9 (Último Capítulo)
Eu lutei um pouco mais para acordar aquele dia. Levantei, me vesti e tomei café. Eu estava sonolento, meu corpo mal reagiu aos estímulos da cafeína no organismo. Quando fui para o hospital senti um peso enorme no meu coração que eu não sei explicar. Quando cheguei no hospital fui à cantina pegar o café da manhã e em seguida fui em Saulo que era meu primeiro paciente.
Quando cheguei no quarto dele, ele ainda dormia. Saulo parecia despreocupado, mas acordou mordido de raiva quando abri a janela e a cortina de seu quarto. Ele me olhou com os olhos inchados de sono e fechou aquela carinha redonda como bolacha para mostrar o quão bravo estava, mas eu apenas ri.
-O que foi? É hora de acordar. —Falei e ele me encarou mais ainda, mas abriu um sorriso só de ver que na minha mão tinha comida.
-Você tem sorte que veio me alimentar. —Ele fala se sentando e eu coloco o lanche dele na mesa e vou até sua cama, ajeitar para que ele ficasse sentado. Depois de ajudar Saulo a ir ao banheiro escovar os dentes eu o sento na cama novamente.
-E como foi a visita ontem? —Pergunto e ele sorri enquanto da uma mordida bem dada no seu lanche.
-Foi boa, meus pais pareciam mais calmos. —Saulo fala. Ele era um garoto bastante adulto para sua idade. Tudo bem que ele tinha aprendido a ser assim por causa da sua doença, mas mesmo assim era de impressionar.
-Olha, eu queria agradecer pelo o que você fez com aquele meu amigo... —Falo e ele me olha. Eu comecei a pensar se Saulo já sabia sobre eu e Bruno.
-Ele é legal, só parecia sem esperança. —Saulo fala tomando do suco.
-Ele não tem nenhuma. —Falo e ele me olha, negando com a cabeça.
-Ele não tinha, eu sei que fiz ele pensar diferente, nem que fosse por pouco tempo. —Saulo fala e eu reflito. Bruno estava bem melhor depois de conhecê-lo.
Passei a manhã com Saulo e brinquei com ele. Saulo ainda tinha algumas matérias para estudar e ajudei nisso também. De qualquer forma ele parecia bem, os remédios estavam fazendo efeito e ele estava começando a andar sem dificuldade novamente.
Depois de Saulo tive que ir em Vicente, verificar se ele estava bem. Vicente já estava acordado e lia quando cheguei no quarto. Ele estava lendo jornal e eu o encarei por segundos.
-O que foi? —Ele pergunta me olhando e eu sorrio.
-Jornal? —Pergunto e ele parece entender minha cara de surpreso.
-É, sou quase um senhor de 120 anos. —Vicente fala e eu fico sem entender.
-Como assim? —Pergunto enquanto me aproximo dele.
-Não ando sozinho, não vou ao banheiro sozinho, mal respiro sozinho e já estou no fim da vida... Faltava o jornal. —Vicente fala e eu começo a rir.
-Isso aqui foi uma risada com respeito. —Falo segurando o riso ainda mais forte que vinha em seguida.
-Bom mesmo, sou um senhor, mereço respeito. —Vicente fala fazendo graça.
Eu comecei a examiná-lo. Ele estava bem, o corpo dele reagia bem ao tratamento, mas nada que fosse o fazer sair da ala de pacientes em estado terminal. Eu confesso a vocês que tudo o que eu mais queria era ter o poder tirar essa doença das pessoas. Eu não quero ser rico, não quero ser a pessoa mais inteligente do mundo... Eu só quero ver as pessoas verdadeiramente bem.
Ajudei Vicente no banheiro, auxiliei no que ele precisava pelos minutos seguintes no quarto e em seguida fui ver Bruno, finalmente. Naquele dia ele estava fraquinho. Sua pulsação era mínima, mas mesmo assim ele tentava manter o sorriso fraco no rosto.
Seus olhos azuis estavam mais escuros, como se os faróis começassem a desligar, como se o fogo azul começasse a se apagar. Bruno estava diferente e eu não sabia mais se o veria novamente no futuro.
Naquele dia eu fiz carinho eu seu cabelo, dei beijinhos pelo seu rosto e falei diversas vezes que ele era lindo. Ele não conseguia falar direito, seus olhos mal abriam e sua boca se mantinha seca. Em alguns momentos outros enfermeiros vieram no quarto, falar que a minha supervisora me chamava, mas eu não sairia do lado de Bruno naquele dia e por isso me sentei e ali, ao lado dele fiquei.
Dessa vez eram meus dedos que corriam pelo cabelo de Bruno. Todas as vezes que eu fazia isso ele me lançava um sorriso fraco, como se estivesse apenas dizendo que eu podia fazer aquilo ou agradecendo pelo ato.
Com o tempo Bruno parou de tentar falar e apenas curtiu nosso momento. Ele estava ali pra mim naquele dia e eu estava ali pra ele. Bruno me olhava com um olhar tão sincero que eu pude sentir todas suas palavras. Passamos 7 meses recém completos juntos, mas eu sentia que tinha passado anos.
Quando ele começou a sentir dor um enfermeiro deu sua dose de morfina, pois eu só sabia chorar e tentar me segurar para não despencar sobre ele. A dor no meu peito estava cortando tanto que eu não sabia se aguentaria, mas resolvi tentar por ele.
Eu nunca mais tinha passado por essa situação em toda a minha vida e posso dizer que já tinha esquecido o que era perder uma pessoa que eu amava pra essa doença, mas essa dor voltou a dar "olá" quando os olhos de Bruno começaram a fechar.
Ele me olhou uma ultima vez, procurando uma forma de falar algo, mas preferiu resumir.
-Amo-te. —Ele sussurrou, suavemente enquanto eu segurava sua mão com lágrimas nos olhos.
-Eu também te amo. —Eu falei e ele deu um leve e ultimo sorriso. Eu dei um beijo em sua testa e ele me olhou por mais alguns segundos, até fechar os olhos e a sirene ecoar pelo hospital, avisando que um dos pacientes tinha acabado de falecer.
Meus colegas imediatamente entraram no quarto e meu pai apareceu correndo logo atrás. Ele viu que eu me distanciava da cama em passos curtos com os olhos cheios de lágrimas e quando se aproximou de Bruno tentou trazê-lo de volta de todas as formas possíveis.
E então eu o vi morrer. Eu já sabia que isso ia acontecer, mas a dor não foi menor por isso. Eu vi todos os meus colegas de trabalho lutando para que ele voltasse, mas de qualquer forma eu sabia que não era possível fazer nada. Aquela maldita doença tinha finalmente levado o único homem que eu amei a minha vida inteira e eu não pude fazer nada.
...§. Intense as Death .§...
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