu não podia pensar nisso. As nossas conversas eram humilhantes demais para sair de uma mesa de bar.
Virei-me em direção a pia e abri a torneira, tentando afastar a embriaguez ao lavar o rosto, pegando lenços de papel para secá-lo em seguida.
Quando abri os olhos, quis fechá-los novamente. Meu coração se apertou e todos os meus músculos estavam tensos.
Olhei para além dos ombros dele, mas Thomas estava no caminho entre a saída, e precisaria passar por ele se quisesse sair do banheiro.
Ficar aqui ou ter de chegar perto dele o bastante enquanto passava lado pela porta. Nenhuma das duas possibilidades parecia tentadora.
— O que você está fazendo aqui? — eu perguntei com aspereza, tentando não soar tão afetada pela presença dele, principalmente depois de ver que a blusa social dele estava dobrada até os cotovelos, deixando à mostra o braço forte e a pele branca. Os três botões do colarinho estavam abertos e ele parecia ter tido um dia bastante cheio e que agora estava no momento de descontração. — É o banheiro feminino. — Acrescentei.
Uma informação muito relevante, que por uma ínfima fração de segundos, pensei que fosse o bastante para chutar a bunda dele porta afora. Uma tremenda mediocridade da minha parte.
— Eu sei. — ele disse com a cara mais lavada do mundo. Coitadinha. Tanto tempo e eu ainda não tinha aprendido como as coisas funcionavam com ele. — Acho que é uma boa hora para conversarmos. — Thomas acrescentou depois que eu joguei a bolinha de papel no lixo.
— No banheiro feminino? — indaguei. Eu estava incrédula.
A resposta dele foi um aceno lento de cabeça e dois passos em minha direção. Dois grandes passos com aquelas malditas pernas compridas foram o bastante para colocá-lo ao lado da pia, a mais ou menos um metro e meio de mim.
— Francamente, pensei que você fosse mais educado, Thomas. — Critiquei, engolindo a seco, apoiando a mão na pia — Não é certo ouvir a conversa de outras pessoas.
Ele deixou um sorriso de lado se formar em seus lábios e depois os umedeceu com a ponta da língua. A minha garganta se contraiu ao encarar os lábios cheios e agora, cintilando molhado.
— Não me culpe se você e suas amigas têm a boca grande — defendeu-se, quebrando mais a distância entre nós. — Qualquer um que quisesse poderia ouvir.
Qualquer um menos ele!
Suspirei, coçando o pescoço em constrangimento, pensando em quantas coisas constrangedoras sobre ele nós tínhamos falado. Olhei para baixo e me resignei a mais condenatória vergonha.
— Então — ele estalou, e eu engoli a seco, mas me faltou coragem para erguer o olhar — é isso o que você está pensando? Que eu estou te vigiando? — as palavras soavam graves e intensas ao saírem dos lábios dele.
Eu já tinha apreciado aquele timbre de voz antes. Muito mais no do que deveria. Na verdade, tudo com Thomas ultrapassavam o adequado, sempre muito além da medida.
Meu corpo era como uma cobra reagindo a uma flauta encantada, e eu quis morrer por perceber que isso ainda acontecia. Malditos velhos hábitos, e eu me odiava por não conseguir mudar isso. Então, me peguei pensado no por que dessa situação?
Thomas era diferente de tudo o que eu já tinha experimentado na vida. Ele era intenso e enigmático, exalava uma energia que podia ser comparada ao efeito da gravidade sobre nossos corpos. Ele era massivo, atraente. Singular.
O que eu entendi de gravidade? Nada.
Mas o corpo dele sugava o meu como um buraco negro faminto, e sem que pudesse me dar conta, estava perto de algum jeito inexplicavelmente errado, mas era inconcebível desejar que ele se aproximasse tanto. Uma coisinha estremecia dentro de mim, à medida que a minha linha de raciocínio ia se rasgando, e eu tentei manter a compostura. O que estava sendo difícil com ele olhando daquele jeito para mim. Era como se ele procurasse algo, mas não a encontrasse. Ele não podia encontrar nada além de desprezo
Me calei e deixei que a resposta fosse um aceno comedido de cabeça.
— É por isso que você tem tanta raiva de mim? — Ele interrogou, enviesando o olhar.
Eu tinha muitas coisas para pontuar as causas da minha raiva, mas falar sobre isso seria reconhecer coisas das quais poderia me arrepender depois.
— Eu não sei — tentei soar indiferente. — Você é um idiota — mas eu não passei de uma garota birrenta e patética — e eu não sou obrigada a gostar de você. — Acrescentei, olhando para o lado, um pouco atordoada com as palavras.
Ótimo argumento, Nina! Você conseguiu riculamente se superar. Para uma pré-adolescente. Além de tola, eu era infantil e estúpida. Mas eu não conseguiria ser melhor do que isso, porque o olhar de Thomas estava cravado em mim, eu podia sentir o peso deles sob a minha pele.
— Não que eu esteja concordando com a parte em que você deliberadamente me chamou de idiota... mas não foi você quem foi abandonada sem mais nem menos. Eu quem deveria estar com raiva, você não acha?
Ele deveria estar com raiva?
Que motivos ele tinha exatamente para estar com raiva? Ele era um homem bem-sucedido. Jovem, saudável, sem contar a beleza que desconsertava qualquer um. O mundo estava aos pés dele, teve capital suficiente para comprar uma Revista famosa. Estava saindo com uma das mulheres mais bonitas que eu já tinha visto. A cena da Carolina e do Thomas se pegando semanas atrás me trouxeram náuseas ao estômago e fui obrigada degluti o calombo que se formou em minha garganta. Hesitei por um instante, mas a postura superior de Thomas me fez ajeitar os meus ombros, tomando uma posição tão igualmente superior a dele.
— Você teve seis longos anos para sentir raiva de mim. Você não quer conversar! — pontuei, elevando o tom de voz, cravando o meu olhar nele. — Você quer remoer o passado... Jogar isso na minha cara. É por isso que eu tenho raiva. — Aleguei. — O passado...
Ele suspirou, o peito retumbando numa risada seca.
— Do que você está fugindo? — ele perguntou, mais incisivo agora — do passado... ou de mim?
Era uma boa pergunta, mas eu tentei incansavelmente não pensar na resposta. Thomas despertava muitos sentimentos contraditórios e confusos dentro de mim. Às vezes eu o odiava, mas em alguns casos, se tornava uma tarefa difícil. Como agora, eu queria que ele se afastasse, mas me lembrar da adolescente que era quando estava com ele, me fazia vacilar.
O passado vinha nas bagagens dele. Eu definitivamente não estava disposta a revirá-las. Eu levei um bom tempo para organizar a minha vida. Isso era um problema dele, porque eu lutei muito para esquecer. Há seis anos. Precisaríamos aprender a conviver com isso, mas enquanto não conseguisse, manter distância seria o modo mais seguro de lidar com essa situação.
Mordi o lábio interno e balancei a cabeça em negativa na defensiva, recuando conforme ele avançava.
— Você está com medo de mim? — indagou, quando percebeu que enquanto ele dava um passo, eu recuava outro.
Eu não tinha notado, mas o meu baixo ventre estremeceu, assim que percebi que Thomas estava a menos de um passo de mim. Mais próximo e maior, o meu olhar subiu e desceu do rosto dele para a altura do peito. A camisa social branca sob medida ficava perfeitamente ajustada nos músculos proeminentes do peito e bíceps. A pia não foi minha aliada quando minhas costas colidiram contra ela.
— Eu... Eu deveria ter medo de você, Thomas? — me atrevi a questionar com a voz vacilando à medida que o nome dele ia sendo pronunciado.
Ele deixou uma lufada de ar escapar em forma de risada e balançou a cabeça com um sorriso pretencioso e de lado. Thomas ergueu a mão em minha direção e eu virei o rosto antes que ele fizesse o que estava pensando. Os dedos dele deslizaram pelos meus cabelos soltos.
— Tinha me esquecido de como era bom ouvir você pronunciar o meu nome — comentou com um brilho nostálgico relanceando pelas retinas.
Thomas quebrou a distância com o único passo que faltava e o corpo dele comprimiu o meu na pia. Eu apoiei os braços nas bordas, inclinando a cabeça para encará-lo nos olhos.
Oh-ou... Abaixei a cabeça, olhando para abaixo. Os sapatos de couro italiano preto de Thomas estavam de frente para os meus discretos e pontudos scarpin pretos. Estremeci sobre as pernas. Ele não tinha o direito de se aproximar assim de mim.
Eu tinha que fazer alguma coisa.
— Por que você está fazendo isso comigo? — interroguei, vacilando quando o cheiro dele começou a se emaranhar pelo meu nariz.
Uma mistura de menta e madeira. Suspirei tentando afastar o torpor e um sorriso maldoso e interessado brincou nos lábios dele, o mesmo de quando me encurralara no elevador. Era um jogo. Ele estava jogando comigo e essa constatação fez os meus ânimos efervescerem.
— Isso o quê?
— Se aproximando desse jeito — expliquei. — Que direito você pensa que tem?
Thomas umedeceu e comprimiu os lábios, abaixando os olhos para o meu ombro e eu senti a pele queimar quando a mão dele deslizou do meu ombro para o braço, desejei desvencilhar do toque, mas não consegui e arfei quando um arrepio trilhou da coluna para a minha nuca. Thomas avançou, encaixando o rosto na curva do pescoço e deixou ali um beijo.
— Eu só preciso saber, Nina. — A voz dele não passou de um sussurrar rouco ao pé do meu ouvido. — Diga, por quê? Por que foi embora? — a pergunta foi como se um choque irrompesse da pele dele para a minha.
Aquilo me fez tirar o braço da mão dele com brusquidão.
— É uma longa história... — aleguei. Realmente era. — Esquece isso, vai ser melhor para todos nós.
O olhar de Thomas foi tomado por uma coisa mais densa. Algo mais obscuro do que interesse. Era ressentimento salpicando e cintilando naquelas íris azuis que se tornaram tão frias quanto às águas de um oceano congelado no inverno a pino. O músculo da mandíbula dele enrijeceu e ele deglutiu, parecendo levar algum tempo para processar o que eu disse.
— Então, foi isso que você fez? — indagou, segurando o meu antebraço com firmeza. O dedo polegar roçou a minha pele para lá e para cá, enquanto um vinco se formou entre as sobrancelhas — É por isso que você tem um noivo? "Samuel"... — ele pronunciou o nome do Samuca lentamente, soando com boas notas de desprezo. — Porque você "esqueceu isso?".
— É, eu esqueci — menti descaradamente, e a minha garganta se contraiu deixando a minha voz trêmula.
— Por quê? — Ele murmurou.
— Porque... — A minha voz morreu um pouco, mas em algum lugar dentro de mim, encontrei firmeza para prosseguir. — Nós não teríamos dezesseis anos para sempre, Thomas. Todo mundo precisa seguir com a vida e eu... — Eu não tive escolha... Era o que eu iria dizer se um limpar de garganta não tivesse me interrompido.
— Ei, cara... — o meu rosto se virou de Thomas para a porta. Fitando uma mulher alta e morena, com cabelos amarrados em um rabo de cavalo alto parada ali. — Você não deveria estar aqui...
Thomas manteve o olhar sobre mim até a última instancia e depois se afastou. Eu não tinha percebido que prendia a respiração, mas a soltei no momento em que ele cruzou a porta, passando pela mulher que o acompanhou com os olhos até sumir do banheiro.
— Você está bem? — ela perguntou quando deu alguns passos, aproximando-se de mim.
— Estou sim. — Respondi, suspirandoe coçando o couro cabeludo. Era mentira. Uma das mais descaradas, e com isso,eu estava tão desconsertada que a quilômetros dava para perceber que eu não estavanada bem.
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